Semana Anta: A chama final.

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Semana Anta: É tempo de glórias aqui na República Impopular. Bom, nem tanto… a Semana Anta começa com uma péssima notícia… O mundo vai acabar.

Sally: Alô?
Somir: Estou ligando para me despedir, restam poucos minutos agora
Sally: Ahã
Somir: A previsão é de que o asteroide colida com a Terra em alguns minutos
Sally: Tô sabendo
Somir: O que você está fazendo?
Sally: Postando um Desfavor Explica: Asteroides
Somir: Eu não acredito nisso…
Sally: Já que nossos leitores todos vão morrer, que ao menos entendam como, quando, onde e porque!
Somir: Que perda de tempo, Sally!
Sally: Perda de tempo são esses panacas orando na rua!
Somir: Na minha rua também tem um monte de gente de mãos dadas, ajoelhados, rezando
Sally: Todos viraremos patê, por igual
Somir: Já decidiu qual vai ser a última coisa que você vai fazer?
Sally: Comer um chocolate. E você?
Somir: Fumar
Sally: Então tá… bom fim do mundo para você, viu?
Somir: É isso, Minha Cara, foi um prazer dividir o planeta com você…

Um forte impacto põe fim ao planeta Terra sem deixar um único sobrevivente.

Um longo silencio se instaura.

Somir e Sally abrem lentamente os olhos. Estão deitados no chão e observam um céu azul encoberto por um bambuzal. O vento agita o bambuzal e ambos olham fixamente para a cena.

Sally: Somir?
Somir: Sally?
Sally: Não morremos?
Somir: Esse bambuzal…
Sally: Me é familiar
Somir: Estamos na ilha de Lost?
Voz: CALA A BOCA, NERD!

Somir e Sally se levantam e olham para a direção de onde vem a voz. Uma criatura gigante, musculosa, vermelha com chifres os olha de braços cruzados.

Sally: É uma mulher fruta?
Somir: A voz parece
Sally: A cor de pele também…
Somir: Tem cascos
Sally: Mulas tem cascos
Somir: Olha… está parecendo…
Diabo: CALADOS!
Sally: Desculpa perguntar, mas… quem é você?
Diabo: Grande, voz grossa, com chifres… quem você acha que eu sou?
Sally: Gracyanne Barbosa?
Somir: Merda… estávamos enganados, existe céu e inferno
Sally: Inferno? Esse bambuzal com céu azul é o inferno?
Diabo: É a sala de espera, o inferno fica ali. Me acompanhem

O Diabo conduz Somir e Sally para uma porta gigantesca de ferro . Do lado de dentro, escuridão, rios de lava, sofrimento, gritos, pessoas sendo torturadas e um calor tenebroso

Somir: Eu não vou aguentar ficar aqui… é muito quente!
Sally: *vestindo um casaquinho
Somir: Tá maluca?
Sally: Querido, para quem vem do Rio de Janeiro isso aqui é ar condicionado…
Somir: O que estão fazendo com essas pessoas acorrentadas?
Sally: Porque elas gritam e se debatem? Estão levando choques?
Diabo: Estão com um fone de ouvido sendo obrigadas a escutar Luan Santana
Somir: *se contorcendo
Sally: NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOO!
Diabo: Deveriam ter pensado na consequência dos seus atos enquanto ainda estavam vivos. Bem vindos ao inferno.

Enquanto isso, no céu…

Paulo: Vejam quantas nuvens brancas… quanta harmonia…
Bruno: Muita paz
Paulo: Valeu a pena ter me arrependido de todos os meus erros no último segundo!
Bruno: Do que você se arrependeu?
Paulo: De ter roubado tanto em cargos públicos que cheguei até mesmo a ser procurado pela Interpol. Roubei dinheiro que seria destinado a remédios, hospitais, alimentos…
Bruno: Realmente valeu a pena ter me arrependido também…
Paulo: De ter matado sua amante?
Bruno: Não. Isso eu achei bem feito. De ter jogado no Flamengo

Novamente no inferno

Somir: *sentado no chão com as mãos na cabeça
Sally: Calma, Somir, podia ser pior. A gente podia ter ido parar no Nosso Lar
Somir: Você não percebe? TUDO que sempre pregamos nossa vida toda estava errado! Existe um céu, existe um inferno!
Sally: É, mandamos mal. O pior é que acabamos convencendo outras pessoas disso…
*dezenas de Impopulares começam a entrar escoltados pelo Diabo
Sally: FOI MAL AÍ, GENTE! *fazendo um joinha de longe
Somir: Não é possível… não faz sentido!
Sally: Agora não adianta mais, vamos sofrer pela eternidade
Somir: Foda-se a tortura! Eu estava errado…
Sally: *suspiro
Diabo: Só para eu saber, quantos desses vocês acham que ainda vem? *apontando para Impopulares
Sally: Rapaz… pelo menos uns dez mil
Diabo: *palavrão
Somir: *levantando a cabeça repentinamente
Sally: Que foi?
Somir: O Diabo deveria achar bom que o inferno esteja cheio de gente, não?
Sally: Imagino que sim
Somir: Então porque ele está xingando e reclamando?

Enquanto isso, no céu, uma pessoa recepciona os novatos:

Adolph: Sejam bem vindos, amigos. Estamos recebendo grande numero de brasileiros
Luiz Inácio: Obrigado, Companheiro
Macedo: Você… aqui no céu? Não é uma contradição você aqui no céu?
Adolph: Sim. No último minuto que antecedeu à minha morte me arrependi de tudo, das mortes, do genocídio, dos crimes contra a humanidade… e por isso, tudo que fiz foi perdoado. Sensacional esse sistema
Macedo: Me referia ao Luiz Inácio…

No inferno…

Somir: Não pude deixar de notar um descontentamento seu…
Diabo: São esses argentinos que não param de chegar, povo orgulhoso que não se arrepende nem no último minuto!
Somir: Mas… quanto mais gente melhor… ou não?
Diabo: Pelo menos brasileiro não veio quase nenhum. Povo esperto
Somir: Você deveria estar feliz com a quantidade de pess…
Diabo: Quantidade! Quem quer quantidade! Sobram para mim os peixes pequenos! Quem eu realmente estava mirando foi lá para cima!
Somir: Como assim?
Diabo: Quem é filho da puta o bastante para merecer estar aqui também costuma ser esperto o bastante para se arrepender no último minuto, conseguir o perdão e subir!
Somir: Percebo uma falha no critério de seleção… uma espécie de ENEM pós morte. Procede?
Diabo: Uma palhaçada isso…
Somir: Deve ser frustrante acompanhar uma vida de atrocidades e depois a pessoa se safar em apenas um segundo
Diabo: Tinha gente ali que eu estava acompanhando de perto e não via a hora de botar as mãos, como por exemplo o Fernandinho…
Somir: Beira Mar?
Diabo: Não coitado, esse não fez nada tão grave. Me refiro ao Fernando Henrique Cardoso
Sally: Olá!
Somir: Onde você estava?
*Sally aponta para um canto lotado de gente dançando tango com uma plaquinha fincada no chão escrito “Argentina es aqui”
Somir: Foi bom você chegar, estávamos conversando sobre o critério de escolha céu/inferno
Sally: O lance do arrependimento no último minuto, né?
Diabo: Não é injusto?
Sally: Certamente
Diabo: Nunca meto a mão nos grandes e não tem nada que eu possa fazer
Somir: Quem disse?
Diabo: *coçando a cabeça com olhar intrigado

No céu…

Bial: Ó Céu azul, dos mais azuis entre os azulados… é céu azul…
Galvão: Esse cara é chato
Faustão: Todos nós, mas nos arrependemos no último minuto…
Voz atrás de uma nuvem: PARA PARA PARA PAAAARAAAA PAAAAAARAAAAA
Fautão: Aí já é demais…
João Kleber: Se arrepender é direito de todos!
Galvão: *Suspiro

No inferno…

Sally e Somir começam uma longa conversa com o diabo e acenam para que os Impopulares e outras pessoas se juntem a eles. Em pouco tempo, pensadores, filósofos, artistas e Impopulares travam um diálogo passional tentando convencer o Diabo a criar uma nova realidade.

Sócrates: Deixe-me fazer algumas perguntas… Se aqueles que realmente fizeram atrocidades estão lá em cima, parece uma perda de tempo punir os que estão aqui embaixo?
Diabo: Bem… é que…
Aristóteles: Exatamente, você estaria punindo quem não burlou o sistema, quem assumiu responsabilidade por seus atos. É uma questão de lógica.
Diabo: Bem… em tese…
Maquiavel: Tese? Não, a teoria não se separa da prática! Se quer alguma mudança, tem que realiza-la na prática!
Somir: Precisa mesmo essa coisa maniqueísta de fazer do inferno um contraponto do céu?
Sally: Porque não tocar nossas vidas por aqui de forma normal?
Diabo: Mas… eu perderia minha função!
Somir: O mundo não gira em torno do seu umbigo!
Copérnico: Cuidado, Amigo. Eu vim parar aqui por levantar essa lebre de girar em torno de… esse papo não é muito bem visto
Diabo: VOCÊS TEM RAZÃO!
Todos: *comemorando

Assim, o Diabo se rendeu à falta de lógica do sistema estabelecido e decidiu que aquela pequena sociedade se regularia por regras próprias. Prontamente as pessoas que ali estavam se organizaram. Somir e Sally fundaram um blog, a RID, República Infernal do Desfavor. Passaram a escrever sob os pseudônimos de Somefisto e Satanally, nomes pelos quais passaram a ser conhecidos pelos habitantes locais. Para surpresa geral, a coisa começou a funcionar bem, talvez pelo perfil dos moradores, pessoas que se recusaram a aproveitar uma brecha no sistema para se dar bem e foram fiéis às suas convicções. Muitas cabeças pensantes estavam no inferno.

Em apenas vinte anos a dinâmica do inferno funcionou de forma tão brilhante que um vasto campo de filosofia, ciências e artes se desenvolveu. Uma sociedade organizada e progressista baseada na racionalidade despontava e produzia como nenhuma outra. A evolução social saltava aos olhos e, é claro, acabou virando motivo de comentários no andar de cima. Não demorou até que carinhas curiosas começassem a se aglomerar nos portões do inferno para tentar descobrir que nova dinâmica social era aquela…

CONTINUA

Para ter orgulho de ir para o inferno, para marcar um encontro RID em uma churrascaria rodízio na sexta ou ainda para perguntar se o Diabo tinha a cara do Belo: sally@desfavor.com

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