
Não funciona.
| Desfavor | Desfavor da Semana | 6 comentários em Não funciona.
3 a cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais. O levantamento considera analfabeto funcional a pessoa que consegue apenas ler palavras isoladas, frases curtas, ou apenas identificar números familiares, como contatos telefônicos, endereços, preços, etc.. O estudo foi coordenado pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, co-realizada pela Fundação Itaú, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, UNESCO e UNICEF. LINK
Já deu 30%, e ainda achamos que essa definição de analfabetismo funcional está generosa demais. Desfavor da Semana.
SALLY
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Resumo da B.A.: a autora esparrama sua ignorância com perdas de tempo paliativas quando sabe muito bem que a única solução é uma revolta armada.
Três a cada dez brasileiros são analfabetos funcionais. Isso significa, segundo os critérios usados para aferir, que três a cada dez brasileiros “conseguem apenas ler palavras isoladas, frases curtas, ou apenas identificar números familiares, como contatos telefônicos, endereços e preços”. Ou seja, são praticamente analfabetos.
Além desses, ainda temos os que conseguem ler frases longas, mas não conseguem compreender o significado, resumir o que leram ou ter uma visão global do significado do que estão lendo. E, por fim, em uma escala ainda mais sutil, temos os que conseguem ler e compreender, mas não conseguem exercer qualquer senso crítico, tomando qualquer leitura como verdadeira.
Se somarmos todas essas categorias, mais os realmente analfabetos (aqueles que não conseguem nem ler nem escrever nada), certamente passa de 50% da população brasileira. É um problema de base, estrutural, que impede qualquer melhora ou crescimento do país, para o qual não se observou nenhuma melhora nos últimos tempos.
E, para coroar esta danação, ainda temos uma nova modalidade de analfabetismo, sobre a qual já falamos em outros textos: o analfabetismo digital. Muita gente com boa leitura e compreensão é analfabeta digital, o que representa um problema no mundo atual, onde cada vez mais o mercado de trabalho e até os serviços públicos migram para o universo online.
Não precisa ser gênio para perceber que se esta falha estrutural não for resolvida, qualquer coisa que tentem construir por cima disso vai desmoronar. Uma casa precisa de pilares de sustentação. O Brasil está fazendo isso? Não.
O Brasil se comporta como se estivesse com todas as necessidades básicas bem atendidas. É um país com uma das piores educações (ou resultados de educação) do mundo quando avaliado proporcionalmente ao PIB.
A consequência natural disso é gente que trabalha muito e produz pouco, pois o Brasil também é um dos piores países do mundo no quesito produtividade – e o povo nem sequer entende o que seja, pois questiona o resultado alegando que o brasileiro trabalha muitas horas.
Educação ruim. Produtividade bosta. O que fazer? Já sei, vamos reduzir a jornada de trabalho, acabar com o 6 x 1 e tentar emplacar o 4 x 3! Gente, eu sei que a escala 6 x 1 é desumana, eu mesma já trabalhei nela por anos, mas as coisas não se resolvem magicamente. Reduzir a jornada de trabalho não significa trabalhar menos, significa fazer o mesmo trabalho em uma quantidade menor de horas. E o brasileiro não tem qualquer condição. E está falando sobre isso em vez de falar sobre como melhorar a educação.
O correto seria aprimorar a educação até criar gerações com alta produtividade e aí sim reduzir a escala de trabalho. Está acontecendo? Claro que não.
Escolas com professores burros, incompetentes, militantes ou adoecidos mentalmente pelo ambiente insalubre fazem metade do trabalho. A outra metade quem faz é o Governo, mantendo as pessoas em condições sub-humanas: criança com fome, criança estuprada, criança que apanha, criança que não tem um mínimo de dignidade e conforto em casa não vai aprender bem.
O Brasil adora se comportar como se fosse primeiro mundo. Falta o básico em tudo, mas, em vez de olhar para isso, preferem postar foto do mapa-múndi de cabeça para baixo e com o Brasil no centro, passando vergonha online.
Quer questionar as convenções? Primeiro ensine quais são as convenções. Imagina o que se passa na cabeça de uma criança ou de um brasileiro médio ao ver um órgão do governo dizer que o mapa mundo correto é esse, de cabeça para baixo. Não dá. Antes de aprender a correr, tem que aprender a andar.
A culpa é de todo mundo. Teve governo PT e teve governo Bolsonaro nesses anos de estagnação. As preocupações são sempre idiotas, erradas, fúteis. Tem que acertar os pronomes, menina tem que usar rosa e menino azul, tem que fazer apresentação rebolando a raba, tem que combater o comunismo, tem que combater o fascismo. Preocupação com a evolução do brasileiro ninguém tem.
Não dão o básico e se comportam como se dessem, focando em problemas de primeiro mundo que estão muito longe de ser a prioridade ou necessidade do Brasil. E se alguém tenta apontar que essas questões de primeiro mundo não têm cabimento agora, a pessoa é trucidada por ambos os lados: odeia o povo, está chamando o brasileiro de incapaz, etc.
Gente, alguém tem que dizer: falta o básico. E quando falta o básico, olhar para o que vem depois é pular etapas. Não ajuda, só atrapalha. Não é sobre o brasileiro não ter direito a isso ou a aquilo, é sobre saber que sem o básico nada mais se sustenta. Tem que parar tudo que não seja educação de qualidade, saúde decente e segurança pública e focar nesse tripé se vocês quiserem um dia ir para frente como sociedade.
E apontar isso não é menosprezar o brasileiro. É querer o bem do brasileiro, é querer ajudar, é querer resolver. Hora de parar de se ofender quando alguém fala o óbvio e refletir um pouco. Foda-se o pronome, foda-se a cor da roupa, foda-se qualquer coisa que não seja uma medida que desemboque em uma educação de primeira qualidade.
Em vez de político ficar criando o dia do bebê reborn, em vez de aumentar o próprio salário ou fazer licitação para gastar milhões em tapete novo, deveriam se preocupar mais com a educação. Não é bom para ninguém um país com baixa educação e baixa produtividade, até para roubar é ruim, pois é um país que fica muito aquém do que poderia produzir em matéria de riquezas.
Mas, sabemos que não vai acontecer, pois pessoas com uma boa educação não votam nesses aterros sanitários humanos que vocês chamam de políticos. Ninguém que está aí vai trabalhar por isso. Ou vocês votam em um maluco outsider, ou vocês arrancam isso na marra. Se vocês não fizerem, ninguém vai fazer.
SOMIR
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Resumo da B.A.: o autor de extrema-direita demonstra seu ódio contra a classe trabalhadora por valorizar instituições capitalistas como a escola.
Se você perguntar para 100 brasileiros, acho que uns 99 vão dizer que o governo tem que gastar mais com educação.
Então é só investir em educação, certo? Bom, o Brasil tem leis que o forçam a destinar uma parte considerável do dinheiro que recebe dos impostos diretamente na educação. Só a manutenção custa mais de 100 bilhões de reais por ano. Com raras exceções, você vai ver políticos de todos os tipos concordando sobre essa destinação de recursos. A ideia de gastar com educação já foi estabelecida, de cima para baixo na sociedade.
A verba brasileira só para essa parte é maior que o orçamento total da maioria dos países do mundo. Claro que os números não explicam tudo: o país é muito grande e por mais que em média seja bem vazio, ainda tem uma das maiores populações do mundo. Tudo bem que o Brasil gastaria muito mesmo por causa de espaço e população.
Mas gasta. Em números absolutos e relativos. E percebam que eu comecei falando sobre investir em educação e mudei o verbo para gastar logo em seguida. Investir e gastar são coisas diferentes. Investir é usar seus recursos para acumular mais recursos, gastar é… gastar. Investimento em educação é algo que capacita o cidadão médio das próximas gerações e faz com que o país gere mais riquezas a partir de cada um deles.
Pode não ser imediato, mas o investimento em educação acaba multiplicando o dinheiro dos impostos. Pessoas mais bem educadas produzem mais e destroem menos. Tanto que quando falamos de índices como o do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), quase todos os países que não estão literalmente em guerra e conseguem colocar algum dinheiro em educação conseguem números melhores ano após ano.
Para não… piorar, basta colocar uma parte dos impostos em escolas e deixar as pessoas se virarem. Quem tiver as condições certas de ambiente e estado mental vai tirar vantagem da oportunidade e melhorar a vida de várias pessoas no processo. O ser humano – salvo numa ditadura especificamente focada em quebrar o país para manter o poder como a Venezuela – consegue avançar na raça e na coragem se tiver um mínimo de condições. O IDH sobe na Islândia e no Congo assim.
E vejam só, até no Brasil. O resultado do IDH do último ano colocou o Brasil cinco posições acima do que estava antes. Inércia de um Estado minimamente funcional ajuda, mas aqui eu volto na comparação entre investimento e gasto. No mesmo relatório de desenvolvimento humano que viu o brasileiro médio melhorando um pouquinho no quadro geral, percebemos que os indicadores relacionados com educação ficaram estagnados. Um padrão que se repete há muito tempo, com Lulas e Bolsonaros no poder.
O Brasil gasta com educação. Gasta bastante, inclusive. O resultado de ter alguma educação, qualquer educação, é suficiente para manter avanços na população média. Avanços extremamente lentos que fazem um dos países que mais tem de onde tirar recursos do mundo parecer indiferenciável na evolução para um país desértico africano. Mais uns 200 anos e é bem provável que a qualidade de vida brasileira seja compatível com a atual norueguesa, por exemplo.
O problema é que quando chegarmos lá, a qualidade de vida norueguesa de 2025 vai ser subdesenvolvimento. Alunos de 10 anos de idade que não conseguem desenvolver um foguete que chegue na Lua e pessoas ainda morrendo de doenças tratáveis como câncer, por exemplo. Ficar nessa estagnação educacional resolve problemas de hoje em muitas gerações. Investir em educação e cobrar resultados resolve os problemas de amanhã.
Por mais que outros indicadores subam, porque eles tendem a subir excluindo uma catástrofe, os de educação são os que mais multiplicam qualidade de vida futura. Se o Brasil fica estagnado nesse ponto, no máximo acaba carregado junto com o resto do mundo nessa mediocridade generalizada, eternamente dependente de sorte e mentes de fora para crescer.
O investimento presume cobrança de resultados. E quando um país mediano como o Brasil chega no século XXI mostrando resultados como quase um terço da população incapaz de entender o que está lendo mesmo em frases curtas, o investimento falhou. Evidente que a solução não é parar de gastar dinheiro, porque o gasto com educação mantém o país minimamente viável, mas o povo pode e deve julgar seus políticos pelo resultado prático em educação.
E para julgar, precisa saber o que quer. Aí entra a mentalidade acomodada com educação do brasileiro médio. Se os políticos estão empurrando com a barriga, é porque funciona. É o que a maioria acha suficiente para continuar votando neles. Não precisa mexer na verba (ainda), precisa fazer ela render. O brasileiro já está sufocado de impostos, e poderia receber muito mais em troca de tanto que paga.
Um povo que ficasse putíssimo com o governo por resultados ruins em alfabetização e nível de aprendizado de alunos do ensino fundamental já melhoraria muita coisa. Lula está impopular porque a comida está cara. E se a comida estivesse cara porque ele estivesse colocando toda sua energia em educação, daria no mesmo. O Lula está impopular porque a comida está cara, e só. Se ele achar um jeito de distrair o povo disso, o resto mal conta.
3 a cada 10 brasileiros sendo analfabetos de verdade (que eu acho um termo melhor que funcional, palavra que o povo mal entende) é pior que o preço do tomate. É pior que o PCC e o CV juntos. Com certeza é pior que que qualquer polêmica de costumes. Isso tem que derrubar político. Porque isso é o que eles não vão mexer se não forem obrigados.
“Não é bom para ninguém um país com baixa educação e baixa produtividade, até para roubar é ruim, pois é um país que fica muito aquém do que poderia produzir em matéria de riquezas”. Quem sabe seja justamente esse o argumento que enfim convença os (ir)responsaéis por esta merda de lugar amaldiçoado a começarem a fazer alguma coisa…
Fica difícil discernir se a educação brasileira é assim por ser gerida de forma brutalmente incompetente, ou se era esse mesmo o objetivo pra começo de conversa.
No fim das contas, temos uma população fraca, emburrecida, presa em um eterno cegos-guiando-os-cegos, sem previsão de melhora. E como a Paula já mencionou no comentário dela, com esse capital humano que temos aí, pode liberar o orçamento que quiser pra educação, não vai dar certo.
Off-topic: Sally, você tem planos de escrever algo sobre essa reforma do Código Civil (que na prática é um novo Código) que está sendo gestada à moda caralho no Congresso?
Ótimo comentário, Gui.
O investimento na educação é feito para dar errado no Brasil. A educação básica nem sequer ensina a enxergar os outros como seres humanos dignos de respeito. Nem me fale da universitária.
Na faculdade do meu namorado, uma federal, conseguiram autorização para renovar o laboratório depois de muitos anos dos professores e alunos comprando insumos do próprio bolso. Infelizmente, o reitor do outro campus entrou com liminar para bloquear os recursos, só porque ele não recebeu. Também não pediu, nem sequer tem um laboratório pra gastar. Não vai receber nada mesmo se o processo correr em favor dele, só queria atrapalhar os outros. E esse dinheiro desvalorizou tanto com os anos que nem seria suficiente mais.
Eu poderia citar o tipo de gente que costuma passar nos concursos para professor estadual ou federal também. A maioria das pessoas que dá má fama ao funcionário público são os professores universitários, chegam a punir e execrar os colegas que estão ali para trabalhar de verdade. É cancelável e politicamente incorreto dizer isso, mas os professores mal pagos não são inocentes nessa história não. Uma educação ruim não se faz só com Estado incompetente, se faz também com gente despreparada e destemperada no ensino.
O fato é que as poucas bolhas de prosperidade e desenvolvimento do Bostil estão com os dias contados.
Que diferença faz um numerozinho de IDH subir (provavelmente maquiagem) se na prática o Brasil continua afundado na pobreza, na ignorância e na violência? Vai lá falar de ranking de IDH pra um coitado sendo chantageado por facção no próprio bairro.
Na verdade, o consenso sobre vinculação de receita para despesas com educação não é tão intenso, pois basta reparar na frequência com que são plantadas “notícias” que contém a afirmação da suposta “necessidade” de diminuir o “engessamento” do orçamento. Logo, até isso pode piorar, especialmente em um Executivo e Legislativo dispostos a se dobrarem à corja dos especuladores do mercado financeiro.