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Des Cult: Os dez negrinhos.

| Sally | | 252 comentários em Des Cult: Os dez negrinhos.

Primeira coisa que você tem que saber é que a informação que vou te contar hoje não é novidade, muito pelo contrário, é uma informação bastante velha, mas é novidade para mim, por isso decidi escrever sobre o assunto.

Nas minhas horas livres (em que preciso descansar o cérebro) gosto de leituras leves, dentre elas Agatha Christie. Meu livro favorito da Agatha Christie se chama “O caso dos dez negrinhos”, que é uma de suas histórias mais famosas.

Sinopse do livro para contextualizar a discussão: dez pessoas aparentemente aleatórias recebem uma convocação para comparecer a uma ilha, cada qual com um motivo do seu interesse. Todos acabam se dirigindo à tal ilha e ao chegar os dez estranhos de deparam com uma poesia, que na verdade é a letra de uma cantiga infantil tradicional, afixada à parede da casa onde estão hospedados, que passo a transcrever:

Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove;
Um deles se engasgou e então ficaram nove.
Nove negrinhos sem dormir: não é biscoito!
Um deles cai no sono, e então ficaram oito.
Oito negrinhos vão a Devon em charrete;
Um não quis mais voltar, e então ficaram sete.
Sete negrinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles se corta, e então ficaram seis.
Seis negrinhos de uma colméia fazem brinco;
A um pica uma abelha, e então ficaram cinco.
Cinco negrinhos no foro, a tomar os ares;
Um ali foi julgado, e então ficaram dois pares.
Quatro negrinhos no mar; a um tragou de vez
O arenque defumado, e então ficaram três.
Três negrinhos passeando no zoo. E depois?.
O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então ficou só um.
Um negrinho aqui está a sós, apenas um;
Ele então se enforcou, e não sobrou nenhum.

As dez pessoas atraídas para a tal ilha começam a morrer, uma a uma, da mesma forma como os negrinhos morrem na poesia. Não vou falar mais para não estragar o final. Só queria que vocês entendessem a razão de ser do título. É essa poesia que desenrola toda a trama do livro, é praticamente um roteiro das mortes que acontecem na obra.

Este livro não é apenas O livro mais vendido da Agatha Christie, é também um dos maiores best sellers mundiais. Salvo engano vendeu mais de cem milhões de cópias. Foi publicado pela primeira vez em 1939 e já virou peça de teatro e filme. Enfim, acho que é possível dizer sem qualquer dúvida que se trata de um clássico, ainda que não seja de uma literatura muito profunda.

Faz pouco tempo, estava falando sobre este livro para uma pessoa e ela se interessou. Como esta pessoa nunca havia lido qualquer obra da Agatha Christie, eu resolvi presenteá-la com “O caso dos dez negrinhos”, pois acho um livro sensacional e nada como começar a ler o melhor para tomar gosto pelo autor. Foi quando tudo começou.

Fui em diversas livrarias e quando perguntava “Você tem o livro O Caso dos Dez Negrinhos?” vendedoras adolescentes mastigando chiclete procuravam no computador e diziam que esse livro estava “esgotado” e não seriam distribuídos novos exemplares. Achei muito estranho, afinal, é o livro mais vendido dessa autora, porque parar de comercializá-lo? Depois de ouvir a mesma história em mais de dez livrarias, comecei a pensar se não existia alguma pendência judicial envolvendo o livro que impedia sua comercialização.

Liguei para vários telefones da suposta editora, e procurei me informar porque não estavam mais distribuindo este livro. Quando finalmente alguém soube me explicar alguma coisa, fui informada que o livro continua à venda sim, mas desde o ano de 2008 está sendo comercializado com outro nome: “E não sobrou nenhum”. Quando perguntei o porquê da mudança de nome, a pessoa se esquivou de uma resposta direta, mas deu a entender que a editora estava tentando evitar um processo.

Fui até uma livraria próxima à minha casa, onde sei que trabalha um vendedor muito culto e muito bem informado. Fiz questão de ir no horário em que eu sabia que ele estaria lá. Perguntei para ele sobre a mudança de nome e ele ficou visivelmente desconfortável. Disse que na época alguns “grupos” protestaram e ameaçaram entrar com um processo. Um processo por causa do título de um livro.

Que não se podia mais falar “preto”, “crioulo” ou “negão” eu já sabia, eu não sabia que até NEGRO ou negrinho estava proibido. Não pode falar NEGRINHO, é isso? Ofende mesmo em abstrato? Como se referir às pessoas negras então? Mais fácil fazer como o Prince e criar um símbolo! Além disso o livro não se refere a uma pessoa em si, e sim a uma poesia que é uma cantiga tradicional na Inglaterra, tipo um “Atirei o pau no gato” britânico, quem teria coragem de cagar de politicamente correto um “Atirei o pau no gat…” ops! Isso mesmo, o brasileiro tem coragem de fazer isso: “Não atirei o pau no gato-to-to, porque o gato-to-to, é meu amigo-go-go”.

Uma obra que vinha sendo publicada com o mesmo título por mais de cinquenta anos, um título que retrata uma cantiga infantil, teve seu nome modificado graças ao “protesto” de determinados “grupos”. É como se mudassem o nome da Chapeuzinho Vermelho para Chapeuzinho Azul porque os chineses se ofenderam. É uma FUCKIN´ POESIA, não tinha nada de ofensivo. Se fosse “O caso dos dez branquinhos” ou “dos dez ruivinhos” ou “dos dez argentininhos” ninguém iria reclamar.

Mas o pior é que não mudaram apenas o título. Mudaram a história também. A poesia que os dez estranhos encontram na casa da misteriosa ilha onde ficam confinados agora fala de “dez soldadinhos”. Estas e outras mudanças simplesmente cagaram o livro todo! Um livro que já passou da sua 250° edição, mundialmente conhecido, cuja autora está morta e não pode se defender, tem seu título modificado por pura pressão social de um bando de Intocáveis ignorantes!

Não tem linha ou entrelinha onde a palavra “negrinho” seja ofensiva no contexto do livro, o que me faz presumir que a censura está baseada na palavra pela simples palavra. Daí eu depreendo que qualquer obra de arte com a expressão “negrinho” deva ser renomeada. Podemos começar por Monteiro Lobato… ops! Já foi feito, já andaram censurando Monteiro Lobato, não é mesmo? Então vamos pegar outras manifestações culturais, como por exemplo o “Negrinho do Pastoreiro” e transformá-lo em “O Soldadinho do Pastoreiro”, que tal?

A cor negra pode passar a se chamar cor Soldado. Músicas com a palavra Negrinho também devem ser revistas, avisa lá para o Gaúcho da Fronteira e tantos outros cujas letras de música contém esta ofensa terrível. Também tem que suprimir esta ofensa vil das receitas culinárias, afinal, uma cobertura de chocolate que leva “negrinho” no nome deve ser erradicada. Pode virar a cobertura “Soldadinho” ou quem sabe a cobertura “Pequeno Afro-descendente”

Localidades cujo nome contenham esta palavra venenosa também devem ser rebatizados e no Brasil tem aos montes. Por exemplo, enviarei imediatamente um ofício à Prefeitura de Rio Negrinho solicitando a mudança de nome para “Rio Soldadinho” em nome do respeito a “determinados grupos”. Jogadores de futebol, esportistas ou quaisquer pessoas que usem como alcunha esta palavra ofensiva também devem trocá-la por “Soldadinho”.

Parabéns aos envolvidos, viu? Parabéns aos responsáveis por cuidar da obra de Agatha Christie, que permitiram essa BABAQUICE. Parabéns à editora CAGONA que preferiu abrir as pernas para uma exigência bizarra e cagar um best seller do que se arriscar a desagradar uma “minoria” ofendendo a uma maioria (salvo engano é a Editora Globo). Parabéns aos “grupos” que se insurgiram contra o livro em 2007 e 2008, esse tipo de atitude garante que vocês, mesmo recebendo um diploma cotista paternalista nunca serão sombra para pessoas como nós no mercado de trabalho porque são FUCKIN´BURROS pra caralho.

Só digo uma coisa: a história mostra que a maior parte dos eventos se dão em movimentos pendulares. Quando o pêndulo chega ao topo de um dos lados, fatalmente ele tende a se movimentar para o outro como ato contínuo. Desta vez não vai ser diferente. Querem censurar tudo, proibir tudo, enfiar o politicamente correto goela abaixo de todo mundo? Continuem. Quando mais forçarem o pêndulo para um lado, com mais intensidade ele vai acabar indo para o outro.

Vai chegar uma hora que a situação vai ficar insustentável. Eu sei, ainda falta bastante para isso acontecer e provavelmente eu não vou estar viva para ver, mas fatalmente vai acontecer. E o efeito rebote não vai ser bonito. Se a coisa continuar nesta trilha, o grau de opressão vai chegar a um ponto em que a reação quando da saturação vai ser pior do que a suposta opressão inicial praticada contra estas “minorias”. Não é possível que não exista uma pessoa no meio destas “minorias” que não perceba isso e não tente reverter a situação! Tem, deve ter, mas como está tirando vantagem da situação e ficando com 99% das vagas nas universidades, concursos e do céu não abre a boca.

Vivemos em uma sociedade de FROUXOS, onde ninguém tem culhão de se opor a chororô de “minoria”, onde todos estão amedrontados e intimidados pelo politicamente correto cedendo aos pedidos mais absurdos por medo do que vão pensar. Quer saber? Gente que cede a pedidos absurdos DEVE MESMO SER RACISTA, porque se você tem a convicção de não ser alguma coisa, não sente medo de ser chamado dessa alguma coisa. RACISTAS que tentam calar a boca de negros com presentinhos. E os negros estão se comportando como cachorros (processa eu) que calam a boca em troca de um biscoito. Não sei quem sai mais sujo da história.

Mexer em obras literárias passou dos limites. Se eu tivesse legitimidade para entrar com um processo, juro que eu o faria, infelizmente não tenho.

Para me acusar de ser racista e provar que nem com cotas você consegue um diploma, para dizer que por uma questão de equidade também tem que mudar o nome de tudo que contenha a palavra “branquinho” ou ainda para suspirar e repetir mais uma vez “eles venceram”: sally@desfavor.com


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