FAQ: Coronavírus – 62

Li que a OMS decretou o fim da pandemia, a pandemia realmente acabou?

As respostas são: não e não.

A OMS não declarou (não é decreto, é declaração) fim de pandemia coisa nenhuma, declarou apenas o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à COVID-19, como diz o próprio site da OMS.

O que infelizmente acontece é que a mídia continua tratando o assunto de forma ignorante, usando termos errados e jogando informação misturada com achismo. Essa mensagem de “a pandemia acabou” pode ser muito mas muito nociva.

Eu faço questão de transcrever a explicação do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom (aquele que o brasileiro acha que estava em um bar de shortinho tomando Itaipava):

“O fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional não significa que a COVID-19 tenha deixado de ser uma ameaça à saúde. A propagação mundial da doença continua caracterizada como uma pandemia, tendo tirado uma vida a cada três minutos apenas na semana passada.

A pior coisa que qualquer país pode fazer agora é usar esta notícia como um motivo para baixar a guarda, desmantelar os sistemas construídos ou enviar a mensagem à população de que a Covid-19 não é motivo de preocupação.

O que esta notícia significa é que é hora de os países fazerem a transição do modo de emergência para o gerenciamento da Covid-19 juntamente com outras doenças infecciosas”

O que o Brasil está fazendo? Exatamente o que ele pediu para não fazer: baixando a guarda, achando que já acabou, se comportando com zero cuidado ou preocupação. E agora não tem o Bolsonaro para culpar, hein?

Eu vi Globo noticiando que a “OMS declarou o fim da pandemia”. Não dá. Não há qualquer condição que mídia que diz combater negacionismo científico e notícia falsa publique uma merda deste tamanho. Dá tristeza, dá desânimo, dá desesperança ver que um blog feito por dois malucos informa melhor do que o maior portal de comunicação do país.

O que a OMS está dizendo com essa declaração é que a doença existe, a doença continua se espalhando sem controle pelo mundo, a doença continua fazendo vítimas, porém, a recomendação é que se lide com ela de outra forma a partir de agora.

Por exemplo, neste momento não é mais razoável impor quarentena, pois esta é uma ferramenta para situações emergenciais. É preciso compreender que ela não poderá ser completamente erradicada em um futuro próximo mas, países que tem uma boa parcela da população vacinada, podem sair do modo emergência e começar um planejamento de longo prazo.

Isso não torna a doença menos perigosa, o vírus não mudou, o que mudou foram as circunstâncias e as ferramentas que temos contra ele (principalmente a quantidade de vacinas aplicadas). Não autoriza descuido, não autoriza se comportar como se o vírus não existisse: para o cidadão, nada muda, as precauções continuam as mesmas (e cada um toma na medida em que achar prioritário se proteger e proteger os que estão ao seu lado).

A mudança é apenas para os países, os governos, que agora deverão lidar com a doença não como uma emergência e sim como algo que veio para ficar e vai demandar cuidados periódicos constantes.

Por exemplo, no modo “emergência” os países estavam desesperados atrás de vacina, tentando comprar o mais rápido que podiam, por preços exorbitantes. Agora, se sabe que, de tempos em tempos, a população terá que ser vacinada, então, é inteligente que se faça um plano de compra anual, com antecedência, estimando a necessidade de cada país, bem como se planejem campanhas e medidas para períodos de alta de casos.

A doença continua oferecendo perigo, porém, quem tem quatro ou cinco doses de vacina está muito bem protegido, desde que não esteja dentro do grupo de risco/com comorbidade (ou seja, pessoas nas quais a vacina não cria uma boa resposta imune).

Então, a quantidade de precauções que você escolherá tomar daqui para frente tem que ser pensada com base em dois parâmetros: 1) como está sua resposta imune ao vírus e 2) como está a resposta imune das pessoas que te cercam ao vírus.

Uma pessoa de 25 anos, sem sobrepeso, sem qualquer doença, comorbidade ou condição que afete seu sistema imune, estará maravilhosamente protegida se tomou todas as doses, inclusive a bivalente. Dificilmente essa pessoa tenha maiores problemas de pegar covid, seria uma enorme fatalidade imprevisível morrer da doença.

Mas crianças, idosos, diabéticos, pessoas com problemas cardíacos, doenças autoimunes, em tratamento quimioterápico, obesos, pessoas com problemas respiratórios e todos os demais grupos de risco que a gente conhece ou pessoas que, por circunstâncias externas estão com o organismo debilitado, podem sim ter problemas sérios ao pegar a doença.

Lembrando que morte não é o único problema sério, tem uma infinidade de sequelas, algumas bem incapacitantes. Lembrando ainda que não apenas as sequelas consideradas “graves” podem fazer um estrago na sua vida, você pode ter uma forma leve e ficar com uma névoa mental que te impeça de trabalhar por seis meses. Vai morrer? Não. Mas talvez fique desempregado.

Então, o grau de proteção/prevenção que cada um de vocês vai adorar daqui para frente depende da sua saúde e da saúde das pessoas com as quais convive.

Não adianta ser jovem e saudável, mas cuidar de uma avó que está fazendo quimioterapia: se você pegar, pega vírus mais contagioso que a humanidade já viu, ou seja, tem grandes chances de passar para a sua avó e pode até acabar matando-a.

Não adianta você ser jovem e saudável, mas precisar da sua mente afiada, por ter um trabalho que te demanda muito: mesmo uma versão leve ou até assintomática pode te deixar com uma névoa mental dos infernos por meses ou até anos e te fazer perder o emprego.

Então, ainda tem que agir com consciência e responsabilidade. Não acabou.


Fala aí da nova variante

XBB.1.16, também conhecida como “Arcturus”, é uma linhagem da Ômicron que, como as irmãs, também aprendeu muito bem como ser mais transmissível e relativamente bem como escapar melhor de vacinas. Entretanto, não há indícios de que ela gere uma forma mais grave de covid, portanto, quem está com todas as doses de vacina, incluindo a bivalente, está bem protegido contra morte e hospitalização.

Ela é uma Variante de Interesse (VOI), ou seja, possui alterações genéticas que podem afetar seu comportamento (no caso, maior transmissibilidade e menor eficácia das vacinas). Ela ainda não foi considerada uma Variante de Preocupação, ou seja, não se considera um risco significativo para a humanidade. Está sendo monitorada e, se algo mudar, nós avisaremos.

Gera os mesmos sintomas já conhecidos (os mais comuns são febre e tosse) e um sintoma novo: irritação nos olhos, algo muito parecido a uma conjuntivite, que tende a desaparecer sem deixar maiores sequelas. Porém, não custa relembrar que essas são as informações que temos hoje. Ninguém sabe o que acontece seis meses depois da infecção, por exemplo. Não vale a pena arriscar, não é mesmo?

A forma de se proteger dela é a forma de se proteger de qualquer vírus respiratório: máscara PFF2 (nenhuma outra te protege), lavar bem as mãos, ventilar ambientes e todas aquelas precauções que vocês conhecem. Não é a primeira e certamente não será a última. Reflita sobre o custo/benefício de se proteger e adote as medidas de proteção que julgar necessárias.


Vale à pena tomar a vacina bivalente?

Sim, e vou tornar ainda mais fácil para vocês: vale à pena tomar qualquer vacina que seja disponibilizada, para covid ou para qualquer outra coisa.

“Mas Sally, a indústria farmacêutica bla bla bla, os políticos bla bla bla”. Pode parar por aí. Para uma vacina ser mundialmente aplicada, existem filtros, mecanismos de segurança e vigilância suficientes para que ela não seja fruto de interesse de um político ou de um laboratório.

Nem tudo é teoria da conspiração (e se fosse, um zé buceta brasileiro certamente seria o último a saber). Vacinas são seguras. Se está disponível, se é indicada para sua faixa etária, simplesmente tome. Guarde sua desconfiança para outras coisas, que são muito menos controladas e usadas com mais frequência para sacanear o povo.

Se você acha que a vacina bivalente é uma forma de laboratório lucrar, sinto te informar, mas 1) não é, o vírus mudou o suficiente para demandar uma vacina mais eficaz e 2) vão lucrar do mesmo jeito pois, mesmo que você não tome, o governo comprou e pagou.

Então, não seja arrogante de acreditar que com pesquisa de internet você tem a total compreensão de algo complexo como a mutação de um vírus. Apenas tome.

A vacina bivalente, oferece proteção contra a cepa inicial de covid, mas também contra a Ômicron, que atualmente é dominante no mundo todo (apesar de ter linhagens diferentes, é sempre Ômicron).

Já que a prevalência no mundo é de Ômicron, a escolha sensata é tomar uma vacina desenhada especificamente contra Ômicron. Vai te proteger 100%? Não, pois é uma vacina, não um milagre. Mas vai te proteger melhor do que a anterior. E às vezes, qualquer melhora na proteção é a grande diferença no que será sua vida depois de pegar covid-19.

“Ain mas não deu tempo de fazer os testes de segurança…”. Meu anjo, pense na vacina como um carro. Se você desenvolveu um carro preto que anda muito bem, é seguro e o mundo inteiro dirigiu sem problemas, pode muito bem pintar ele de outras cores e vender sem precisar testar tudo novamente.

O que torna uma vacina segura é a forma como ela é desenvolvida e como ela age – e essa vacina é segura. Se tem o bichinho X ou o bichinho Y dentro é irrelevante, o importante é que ensine seu corpo a combater o bichinho. Eventuais riscos são menores do que os riscos de ser infectado, ou seja, se você não se vacinar, os riscos de vida e de sequelas serão bem maiores.

A cobertura de vacina bivalente (ou seja, a quantidade de pessoas que tomaram) está muito baixa no Brasil. Entre aqueles para os quais a vacina está disponível, pouco mais de 10% de vacinaram. É de graça e salva vidas, nada justifica não tomar. Por favor, se já está disponível para você, não adie, tome imediatamente.


O que está sendo feio para evitar que novas pandemias apareçam?

Nada. Vão aparecer, não é uma questão de “se”, é uma questão de “quando”.

Inclusive já descobriram vários vírus que estão nessa transição de animais para humanos. Há estudos, há avisos, há projeções de novas pandemias em breve. E nada significativo está sendo feito, nem mesmo o mais básico do básico, que é informar à população desse risco, de forma acessível e eficiente.

Aí, quando acontecer, vão dizer que é “muito estranho” e que é “muito suspeito ver duas pandemias tão próximas, afinal, isso nunca aconteceu antes” e culpar alguma teoria da conspiração, Bill Gates ou qualquer coisa externa. Para o burro, tudo que sai do seu pequeno e limitado mundinho é “muito estranho”.

Não é estranho, não é suspeito, é algo previsto: animais selvagens convivendo mais com humanos por diferentes motivos (mas principalmente por estarmos desmatando seu habitat e entrando nele), animais que carregam vírus que, ao contato com humanos, podem pular para seus corpos e se adaptarem.

Vai acontecer. Eu sinceramente espero não estar viva para ver, pois sem paciência para passar por isso novamente e ter que escrever sobre isso novamente. Mas vai acontecer. E as reações retardadas, conspiradoras, desempoderadas e imbecilóides serão as mesmas. O vírus evoluí, muda, melhora, o ser humano, ao que tudo indica, não.

Para dizer que achava que o nome da vacina era “ambivalente” (só dá isso nas buscas do Google que caem aqui), para dizer que teria sido muito mais legal falar sobre a coroação do rei Charles ou ainda para dizer que quer um “Ei, Você” sobre a vacina bivalente: sally@desfavor.com

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Comments (20)

  • Após 29 meses de “ficar em casa”, só saindo para o extremamente necessário, seguindo todos os protocolos de segurança e 4 vacinas, positivei para COVID.
    Achei que era só um resfriado, febre de 37,5°, o que já me deixa na horizontal, mas nem dei bola, só concordei em fazer o teste porque notei que o que comia não tinha gosto de nada, era uma sensação incrivel e tudo parecia palha sendo triturada. Espremi Limao em uma colher, tomei e não arrepiou, comi Romeu e Julieta e não tinha sabor, tudo só tinha textura diferente.
    Para a minha surpresa o teste positivou de imediato.
    Após 4 dias tem uma gataiada no final da respiração.
    Remédios para os sintomas, vitamina C e D, aguardando passar o tempo.
    A irritante pergunta que me faço é: onde me contaminei?

    • É muito difícil agir de forma perfeita e infalível por anos. Mesmo tomando todos os cuidados, eventualmente sua máscara pode ter saído do lugar ou filtrado menos por estar úmida ou você pode ter coçado o olho sem querer depois de encostar em um local contaminado. São inúmeras possibilidades. O lado bom é: você pegou quando já estava super protegida, com 4 vacinas, então, todo seu cuidado valeu a pena. Suas chances de sequelas são menores e você não vai nem para o hospital, nem para o cemitério.

      Faça um checkup dentro de poucos meses, para ver se está tudo bem, pois covid pode desregular algumas coisas no corpo.

  • Sally, esse problema que você citou na primeira repsota, de a grande imprensa dizer bobagens e usar termos inadequados que induzem o público ao erro, é a coisa mais velha que existe. Acontece desde sempre e há até um termo do jargão profissional do jornalismo que define isso: “barriga”. E, quando se junta os tropeços de repórteres que são afobados, incompetentes ou arrogantes, com a igorância generalizada do povo quanto ao real significado de certas palavras; tem-se a receita perfeita para um desastre. Imagino que, nos seus tempos de advogada, você deva ter lido e ouvido muita besteira vinda de gente que produzia matérias sem conhecer direito o vocabulário e os procedimentos jurídicos. Uma regra de ouro do jornaismo manda sempre tomar muito cuidado ao se tratar de assuntos muito específicos e que não se conhece tão bem. Melhor gastar um tempinho a mais na apuração do que sair por aí falando merda por não ter eliminado eventuais dúvidas antes de publicar.

    • Mas não é pressa em dar a notícia nem nada do tipo. Foi um comunicado oficial da OMS, que o fez inclusive por escrito, no seu site. Não tem como “confundir” o que está escrito e divulgado de forma clara. É má-fé mesmo.

    • Explicação bacana, W.O.J., e eu também não sabia que isso tinha um nome específico. A partir de agora,vou começar a ler com mais atenção o noticiário pra ver se encontro sinais de “barriga” nas matérias.

  • Eu travo uma luta em casa para convencer a família a se vacinar, são o pior tipo tomaram 3 doses e não querem completar o esquema vacinal. Já tomei a bivalente (só tive uma leve dor no braço), mas é tanta fakenews o dia todo que eu tô quase desistindo. Agora eu digo que vou é fazer um seguro de vida bem bom pra eles e me colocar como beneficiada.

  • As pandemias são de 10 em 10 anos, então se vc não for muito velha agora, daqui a 10 anos vai postar sobre doença novamente.

  • Tomei a da influenza, não deu nada, achei que ia pelo menos doer o braço, nem aí doeu.
    A bivalente ficou pra outro dia, infelizmente esqueci a carteira com o RG e habilitação em casa, dancei, a enfermeira se recusou a me vacinar sem o documento com foto, embora eu estivesse com as carteirinhas das vacinas anteriores de COVID em mãos.

  • Só pra constar: eu tomei a bivalente e não senti nada, nem doeu tanto, pasme!

    Agora a da influenza esse ano, olha… Além de sentir que quase ia cair o braço, me deu febre que não passava por 3 dias a fio, pensei até que ia convulsionar, pq a febre chegou na casa dos 39 e uns quebrados e não passava! Mas no final, deu tudo certo! rs

    • Aqui foi uma em cada braço, gripe e bivalente. Não tenho 60 anos mas como tenho pressão alta liberaram pra mim. A Pfizer e Butantan não dão reação mesmo. O braço doendo que é foda. As pessoas andam na rua esbarrando e meus 2 braços doendo.

      • Minha primeira dose foi Janssen e foi a única que deixou meu braço zoado pelas 24hrs seguintes, mas me avisaram de que podia acontecer mesmo.

        As demais, só foi desconforto momentâneo mesmo.

      • Pois é, foi algo do tipo passando 2 dias de febre ininterrupta, tomei a cartela inteira de dipirona e a febre não passava, eu pensava comigo, eu vou ter que me internar, é? Pelo amor… Até que no 3o dia, como num simples passe de mágica, a febre sumiu e as dores também. Vai entender…

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