Skip to main content

Colunas

Therians

Tudo começou quando vi um vídeo de uma mãe reclamando e debochando da filha pelo fato da filha se reconhecer como uma formiga. Sim, uma formiga. “É piada”, pensei. Não era. Fui investigar e acabei descobrindo o fascinante universo dos Therians.

Os Therians são pessoas “transespécie”, ou seja, pessoas que nasceram em um corpo humano, mas que se sentem outros animais. Por exemplo, a abençoada do exemplo acima, que se identificava com uma formiga. O nome vem de “Therianthrope”, ou, em português, Teriantropia, que significa uma criatura ou divindade que combina atributos humanos e de animais.

Aqui temos uma linha tênue entre empatia e bater palma para maluco dançar. Não estamos negando que existam desordens, transtornos ou condições mentais nas quais uma pessoa realmente acredite que é outro animal, mas, ao que parece, a coisa virou um modismo. O jovem e seus modismos.

Provavelmente em outro momento histórico essas pessoas seriam internadas ou sofreriam o bullying necessário para aprender que não há espaço para canalizar seus problemas, carências e necessidade de se sentir especial para este caminho. Hoje não. Hoje, graças a esse discurso de que você é o que você se sente (e deve ser tratado de acordo), os Therians estão ganhando espaço.

Há quem alegue que são pessoas com “dismorfia de espécie”. Outros alegam possuir uma conexão “psicológica” com certo animal. Outros alegam sentir uma conexão “neurobiológica” com animais. Outros, chamados Otherkin, acreditam que em vidas passadas foram animais e nesta vida trouxeram resquícios dessa experiência.

Mas, a maioria alega uma conexão “espiritual”: o corpo é de humano, mas seus espíritos são de animais. Se você escutar uma pessoa falando que tem o animal X como “animal espiritual”, pode ter certeza que lá vem gente arrombando a ciência.

Antigamente os jovens era mais tímido com esse tipo de modismo, se limitavam a dizer que tinham um “animal espiritual” e tentavam fazê-lo presente em suas vidas através de roupas, tatuagens, acessórios. Mas, a falta de bullying da sociedade moderna gerou um terreno fértil para que essas ideias floresçam e acabam até mesmo sendo aplaudidas.

Não devemos confundir os Therians com os “Furry”. Furry é pessoa que gosta da estética animal, podendo chegar a se vestir como um animal, mas sabe que é humano. O pessoal Furry é uma espécie de cosplay de bicho: gosta do bicho, gosta de se vestir como o bicho, mas não se sente bicho.

Os Theriands se sentem um bicho preso em um corpo humano. Alegam inclusive passar por mudanças de comportamento “incontroláveis”, apelidadas de “shifting”, nas quais o animal com o qual se identificam prevalece sobre sua condição humana. Não raro quando sentem esses “shiftings” subitamente começam a se comportar como o animal: ficam em quatro patas, saltam, rosnam e coisas piores.

Talvez você esteja lembrando de um caso isolado que já foi notícia aqui, de um japonês (“Toco”) que se identificava como um cachorro, conhecido como “O Collie Humano”. Hoje, ele não é mais um caso tão isolado assim, qualquer busca rápida vai te direcionar para vídeos de encontros de pessoas que se identificam como cachorros. Teve um recentemente na Alemanha que reuniu mais de 50 pessoas. Sim, o modismo está se espalhando. E não apenas de pessoas que se identificam como cães, mas com muitos outros animais.

A sociedade repudia? Não. Boa parte inclusive encoraja. Um fator que chama a atenção é a demanda por esse tipo de conteúdo em sites de… como podemos chamar? Entretenimento adulto? Um dos maiores faturamentos dessas plataformas tipo Only Fans vem de pessoas que se “vestem” e se portam como animais. Quanto mais parecido com o bicho, mais procura.

Em redes sociais o tema também faz sucesso. O perfil de uma moça que se comporta como um gato tem quase um milhão de seguidores no TikTok. E o pior é que a maioria nem sequer se dá ao trabalho de emular um animal com veracidade.

Sabe aqueles homens que colocam uma peruca e se dizem mulher só para não ir para um presídio masculino? Pois é, mesmo esquema: costura um rabo nas calças, bota uma máscara na cara e pronto, você é um alecrinzinho dourando cujo espírito pertence a um animal.

Graças a esse modismo, o mercado em torno dos Therians não para de crescer: pessoas e marcas que vendem fantasias e acessórios para quem se sente animal aumentam todos os dias e ficam mais e mais sofisticados. Que tipo de acessórios? Tigelas, por exemplo. Quem se identifica com cães a gatos come de quatro eu uma tigela com seu nome.

Aí vem a pergunta de um milhão de dólares: é uma doença? Especialistas tendem a responder que depende. Se, apesar dessa crença de se sentir um animal a pessoa consegue levar uma vida plena e funcional, sem angústias e sem prejudicar sua rotina, é apenas um modismo, uma carência, uma forma de chamar a atenção e vai passar. Se não… pode ser uma doença sim.

Os Therians obviamete discordam. Eles se acham incompreendidos, se comparam a outros grupos que já foram tratados como doentes e hoje são bem aceitos socialmente, como é o caso de gays e trans. O que, por sinal, é um ótimo argumento: se uma pessoa com corpo biológico masculino que se sente mulher deve ser tratada como mulher, por qual motivo seria diferente com eles? O que importa não é como a pessoa se sente?

Profissionais de saúde mental são muito cuidadosos quando falam sobre esse assunto, afinal, todo mundo sabe que qualquer pessoa está à beira do cancelamento histérico hoje em dia. Eles recomendam avaliar “caso a caso”, devido à “complexidade da mente humana”. Devem receber uma cartilha com esse discurso, pois todos os que conversei usaram essa cartada.

Longe de mim duvidar da complexidade da mente humana, mas, do alto da minha proteção contra cancelamento que é este blog, eu te pergunto: se você habita um corpo com o qual não se identifica, que te causa estranhamento, certamente não será o fato de colocar um arco com orelhas que vai te fazer sentir melhor. Quem se fotografa de quatro vestido de cachorro e está feliz da vida com isso é adepto de modismos.

Uma coisa é assumir uma identidade que te assegura um passaporte para ser amplamente acolhido por um grupo, gerando aceitação e pertencimento. Outra muito diferente é habitar um corpo que te causa estranhamento, ao qual você não pertence, que você não reconhece. O último causa profunda angústia e não há pertencimento que te faça viver em paz em uma situação dessas.

Para ser considerado Therian não é necessário que a pessoa altere seu corpo ou sequer vista uma fantasia. Basta que ela sinta uma sensação de não pertencimento a aquele corpo e que o corpo humano lhe cause uma profunda sensação de inadequação. E isso a gente detecta de uma forma muito simples: quem está com uma profunda sensação de inadequação e não se identifica com seu corpo está lutando com isso, não está fazendo vídeo no TikTok de quatro em um muro.

Não me parece que essas pessoas saltitantes, que se filmam bebendo água de quatro em uma tigela, que se fotografam em vários ângulos mostrando seu rabo de pano costurado nas calças estejam em profundo sofrimento. Me parece que são carentes, querem atenção, querem ter um diferencial a qualquer custo para se sentirem especiais.

Percebam que esses modismos sempre existiram, mas as pessoas encontravam algum freio na reprovação social. No máximo tatuavam um lobo no braço, nem cogitavam falar em licantropia. Quando essa barreira da reprovação social cai e se massifica o discurso de que a pessoa tem que ser tratada de acordo com o que ela sente que é, abriram-se as portas do hospício para que qualquer obsessão passageira vire uma nova identidade e a pessoa se sentir especial.

De forma alguma queremos negar a existência de pessoas transgênero ou minimizar seu sofrimento. Muito pelo contrário, quem adere a modismos é quem banaliza o acolhimento criado para pessoas trans e o usurpa para si e para suas brincadeiras fantasiosas de criança.

Todo mundo aqui, em alguma fase da vida, já deve ter sido fascinado por um animal ou por qualquer outra representação daquilo que gostaríamos de ser. E todo mundo parou por aí, pois aprendeu a diferenciar fascínio com sua própria identidade. Eu suponho que nunca ocorreu a nenhum de vocês chegar no trabalho de quatro, com orelha de bichinho e um rabo costurado nas calças.

Mas, para o jovem de hoje, essa fronteira está apagada. Um querer muito intenso, uma admiração exacerbada pelos hormônios, um fascínio turbinado pela busca da sua identidade pode gerar esse resultado, que antes era impedido pela reprovação social. Hoje são os Therians, amanhã pode ser qualquer outra coisa.

Independente da classificação que se pretenda dar, desde “uma jornada espiritual” até “doença mental”, é hora de procurar acompanhamento profissional quando os pensamentos ou comportamentos da pessoa começam a atrapalhar algum ou muitos setores da sua vida (familiar, amorosa, profissional etc.) ou sua saúde física e mental. E se a pessoa realmente não se identificar com o corpo que habita, isso vai acontecer. Costurar um rabo de pano na calça não vai fazer ela se sentir melhor.

Quando a pessoa realmente leva adiante esse modismo, ele pode facilmente atrapalhar sua saúde. O caso mais famoso, do Collie Humano, é um exemplo disso. O corpo humano não foi projetado para andar em quatro patas. Não importa o quanto você se sinta cão, a biologia é implacável: ele teve sérios problemas de coluna e de articulações e precisou se conformar em voltar a ser bípede.

A comunidade trans pode ficar chateada o quanto quiser, mas biologia é uma realidade que não pode ser mudada pelo seu sentimento. Tanto é que pessoas com corpo do sexo masculino, por mais que se sintam mulher, podem ter câncer de próstata e jamais terão câncer de ovário. Negar a biologia nesses casos é uma fantasia que pode durar bastante em outros casos, mas, no caso do Therians, a negação acaba rápido: não vai demorar nada para que o corpo dê indícios de que não pode voar, andar em quatro patas ou saltar de um telhado para o outro.

Especialistas são quase que unânimes em afirmar que embarcar nessa fantasia de que biologia não importa e que basta se sentir para ser não vai ajudar uma pessoa transespécie, vai apenas negar a realidade reforçando o problema dela. Se sente uma águia? Ok, vamos conversar e ver qual é a melhor forma de ajudar essa pessoa a viver em um corpo que não é o de uma águia, em vez de aplaudir e dizer que ela pode voar.

Só que está cada vez mais difícil dizer isso em voz alta. Provavelmente você seria acusado de preconceito, de ser cabeça fechada, de ser opressor. Tem que entrar no teatrinho junto com a pessoa, se não ela fica puta com você e incita um grupo contra você.

Como lidar com esses modismos? Bem, nada alimenta mais modismos do que os pais proibindo os filhos de praticar modismos. É o elemento que faltava para consolidar a palhaçada da vez: a perseguição, o proibido, o fator vítima que vai lutar contra a opressão. Seu trabalho está antes, criando um ser humano inteiro, esclarecido e consciente que não precise disso para ter autoestima, aceitação e atenção.

Se o modismo já se instaurou, eu sugiro que se vá pelo caminho oposto: em vez e ser contra, seja muito a favor e leve a coisa para um extremo insustentável. Sejam rigorosos e façam a pessoa realmente viver como o animal que diz ser. Se acha um cão? Dorme do lado de fora da casa, não pode frequentar ambientes que humanos frequentam, come comida de cachorro. O modismo passa rapidinho.

“Mas Sally, onde está sua empatia?”. Empatia não é passar a mão na cabeça desenfreadamente não, tá gente? Colocar limites faz parte da vida. E se você não coloca, a vida vai e coloca de uma forma muito mais dolorosa. Alto lá, compactuar com modismos que podem fazer mal para a saúde da pessoa não é empatia, é permissividade.

Therians de Rede Social: vão arrumar um propósito na vida e contribuir de alguma forma para melhorar o mundo.

Sem mais.

Para dizer que eu sou preconceituosa (trabalhar com a realidade não é preconceito), para dizer que preferia ter morrido sem nunca ouvir falar disso ou ainda para dizer que o jovem tem que acabar: comente.

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

animais, o jovem tem que acabar, psicologia, therians

Comentários (12)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: