Escravos do futuro.

Alguns séculos atrás, a humanidade estava terrivelmente confortável com a ideia de escravidão. No mundo moderno, por mais que tenhamos outros métodos de explorar pessoas, isso já não é mais verdade. Mesmo com casos de abusos cometidos por “empregadores”, o conceito de escravizar outro ser humano não é mais algo tolerável. O ser humano vira a chave para algumas coisas dadas as condições ideais, e eu realmente acredito que a próxima chave a ser virada é a da aceitação da pobreza.

Nos tempos em que sequer era crime escravizar outro ser humano, e esses tempos vão longe, os africanos que vieram para as Américas são o último grande exemplo dessa prática, mas nem de longe o primeiro; podemos argumentar que nem mesmo entre os povos escravizados a rejeição ao conceito de escravidão era tão grande quanto é atualmente no século XXI. No Brasil mesmo, até mesmo alguns negros tinham escravos quando era legalmente permitido ter.

Era a mentalidade da época, uma ideia de como a sociedade era e pouca ou nenhuma esperança de mudanças. É importante manter isso em mente: não foram pessoas que inventaram esse abuso horrível de outro ser humano, foram pessoas que seguiram o fluxo do local onde viviam e com exceção dos últimos anos do século retrasado, sequer foram repreendidos por isso. Era normal naquele tempo.

Normal ao ponto de a pessoa provavelmente passar a vida toda sem ser confrontada pelo horror que é tratar outra como gado. Pelas informações que eu tive até hoje sobre o tema, a crueldade não era a norma nos donos de escravos, não crueldade no sentido de violência e tortura constantes, pelo menos. Existia uma zona cinzenta entre a ideia de propriedade e humanidade do escravo. Não servia para ter direitos, mas servia para fazer tarefas claramente humanas, como cuidar de casas, amamentar crianças, serem amantes (homens e mulheres), em alguns casos, alguns escravos mais adaptados à vida sem direitos acabavam até tocando negócios e tomando decisões técnicas sobre as fazendas e empresas de seus donos.

Não, não estou tentando dizer que a escravidão não era uma coisa ruim, porque claramente é. Ser humano tem que ter direito humano. Quando você tira dele seus direitos básicos, está fazendo algo horrível e imperdoável. O meu ponto aqui é que a sociedade antiga fazia “vistas grossas” para o fato óbvio que o escravo era humano. Os donos sabiam que eram pessoas ali, quando era conveniente, focavam no aspecto humano.

Mas enquanto a sociedade não pressionava para o término dessa prática, aqueles que tiravam vantagem daquilo se acomodavam com a ideia de que “as coisas são assim”. Tratar um ser humano como gado quando quisesse era vantajoso demais para a maioria das pessoas sequer olhar para outra direção. É fácil criticar as pessoas que tinham escravos hoje em dia, quando está tudo às claras e a visão prevalente da sociedade é de rejeição à escravidão. As pessoas que se levantaram contra a escravidão nos tempos que isso era impensável são exemplos luminosos do que o ser humano deveria ser, mas sejamos honestos: é difícil enfrentar o bando, é pouca gente que tem o que é necessário pra isso.

Os mais interessados em história sabem que a escravidão não acabou por “amor aos direitos humanos”, e sim uma pressão econômica vinda especialmente da Inglaterra, que queria moldar o mundo para uma sociedade de consumo como conhecemos hoje. Com imensa vantagem na industrialização, os ingleses resolveram dar ouvidos aos que criticavam a escravidão. Não é cinismo puro: muita gente estava nessa por querer ajudar o próximo mesmo, mas não fosse a Revolução Industrial, eu duvido que o ser humano tivesse algum incentivo financeiro para terminar com essa prática horrível.

E os ingleses estavam certos: libertar os escravos ajudou a criar novos modelos econômicos muito mais lucrativos em geral. Sim, os negros foram absolutamente sacaneados no processo de término da escravidão, mas em linhas gerais, a humanidade teve uma disparada imensa na produção e distribuição de riquezas depois do fim da escravidão. Vemos todos os dias nas notícias como os ex-escravos foram deixados para trás na pobreza, mas o pobre do século XXI vive na abundância em comparação com o escravo do século XVII…

Não corrigimos injustiças de uma vez, mas a mudança de mentalidade em geral fez um bem tremendo para a humanidade. Não só porque começamos a nos importar com direitos humanos, mas também porque essa mudança de foco do escravo para a máquina permitiu extrair e criar muito mais valor para ser dividido entre nós. Se abolir a escravidão tivesse vindo junto com uma onda de fracassos econômicos, eu duvido que teria durado. Mas como deu certo na parte financeira, você não pode ter mais escravos por motivos humanitários. *piscando

Todos esses pontos sobre escravidão foram estabelecidos para tentar te fazer ver os mesmos paralelos que eu estou enxergando agora: estamos em 2022 e tem gente passando fome. Tem gente sem acesso a educação, saúde, segurança… e não estou falando de achar um hambúrguer caro, se consultar com um médico de má vontade, estou falando sobre ausência de elementos básicos para tocar uma vida como achamos que ela deve ser hoje em dia.

Embora exista a relação óbvia entre o escravo liberto com uma mão na frente e outra atrás num país estranho e a imensa maioria dos negros pobres que vivem em países como Brasil e Estados Unidos, eu estou falando da pessoa miserável em geral. Pode ser de qualquer cor e qualquer descendência. Tem gente vivendo ao mesmo tempo que a gente que não foi chamada para participar do Século XXI. Muitas delas não devem morar muito longe de você.

Flertando com o desastre: a gente está tão acostumado com a existência de miseráveis atualmente quanto os donos de escravos estavam acostumados com a escravidão séculos atrás. Não é aceitável que exista gente passando fome, não é humano que alguém nasça numa casa pobre e tenha que se esforçar muito mais que outro ser humano para ter condições mais decentes de vida. Ou os direitos são humanos, ou não são.

Os escravocratas da época foram rápidos em dizer que ia acabar a comida do mundo sem ninguém pra trabalhar na lavoura. Disseram que a sociedade ia ficar miserável e que a ordem natural das coisas seria desfeita. Compara uma fazenda moderna com uma fazenda tocada por escravos… compara a riqueza daquele tempo com a riqueza atual.

Eliminar a pobreza (não eliminar os pobres, antes que alguém pense em genocídio) vai gerar o mesmo tipo de reação: “a sociedade não aguenta esses custos, ninguém vai querer trabalhar, não é justo com quem se esforça, eu me viro sozinho…”

Ideias como renda básica universal ou mesmo reparações para descendentes de escravos parecem maluquices de esquerdistas/progressistas sem base na realidade, e eu sei por textos antigos sobre esses temas que temos vários aqui que vão reagir negativamente ao texto (mesmo que seja com o demoji de comunista).

Mas aí que eu te digo: os cães ladram, mas a caravana passa. Um combate à pobreza baseado na ideia que é direito inalienável do ser humano ter comida, casa, educação e saúde mesmo sem ter um trabalho tradicional vai começar a fazer mais e mais sentido com o passar dos anos. As pessoas que lutam por melhores condições para os pobres atualmente estão fazendo isso por ideal, mas me parece óbvio que as próximas décadas vão nos mostrar que essa é a alternativa para um futuro mais rico e desenvolvido.

A mecanização acelera numa velocidade impressionante, computadores ficam mais e mais inteligentes, vai começar a diminuir a necessidade de termos seres humanos produzindo coisas. Vai aumentar a necessidade de ter seres humanos consumindo coisas. Eu sei que muitos de vocês vão me dizer agora que o mundo não tem recursos para dar conta dos bilhões de pobres que vivem hoje com restos, mas lembra do que os donos de fazendas de escravos disseram? Eles tinham certeza que a produção ia desabar. A produção explodiu, a humanidade produz tanta comida que a população está engordando em todos os lugares.

Não é uma questão de empobrecer todo mundo por igual, é a ideia de que precisamos dar mais um salto de eficiência e produção para começar a subir o padrão de vida de todo mundo para uma base impensável para nossos antepassados. Um africano escravizado no Brasil em 1700 não pensava também que um dia as pessoas como ele poderiam nascer em berços privilegiados eventualmente. Parecia que o mundo acabava ali mesmo. Não acabou.

Para dar mais um salto de eficiência e produção, precisamos deixar o mercado consumidor muito maior. A economia mundial está estagnando porque a China parou de colocar milhões de novos consumidores no mercado todos os dias. Mas enquanto estava, a produção global aumentou sem parar. Ainda temos a Índia e a África para explorar nesse sentido, quando a demanda aumenta, o mercado corre atrás. Tem muita terra pra usar ainda nesse planeta, tem muitos recursos disponíveis de acordo com o quão lucrativos eles se tornem.

E pra deixar o mercado consumidor muito maior, por mais que isso deixe os nossos leitores libertários furiosos, o Estado precisa começar a pegar e distribuir muito mais dinheiro. Renda básica universal com impostos imensos é o tipo da coisa que parece que vai quebrar a economia, mas que na verdade só vai aumentar ela. Estamos dentro da era onde ainda não parece absurdo deixar que seres humanos vivam na pobreza, porque achamos que as coisas são assim.

Mas essa era acaba. A era da escravidão acabou. Assim como o fim da escravidão não significou justiça para todos, o fim da era da pobreza também não, ainda vai ter desigualdade e gente explorada, mas vai ser gente explorada que gasta muito mais na economia, e por tabela faz com que mais e mais gente produza riquezas para a sociedade.

A humanidade era maluca de achar que forçar uma pessoa a trabalhar era mais eficiente do que pagar para ela, a humanidade é maluca de achar que nossos problemas não derivam quase que exclusivamente da maioria das pessoas desse mundo serem pobres demais. Essa ficha vai cair, não por amor, mas por potencial de exploração financeira.

Eu apostaria que um Somir do século XXIII vai falar sobre pobreza da mesma forma que o Somir do século XXI fala sobre escravidão. Algo bizarro, inaceitável e acima de tudo, terrível para economia. Não estou dizendo pra começar hoje, estou dizendo que se você estiver prestando atenção, esse parece ser o caminho mais provável. Não se assuste quando começar a ver mais e mais gente discutindo esse tipo de proposta.

E quando começar a ver, saiba que acabaram de perceber que escravidão não dava dinheiro de verdade. Dá pra ser otimista por motivos cínicos, afinal, a humanidade ainda é a humanidade.

Para dizer que poderia começar agora para você se demitir, para dizer que carros nunca vão substituir os cavalos, ou mesmo para dizer que eu sou um esquerdista nojento: somir@desfavor.com

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Comments (32)

  • Engraçado que toda essa discussão já era ensaiada, por assim dizer, na literatura do século XIX. Alguns personagens de Dostoievski, dando uma resposta a altura a outros personagens de escritores ditos “radicais”, chegam a dizer mesmo que matar a fome de todo mundo não valeria tanto a pena, afinal, restaria o tédio e, depois de saciados, todos se perguntaram, “e agora? O que fazer?”.

  • A exploração do futuro muito distante depois da pobreza será, creio eu, da futilidade.

    Exploração através de consumo e encrencas sem nenhum propósito (ou talvez em busca de criar um?), devido outros problemas na sociedade já terem sido pelo menos levados em consideração. Seria o “excesso de paraíso”.

    Pessoas se rebaixando sem necessidade por coisas que provavelmente elas não vão precisar. É a autoescravização cuja alforria vem de você mesmo.

    Depois disso, talvez lidemos com aliens colonizadores…

    • A exploração do futuro muito distante depois da pobreza será, creio eu, da futilidade.

      Tanto que, já está começando. Eu escrevi aquele texto da “tiktokalização da economia” já sentindo esse movimento. Muita gente começa a não ter o que fazer de trabalho no sentido mais clássico, fama começa a virar uma indústria mais popular.

  • E o caminho para a riqueza vai ficar cada vez mais difícil … o pobre não tão pobre não vai ter nem a esperança do antigo pobre.

  • Primeiramente, permita-me chover no molhado: é cirurgicamente precisa, praticamente óbvia a afirmação/premissa do texto que é aberrante haver miséria em pleno 2022. Agora vamos falar de resolver isso: sinto muito, mas não existe solução mágica para erradicar a pobreza. Renda básica universal funciona quando as pessoas tendem a ter um background educacional mais amplo. No caso de shith…digo, de países que patinam em matéria de educação, seria dar dinheiro pro seu Zé viver encachaçado, com o smartphone último lançamento no bolso, enquanto ainda passa fome, morando num barraco e, mais à frente, morrendo de doenças medievais completamente evitáveis/tratáveis.

    A solução para erradicar de fato a pobreza atende pelo nome de “educação”. Investimentos pesados (não só de dinheiro, mas de estratégia) devem ser feitos nessa área, e eles podem ajudar em diversas frentes: ajuda desde as pequenas coisas, como não cair em golpes e pirâmides, como ajuda a investir e cultivar patrimônio, e também em grandes projetos, como estar melhor preparado pra ingressar em uma faculdade ou passar em um concurso, e até empreender melhor e gerar mais oportunidades para mais pessoas no entorno.

    O “problema” é que você não resolve isso pra amanhã. Investir em educação é um projeto de longo prazo, que só dá frutos dentro de décadas, não semanas. Boa educação leva pessoas a tomarem melhores decisões de vida, mata de inanição projetos políticos populistas e autocráticos, e em última instância, a pobreza some porque as pessoas mudam a própria realidade.

    Ninguém é miserável porque prefere sê-lo, ou porque um ente malvado as condiciona a ser miseráveis. As pessoas são miseráveis porque lhes faltam as ferramentas necessárias para reverter esse quadro. E essas ferramentas são educação e melhores oportunidades na vida.

    • Eu entendo o seu ângulo da dificuldade de fazer isso funcionar com dinheiro. Eu concordo plenamente que sem educação não há evolução.

      Mas tem uma “sutileza” no ponto defendido no texto: é sobre uma mudança de mentalidade em larga escala sobre o quão tolerável é uma sociedade ter pessoas pobres. Renda universal vai ter um monte de problemas, mas provavelmente é a única solução que lida com a humanidade achando aberrante a pobreza. É uma reação violenta, quase que alérgica, ao problema. Não vão fazer porque é a melhor solução, vão fazer porque é a única coisa ao alcance. O fim da escravidão foi feito do jeito errado, tão errado que negros são desproporcionalmente mais marginalizados mais de um século depois no Brasil!

      E sobre a educação, existe um ângulo otimista: já estamos fazendo. Já estamos fazendo desde o fim do período feudal, com um grande avanço desde a Revolução Industrial. E funciona. Todos os índices de qualidade de vida subiram junto com o maior acesso à educação desde então. É que como você bem disse, demora, demora muito. Mas se você afastar seu ponto de vista para enxergar mais séculos, a humanidade já está fazendo isso.

    • Finalmente um comentário minimamente racional.

      Tem gente que parece que pensa que é só dar um bolo de dinheiro pro pobre hoje que amanhã ele já vai estar abrindo um negócio ou fazendo um curso. Mesmo que alguns até façam isso, ainda levaria muito tempo até os frutos começarem a aparecer.

    • Claaaro, a elite não quer manter a concentração de renda, nem aumentá-la! Imagine! A sua pseudoracionalização é apenas uma tentativa de preservar o atual capitalismo financeiro, cujas maiores oportunidades são dirigidas aos parasitas e desonestos.
      A sofisticação não esconde a estupidez do seu comentário, enfim.

    • Muita coisa pode e vai dar errado.

      “Mas pelo menos a humanidade não vai mais estar na barbárie de tolerar que pessoas sejam pobres.” – frase que parece histérica hoje, mas vai ser lugar comum num futuro talvez nem tão distante.

  • Como a sociedade vai tirar o pobre da pobreza? Distribuindo renda? Só se for um movimento que se inicia em país rico e em seguida vai ser empurrado goela abaixo dos demais, como foi o fim da escravidão. Aqui na bananalandia não vejo ninguém sendo proativo pra se mexer e fazer algo, o próprio Estado prioriza gastos eleitorais, afinal… vão gastar com pobre sendo que poderiam engordar o fundo eleitoral?

    E a própria sociedade precisa amadurecer. Eu sei que preciso. Fico revoltada com pobre. Não tem comida, não tem um teto, mas não para de pôr filho do mundo. Mais gente pra se foder e revirar caçamba. Eu que tenho salário não ponho filho no mundo e vou ver o dinheiro dos impostos que pago usado pra sustentar o filho dos outros?
    Me dá dó as crianças passarem fome, mas ao mesmo tempo a mentalidade dos pais me revolta.
    Comentário anônimo porque eu tenho vergonha de pensar igual a Bia Dória. Precisamos amadurecer.

    • É por isso que eu usei a analogia com a escravidão. Parece impossível começar, mas algumas gerações depois, todo mundo vai estar puto por não terem começado antes. Abolir escravidão não acabou com todos os problemas dos ex-escravos nem criou um mundo ideal, mas melhorou todos os aspectos da vida humana. Abolir pobreza redistribuindo renda de forma hardcore também parece impossível de começar, mas se alguém começar e a visão social começar a ver pobreza como aberração…

      E mais uma coisa: dinheiro distribuído pra pobre vai pra economia correndo. Não estamos botando fogo nesses recursos, estamos fazendo eles girar.

      • “Não estamos botando fogo nesses recursos, estamos fazendo eles girar”

        Nesse sentido, o auxílio emergencial durante a pandemia ajudou a economia a não cair (tanto). E ajudou também a Caixa a cogitar capitalizar em cima do alcance obtido com a conta digital, expandindo a oferta de serviços através do App voltado somente ao auxílio (a partir de créditos imobiliários).

    • Olá Anon!
      Vim tirar sua dúvida de um dos motivos do porque pobre “Não tem comida, não tem um teto, mas não para de pôr filho do mundo”.
      E pq vc que tem salário não coloca.
      Perspectiva

      A pessoa não tem perspectiva de emprego, de melhorar de vida, de estudo, de ter as coisas que ela vê todos os outros tendo… então sobra o filho. É algo que desde que o mundo é mundo os animais têm. É algo que ela pode fazer. É algo que vai ocupar o tempo dela e a mente dela por uns bons meses e até anos. Sem contar no status que a gravidez garante pra essas meninas (vide a fúria com o famoso texto da Sally) – elas tem privilégios familiares (e sociais!) por estarem grávidas. E no fim elas deixam de ser a filha de alguém e passam a ser mães. É outra categoria. Parece bobagem, mas psicologicamente pra essas meninas é a forma de se emancipar.

      E vamos combinar que não é tão difícil assim fazer e fazer nascer. Até a comida é de graça nos primeiros meses.
      “Ahh, mas educar é dificílimo”. Mas que exemplo essa pessoa que está querendo este bebê teve de educação? Pra seguir a educação que ela teve, também é fácil ter filho e soltar no mundo. E quanto mais pobre, mais cedo essas meninas querem engravidar, conscientemente. Já vi meninas de 12-14 anos planejando engravidar, indo em médico porque ainda não estavam grávidas. A maioria das gestações é muito desejada.

      Eu também já julguei muito até começar a conviver e conversar com essas pessoas.
      Ainda não concordo com o motivo pra terem filhos, mas entendo.

      • Você está corretíssima em tudo que disse e eu tenho essa visão.
        O que eu acho dificil de engolir é que passada a “alegria” do primeiro filho, da primeira, da segunda, da terceira gravidez, não bate um estalo de realidade? Eles não enxergam que é ruim viver em barraco sem ter o que comer e não bate um pensamento de “ah chega, já tenho 3 passa do fome, não vou trazer mais pra esse mundo”
        Em tempo, não sou do time que acha que pobre põe filho no mundo pra ganhar bolsa familia. Bolsa familia é algo muito bom e que revolucionou a vida de muitas familias.

    • Se vira como pode durante a infância dos filhos, coloca os filhos mais velhos de babá dos mais novos, quando os filhos viram adolescentes coloca eles pra trabalhar e ajudar em casa, fim. Não é difícil de entender, embora não seja a causa e sim a consequência. Aliás, pobre geralmente tem um certo grau de união. No meu contexto social tem muitas histórias onde o indivíduo sobreviveu à infância recebendo roupa e comida de vizinhos ou parentes. Esse é um dos trunfos do ser humano.

  • Infelizmente, os vagabundos parasitas do mercado financeiro e os empresários imbecis que financiam a estupidez reacionária da direita liberalóide (e trouxa, no que concerne aos deslumbrados pobres de direita e classe média patética) jamais aceitarão perda do privilégio de serem muito mais ricos que 99% da humanidade.

  • Estive conversando com um parente que trabalha numa escola, ele disse que um monte de adolescentes saíram da escola porque a família está passando fome e eles precisam ajudar. Isso numa capital. O censo deste ano vai ser um choque de realidade fudido, o Brasil afundou demais.

  • Esse argumento da preguiça não cola porque em países que já vivenciam meio que um “protótipo” de renda básica universal, o que mais tem é gente começando o próprio negócio. O ser humano não gosta de ficar parado em casa, como pudemos ver nos últimos 2 anos. Somos eternamente insatisfeitos e gostamos de desafios.

    Aliás, a Dinamarca já deu uma ideia pra lidar com preguiçosos:
    https://economia.uol.com.br/noticias/rfi/2021/09/22/dinamarca-muda-regra-para-recebimento-de-beneficios-sociais-devido-a-falta-de-mao-de-obra.htm

    • Essa notícia também mostra que o mundo ainda vai continuar funcionando, e vai ter gente tentando ajeitar não só as contas do Estado, mas também incentivar pessoas a “tomarem um rumo”. Não é dar dinheiro pra pobre e parar de se preocupar com o país, é um caminho que se pega para ter novos problemas que não sejam apenas gente miserável sofrendo.

      • Claro que continuará funcionando. Não duvido nadinha que o cerumano vai até fabricar dificuldades para isso, se necessário for em uma realidade estável (e mesmo o processo de melhorias sem intenção nenhuma de fabricar dificuldades implicam naturalmente em efeitos colaterais que podem se desdobrar em novos perrengues por si só).

        E até vadiagem cansa um dia. E perde o sentido – como você sabe que está parado de nunca se moveu? Talvez seja hora de apresentar a quem esteve parado sem entender que está parado a oportunidade de se mover.

  • Texto muito interessante, Somir. Seria ótimo se o mundo realmente caminhar nessa direção que você propõe, mas há algo que não foi mencionado: os custos ambientais. E olha que eu estou muito longe de ser um ecochato, viu? Mas é que mais pessoas consumindo – ainda que só o essencial para uma vida minimamente decente – também significaria mais exploração de recursos naturais e mais poluição. Claro que, com a evolução tecnológica e de mentalidade, a tendência é que no futuro haja uma utilização mais racional do que a natureza nos oferece e uma produção de bens e serviços mais “ecologicamente correta”. Eu temo, no entanto, que isso não aconteça na mesma velocidade que um eventual aumento no mercado consumidor.

    • Eu não tenho muita esperança do ser humano se conscientizar, mas acredito que uma economia menos focada em produção e mais “fazer economia girar” vai ter muito espaço para quem quiser fazer coisas ecochatas, ou ONGS… se a pessoa estiver livre de acabar na rua da amargura, vai ter gente até demais tentando salvar animal da extinção.

    • Na questão ambiental não é difícil de vislumbrar uma possível solução: estamos caminhando rumo a maneiras mais limpas e eficientes de fazer as coisas, desde construir automóveis e eletrônicos até construção civil e geração de energia. Mas fatalmente teremos de caminhar mais rápido nessa direção, pois é válida a preocupação sobre o aumento da base consumidora eventualmente dar a volta sobre os esforços pra deixar produtos, serviços e energia mais ambientalmente amigáveis.

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