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Flertando com o desastre: Brinquedos Modernos.

| Sally | | 158 comentários em Flertando com o desastre: Brinquedos Modernos.

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Acredito que todos nós, de tempos em tempos, tenhamos a repentina e desagradável percepção de que estamos ficando velhos. O fator desencadeante desta triste constatação pode ser uma música, uma notícia ou até mesmo uma simples foto. Você olha, solta um palavrão mental e pensa: “É, estou ficando velho”.

Pois bem, dentro desta linha (desagradável sensação de se sentir velho), quero discorrer sobre um aspecto em especial. O que aconteceu com os BRINQUEDOS do “nosso tempo”. Porque tudo mudou, mas os brinquedos estão irreconhecíveis, irreconhecivelmente piores, toscos e grotescos. Levei um choque quando descobri o que está acontecendo com a indústria de brinquedos, talvez porque eu não tenha filhos e consequentemente não tenha acompanhado a mudança gradual. O fato é que tirei um tempo para avaliar os brinquedos de hoje em dia e quase morri.

Entrei em uma grande loja de brinquedos e acabei passando mais de uma hora lá dentro, avaliando de forma estarrecida o que estava vendo. O que fizeram com os bons e velhos brinquedos “do meu tempo”? Não é saudosismo, é um lamento racional, já que as novas versões são contraproducentes, deseducam e são muito esquisitas. Leia até o final e me diga se eu não tenho razão.

Quero começar pelo meu maior xodó, a Barbie, aquela piranha. Porque a Barbie sempre foi piranha, desde a minha época ela já se vestia de forma inapropriada e já exalava piriguetagem de cada fio de cabelo loiro. A Barbie mudou, continua piranha, mas em um novo layout. Agora ela é uma piranha anoréxica.

Acreditem, ela ficou mais magra! Dá uma olhada neste modelo básico. Tipo, o braço da piranha é da mesma grossura do pulso, a cintura é menor do que a cabeça, mas que caralho é isso? Os olhos estão maiores e a pele parece estar ainda mais branca. Criaram um Barbie negra, que antes não tivessem criado, pois custa metade do preço da loira em quase todas as lojas. As roupas da Barbie atual parecem ter sido inspiradas na Joelma da banda Calypso (caso você não tenha compreendido minha intenção, eu acho isso DEMÉRITO).

O curioso é que que com todas as mudanças, poderiam ter vindo mudanças boas, como uma Barbie mais intelectualizada e independente. Pergunta se isso mudou? Não mudou. A piranha continua fútil e encostada. A maior parte das Barbies estão ligadas a moda: “Barbie Fashionista não sei de que” (uma delas vem até com um cachorro na sacolinha, vibe Paris Hilton). A aptidão profissional da Barbie continua oscilando entre Princesa, Bailarina e Noiva. Tem também a Barbie “Quero ser Atriz de Cinema” (sim, o nome é esse) e a Barbie Pop Star. Estão sentados? Tem a Barbie “Quero ser Professora do Jardim de Infância” . Só faltou a Barbie “Quero dar o golpe da barriga”, que já vem grávida de um jogador de futebol!

Mas nem só de futilidades vive a Barbie. De burrice também. Temos a Barbie “Quero ser caçadora de dinossauros”. Ô Lindinha… você chegou 65 milhões de anos atrasada, eles estão extintos. Em todo caso, se quiser procurar por seus ossinhos, tecnicamente chamados de “fósseis”, pode ser que você consiga um emprego como Barbie Paleontóloga. Seria uma palavra muito difícil para escrever na caixa de uma boneca para crianças? Certamente não mais do que FASHIONISTA, escrito em metade das Barbies. Piranha e ainda deseduca!

Mas espera que piora. Posso ser eu ficando velha, conservadora e de mau humor, mas estou indignada também com o cônjuge da Barbie, o Ken (se você é velho como eu, o conhece pelo nome de “Bob”). Ele sempre foi meio metrossexual, mas agora está tão gay, mas tão gay que deveria vir com um pênis flexível para conseguir comer seu próprio rabo. Me diz se vocês acham que ISSO pode ser referência masculina para uma criança. Parece uma cruza de Justin Bieber com Miguel Falabela.

Mas tem pior, tem um suposto “Príncipe e Pop Star” que é de foder com a cabeça de qualquer criança. O nome deveria ser “Mais gay do que nunca”. Eu culpo a Mattel por qualquer mulher da minha geração que tenha casado com um homossexual sem saber distingui-lo de um hetero. Tem como? TEM COMO não achar uma bichona normal crescendo com ESSE REFERENCIAL de masculinidade?

E para fechar o bloco da Barbie, gostaria de parabenizar o troll que conseguiu se infiltrar no setor de criação da Mattel e fez isso aqui, a Barbie Chiclete. Vem até com uma pequena Tilikum! IM-PA-GÁ-VEL. Consegue ser duplamente incorreto, pois além da piada de mau gosto estimula a criação de baleias em cativeiro.

Mas não é só a nossa amiga piranha Barbie que sofreu um estupro de modernidade. Meu Querido Poney também ficou slim. Saca o corpinho do bicho agora. Tipo, a pata é maior do que o quadril do fuckin´ponei. E todos os produtos parecem ter que conter a palavra “fashion” em alguma de suas edições. Parabéns aos envolvidos, conseguiram fazer o primeiro quadrúpede anoréxico da história, palmas para vocês!

Calma que meu passeio pela loja de brinquedos está apenas começando. Lembra aqueles bebês fofinhos com os quais as meninas brincavam de ser mães na infância? Cederam lugar a umas atrocidades que parecem um boneco do Fofão abortado ainda feto. Sério mesmo, tem uma coleção chamada Baby Alive que eu juro, se abrir a porta do meu quarto à noite e jogar um desses do lado de dentro, eu choro. Os Baby Alive tem esse nome porque supostamente os bonecos reproduzem atos praticados por bebês.

Vejamos o que um bebê faz de agradável: ele ri, ele bate palmas, ele dorme… mas não, acharam bacana fazer um Baby Alive que CA-GA, se chama Baby Alive Hora do Troninho. A menos que seja uma tentativa de controle de natalidade mostrando desde cedo como é pau no cu ter um filho, é doentio. Vamos ver a descrição do produto: “(…) E como ela está aprendendo a usar o troninho, ela vai te avisar quando precisar ir ao banheiro. Mas é melhor correr, colocá-la no troninho e aí ela vai fazer xixi e caquinha. E se você não levá-la a tempo, ela vai avisar que um acidente aconteceu! Então troque sua fraldinha e ela vai ficar feliz de novo. Baby Alive Hora do Troninho reforça valores e desperta a imaginação para o faz-de-conta das futuras mamães em treinamento”. Chamar uma criança de “futura mamãe em treinamento” é sacanagem. Sem contar que a boneca tem uma cara de boqueteira drogada do caralho.

Para quem for muito filho da puta e quiser rir um pouco (ou seja, todos nós) recomendo que presenteie o filho do desafeto com qualquer boneco da marca Cotiplás. Todos sem exceção são demoníacos, mas tem uma coleção especialmente hedionda, é uma cruza daquelas bonecas da Moranguinho com Rocky Dennis: coleção frutinhas. Só para vocês terem uma ideia do drama, lhes apresento o bonequinho abacaxi. Não há psicólogo neste mundo que te faça superar o trauma de dormir com uma entidade dessas no quarto toda noite. Se você estiver com tempo livre, dá uma olhada também na laranja (macumbinha), banana (cara de canibal), morango (Rafaela Justus) e limão feliz (feto abortado).

E os jogos? Os jogos continuam, a gente vê nas prateleiras das lojas. Ninguém seria maluco de mexer em um clássico… ou seria? Pois bem, saiba que estão estuprando os clássicos. Senhoras e Senhores, ontem eu descobri que o jogo Banco Imobiliário, aquele clássico com notinhas coloridas (Hotel no Morumbi = ápice do jogo) atualmente se joga com uma maquininha de débito. Depressão total, quero entrar no barco dos elfos do Senhor dos Anéis, meu tempo já passou. FUCKIN´MÁQUINA DE DÉBITO no Banco Imobiliário! PORQUE?

Fico me perguntando o que fizeram com o jogo da vida. Aposto que os eventos do tabuleiro agora são “Você fez uma cirurgia de mudança de sexo e vai ter que repousar, perca um turno” ou então “Você engravidou de um jogador de futebol, ande 20 casas”. Eu disse Jogo da Vida? Perdão, agora se chama “The Game of Life”. O Pogo Ball se chama Gogo Ball. E o Jogo da Operação se chama “Operando”. O “Cara a Cara” virou “Guess Who?”. Estou vendo a hora em que o jogo “Pula Macaco” vai virar “Pula Soldadinho”. E por falar em “Pula”… Lembra do Pula Pirata? Calma, ele ainda não virou “Jump Pirate”, mas ele vem com um “cartão de realidade aumentada”. Você sabe o que é isso? Se não sabe, parabéns, você também está ficando velho.

Mas nem só de foder com jogos bacanas vive a atual indústria de brinquedos. Eles criam suas próprias atrocidades também, como o educativo jogo “Rex Pum Pum”. Para não dizer que eu estou de má vontade, vamos ler a descrição dada pelo fabricante: “Ele come e solta pum até a caca sair. Neste jogo todo mundo vai morrer de rir! O Rex Pum Pum é um cachorro muito esperto que adora comer. Mas depois ele começa soltar pum e fica com vontade de fazer cocô. Para brincar com o Rex Pum Pum jogue o dado, aperte a coleira e veja o que acontece. Se na sua vez ele fizer cocô sorte sua! Recolha com a pazinha e marque ponto!” Tipo, os pontos do jogo se contam na forma de toletes. No meu tempo perderia quem levasse a cagada do Rex Pum Pum. Qual é o mérito em torcer para que um cão defeque em você? “Olá, sou da nova geração, meu ideal de diversão e lazer é recolher toletes fakes de cachorro”. Definitivamente, eu estou ficando velha.

É tanta coisa bizarra que se for falar de todos não cabe aqui. Temos uma série de outros jogos com nomes sensacionais como “Passeando no Shopping” e bonecos bizarros como o “Bebê Sorinho”. E que tal este sensacional boneco que estimula as crianças a sacudirem os bebês. E se alguém souber me dizer WHAT THE FUCK é isso, sou toda ouvidos.

Eu sei que muitas pessoas reclamam apenas por saudosismo, apenas pela diferença. Mas não é meu caso. Se os brinquedos estivessem mudando para melhor, eu certamente estaria comemorando e elogiando. Mas não é o caso. Os brinquedos atuais refletem a danação social que estamos vivendo, a futilização das crianças, a piranhização das crianças. Não reclamo porque está diferente, reclamo porque está pior, está grotesco.

E as pobres crianças não tem culpa, não sei que tipo de pessoa eu teria me tornado se tivesse passado a minha infância brincando com uma Barbie Quero Ser Qualquer Merda Fútil ou se o ápice do meu dia fosse recolher tolete fake de Rex Pum Pum. Cabe aos pais ter o bom senso de selecionar o tipo de brinquedo ao qual querem expor seus filhos e estar atentos para seu lazer. Fato: é inevitável que uma criança hoje seja exposta à futilidade e babaquice moderna, o papel dos pais não é proibir, é levar um pingo de cultura para dentro de casa, para que a criança conheça o outro lado e tenha um referencial para avaliação.

Isso vai acontecer? Isso não vai acontecer. Estes brinquedos de merda vão criar uma geração ainda pior do que a minha (que ainda teve um suspiro de cultura pois passou a infância sem internet). É isso, nos resta sentar e assistir a Rex Pumpunização da nova geração. Geração Rex Pum Pum.

Para se sentir velho também, para se sentir jovem porque não lembra dos jogos antigos citados ou para confessar que sentiu certo apreço pelo Rex Pum Pum: sally@desfavor.com


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