Serviço de luxo.

Hoje o Desfavor está com o rei na barriga, embora apenas de forma imaginária. Existem muitos serviços disponíveis para quem tem dinheiro para tal, Sally e Somir não negariam uma mordomia, mas escolheriam diferentes. Os impopulares sonham.

Tema de hoje: se você pudesse ter uma única prestação de serviço de luxo gratuita para o resto da sua vida, qual seria?

SOMIR

Por incrível que pareça, eu iria de motorista. Talvez tenha um fator paulistocêntrico aqui de usar carro para tudo, mas seria algo que mudaria minha vida para melhor. Eu sei dirigir, eu não me envolvo em acidentes, mas é algo que me enche o saco mais do que o normal.

Não sei se você também tem o foco de atenção de um filhote de gato para entender isso, mas dirigir é muito cansativo. Até porque eu tenho um mínimo de noção e mantenho foco forçado quase que total no trânsito. Por mais que eu tenha alguns amigos com senso de autopreservação no mínimo questionáveis, todo mundo sabe que motorista que pega celular dirigindo escuta as minhas broncas mais violentas e se controla.

Caguei se você acha que consegue prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo, dirigir é ação exclusiva. Muitas vezes eu deixo de fazer coisas porque não estou com saco de ficar vidrado no trânsito por 15 minutos que sejam. Quando eu preciso, eu faço, é claro, mas meu cérebro foi derretido por excesso de estímulo por causa de computadores e internet, eu não sei mais lidar com atividades “lentas” como dirigir.

Com um motorista eu provavelmente sairia muito mais de casa para fazer coisas que deixo atrasar ou negligencio. E essas coisas vão muito além de comprar pão na padaria: fazer exercícios físicos numa pista bacana ou numa academia melhor, ir comprar comida mais saudável, fazer mais reuniões presenciais (o ser humano médio costuma gostar de ver pessoas ao vivo)… tem uma série de coisas que são muito mais fáceis de fazer se você tem um esforço a menos para fazer com o deslocamento.

E honestamente, motorista é um dos trabalhos de comodidade pessoal que eu considero menos “escravocratas”. O trabalho da pessoa é gerenciar e pilotar uma máquina, é um trabalho que deixa a pessoa de prontidão, mas não a coloca numa posição de subserviência de humano para humano, por assim dizer. Ela é responsável pelo seu departamento de transportes pessoal, não está lá para fazer qualquer coisa que você quiser, está lá para dirigir.

Sim, eu sei que é fácil dirigir e muita gente gosta, eu mesmo acho divertido em algumas situações, mas a vida tem muitos prazos e horários, quase sempre você dirige com hora marcada para fazer as coisas. Dirigir não costuma ser algo relaxante, é apenas uma forma de andar entre dois pontos, e considerando quanto trânsito e maluco tem na rua todos os dias, eu até acho mais saudável e seguro ter alguém focado apenas nisso.

Porque não podemos esquecer da manutenção do carro, algo que fica na mão do seu motorista. Pneus calibrados, filtros limpos, tanque cheio, todos os detalhes que você deveria acompanhar no dia a dia já ficam todos certos com alguém pago para isso (eu sei que nesse caso seria de graça, mas a pessoa tem que ser remunerada por alguém, só não vou ser pagando).

Considerando quanta coisa dá para fazer no celular hoje em dia, você poderia até usar o tempo dentro do carro para colocar tarefas digitais e trabalhos em dia. Você aumentaria seu tempo livre e produtivo ao mesmo tempo. Se você mora numa cidade onde as coisas estão todas perto ou que o sistema de transporte público é decente, fico feliz por você, mas onde eu vivo e em boa parte do Brasil, o padrão não é esse. Perde-se tempo e qualidade de vida no trânsito.

Na parte da diversão, seria uma boa também: você nunca mais precisa ser o “motorista da rodada”. Eu nem ligo tanto assim para beber, mas eu gosto de ter opções. A única parte que eu consideraria intolerável seria a parte do Motel, mas se você tiver um motorista, eu desconfio que a maioria das mulheres ficaria no mínimo tentada a ir até sua casa (vai que é uma mansão) e você poderia escapar até mesmo do custo do Motel.

E ainda tem um excelente bônus de ter muito menos dependência de uma ambulância, por exemplo. Se você ou alguém da sua casa se sentir mal, é muito mais fácil ir até um hospital, muitas vezes ficamos em dúvida se é caso de ambulância, mas com motorista é muito mais rápido e fácil tomar uma decisão que pode salvar vidas.

E como a pergunta fala de serviço de luxo, é claro que eu estou considerando 24 horas por dia, é só trocar o turno. Eu iria com isso na hora, porque boa parte dos outros “serviços de luxo” são coisas que colocam alguém dentro da sua casa ou criam relações muito íntimas. O ser humano é complicado, eu prefiro que só fique próximo de verdade quem eu conheça bastante. Motorista fica na dele, cuida do carro e pronto.

Eu confesso que até considerei um serviço de garotas de programa de luxo grátis, mas seria furada: primeiro que se não trocasse a garota, por mais bonita que fosse, você tomaria um processo por união estável eventualmente, além de todo estresse de uma relação sem afeto real que se formaria. E se trocasse, você estaria sempre numa roleta russa de doença venérea, sem contar a total fodelança (trocadilho intencional) do seu estado mental por ficar fazendo sexo com inúmeras estranhas prestando um serviço. E imagina só as bombas psicológicas e criminais que viriam no pacote? Mulher complicada sempre tem um ou dez homens malucos rodeando.

Motorista é uma opção prática, muito mais segura, que não atrapalharia o que eu já tenho e abriria uma série de vantagens.

Para nos chamar de sinhozinhos, para dizer que escolheria um cozinheiro, ou mesmo para dizer que eu sou muito preguiçoso: comente.

SALLY

Se você pudesse ter uma única prestação de serviço de luxo gratuita para o resto da sua vida, qual seria?

Massagista. Massagista de plantão. Massagem três vezes por dia. Tudo fica menos insuportável depois de uma boa massagem!

É claro que cada um tem seu ponto fraco nas tarefas do dia a dia, alguns odeiam cozinhar, outros odeiam lavar roupa e assim vamos levando a vida. Mas, normalmente existes soluções alternativas para essas tarefas: comprar quentinhas, levar a roupa em uma lavanderia etc. Não digo como estilo de vida, mas para se dar um descanso quando estiver muito cansado ou atarefado.

Eu não quero luxo, eu quero qualidade de vida. E massagem é qualidade de vida. No dia que eu quiser um motorista, eu peço um Uber, que tá dentro do meu orçamento pagar. Ainda mais trabalhando de home office! O benefício de melhorar minha vida todos os dias é muito mais atraente. É algo capaz de melhorar tanto a minha saúde, como a minha estética.

Minha escolha não tem alternativa. Não tem forma de eu ser massageada duas ou três vezes ao dia que não seja com um profissional à minha disposição (máquinas de massagem parece que querem te matar ou te lesionar). Além disso, minha escolha torna todas as outras tarefas mais fáceis, visto que estarei relaxada e não estarei dolorida.

E, ao contrário das demais prestações de serviço, uma massagem tem um efeito muito passageiro: meia dúzia de estresses depois, você está tenso novamente. Uma massagem antes de dormir ajuda a dormir muito melhor. Uma massagem depois de qualquer atividade física ajuda na recuperação. Massagem é basicamente bom em qualquer hora do dia. Massagem libera química do bem no corpo, que nos deixa mais relaxados, felizes e menos estressados.

Trânsito é ruim? Sim, é um saco. Mas existem opções: sair em horas menos congestionadas, sair mais cedo, pegar caminhos alternativos. Não tem alternativa para massagem, vou fazer o quê? Esfregar as costas em uma cerca, tipo um cavalo?

Além disso, o fato de ter um motorista não torna o trânsito “menos pior” para mim, continua sendo uma bosta e uma perda de tempo. Talvez seja até pior, pois quando não estou ao volante tem grandes chances de enjoar e passar mal no carro. Se houvesse teletransporte, aí sim a gente conversava. Por hora, ficar presa no trânsito, estando presa ao volante ou não, continua sendo uma merda. Preferia até ter quem cozinhe para mim em vez de motorista, assim chegava em casa cansada do trânsito e tinha o que comer.

Como eu disse, existem muitas opções para a maioria das coisas que não gostamos de fazer, como por exemplo, dividir a tarefa com as pessoas que nos cercam: reveza e se desloca com carona de colegas de trabalho, alterna os dias que cada pessoa da casa cozinha, vai levando, tirando um pouco do peso das suas costas. Para massagem não há alternativa. Mesmo uma sessão de massagem é cara para um caralho. É esfregar as costas na cerca ou nada.

Talvez pela minha personalidade, talvez pela minha vivência, tendo a privilegiar o que me gera saúde física e mental, e não o que me desobriga de tarefas minhas. Se é uma tarefa da vida adulta, eu vou fazer. Posso estar puta, cansada ou de péssimo humor, mas eu vou fazer, o senso de obrigação atua forte em mim. Prefiro um luxo, um mimo, um presente que me dê mais forças para fazer todas essas coisas inerentes à vida adulta.

“Mas Sally, é possível pedir uma massagem para um amigo, um namorado ou para alguma pessoa”. Sem querer ser escrota, eu acho massagem excesso de contato, não pediria para um amigo. E leigos fazendo massagem não costuma ser algo satisfatório, primeiro por não disporem das técnicas, segundo por dificilmente fazerem 50 minutos de massagem, muito menos todos os dias. As pessoas estão tão cansadas quanto eu estou, não ousaria pedir isso a ninguém.

Eu quero terminar meu dia e receber uma massagem antes de dormir. Eu quero começar meu dia com uma massagem. Me julguem. Eu prefiro esse luxo sem ganhos materializáveis do que um luxo que me gere um ganho palpável, como um cozinheiro que prepare um prato de comida.

Enquanto não inventarem um “Personal Resolve Problemas”, uma pessoa na qual você pode despejar burocracia, tretas que não consegue resolver e tarefas chatas, eu fico com a massagem.

Entre todas os luxos que eu gostaria, o único que reúne benefícios físicos, mentais e estéticos é a massagem. Por isso me parece o mais completo.

Para dizer que você anda em um Mercedes com motorista (o busão), para dizer que no Brasil é prioridade ter segurança particular como luxo ou ainda para dizer que queria mesmo uma babá para não ter que cuidar dos seus filhos: comente.

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