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Des Portes: Até Tatu?

| Desfavor | | 170 comentários em Des Portes: Até Tatu?

“O tatu-bola acabou sendo escolhido como mascote da Copa de 2014 depois de ser sugerido pela ONG Associação Caatinga, que apresentou o projeto ao Ministério do Esporte.” FONTE

SALLY

Será oficializado no próximo domingo: o mascote da Copa do Mundo de 2014 é esse bicho. Um tatu, um FUCKIN´ TATU. Um FUCKIN’ TATU AZUL. É uma versão politicamente correta do Bowser Koopa. Um completo desfavor.

A ideia veio de uma ONG do Cerará chamada “Associação Caatinga”. Vou guardar alguns comentários para mim mesma, mas só porque este texto tem que ter duas páginas e eu sei que vocês são perfeitamente capazes de chegar à essência deles sem que eu precise dizer uma única palavra.

Vocês sabem, eu queria que o mascote da Copa de 2014 fosse o Blanka, do Street Fighter, que é a personificação da imagem cagada que brasileiro tem no exterior. Para quem não sabe, Street Fighter é um jogo de videogame no qual cada país é representado por um lutador que retrata os traços culturais marcantes da sua nação: o Japão tem um lutador de sumô, os EUA um soldado americano loiro, etc. Detlhes: TODOS são humanos, menos um. Adivinha quem? BRASIL-IL-IL-IL! O Brasil é representado por uma criatura verde, com cabelo laranja e aparência de BICHO, que dá choque nos inimigos e anda DE QUATRO. Sensacional. É assim que o brasileiro faz por merecer ser visto, como um bando de Blanka. Mas, infelizmente Blanka não era nem ao menos uma opção.

Sim, as opções eram todas péssimas: arara azul, jacaré, onça pintada (porque os bichos nacionais são todos tão bregas?) e até mesmo, pasmem, um Saci Pererê. Talvez o Saci seja reaproveitado para as Paraolimpíadas, né? Representaria duas minorias ao mesmo tempo. Vai ver acaba entrando pelas cotas. O problema é se decidirem mudar o nome dele para algo como “Soldadinho Pererê” ou coisa do tipo. A arara azul teria sido a escolha mais inteligente, daí pega e coloca logo o bichinho do filme Rio como mascote, que venderia milhões de bonecos. Lógico que venderia bem, é bonitinho, foi feito fora do Brasil. Mas não. Mais uma vez o brasileiro quis provar que pode fazer bonito só com matéria prima nacional. E mais uma vez provou que não deu.

O mais engraçado é que tive acesso a algumas informações sobre a escolha e os planos para o tal mascote. Impressionante como as pessoas passam cinco anos em uma faculdade de publicidade e insistem em fazer o que elas acham melhor como opinião pessoal em vez de atender à demanda do público. Não se passa uma semana sem que eu veja uma propaganda na TV ou leia em alguma revista e pense “A pessoa estudou cinco anos em uma faculdade para ISSO?”. Só para vocês terem uma ideia, um dos fatores (tirando os fatores que envolvem dinheiro) que mais pesou na escolha é o cúmulo do TURUM TSS: é um tatu… BOLA! Dãããããã! Futebol… bola… tatu-bola! Dããããã! Eu sou brasileiro! Eu ando de quatro e tenho cabelo laranja! Dãããã.

Mas calma que piora: uma das ideias para um vídeo promocional seria um desenho com este caralho deste tatu azul correndo e em certo ponto do vídeo ele ficaria na posição de bola (usada pelo bicho originalmente para se defender de predadores), de modo a que se transformasse em uma bola de futebol e fosse CHUTADO por jogadores e depois de entrar no gol, voltasse à sua forma de Tatu, comemorando o gol marcado.

Quando a pessoa me contou isso, eu perguntei se ela achava que os eco-chatos levariam numa boa um vídeo onde PESSOAS chutam um TATU. A pessoa estranhou e disse que era apenas um desenho e tal, mas aí eu lhe recordei que gente que exige a mudança da letra de “Atirei o pau no gato” e do título do “O caso dos dez negrinhos” iria alegar que esse vídeo incentivava o chute a tatus. A pessoa se assustou. Não sei se vai ter de fato esse vídeo ou não, mas se tiver, vai ser muito legal. Pensando bem, eu deveria ter ficado calada. Seria mais ou menos como aquela cartilha sobre educação homossexual: dois anos de dinheiro e trabalho sem fiscalização alguma para depois ser vetado em cima da hora porque se descobre que está meio inconveniente. Tudo bem, é bacana vetar coisa em cima da hora, porque a urgência em providenciar outra desobriga a contratação por licitação e dá para favorecer qualquer um e contratar qualquer serviço considerado “de urgência” por qualquer preço absurdo.

Olha, eu não acho que alguém vá chutar um tatu porque viu jogadores fazendo em um desenho animado, mas eu sinceramente acho que o brasileiro médio é uma criatura capaz de pegar um tatu e pintá-lo de azul, só para tirar uma foto ao lado dele e colocar no Facebook com a legenda “Eu e o MAISCOTE da Copa” (sim, com essa grafia, isso se não colocar “+cote”). Então, poderiam ter feito o infeliz do tatu em sua tonalidade natural de cor, aquele atraente marrom cocô. Um animal quase extinto não precisa passar por isso. Não tinha a menor necessidade do bicho ser azul. Isso não vai prestar, anota aí. É quase como se a Islândia colocasse uma orca rosa ou ser mascote. Porra, deixa o bicho na cor natural!

Isso porque o mascote ainda não tem nome. Não está mais do que na cara que brasileiro não sabe votar? Pelo visto não, pois vão decidir o nome do Tatu de Chernobyl por meio de votação popular. Só para garantir que o público votante será cagado, bem cagado, o troço vai ser lançado no programa Fantástico, no próximo domingo. Quais serão as opções de nome para o tatu? Só consigo pensar em uma: RAÍ (e aí, Fabíola? Tá gostoso o processo?). Podem esperar por um nome bem cagado, algo do tipo “Samba”, “Zé Bola” ou então um nome aborígene bem escroto como foi com o mascote do Pan. Mais: o bicho vai ter uma música só para ele, gravada por um artista da Sony Music. Tenham medo, as opções são medonhas: Roberto Carlos, Claudia Leite, Skank, Zezé Di Camargo e Luciano, Victor & Leo, Jota Quest, Wanessa, Bruno & Marrone e etc. Nada mais justo que para um mascote todo cagado tenhamos uma trilha sonora toda cagada.

Sabe o que é pior? Toda essa palhaçada custou caro. Foram contratadas “equipes” de “profissionais” “multidisciplinares” para pensar nisso. E o trabalho dos caras nem era de tanta responsabilidade, afinal, boa parte do processo será responsabilidade do público por votação. Mas ainda assim, conseguiram fazer um troço CA-GA-DO. Precisava de uma penca de gente e meses de trabalho para fazer ISSO? Sério mesmo, chamava o Somir que em 12h ele montava um factoide polêmico e do agrado do povo, muito mais bem apresentado e muito mais coerente e melhor para a imagem internacional do que esse. O tatu bola é um bicho 100% brasileiro, ou seja, os gringos não sabem qual é o seu layout. Daí vão ver esse bichinho azul, vão procurar saber mais sobre este “animal brasileiro típico” e quando se depararem com uma imagem real periga até levar um susto. Não sei se você já viu um tatu-bola… o bicho é horrendo.

Ainda sobre o tatu-bola da vida real: deixa extinguir. Com sorte em dez anos esse bicho feio acaba de vez. Somente as espécies que sobrevivem às intempéries da natureza – e o ser humano é uma delas – merecem estar vivos. É assim desde que o mundo é mundo, ou por acaso vocês acham que os dinossauros não extinguiram nenhuma espécie quando estavam vivos? Um bicho que não consegue sobreviver ao homem merece desaparecer. Chega dessa merda de ficar mantendo animais disfuncionais e não adaptados ao mundo moderno vivos. Na minha grosseira opinião isso só se justifica quando o bicho é saboroso, mas nem gostoso esse tatu é! Morra!

Para passar a tarde nos comentários chutando o suposto nome do tatu e até fazer bolão com isso, para ficar de quatro e dar um choque em alguém ou ainda para sentir orgulho de um mascote todo cagado só porque é brasileiro: sally@desfavor.com

SOMIR

Se eu aprendi alguma coisa trabalhando com publicidade é que a qualidade do material é diretamente proporcional à liberdade que o cliente proporciona ao setor de criação. Muito material publicitário “morre no berço” por causa de prazos ridículos, departamentos de marketing cagões e pitacos de donos de empresa empolgados…

Sim, tem muita gente ruim trabalhando no setor. Tem gente que caga peça publicitária até mesmo com o cliente dando todo o espaço para que se crie em paz. Mas no caso dessa porra de tatu azul, eu consigo enxergar gente talentosa tendo que enfiar a viola no saco e entregar o material mais chato e sem graça possível. Não, não é uma criação inspirada, mas é competente.

Competente no sentido de que mascotes de Copa tendem a passa longe de qualquer resquício de criatividade, vejam uma lista dos anteriores:

Tirando o mascote horrível da Itália 90 e a viagem lisérgica de Japão/Coréia do Sul 2002, é mais do mesmo. O mercado só foi reconhecer mesmo o potencial econômico do mascote da Copa depois de 94. Previsível, já que foi a primeira vez que os americanos botaram as mãos no evento (Diga o que quiser dos ianques, mas eles SABEM ganhar dinheiro com essas coisas…). E na minha opinião pessoal, o ÚNICO mascote bem feito de Copa do Mundo até hoje é o francês. Mesmo assim deve ter sido mais sorte que juízo.

E esse festival de porcarias não é à toa: Primeiro que o mascote não é feito para o povo local. Ele tem que apelar para os estrangeiros. Esqueça referências sutis e piadas/histórias internas. Além disso, estamos vivendo numa era do politicamente correto, o que significa que qualquer coisa de caráter público tem que ser inerte o suficiente para não irar nenhum dos incontáveis grupos de golp… defensores de minorias.

Sim, era previsível que todo o material ao redor da Copa seria essa merda chata mesmo. Posso estar sendo corporativista, mas quando o cliente é um país feito o Brasil, não tem por onde criar algo interessante. Pode ignorar toda a defesa de criação desse material, a única verdade é que tudo só serve para ser aceito no resto do mundo e não irritar o povão do país.

Ideia por ideia, dá pra defender uma criação politicamente incorreta muito bem… Por mim todo o material da Copa de 2014 deveria ter sido montado ao redor de imagens de bundas. A bola tinha que se chamar BUNDA. É uma das, senão a mais amada palavra da língua portuguesa (brasileira, português é sem noção e usa “cu” pra tudo) por qualquer estrangeiro. Funciona bem em quase qualquer língua, é sonora e quando descobrem o que significa, fica ainda mais divertida. Os gringos adorariam.

O mascote e o logo poderiam ser bundas também (bundas literais e não figuradas como as atuais) que a Copa seria um sucesso de marketing estrondoso (a polêmica alavancaria interesse e vendas, o povo ia comprar muita coisa por diversão, brasileiro se amarra numa esculhambação). O Brasil trollaria a FIFA e provaria para o mundo que sabe rir de si mesmo. Eu aposto que funcionaria incrivelmente bem. Coragem beirando à insanidade vale ouro em publicidade. Imagina que bacana o narrador dizendo que assim que chutarem a Bunda começa o jogo?

A ironia é que o principal entrave para uma ideia desse naipe não é o orgulho do brasileiro, é a FALTA dele. Porque essa é a imagem do país, uma bunda. Se o país tivesse símbolos e histórias mundialmente reconhecidas, não precisaria se reduzir a um denominador comum tão baixo quanto um tatu-bola. Foi a mesma coisa com a África do Sul, o país é conhecido pelo Nelson Mandela e pela AIDS. Pra não colocar o velhinho como logo, tacaram um animal selvagem famoso.

Quando países que tem mais do que um quintal bonito usam mascotes animais, eles não precisam ser típicos de sua fauna local. O galo francês, o leão inglês e alemão, o cachorro americano… Eles são mascotes por motivos alheios a… morar no país. As escolhas para mascote brasileiro já eram sem graça desde o começo. Saci e Curupira tem ZERO apelo comercial, mesmo dentro do país. Para não ceder a um fracasso comercial claro, tiveram que fechar entre tatu e arara azul. Bicho vende mais fácil, mesmo um estranho como o tatu.

Eu entendo que o pessoal que criou o mascote não tinha muita escapatória, mas acaba sendo apenas um projeto mais ou menos (competente, diferentemente do logo da Copa, esse sim mal feito) até no aspecto comercial. O símbolo da arara azul era o mais bonito desde o começo, mas como o “cliente” não queria ser criticado por pegar carona na animação “Rio”, já deveria estar vetado faz tempo. Do ponto de vista de marketing, era MUITO melhor a arara azul, o trabalho de divulgação já estava feito e a forma do bicho é muito mais reconhecível mundialmente. Mas Gezuiz livre os políticos que decidem essas coisas de arriscar qualquer crítica em ano eleitoral e tão próximos de um evento tão lucrativo feito uma Copa do Mundo.

Se a história do Brasil fosse um pouco menos cagada e o país tivesse projeção internacional além de futebol e carnaval, essa babaquice ufanista de querer um símbolo de grande significado (é o mudo querendo gritar…) iria pelo ralo e decidiriam por um mascote com mais potencial de fazer dinheiro. Porque no final do dia, não tem porra nenhuma de orgulho nacional numa decisão dessas… Ou faz dinheiro ou perdeu tempo.

Para perguntar quando a RID vai sediar uma Copa, para dizer que a maioria iria reclamar de QUALQUER mascote (é verdade), ou mesmo para imaginar os inúmeros trocadilhos da bola BUNDA: somir@desfavor.com


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