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FAQ: Coronavírus – 31

FAQ: Coronavírus – 31

| Sally | | 26 comentários em FAQ: Coronavírus – 31

Quem está com as duas doses de vacina pode pegar a variante Delta e morrer?

Quem está com as duas doses da vacina pode pegar qualquer versão do coronavírus sim. É muito improvável que a pessoa morra, mas pode acontecer. Vacinas não são mágicas, seu resultado depende de uma série de variáveis como a resposta imune da pessoa, a quantidade de vírus à qual ela é exposta etc.

Apesar de já terem constatado que a variante Delta pode reduzir a eficácia das vacinas, uma espécie de escape parcial, o grande problema que está sendo motivo de falatório mundial não é a probabilidade de morte em pessoas vacinadas. O grande problema é o que a Delta causa em pessoas não vacinadas ou vacinadas mas ainda não totalmente imunizadas. É aí que o bicho está pegando.

O Reino Unido, que fez um lockdown bem-feito e demorado, que manteve a situação sob controle e que está com cerca de 60% da população vacinada com duas doses e está vendo os casos subirem graças à variante Delta. Israel, a referência mundial para o “aboliram máscara” está passando por alguns surtos também, especialmente entre pessoas mais jovens, faixa etária que tem menos imunizados, por causa da variante Delta.

O grande problema que ela causa está nos grupos que não estão totalmente imunizados: pessoas que não se vacinaram, pessoas que se vacinaram com apenas uma dose ou pessoas que se vacinaram com as duas doses, mas ainda não passaram pelo período necessário para criar anticorpos (demora em média uns 20 dias após a segunda dose para ter uma proteção significativa). Essas pessoas estão muito mais vulneráveis à Delta do que às outras.

Quando a gente traz essa nova realidade para o atual cenário do Brasil, vemos a desgraça que pode acontecer: pouco mais de 10% da população vacinada com as duas doses, ou seja, 90% da população vulnerável à variante Delta. Esse é o problema. Não adianta ficar repetindo que “agora já tem vacina” e se agarrar a isso, a realidade mudou. Ou tem duas doses aplicadas e 20 dias passados da aplicação da última dose, ou está vulnerável à variante Delta.

Então, nada de se sentir mais seguro por estar com uma dose da vacina. Se estivéssemos na fase da covid raiz, até dava para sentir algum alívio, mas não estamos. O vírus mudou, o vírus melhorou, o vírus, ao contrário dos humanos, evolui. Agora uma dose ainda é bandeira vermelha de atenção total, como se não estivesse vacinado.

Quem está totalmente imunizado deve continuar se cuidando também, pois, como cansamos de falar, nenhuma vacina é mágica. Mas é quem está mais seguro. Quem tem que estar no auge dos cuidados é todo o resto. E apertem os cintos, pois a Delta já evoluiu para uma nova versão chamada Delta Plus.


Mesmo fazendo tudo errado no começo, o Brasil melhorou no combate à covid?

Não. Não. NÃO. O que o Brasil está fazendo não é mais do que obrigação (vacinar) e, para um país com esse potencial e experiência, está vacinando muito mal.

O país ainda discute Cloroquina, Ivermectina, tratamento precoce, imunidade de rebanho e outras abominações que deixariam curandeiros da Idade Média envergonhados. O Brasil está estagnado no fundo do poço e coberto de merda. Era para o país estar com toda a população vacinada no mês de maio. Era para terem morrido, no máximo, 90 mil pessoas. Era para que o brasileiro já esteja totalmente adaptado a uma nova rotina de isolamento social.

E o pior de tudo isso é que o Brasil não aprendeu nada: não há campanha nacional de rastreio de contatos, não tem política nacional de combate à covid, não tem plano nacional de imunização, não tem uma diretriz uniforme e eficiente. Cada um faz aí como achar melhor. Obviamente, não vai dar certo. Não está dando.

Quase todos os países do mundo aprenderam alguma lição e mudaram sua postura durante a pandemia. Até as piores ditaduras do mundo, como Belarus e Coreia do Norte, repensaram sua estratégia. O Brasil não. Desculpa o termo, mas é o caralho que o Brasil está melhorando. No ranking de 2021 o Brasil lidera o número de mortes por covid e ninguém se mexe para fazer o que tem que ser feito.

Um olhar frio, vai dizer que o número de mortes está menor do que estava antes, portanto, a situação seria melhor. Não é. Há uma queda nos números de mortes de idosos (que era o grupo que mais morria). Depois das vacinas, este grupo está adoecendo menos e morrendo menos, no entanto, temos mais mortes hoje do que no primeiro pico da pandemia.

Para que o número de mortes esteja tão alto, significa que os outros grupos não vacinados estão morrendo muito mais hoje do que estavam morrendo nos outros supostos “piores momentos da pandemia”. Estão morrendo jovens o suficiente pra cobrir o número de idosos que deixaram de morrer pela proteção das vacinas e ainda conseguir aumentar o número geral de mortes.

E, como eu já expliquei na resposta anterior, o Brasil parece ter um prazer surreal em sair entupindo as pessoas com uma dose só da vacina. Isso não era um problema, mas agora passou a ser: quando a variante Delta (indiana) começar a se espalhar com força, não vai adiantar muito ter uma dose da vacina, portanto, 90% dos brasileiros estarão vulneráveis.

E nem vou entrar na questão do Brasil escolher comprar vacina mais cara e não aprovada pela ANVISA em troca de propina, pois esta coluna não se presta a discutir política.

Além disso, hoje, no Brasil, cerca de um quarto das pessoas que tiveram covid (número oficiais, os extraoficiais são bem maiores) estão com algum tipo de sequela, física ou psicológica) e é muito improvável que o SUS dê conta de todos eles, considerando que esses números aumentam diariamente. Nada está sendo feito, nenhum planejamento, nenhuma projeção, nenhuma estratégia, para acolher todas as pessoas que terão sequelas.

Não é mais só sobre os mortos. O Brasil chegou a picos de mais de cem mil contágios nos últimos tempos. Sendo muito generosa, vamos supor que apenas um quarto das pessoas que tiveram covid tenham sequelas, são 25 mil pessoas por dia que vão precisar de algum amparo, que são uma bomba relógio que pode explodir hoje, amanhã ou em seis meses.

Então, não, o Brasil não melhorou no combate à covid, apenas aplicou vacinas, e muito poucas para o potencial que o país tem. O que o Brasil precisa fazer todo mundo está berrando desde o ano passado: campanha de vacinação ágil e eficiente, testes, testes e mais testes, isolamento social sério e bem executado e rastreio de contatos.


O que é Delta Plus?

Já falamos em outro FAQ da Variante Delta (indiana) e explicamos por qual motivo ela é a variante que mais preocupa o mundo entre todas. Pois bem, surgiu uma variante da variante: Delta Plus é uma sub-linhagem variante Delta. Ela possui mais mutações que a Delta raiz, mas não difere dela o suficiente para ganhar um nome só seu. É uma derivação da variante Delta, usando a devida licença para simplificar a explicação.

E essa mutação parece tornar esta variante ainda mais transmissível. A mutação já é conhecida, é uma mutação da proteína spike chamada “K417N”, que já foi observada na variante Beta (África do Sul), aquela que se suspeitava ter “propriedade de evasão imunológica”, ou seja, ao que tudo indica, a Delta Plus também tem mais chances de driblar não só nosso sistema imunológico ao natural, como também as vacinas. Mas tudo isso ainda é teoria.

Ainda não se sabe exatamente o quanto ela é mais ou menos preocupante que as demais variantes. É tudo muito novo e muito rápido, acaba que a gente só descobre o perigo efetivo da variante quando ela começa a predominar sobre as outras. Já se sabe que a variante Delta tende a prevalecer quando compete com as outras três variantes preocupantes (Alfa, Beta, Gama). Vamos ver se a Delta Plus vence a Delta.

Até a presente data, a Delta Plus atingiu apenas 11 países: Índia, EUA, Canadá, Japão, Reino Unido, Portugal, Suíça, Nepal, Polônia, Rússia e Turquia, caso alguém queira evitar estes lugares ou pessoas vindas destes lugares. Mas, sinceramente, é muito provável que já tenha chegado ao Brasil.

O tempo vai nos dizer se ela é mais grave do que as outras e quão mais grave é. Assim que saírem estudos sérios sobre o assunto a gente volta no tema.


Já pode misturar diferentes vacinas?

Sabemos que é seguro, esses estudos já foram feitos. Mas o quanto isso é mais eficiente, ainda não dá para afirmar. Entretanto, o povo tá fazendo. E não é qualquer um, países civilizados estão fazendo. Angela Merkel tomou uma dose de Astrazeneca e outra de Moderna, por exemplo.

Ainda não existem resultado de estudos robustos sobre a eficiência de fazer essa mistura, mas, no desespero, está sendo feito mesmo assim. Em tese, o resultado deveria ser melhor, mas nem sempre a tese e a prática andam de mãos dadas. Como decidiram fazer na raça, em breve saberemos se é de fato mais eficiente ou não.

Dois fatores impulsionaram a fazer assim, na raça: 1) países que deveriam exportar vacinas, como Índia e Rússia, estão retendo todas as doses pois estão com grandes surtos de covid e estão deixando de exportar e aplicar todas as doses na sua população, assim, pessoas de outros países que tinham uma dose só dessas vacinas, ficaram sem segunda dose e 2) A variante Delta (indiana) reduz a eficácia das vacinas, então, além de não poder deixar ninguém com uma dose só, precisamos de algo mais forte contra ela, que talvez seja a combinação de duas vacinas diferentes.

Já explicamos em outro FAQ os benefícios dessa combinação de dois estímulos diferentes, quando falamos sobre a Sputnik V usar dois adenovírus diferentes, uma para cada dose da vacina: se o corpo não “reconhece” o inimigo a ser atacado no primeiro, ainda tem uma chance de reconhecer no segundo. Esse princípio vale para as outras vacinas: quanto mais “variedade” de estímulos, maiores as chances do corpo responder e ser treinado para atacar o coronavírus.

Então, em tese, é uma boa ideia e, na prática, foram constatados benefícios em pequenos grupos. Mas, na prática, em grande quantidade, ainda não foi feito. Às vezes o que se presume que vai acontecer não acontece. Todos esperamos que vacinas combinadas gerem mais imunidade e uma imunidade mais protetora, mas não dá para afirmar agora que é certo que isso vai acontecer. Assim que houver algum resultado significativo sobre essa combinação a gente volta aqui e fala novamente sobre o assunto.


Li que o Brasil vai aplicar a vacina Novavax mas que é melhor não tomar essa pois ela é feita de insetos e pode fazer mal injetar insetos na corrente sanguínea. Procede?

Não. Nada disso procede. A Novavax não é feita de insetos e vacina não se injeta na corrente sanguínea. Sério mesmo, se algum dia tentarem injetar uma vacina na sua veia, corra. Mas corra muito. A pessoa que te falou isso merece apanhar com um gato morto até o gato miar.

A Novavax é uma excelente vacina, com mais de 90% de eficácia geral e praticamente 100% de prevenção contra casos graves ou mortes por covid. Vocês brasileiros não tem uma tara pela Pfizer? Pois é, ela tem números muito semelhantes à Pfizer. Pode tomar despreocupado.

Vamos tentar entender como ela funciona, para matar esse boato de que vão injetar insetos em alguém.

Ela tem uma tecnologia de nome complicado, “nanopartículas combinantes”, mas muito fácil de entender. Funciona da seguinte forma: pegam vírus que não causa problemas sérios em humanos e usam esse vírus para transportar pedacinhos do corona para o nosso organismo, assim nosso sistema imunológico aprenda que ele é um inimigo e como combate-lo.

Cada vacina usa um vírus diferente para transportar esse pedacinho de corona. Já explicamos todos eles em FAQs antigos. A Novavax escolheu como vírus que vai transportar covid o baculovírus, um vírus de insetos que de forma alguma é perigoso para seres humanos.

Veja bem, o vírus vive nos insetos, não é que vão injetar um inseto. Tem vacina que usa vírus de chimpanzé, tem vacina que usa vírus de aves, e nem por isso estão injetando chimpanzé ou aves em você na hora de vacinar. Pouco importa de onde vem o vírus, se ele for bom para transportar o coronavírus para dentro do seu corpo e apresentá-lo ao seu sistema imunológico.

Inclusive, se você já comeu salada alguma vez na sua vida, pode ter ingerido esse vírus, pois ele pode ser facilmente encontrado em lagartas. Agora você pode estar pensando “eu não como salada com lagartas”. Ok, mas o baculovírus, quando infecta a lagarta, gera um efeito desagradável: a lagarta se dissolve, de liquefaz, ela praticamente é desmanchada pelo vírus.

Então, provavelmente, todos nós já comemos um pedacinho de uma lagarta vítima de baculovírus que estava em pedacinhos imperceptíveis e estamos todos muito bem, obrigada. Desculpa aí o momento nojento, mas a intenção e mostrar que não tem que ter medo do vírus.

O diferencial dessa vacina para as vacinas comuns de vetor viral é que o baculovírus é modificado e, em vez de produzir as proteínas que ele normalmente produz, ele “aprende” a produzir a proteína do coronavírus. É como se você quisesse atrair uma fêmea de uma espécie de canário e, em vez de ter que conseguir um macho dessa espécie de canário, pudesse ensinar um papagaio a cantar igualzinho.

Depois que o baculovírus produz uma quantidade satisfatória de “pedacinhos do coronavírus”, essas proteínas são “misturadas” com um óleo vegetal (saponina), criando pequenas bolhas de gordura que envolvem o vírus, mas deixam as proteínas por fora. Pronto, a camuflagem perfeita está preparada.

É o mais perto que se conseguiu chegar de emular o vírus, isso treina o corpo perfeitamente para reconhecer o coronavírus, que nada mais é do que uma bolinha de gordura com as proteínas (as “coroas” ou spikes) que ficam do lado de fora.

Vocês percebem a tecnologia fascinante? Se ensina um vírus a produzir as proteínas do outro e depois se “embala” essa cilada para presente de uma forma que ele fique muito parecido com o coronavírus. Quem deixar de tomar essa vacina é muito burro de virar as costas para esse tipo de tecnologia.

É uma tecnologia nova, mas já existem outras vacinas aplicadas em larga escala para outras doenças que usam esse princípio (como a vacina contra HPV), então, você não será cobaia de nada. Pode tomar a Novavax sem qualquer receio de injetarem “insetos” em você, isso é conversa de gente ignorante que não entende como a ciência funciona.

Para dizer que agora tem mais medo de salada do que de covid, para reclamar do retorno desta coluna deprimente ou ainda para perguntar se a variante que surgiu no Rio de Janeiro vai se chamar Samba: sally@desfavor.com

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