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Colunas

Nem um pio?

Começa a semana de comemoração dos 9 anos de desfavor, e com ela, Sally e Somir trazem uma discussão interna para ser definida por vocês, impopulares. O desfavor manteve-se distante de redes sociais até agora, mas há uma oportunidade no horizonte.

Tema de hoje: o desfavor deve ir para o Twitter?

SOMIR

Não. Podemos mexer em várias coisas aqui para melhorar a proposta do desfavor, mas o embargo às redes sociais não é uma delas. Foi numa delas, o finado Orkut, onde Sally e eu nos conhecemos, e temos algumas histórias bacanas por lá; mas os tempos mudaram. Vivemos uma espécie de Velho Oeste da internet, onde as regras ainda estavam meio borradas e as pessoas não tinham se mudado definitivamente para o local. E esse não é mais o caso.

Sally e eu vivíamos num ecossistema de fakes, pessoas com mentalidades parecidas que se congregavam em comunidades por pura “sintonia troll”. Era o tempo disso, onde a vida da internet ainda era uma coisa secundária, mais baseada em interesses do que necessariamente uma versão distorcida da sociedade normal que vemos atualmente. Eu não estou cego pela nostalgia: o mundo mudou e com ele quase toda a mecânica de interação das pessoas nas redes sociais.

Se o Orkut era um mega fórum sobre tudo, onde os temas conversados (por mais rasos que fossem na média) estavam acima das pessoas que conversavam sobre eles, as iterações mais modernas das redes sociais são totalmente focadas em popularidade pessoal. Classificados de gente cuja moeda de troca é o interesse momentâneo por algo que se diz. Tanto que atualmente, tudo é mais efêmero: não importa o conteúdo que você coloque lá, ele some em minutos se outras pessoas não “pagarem” pela sua popularidade divulgando-se junto.

No ecossistema do conteúdo, nós tínhamos um lugar. No da exposição instantânea, nem tanto. Sei que a Sally escolheu o Twitter por ter algumas características mais parecidas com o Orkut nesse ponto de encontrar gente “errada” feito a gente, mas a verdade é que a única coisa que sobrou na internet onde o conteúdo se sobrepõe a quem posta são as Chans, e as Chans (pelo menos as movimentadas) são de uma baixaria sem fim que a maioria de nós não poderia participar tendo uma vida profissional… o Twitter tem seus pontos positivos? Tem sim. Se a sugestão fosse Facebook ou Instagram isso nem estaria em discussão, usaria meu poder de veto e pediria para a Sally fazer um exame temendo por sua saúde mental.

Mas a era da congregação por ideias e conteúdo que cada um pode trazer já foi. Agora as coisas se baseiam em curtidas e popularidade do perfil. Sem contar que agora nossas vidas estão tão integradas com a internet que as redes sociais quase não servem mais para expor o que pensamos sem o verniz forçado de sociabilidade que temos na vida real. Está todo mundo com a cara e a vida arreganhada lá mesmo, então a necessidade de manter uma pose é maior do que nunca. Se no Orkut ainda tínhamos um volume saudável de fakes, pessoas que queriam ser conhecidas pelo seu conteúdo e não pela carinha e fotos da última balada que foram, nas redes sociais modernas as coisas já estão terrivelmente diferentes.

O conceito de “trollagem” no inconsciente coletivo deteriorou-se para animosidade gratuita e covardia, ou para pegadinhas idiotas cujo objetivo é gerar curtidas. Hoje em dia poucos entenderiam o que fazíamos naquele tempo, e os que nunca entenderam estão mais fortes do que nunca: com uma pujante indústria da ofensa e Leôncios por todos os lados prontos para gerar censura e indenizações a cada desvio do comportamento esperado, não é mais uma questão de gente histérica bravateando, ter o conteúdo deletado e tomar processo é uma realidade que não depende mais do mérito da reclamação ou da legislação vigente: se gerar volume suficiente, algum juiz imbecil vai tentar te ferrar por falar umas verdades.

Em outros tempos tínhamos a lei debaixo do braço, hoje em dia não serve mais para alguma coisa. Estamos fazendo a transição para um conceito de liberdade de expressão limitado aos sentimentos alheios e popularidade, e isso não vai ser saudável para o desfavor. Por isso que criamos nossa barreira contra a estupidez aqui: para não arriscar nossa liberdade de expressão. E, claro, para manter um espaço totalmente focado em conteúdo. Acho arriscado e pouco produtivo nos enfiarmos no mar de futilidade da internet de curtidas dos dias atuais. O pêndulo ainda não está do nosso lado, e pode demorar bastante para voltar.

E vamos falar do elefante na sala: costumo gostar de vocês, mas já aprendi que não dá para contar muito com a criação de um ambiente plural de trolls para tornar o projeto funcional de verdade. Ninguém tem obrigação de nada aqui e eu nem estou cobrando isso, só estou apontando um fato: o negócio só pegaria mesmo com mais participação de vocês. E como é muito provável que a maioria de vocês não tenha disponibilidade de misturar seus perfis reais com o desfavor (por bons motivos) ou mesmo de criar e manter perfis fakes para nos dar mais suporte por lá, as chances de realmente conseguirmos fazer o que queremos no Twitter ficam bem menores.

Acredito que é vender o propósito do desfavor muito barato e sem um plano garantido de ação para aprontarmos algo realmente válido. Sem contar que eu não gosto de mudanças e acho brega ter perfil em rede social. A Sally me vendeu bem essa ideia, admito, mas… parece muito ônus para pouco bônus. Na dúvida, ficamos longe de redes sociais. Funcionou até aqui…

Para dizer que eu sempre sou o chato, para dizer que promete que vai cuidar desse filhotinho, ou mesmo para dizer que perderíamos todos os créditos elitistas com isso (eu sei!): somir@desfavor.com

SALLY

Vejam vocês como o mundo dá voltas… O que seria impensável alguns anos atrás está sendo revisto em 2017. Nós, que sempre fomos totalmente contra redes sociais, cogitamos colocar o Desfavor em uma delas. É uma rede social completamente falida? Sim, É uma rede social habitada basicamente por maus elementos que não tem limites? Certamente. É uma rede social que já trouxe bons leitores? Por incrível que pareça, sim.

Quando um texto nosso foi retuitado pelo Danilo Gentili, muita gente bacana veio parar aqui e acabou ficando. Outras pessoas famosas já divulgaram textos nossos no Twitter e também geraram ótimos leitores. Alguns divulgaram com “animus esculachandi” e, ainda assim, trouxeram ótimos leitores também, como foi o caso do texto sobre o lado negro da gravidez. Então, acho que a coisa já saiu do nosso alcance. Desfavor já está circulando pelo Twitter faz tempo e rendendo bons leitores com isso, então, a exposição, que é o lado ruim, a gente já tem, por qual motivo não dar uma passadinha lá para tirar o que esta rede social tem de bom?

A proposta segue na mesma linha de sempre: não buscamos fama, nem hoje, nem nunca. Não teremos patrocinadores ou permuta. Não será um perfil popular, com milhões de seguidores, pois não vamos fazer o menor esforço para isso e, como vocês bem sabem, também não somos agradáveis o suficiente para isso. O objetivo é o mesmo de sempre: experimento social e um link direto em tempo real com os leitores e com pessoas que mereçam a nossa atenção.

Um canal de comunicação direta entre a gente e, mais importante, entre o Desfavor e o mundo. Pensem no potencial do Desfavor ter acesso ao Papa Francisco, a Donald Trump, Rafael Ilha e a outras personalidades mundiais. Pensem com carinho nisso. Desfavor, falando diretamente com Rafael Ilha. Pensem com muito carinho. Quão maravilhoso seria poder ter acesso a cada subcelebridade, a cada famoso, a cada atleta, a cada político que faz uma cagada e dizer a ele resumidamente o que falamos em nossos textos?

Participa quem quer. Lê quem quer. É mais um canal, certamente secundário. Nossa base sempre será aqui e nunca condicionaremos a compreensão de um texto a uma postagem de rede social. Considerando o plus de que ano que vem tem eleição e Copa do Mundo e que poderemos tirar um proveito especial e falar diretamente com candidatos e jogadores. Não fica uma experiência mais divertida se você puder falar diretamente com a pessoa sobre a qual está escrevendo?

Será um perfil administrado em conjunto por nós dois, a ideia é falar pelo Desfavor, de forma despersonalizada, e não falar como Somir ou Sally. Mais do que divulgação de textos (sejamos sinceros, quem lê quatro páginas por dia provavelmente não está no Twitter) queremos propagar algumas iniciativas desfavoráveis, estreitar relações com os leitores e dizer algumas coisinhas para algumas pessoas famosas.

Porém, como qualquer passo importante, queremos ouvir a opinião de vocês antes de tomar uma decisão. Vem sendo assim nesses nove anos e vem dando certo. Não seria diferente desta vez. Estamos abertos a opiniões e até sugestões para melhorar esta experiência, isto é, não precisam se limitar a dizer “sim” ou “não”, podem fazer ressalvas, dar ideias e até nos ajudar neste novo projeto. Ah, sim, importante: se o perfil ficar famosinho mainstream, podemos fechá-lo sem dó. Quem gosta de fama é adolescente, adulto gosta é de ver seriado de pijama.

Quando a moda da vez era blog, não existíamos. Quando a moda da vez era áudio, eramos blog. Quando a moda da vez virou vídeo, viramos áudio. Quando a rede social da vez é Instagram, baseada em fotos, estamos pensando em ir para o Twitter. Percebem o cuidado que temos de esperar uma cidade se tornar fantasma para montar acampamento nela? Sabemos que as coisas que a gente faz e fala não são compatíveis com nenhuma rede social do momento, por isso esperamos que alguma esvazie e nos aventuramos lá, não pela rede social, mas pela mobilidade e possibilidade de comunicação que nos abre.

Se existisse Orkut, certamente estaríamos pensando em ir para lá agora. Infelizmente foi desativado. A segunda melhor opção é o Twitter: fale com quem quiser, no mundo todo. Enquanto Facebook é uma favela virtual, reduto de brasileiro médio ofendido ou emulando felicidade + status e Instagram é o paraíso da fake life e futilidade, hoje, o Twitter é basicamente uma turma do fundão que se recusa a sair da sala depois que a aula acabou e continua tocando o terror lá dentro.

Sim, há muitas pessoas politicamente incorretas em um grau que até a gente balança e se questiona se aquilo deveria mesmo ser dito. Sim, queremos bater um papo com essas pessoas. E sim, sabemos que, apesar de ser povoado pela turma do fundão, o Twitter é uma rede social, portanto é inevitável que levemos algumas pedradas. Simplesmente não me importo, acredito que o potencial de experimentos sociais que o Twitter abre é tão vasto e rico que vale a pena. Cá entre nós, se a gente se incomodasse com pedrada, tinha fechado o Desfavor em 2009.

Já tenho algumas ideias, que podem ou não serem colocadas em prática, dependendo do voto de vocês hoje. Algumas são apenas palhaçada, brincadeira divertida e até infantil, mas outras dão o que refletir. Trollagem hoje em dia virou dar susto em alguém em vídeo no YouTube… queremos resgatar o conceito de Troll de Raiz e fazer algumas trollagens old fashion. Pode não ser muito bonito, mas é muito divertido.

Sei que muitos, inclusive o Somir, terão milhões de especulações sobre o que pode dar errado. Nunca deixei de fazer nada na minha vida por medo do que pudesse dar errado: se der errado se fecha, se desfaz, se repensa ou se adapta. Desistir sem tentar? Não, obrigada.

Há motivos para não abrir um perfil no Twitter, assim como há motivos para não abrir um blog ou para não gravar áudio. Motivos sempre há. A questão é: podemos lidar com eles? Eu sinceramente acredito que sim, e, mesmo que eu esteja enganada, ao menos teremos passado por essa experiência. Experiências novas sempre acrescentam algo.

Muita coisa mudou nesses últimos nove anos e me parece saudável acompanhar estas mudanças. E que bom que tenho flexibilidade mental para mudar de ideia, é como dizem: só muda de ideia quem as tem. Sim, já fiz muito texto falando mal de rede social e de fato continuo achando repulsiva a forma como as pessoas costumam utilizá-las, para evasão de privacidade, para se promover, para ostentar. Só que agora, com nove anos de experiência virtual, eu acho que dá para fazer diferente. Twitter como laboratório social… quem quiser ver isso acontecer, basta dizer que sim nos comentários!

Para não admitir que alguém mude de ideia e apontar uma falsa hipocrisia, para dizer que vota não pelo puro medo de sermos presos ou ainda para dizer que vota sim pela pura esperança de sermos presos: sally@desfavor.com

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9 Anos, twitter

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