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Flertando com o desastre: BBBriga.

| Sally | | 147 comentários em Flertando com o desastre: BBBriga.

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Vocês sabem, a gente não faz cobertura de Big Brother aqui por uma questão de princípios: não suportamos e não conseguimos ver nem dez segundos desse troço e fazemos votos que os nosso leitores também não. Nada contra reality, já fizemos cobertura de “A Fazenda”. Tudo contra Big Brother e a roupagem cagada que a rede Globo dá a tudo em que mete a pata. Porém, o assunto hoje esbarra no Big Brother, não dá para deixar passar o grau de imbecilidade do telespectador. Uma variação de um tema recorrente se apresenta de forma sintomática: gente batendo ponto em rede social para brigar compulsivamente. Por quê? Sério mesmo, por quê? Não é exclusividade do BBB, mas a proporção que tomou chama a atenção: que necessidade é essa de ficar brigando na internet?

Torcidinha organizada para participante sempre teve. Grupos de pessoas, geralmente encabeçados por amigos e parentes, que puxam torcida e incentivam votação. Até aí normal, é como se fosse um time de futebol de uma pessoa só. Não sei quando o problema começou, talvez tenha sido nesta edição, talvez esteja rolando faz tempo, o fato é que eu só percebi agora: além de torcer, as pessoas estão sendo tomadas por fortes emoções, se aborrecendo, brigando, se estressando por causa de uma merda de um reality show estrelado por uma dúzia de desconhecidos. Sim, levam esta merda a sério e ficam procurando briga em rede social. Doentio.

O Twitter parece estar monotemático: brasileiro só fala em BBB, o que por si só já seria uma merda. Mas pior do que o tema é o tom das discussões: pessoas se xingando, se agredindo, baixando o nível para “defender” seu participante favorito, um nobody que nem sabe que estas pessoas existem. Pessoas se permitindo uma gama de sentimentos passionais por causa de um programa de televisão de merda. Frases como “Morra” ou “Quero que a Fulana morra!” e desejos do tipo são postadas sem o menor constrangimento. Frases desejando que coisas ruins aconteçam aos participantes quando eles saírem. Frases ameaçando agressão física contra participantes ou contra quem falar mal de participantes.

Mesmo as pessoas mais sensatas estão se deixando sugar por esse buraco negro de ignorância e caindo na briga quando são provocadas. As pessoas vão de zero a cem em matéria de raiva com uma facilidade que me assusta. Parecem todos emocionalmente retardados, crianças grandes sem qualquer maturidade, que se deixam abalar por coisas desimportantes. Sério que não tem coisa melhor para fazer da vida do que se irritar por conta de participante de reality show ou por fã de participante de reality show? Não tem. E olha que muita gente aí tem filho pra criar, ainda assim passa o dia no Twitter especulando sobre Big Brother e defendendo e atacando participante.

Opinar? Ok. Acho meio deprimente gastar uma linha sobre um participante específico do BBB, mas ok, compreendo quem opina. Porém gastar o dia todo defendendo, atacado ou simplesmente escutando as merdas que os ignóbeis fanáticos tem a dizer é de fazer cair o cu da bunda. Se deixar estressar, chatear, irritar por causa disso é de uma mediocridade sem fim. É por isso que essas neguinhas tão aí, tudo tomando remedinho controlado. Se expõe diariamente a todo tipo de merda, de agressão, de imbecilidade, de estresse, de burrice… não tem ser humano que aguente isso diariamente de cara limpa.

Vendo este espetáculo de perda de tempo e fodeção psicológica, tentei colocar a mente em ordem e compreender porque um programa de merda como o BBB (ou qualquer outro estopim não-grave) causa reações tão passionais na gentalha. Provavelmente são vários fatores, mas o que me salta aos olhos é: um programa desses expõe as pessoas e ter que lidar com a diversidade de opinião, afinal, cada um torce para um participante, geralmente aquele com quem mais se identifica. Então, talvez o cerne desse circo todo seja esse: a dificuldade em lidar com a diversidade de opinião. Por que passar a noite comentando a novela no Twitter é mole: tem vilão, tem mocinha, a torcida já tem endereço certo. Mas, caiu em algo mais ambíguo, vira campo de batalha.

As pessoas que estão ali xingando e sendo xingadas pensam que estão defendendo o participante tal, mas não estão. Porque mal conhecem aquele participante, é um contrassenso comprar uma baita briga por alguém que você mal conhece. Elas estão xingando e sendo xingadas por causa da diversidade de ponto de vista, é isso que irrita esse tipo de gente. É por sua opinião e ponto de vista que elas brigam. Infelizmente BBB é um dos únicos momentos do ano onde as pessoa se dão ao trabalho de elaborar um ponto de vista próprio. E como não estão acostumadas a fazê-lo, não sabem lidar com a diversidade: se ofendem se alguém discorda, querem convencer a todo mundo, ganhar no grito e são tomadas por um sentimento passional imbecil a ponto de chegar a desejar mal para participantes ou sua torcida. Discordância de opinião é encarada como ofensa pessoal: LINCHEM!

Sabem o que me entristece? Que as pessoas não se dão conta da perda de tempo. Pessoas que eu conheço que dizem não ter tempo para isso ou aquilo (ir ao médico, se exercitar, fazer um curso de inglês) e passam o dia twitando sobre BBB. Parabéns, viu? “Mas Sally, para twittar é só um minutinho, para malhar se perde pelo menos meia hora”. Ahã. Soma lá cada frase postada e vê quanto tempo do seu dia a pessoa perdeu. Gente, pessoas que acompanham o Pay Per View em tempo real e ficam comentando… essas pessoas não trabalham não? Por que não acompanham a TV Senado e descobrem o que está sendo votado e se insurgem violentamente quando algo imoral for colocado em pauta? Essa dinâmica da Nação Twitteira lidando com BBB derruba o argumento de que brasileiro não sabe se mobilizar, é manso, não se revolta, não sabe se organizar. SABE SIM, mas aparentemente só o faz por pouca merda.

Para eliminar um participante impopular, que tenha cometido um lapso de sinceridade e deixado de ser politicamente correto por três segundos neguinho se organiza que é uma beleza! Para não reeleger político corrupto nem pensar. Daí vão e fuçam podres dos participantes que querem eliminar e divulgam, divulgam, divulgam. Se fuçassem assim a vida dos políticos nos quais votam este país seria tão melhor… E sentem uma raiva legítima, falam coisas pesadas, se irritam, batem boca, se ofendem, ofendem a terceiros. Um círculo vicioso nocivo, destrutivo, que por algum motivo suga a pessoa e a mantém no meio daquela discórdia.

Se o primeiro passo no meu raciocínio já foi dado (que as brigas passionais nascem da dificuldade/intolerância em lidar com quem pensa diferente), o segundo está um pouco mais difícil: porque quando as pessoas se deparam em um ambiente hostil, cheio de brigas, cheio de agressão, elas continuam ali em vez de sair e se preservar? Como esta forma de violência atende a pessoa? Porque, vamos combinar, para continuar ali, tem que ter um ganho secundário. Não arrisco dizer qual seja. O que percebo quando meia dúzia dessa antinhas caem aqui (como ocorreu com meu texto sobre o lado negro da gravidez que virou “texto contra as mães” para os analfabetos funcionais do Twitter) é um mix de descompensamento total da cabeça somado à busca por situações de conflito constantemente na internet. Sério mesmo, se você sabe que tem um lugar cheio de maluco, tipo um hospício, você escolhe esse lugar para passear diariamente? Só se você for muito ferrado da cabeça ou precisar muito de conflito na sua vida como forma da dar vazão a angústias cuja causa você não tem estrutura para lidar.

Eu peço ajuda a vocês para responder a esta pergunta, onde BBB é mero exemplo em meio a muitos outros: Por que as pessoas estão tão fissuradas em situações de conflito e violência na internet? Será que já não há o bastante disso no mundo real? Ou será que a opressão politicamente correta os obriga a correr para o Twitter e dar vazão a aquele xingamento que teve que engolir na vida real? O que está acontecendo para que cada vez mais pessoas tidas como pensantes busquem incessantemente situações de conflito e violência na internet? Por que não se afastam dessa baixaria, por que não se poupam?

Vira e mexe a gente vê isso aqui. Vira e mexe um texto nosso (tá, um texto meu, se for do Somir esse povo nem entende) desce arranhando e vira motivo de um suposto “linchamento” e revolta. Daí caem centenas de pessoas aqui, que em vez de ignorar, vem xingar, ameaçar, procurar conflito. Quando eu respondo de forma educada, elas não voltam. Quando respondo de forma agressiva, a pessoa sempre volta pedindo mais. Já repararam nisso? Fiz o teste no texto do lado negro da gravidez, experiência social pura e acabei comprovando minha teoria. Educação broxa as pessoas. Elas vem atrás de conflito, querendo briga, desesperadas por atrito. Que porra é essa, gente? Alguém me ajuda a entender essa dinâmica de procurar por briga, angústia, estresse? Psicólogos da RID, por caridade, me ajudem a entender essa necessidade para que eu possa melhor desagradar esse tipo de gente quando eles baterem aqui!

Lembrei agora do carnaval de Salvador. Para quem não sabe, no Carnaval de Salvador se divide em dois grupos de pessoas: aquelas anencéfalas que pagam mais de mil reais para ter um abadá do Chiclete com Banana (ou similares) e ficar cinco horas de pé no sol atrás do trio protegidas por “seguranças” e aquelas anencéfalas que não pagaram mil reais mas que também ficam cinco horas debaixo de sol atrás do trio, só que sem segurança, conhecidos também como “pipoca”. Pois bem, esse grupo da pipoca muitas vezes vai PARA brigar. Chegam já dando soco em alguém sem motivo algum. Malham no dia para chegarem “mais fortes” e poder bater melhor. O que leva alguém a ir a um local PARA brigar com desconhecidos, sem motivo aparente? O que leva alguém a ir a um lugar que sabe que estará cheio de gente doida para brigar sem motivo?

Parece ser o mesmo princípio da internet. As pessoas frequentam lugares lotados de gente doida para brigar, para agredir, sem o menor controle emocional. E continuam frequentando. SE ABORRECEM, e continuam frequentando. Que tipo de masoquismo virtual será esse? Tem gente boa se sujeitando a isso, meu povo! As pessoas não percebem que, por mais que seja virtual, o sentimento é real? O estresse é real, a putez é real o mal que causa é real. Por que merdas continuar frequentando um lugar que te gera um monte de aborrecimentos? Não sei a resposta. Não entendo. Mas estou louca para entender, pois é esse mesmo mecanismo cagado masoquista que faz com que pessoas que discordam raivosamente de cada linha que eu escrevo continuem batendo ponto aqui para tentar cavar uma briga. Não gostou? Não leia, que tal? Me achou uma merda? Me despreze! Mas não… nããããããoooo… o povo precisa brigar, precisa se aborrecer, precisa se estressar. Sério mesmo, vão acabar todos escravos de Fluoxetina, Rivotril e cia. Não tem ser humano que consiga viver diariamente nessa dinâmica.

Fico me perguntando o que aconteceria se, por algum motivo plausível de força maior, as redes sócias todas fossem extintas, assim, do dia para a noite. O que essas pessoas fariam com o tempo que dedicavam às redes sociais? Qual seria o impacto disso em suas vidas?

Bem, em primeiro lugar, elas TERIAM QUE OLHAR para suas vidas e para si mesmas, o que por si só já seria bastante sofrido. Sem aquele recurso anestesiador de vida virtual, a pessoa teria que olhar bem de perto para seu casamento ou para o fato de não estar casada, para sua carreira, para seu salário, para seus amigos, para tudo que já construiu (ou não) na vida. Muita gente ficaria triste. Talvez seja mesmo melhor ficar twittando o dia todo, ficar postando fotos de felicidade no Facebook. Olhar para si mesmo, olhar para sua vida, pode ser bastante doloroso.

Para onde estas pessoas canalizariam esse impulso de briga, de detonar quem pensa de forma diferente, transformando o diferente em necessariamente errado e ofensivo? Pro chefe é que não é, não é mesmo? Fico me perguntando se sairiam tocando a campainha do vizinho e gritando e brigando. Por que tanta agressividade, tanta angústia tem que sair por algum lugar. Será que as pessoas sairiam batendo umas nas outras no meio da rua por não ter gostado da roupa ou do tecido da roupa de outra pessoa? Será que deixariam cair essa máscara de hipocrisia social politicamente correta se perdessem sua válvula de escape virtual? Creio que a internet está alimentando e viabilizando essa máscara, pois permite dar vazão à raiva de longe, sem riscos, muitas vezes sem rosto. É isso que nos permite continuar com essa dose cavalar de hipocrisia social.

E as pessoas que se encontram em uma situação mais… solitária, como reagiriam sem a internet como forma de socialização? Provavelmente teriam que sair de casa e interagir olho no olho. Que medo que deve dar, para uma pessoa acostumada a fazer amigos nesse grande supermercado de gente que é a internet, onde cada pessoinha já vem mais ou menos com uma sinopse de si mesma, do que gosta, do que quer ser. Fica fácil escolher quando o ser humano já vem mais ou menos inserido em uma categoria. Como será que essas pessoas se sairiam se tivessem que escolher no escuro, no meio da rua, onde gente não está rotulada? Imagino que lhes provocasse medo. Imagina, conhecer uma pessoa do nada, olhando no olho! Não estão preparados emocionalmente para isso não, tadinhos.

Para fechar, a pergunta mais importante: como será que estas pessoas lidariam com a diferença de opinião ao vivo, olho no olho? Será que tanta fúria, tanta revolta e tanta agressividade seria esboçada ao vivo? Não creio, primeiro porque isso requer coragem, segundo porque a obrigação social do politicamente correto não permitiria. O que aconteceria com essa agressividade toda no final das contas? Que outro tipo de situação de violência socialmente aceitável as pessoas precisariam criar para dar vazão a tanta angústia? Não seria melhor agir com raiva nas situações que de fato geram essa raiva em vez de engolir em nome da hipocrisia social e depois ter que ficar recorrendo a brigas vazias na internet para cospir os sapos entalados na garganta?

Nunca saberemos, pois as redes sociais continuarão onipresentes, mas é interessante especular e refletir. Boa notícia: BBB termina hoje. Amanhã os ignóbeis precisarão de uma nova desculpa para brigarem entre si nas redes sociais.

Para fazer dos comentários um palco de discussão sobre quem deve ganhar o BBB e estressar o Somir, para me encher de esperanças na humanidade e concluir que é mais saudável sair de rede social ou ainda para dizer que concorda com tudo mas precisa dessa válvula de escape pois ela é muito mais barata do que fazer terapia e enfrentar as razões reais das suas angústias: sally@desfavor.com


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