Novos analfabetos digitais.
Pesquisas recentes comprovam algo que eu percebia em estagiários há alguns anos: o jovem não aprendeu a usar computador. Os zoomers se juntam aos boomers como gerações que ficam confusas diante de um mouse, teclado e monitor. Sabem usar seus celulares, mas isso não é uma compensação…
Meus bisavós sabiam plantar, cuidar de animais e tudo mais que se esperava de alguém que vivia da terra. Meus avós um pouco menos. Meus pais, tão urbanos quanto eu, mas com alguma noção. Eu? Se eu depender da natureza para sobreviver, viro adubo. Não é necessariamente uma coisa ruim, a sociedade avança e algumas coisas ficam mais fáceis.
Mas nada é de graça nessa vida. Ao perder a capacidade de gerar meus alimentos, fico mais dependente de quem consegue. Numa crise de desabastecimento, eu, e presumo que quase todos vocês não teríamos um plano B. Se a comida não reaparece nas prateleiras dos supermercados, não temos muito para onde correr.
E isso vale para computadores: eles foram parar nos nossos bolsos, e se tornaram mais populares do que nunca. O celular é um computador portátil, usa basicamente a mesma lógica de processador, memória e armazenamento, mas a coisa muda na hora da interface de utilização. Para funcionar com toques e numa tela diminuta, muito esforço foi direcionado para simplificar sua utilização.
Quem aprendeu as duas coisas sabe como Android e iPhone são versões adaptadas de sistemas operacionais de computadores, focadas em entregar tudo o mais rápido possível, tomando decisões pelo usuário para conseguir isso. Mas que só aprendeu a mexer na versão mobile provavelmente não consegue entender o grau de complexidade extra necessário para controlar um computador de mesa (ou um notebook).
E aí, tem que aprender no mercado de trabalho, já tomando pressão na cabeça. Porque por melhores que sejam nossos smartphones, eles não resolvem os mesmos problemas que computadores mais tradicionais resolvem. Tem toda uma lógica de gerenciamento e edição de arquivos que é parte de como o mundo funciona hoje em dia, e essa parte não é o forte do celular.
As coisas vem prontas no mundo mobile, porque é o que faz mais sentido para um aparelho com uma tela pequena e apenas uma forma de interação com toques. Você é muito mais reativo do que ativo quando está diante da telinha. Usa as funções que o app oferece, sua criatividade mais baseada em como vai fazer a dancinha ou como vai usar emojis. E mesmo essas são altamente baseadas em imitação dos pares…
Como um elemento a mais na vida, nada contra. Tem várias utilidades de trabalho e de entretenimento que funcionam bem melhor no celular, mas substituir a ideia de computador por essa máquina portátil tem seus riscos. É prático, é divertido… mas você está desaprendendo a plantar, voltando para o exemplo do começo do texto. O celular é alimento que chega embalado para você, e se você se acostumar com ele assim, começa a ficar tão na mão das empresas de tecnologia como a maioria de nós está agora com empresas de produção e distribuição de alimentos.
A demanda por entregar coisas prontas para a gente, coisas que vem com um custo extra pela comodidade, essa vai existir enquanto existirem humanos no mundo. Fazendeiros e fabricantes de alimentos não usam esse poder para nos chantagear, e eu também não acho que as coisas vão chegar nesse nível com os celulares; mas terceirização sempre gera consequências.
Explico: se o preço do tomate dispara, não temos mais controle sobre isso. Temos que decidir se pagamos o extra ou se paramos de comer tomate. A vida moderna não presume mais plantar, não sabemos como fazer (spoiler: é mais que jogar semente na terra) e a imensa maioria de nós sequer tem espaço para isso nas cidades. Entregamos o tomate para terceiros.
De forma parecida, estamos entregando o computador para terceiros. Dizer que algo está “na nuvem” é comum, e o conceito de nuvem nada mais é do que usar o computador de uma outra pessoa. Seus arquivos não estão voando nos céus, estão armazenados numa máquina paga e mantida por uma empresa, que te vende o serviço de acessar essa máquina quando você quer usar esses arquivos. Se ela quiser cortar seu acesso aos arquivos, ela pode.
Streaming é outra forma de entregar o controle: você não tem a mídia, você aluga o acesso a ela. Se cancelar sua assinatura da Netflix, nenhum dos conteúdos deles é seu para ver depois. Algo que ficaria no seu computador agora fica no deles. Em tese é mais barato por conteúdo e muito mais fácil de usar, mas, novamente, você cedeu mais uma coisa para terceiros.
A lógica do jovem desaprendendo a usar o computador em troca da facilidade do celular é muito parecida: você nunca mais precisa pensar sobre o que fazer com um arquivo zipado, mas também não vai saber mais como lidar com um arquivo muito grande para caber no seu aparelho. Cada facilidade entregue é uma capacidade a menos que a pessoa aprende.
Cada aplicativo faz uma coisa diferente, mas provavelmente no PC tem um programa que faz o mesmo que vinte delas. Compartimentar também é uma forma de trocar facilidade por controle. Percebam que não estou sendo crítico aqui, dizendo que no meu tempo que era bom, eu acredito que preguiça é a mola motriz da evolução tecnológica e não sou contra que tudo seja facilitado, não por ideologia.
Só estou avisando aqui que se você só usa celular, você está cedendo uma capacidade de controlar um meio de produção: o computador. Muitos dos trabalhos que fazemos hoje dependem de um deles, e quanto mais simplificados os apps, mais eles estão tirando sua capacidade de fazer escolhas e entender por que as coisas funcionam como funcionam.
Tem um preço. A criatividade começa a ficar focada em produção de conteúdo e menos em utilização das poderosas ferramentas que um computador te oferece. Não sei quanta gente tem paciência para usar uma planilha no celular… a probabilidade é que a pessoa vá buscar uma forma mais agradável de lidar com os dados, e com isso sempre vem o risco de escolherem por você como interpretar esses dados.
No desktop, sua tela está cheia de notícias num portal, você bate o olho em tudo e vai usar links e sessões para analisar o que te interessa, no mobile, por causa da tela e da navegação, é mais eficiente colocar um algoritmo para fazer pré-seleção de conteúdo e colocar eles em sequência de mais relevante (segundo a máquina) para menos relevante. Isso impacta na forma como você consome conteúdo e acumula informação.
E se por um acaso as pessoas que oferecem essas facilidades quiserem te guiar por algum caminho, seja ele ideológico, seja ele mercadológico, você não tem mais muito controle além de pagar mais pelo tomate ou deixar de comer tomate. Entender computador é saber também como funciona a tecnologia e ter capacidade de tomar decisões bem mais complexas sobre como você lida com informação e trabalho.
A coisa é mais séria do que o zoomer não saber como usar pastas no Windows, porque isso é possível de ensinar. O que não vai ser fácil de ensinar é porque os arquivos ficam em pastas, como programas usam essas pastas, ou toda a lógica de organização que surge a partir desse conceito. Quem viveu a vida toda com uma sala da bagunça onde se joga tudo sem pensar vai entender o conceito de prateleiras e caixas?
Cedendo capacidades em troca de facilidades. Sou um eterno defensor da tecnologia a favor da preguiça, mas sem nunca esquecer que é sempre em troca de alguma coisa. Boomers e zoomers incapazes de mexer num computador é um resultado muito curioso da nossa marcha tecnológica, e com certeza vai impactar como as pessoas pensam e agem daqui pra frente.
De uma geração que aprendeu como funcionam seus meios de produção para gerações que só vão saber usar, e usar apenas da forma como aqueles que as fazem querem que sejam usadas. É claro que tem um perigo aí. Se você tem filhos, curso de informática é mais importante até do que curso de programação. Porque quem não sabe mexer no básico com certeza não vai ter paciência ou curiosidade de lidar com o complexo.
Para dizer que quem sabe usar computador vai ler primeiro, para dizer que o jovem tem que acabar, ou mesmo para dizer que nerd é imune: comente.
Anônimo
O SO do iPhone e equipamentos similares é o iOS.
Anônimo
Não acessei o conteúdo por VPN ou por TOR porque não quis.
Binho
Feliz Dia do Troll!
Anônimo
Já perdeu a graça, palhacildo. Bozo!
Cris (not a zoomer)
Feliz dia do troll para quem sabe usar um VPN
Torpe
Ou vocês estão bloqueados no Brasil ou é meu IP.
E isso aí concordo. O que vejo de gente mais jovem que mal sabe ligar um computador (e abrir um programa como qualquer um do Office) é absurdo…
Ge
Não saber abrir um programa do office, não saber como formatar um texto, uma planilha, fazer uma simples função soma (quem souber mexer com tabelas dinâmicas deve estar muito no lucro!)… Eu sinceramente tenho medo dessa nova geração analfabeta digital, viu? A chance de fazerem merdas, tanto em ambiente de trabalho como em qualquer lugar, é grande!
Álvaro
Aeeeeee Xandão cabeça de piroca achou o desfavor, quanto orgulho kkkk
Anônimo
Decadência lamentável. Não saber lidar com planilha é ridículo.
Anônimo
Por que bloquearam o acesso no meu país? Tive que usar VPN? Criançada brincando de Dia do Troll de novo?
Paula
Me senti muito zoomer agora. Foi bem mais fácil instalar o VPN no celular do que no computador. Mas tudo bem, eu nasci mesmo na geração z e ainda tenho muito a aprender sobre computadores.
A propósito, feliz Dia do Troll!
Anônimo
O blog está bloqueado no Brasil, alguém mais pode confirmar?
Silent Reader
Essa foi boa, realmente acreditei no começo. Mas nada que um App gratuito de VPN não possa fazer. Apesar de que eu acho que o zoomer brasileiro médio nem deve saber o que é VPN, então o post ainda acerta no final.
Anônimo
Vi que era fake porque:
1) Sabia que era o dia do troll.
2) Vi nas entrelinhas um texto que não é exatamente o que se teria em caso de uma suspensão verdadeira, onde a mensagem seria por parte do servidor onde o site está hospedado, no caso o dreamhost.