FAQ: Coronavírus – 51

Estou confuso, o Ministro falou que teve criança que tomou a vacina e morreu, você disse que nenhuma criança morreu por causa da vacina. Quem está certo?

Ambos. E você tem motivos para estra confuso mesmo, é isso que gente sem argumentos faz: confunde os outros para tentar disseminar o medo. Vamos explicar com bastante calma e você vai entender.

Quando se estuda qualquer vacina se faz um controle rigoroso não apenas nas fases 1, 2 e 3, onde se avalia a segurança e eficácia da vacina, mas também no período pós, quando a vacina está sendo aplicada. Isso significa que mesmo que uma vacina se comprovadamente segura e eficaz, seus efeitos continuam sendo acompanhados depois que ela é aplicada no público. É o que se chama Fase 4.

Esse acompanhamento de Fase 4 não é por existirem dúvidas sobre sua segurança ou eficácia. Ele acontece por um motivo muito simples: existem coisas que você só vê quando aplica em milhões de pessoas. E isso vale não apenas para esta vacina, mas para qualquer vacina ou remédio colocado no mercado. Foi assim com aspirina, foi assim com xarope para tosse, foi assim como remédio para hemorroida.

Muito bem. Graças a essa exigência de estudo de Fase 4, de avaliar como cada pessoa reagiu à vacina, todas as crianças vacinadas foram monitoradas. Estamos falando de quase 10 milhões de crianças.

Existem casos de crianças que tomaram a vacina e morreram? Sim. Mas não POR CAUSA da vacina. Por exemplo, tem o caso de uma criança que tomou a vacina e, semanas depois, engoliu uma moeda, foi levada ao pronto socorro e morreu asfixiada. Mas, para cumprir essa exigência da Fase 4, de relatar tudo que aconteceu com vacinados, esse caso entra na estatística: morreu uma criança que tomou vacina, porém sua morte não está relacionada com a vacina.

Se você acompanhar 10 milhões de pessoas, fatalmente, por uma questão de estatística e probabilidade, alguma delas vai morrer ou vai passar mal em algum momento. Por isso, quando se relata morte ou algum efeito físico, se analisa depois se estava relacionado com a vacina.

O caso de uma criança em São Paulo que morreu depois de tomar a vacina mostra isso claramente: ela morreu depois de tomar a vacina? Sim. Ela morreu por causa da vacina? Não. O parecer médico deixa claro que essa criança tinha uma doença rara chamada de “Síndrome de Wolff-Parkinson-White”, que causou sua morte. Mas, quando se quer militar contra vacinas, se faz isso: distorcer os fatos. “Morreu uma criança depois de ser vacinada”.

Aqui onde eu moro ficou famoso um caso de um idoso que foi se vacinar, mas, no caminho para tomar a vacina, infartou. Se ele tivesse infartado alguns minutos depois, provavelmente teriam colocado a culpa na vacina. Quando você lida com oito bilhões de pessoas, vai acontecer de tudo, as probabilidades são infinitas. Vai ter quem desmaie, vai ter quem vomite, vai ter quem morra atropelado por um carrinho de sorvete. E todos eles vão entrar para estatísticas. Isso quer dizer que morreram por causa da vacina? Não. Isso quer dizer um controle obrigatório do estudo de Fase 4.

Por isso a importância de olha não apenas para o evento (morte ou passar mal) como também para o que o causou. No controle de Fase 4, depois de computar as mortes de vacinados, existe um controle sobre a morte ser RELACIONADA com a vacina. E nesse controle, temos zero morte de crianças.


Qual é a utilidade de dar uma vacina experimental para meu filho se não vai impedir de pegar covid?

Não é experimental. Vacinas foram inventadas antes da energia elétrica. Estamos falando de séculos de uso desta tecnologia. É o mesmo que você ficar com medo de dirigir um carro automático pois “é uma tecnologia nova”. Não, meu anjo. A tecnologia é um carro, um veículo que existe faz muito tempo e, se bem utilizado, é perfeitamente seguro. A forma como se passa a marcha não muda o fato de ser um carro. Vacinas de RNA como as da Pfizer e da Moderna são isso: um carro com marcha automática.

E nem assim dá para dizer que é experimental, pois elas vêm sendo produzidas, testadas e aplicadas para outras doenças há mais de dez anos. Então, essa informação que você recebeu é incorreta. Aproveito para deixar claro aqui que é falso o vídeo/texto que circula do suposto criador da vacina de RNA colocando sua segurança em questão.

Agora vamos à pergunta em si. A utilidade é uma só e é muito fácil de entender: SEU FILHO NÃO MORRER. Se você não acha isso útil, não sei por qual motivo teve filhos. Pela milésima vez: vacinas não foram desenhadas para evitar contágios e sim para salvar a vida de quem as toma. Se forem aplicadas de forma estratégica, massivamente, podem até erradicar uma doença, mas isso é um efeito colateral (que nem sempre se consegue). O objetivo da vacina é: salvar a vida do vacinado.

Essa vacina tem esse objetivo: evitar formas graves da doença, hospitalização e mortes. E eu não acho isso pouco não, acho muito. Acho maravilhoso. Estou muito grata que tenhamos conseguido isso, com um esforço mundial. Eu estou começando a pensar se a culpa desse grande mal-entendido não é do Zé Gotinha. Campanhas para “erradicação da paralisia infantil” usavam slogans do tipo “ajude a acabar com a paralisia infantil”. Talvez os pais vacinassem seus filhos pensando em erradicar a doença e não em protegê-los.

Talvez, quando todo mundo estiver vacinado contra covid-19, a gente consiga erradicar a doença, mas não é para isso que as vacinas servem. E o fato de não impedir contágio nunca foi motivo para papais e mamães questionarem vacina. A própria vacina contra poliomielite (paralisia infantil), aquela do Zé Gotinha, que todo mundo toma e acha super importante, não impede contágio. E eu nunca vai papais e mamães cogitando não dar para seus filhos por causa disso, o objetivo é que seu filho não tenha paralisia infantil.

E já que citamos o Zé Gotinha, no caso da poliomielite, o Brasil vacinou tão bem as suas crianças que extinguiu a doença apenas com vacina. E essa vacina tinha acabado de ser desenvolvida. Mesmo assim ninguém a chamou de “experimental”. E essa vacina causava algumas reações adversas. E mesmo assim, ninguém a tratou como um risco, e sim como uma salvação.

Em 1976 o Brasil era o segundo país do mundo com mais casos de poliomielite e, depois de uma forte campanha de vacinação, o país extinguiu a doença em 1994. Sabe por quê? Pela adesão. Não tinha papai e mamãe ignorante com medo de vacinar seus filhos. Todas as crianças que podiam se vacinar foram vacinadas, com isso, as crianças que não podiam se vacinar foram protegidas por essa rede de vacinados.

Então, você tem vários motivos para vacinar seu filho: 1) Evitar a morte dele caso ele adoeça; 2) Evitar que ele adoeça seriamente e seja hospitalizado (sem a sua presença, tá? Ele vai ficar sozinho e assustado em um hospital); 3) Evitar que ele tenha sequelas para o resto da vida em decorrência da doença, que podem acontecer até em pessoas com casos leves ou assintomáticos; 4) Ajudar outras crianças que não podem se vacinar por terem algum problema no sistema imune que as impeça; 5) tentar, com base na vacina, que a longo prazo o Brasil possa acabar com a doença, como fez com a paralisia infantil.

Por falar nisso, eu já comentei que o Brasil está com a pior taxa de vacinação para pólio de sua história? Pois é, seria uma pena jogar fora um trabalho de décadas que erradicou a doença. Vacinem seus filhos para poliomielite também, fazendo o favor.


Coronavac para crianças. Discorra.

Foi aprovada pela ANVISA a aplicação de Coronavac para crianças de 6 a 16 anos, e não é nenhuma novidade nem “teste”, outros países como o Chile já estão aplicando esta vacina com sucesso no público infantil. Temos exemplos para olhar a constatar que não causa nenhum dano e protege de forma efetiva.

Ao contrário da Pfizer (uma vacina de RNA), a Coronavac que é aplicada nas crianças é a mesma usada em adultos (por ser uma vacina de vírus inativado, não é necessário fazer alterações), o que é uma ótima notícia, pois ela é produzida pelo Brasil e pode ser disponibilizada em grande quantidade e de forma rápida.

Não esperem me ver falando mal de nenhuma vacina segura e aprovada aqui. Eu só bato palmas por ter mais uma vacina para crianças. Se houver volta às aulas do jeito que o Brasil está, sem vacina, vai acontecer um massacre. Vacina boa é a que tem no posto. Vacine seu filho, seja com Pfizer ou com Coronavac.

Sendo bem sincera aqui e deixando de lado a parte técnica: o sistema imunológico de crianças e adolescentes, via de regra, é bom, está novinho, está funcionando no auge do vigor. Então, nem faz tanta diferença o tipo de vacina aplicado, é provável que todas as vacinas façam efeitos ótimos nas crianças e adolescentes. Crianças são mágicas, seu organismo opera verdadeiros milagres, elas costumam responder muito bem a vacinas, medicamentos e tratamentos. Dá Coronavac sem medo, que ela vai proteger seu filho maravilhosamente bem.


O que está acontecendo? Quais são os números reais? Estamos no pico da onda de Omicron? O que vem a seguir? Ninguém informa nada no Brasil.

Ninguém sabe os números reais. Sabemos que são maiores do que aqueles que são divulgados, e não estou supondo, isso já foi publicamente confirmado. Estamos vendo muitos casos de contágio, algo que começa a se aproximar do pior período da pandemia.

A diferença é: menos hospitalizações e mortes ENTRE VACINADOS. Parece óbvio, mas tem gente jogando sujo com essas informações. Pega estados que tem menos de 30% da população vacinada, joga os dados de mortes e hospitalizações sem citar isso e diz “Olha a quantidade de mortes e internações! Acredita na vacina sim, otário”. Pois bem, você pode acreditar na vacina, a quantidade de mortes e hospitalizações só está alta entre não vacinados.

Além disso, tem uma desonestidade matemática, muito sutil acontecendo: a Ômicron contagia muito mais do que as variantes anteriores, ou seja, quando temos 10x mais casos, mesmo que menos pessoas sejam hospitalizadas, em números absolutos, você pode ver mais gente no hospital.

Vamos explicar de uma forma mais simples: se antes cada doente infectava duas pessoas e uma delas ia parar no hospital, 50% das pessoas que adoeciam acabavam tendo um caso grave de covid e isso gerava a ocupação de um leito de hospital. Se hoje, cada doente infecta outras 10 pessoas e duas delas vão parar no hospital, temos apenas 20% das pessoas que adoecem com casos graves (menos da metade do primeiro exemplo), mas a ocupação de 2 leitos de hospital (o dobro do primeiro exemplo).

Ainda não? Ok. Vamos mais simples ainda. Quem pula mais, um ser humano ou uma pulga? Depende. Uma pulga pula 25cm, um ser humano pode saltar a mais de um metro de altura. Isso quer dizer que a pulga pula menos? A pulga pula até 200 vezes o seu tamanho (apesar de pular em altura menor do que a do homem), enquanto o ser humano pula metade da sua altura. O ser humano pula mais alto do que a pulga em metros? Sim. O ser humano pula mais alto do que a pulga proporcionalmente? Não.

É por isso que a gente está desde novembro berrando que a Ômicron não é “leve”, não é “presente de Natal”, não é algo a ser comemorado. Ela pode gerar menos internações, mas como contamina muito mais, no saldo final, também pode colapsar hospitais. Quando você infecta muito, um pequeno percentual do muito pode bastar para lotar hospital. E não, vocês não estão no pico da onda de Ômicron, ainda vai piorar. Fevereiro vai ser pior.

Se não fossem as vacinas, estaríamos no pior cenário que a humanidade já viu, mas só vacinas não controlam uma pandemia, se controlam apenas as mortes de uma pandemia. Quando o vírus mais contagioso que o ser humano já teve contato está no ar, além de se vacinar, você também tem que tomar outras precauções, como não aglomerar, evitar sair de forma desnecessária, usar uma máscara PFF2 da forma correta e redobrar cuidados de higiene.

“Mas Sally, controlando as mortes não tá bom? Não vira uma espécie de gripe?”. Tomara que sim, mas não podemos ter essa certeza. A outra opção é bem ruim. Quanto mais um vírus circula, mais chances ele tem de mutar. E se ele mutar para uma versão que aprenda a escapar completamente das vacinas, voltamos a ficar todos desprotegidos – só que desta vez, expostos a um vírus muito mais contagioso que aquele original de Wuhan.

Tomara, mas tomara mesmo, que aconteça como aconteceu com o Influenza, o vírus da gripe, que causou a pandemia de Gripe Espanhola em 1918 e que agora quase não mata, só nos obriga a tomar uma vacina anual. Mas não dá para afirmar que é isso que vai acontecer. O vírus da gripe demorou mais de cem anos para virar essa versão mais “leve” (na verdade, nós é que ficamos mais resistentes). Não sabemos quanto tempo passará até que o da covid-19 chegue nesse estágio – nem se é esse o caminho que ele vai tomar.

Então, como ainda não estamos lá e não sabemos se é para lá que vamos, o ideal é manter cuidados para não deixar circular o vírus. Perceba que todo mundo que cogita qualquer hipótese da covid virar uma espécie de gripe não faz afirmações, diz que pode ser que, que talvez aconteça, que se espera que aconteça. Eu espero também, mas não sabemos. Na dúvida, o mais inteligente parece ser continuar tomando cuidados. E nem são cuidados preventivos, é cuidado necessário mesmo, uma vez que os hospitais estão enchendo novamente.

Vale lembrar que, quando há colapso no sistema de saúde, começa a morrer todo mundo: o não vacinado com covid, a pessoa que tinha que fazer quimioterapia para seu tumor não se espalhar, a criança com apendicite e a pessoa que foi vítima de um acidente de carro. Então, o que vocês estão prestes a ver não é a ineficácia da vacina, e sim a ineficácia do ser humano em lidar com a pandemia.

Também vale lembrar que, contra a Ômicron, as suas duas vacinas não te protegem. Sua tão ostentada Pfizer, com duas doses, te dá uma proteção de apenas 30% contra a Ômicron. Então, quem se comporta como se estivesse bem protegido com duas doses, pode levar um susto. Vacinas não servem? Servem sim, com três doses você fica joinha joinha. O que não servem são as pessoas, que não entendem que o vírus está em constante mutação, exigindo que nós estejamos constantemente adaptando nossas vacinas e nossa conduta às novidades que ele nos traz.

Por fim, também relembro que o Brasil tem muito profissional de saúde com apenas duas doses, o que faz com que o Brasil tenha muitos profissionais de saúde afastados por causa de covid. Isso faz com que vocês tenham menos profissionais de saúde disponíveis, em meio a um aumento de casos. Com a Ômicron, meus amigos, se quem não tomou três doses não se cuidar, o próprio vírus se encarrega de providenciar o lockdown.

Em estados como Amapá, o sistema de saúde já está colapsado e não apenas ele, vários órgãos públicos estão fechando as portas por falta de pessoal, já que a maioria está doente. E, como não tem testes suficientes, se convencionou que todo mundo pode voltar cinco dias depois, o que é uma atrocidade, pois vai ter muita gente voltando enquanto ainda pode contaminar outras pessoas.

Vacinas são ótimas e funcionam. O que não funciona é o brasileiro. Era para estar todo mundo com 3 doses de vacina no braço. Era para ter todas as crianças vacinadas. Era para estar evitando aglomeração. Era para estar usando máscara da forma correta. Era para que quem tem 2 doses se comporte como se não tivesse nenhuma. E falta de aviso não foi. Eu honestamente espero estar errada, mas tudo indica que veremos um fevereiro muito ruim.

Para dizer que se o vírus fosse mesmo eficiente levava o Bolsonaro, para dizer que Olavo de Carvalho foi um bom começo, ou ainda para dizer que o objetivo da vacina deveria ser permitir que você vá um barzinho: sally@desfavor.com

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Comments (12)

  • Branca de Neve Pornô

    Terceira dose contra o COVID:
    Expectativa: Oba, vou poder ficar mais um tempo livre de ser hospitalizado com isso.
    Realidade: Tenho que ver se a prefeitura está disponibilizando a vacina e a busca no site não ajuda.

    • É inacreditável. O país fabrica a porra da vacina. O país tem uma grande quantidade da porra da vacina armazenada. É só colocar no braço das pessoas. É inacreditável.

    • Branca de Neve Pornô

      Expectativa: Vou ter a terceira dose disponivel no posto perto de casa.
      Realidade: Vou ter de ir lá num posto na região NOROESTE da cidade, sendo que moro na região SUDOESTE de uma cidade com mais de meio milhao de habitantes.

  • Também prevejo um fevereiro e março terrível vindo por aí, Sally, considerando o Carnaval – já que brasileiro sempre bundeia na rua, mesmo sendo cancelado ou proibido -, e a volta às aulas presenciais seja nas escolas, seja nas universidades.

    Já estão falando aí em 4a dose de reforço para os próximos meses. Bora tomar também? Mas estão falando também, por outro lado, que várias doses podem não ser eficazes, que seria melhor uma anualmente. Confere? Fica aí a pergunta para um próximo fac.

    • Os países que estão falando em quarta dose começaram a vacinar ates do Brasil, o que faz com que o ciclo de “expiração” de vacina deles esteja um pouco na frente. Mas, até onde se sabe, a imunidade baixa depois de alguns meses da vacina, então, é provável que venham muitas outras doses enquanto não aperfeiçoarem as vacinas para as novas variantes.

      Eu sinceramente acho que a Ômicron vai seguir o mesmo padrão: veio rápido e forte, vai embora rápido e forte. É um vagalhão. O problema é você ser sugado para o pico, quanto tudo está caótico. É hora de recolhimento e cuidados.

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