Tudo em casa?

Continuando a saga dos cômodos, Sally e Somir discutem sobre qual deve ser o principal a se considerar numa nova moradia pós tempos de pandemia. Se esses tempos vierem. Os impopulares se acomodam.

Tema de hoje: qual é a prioridade de uma casa depois da pandemia?

SOMIR

Agora sim eu voto no home-office. Ter plena capacidade de trabalhar na sua casa é um grande diferencial no mundo pós-pandêmico. Mesmo que eu continue defendendo que se gaste mais com o quarto onde se dorme e só aí comece a pensar em outros cômodos, o home-office viria logo em sequência.

Sim, eu sei que não são todas as pessoas que podem trabalhar de casa, mas com certeza são muito mais hoje em dia do que acreditávamos em 2019, não? O mundo vivia uma ilusão coletiva que ficar um número exato de horas dentro de um ambiente específico era o que mantinha o mundo funcionando, mas muita gente mudou para o home-office e percebeu que dava pra continuar assim.

Se você não faz parte do grupo de pessoas que pode trabalhar de casa, fica a minha sugestão de pensar em como pode se mudar para uma profissão que permita isso. Eu sei que não é mágica, em alguns casos é realmente impossível, mas é excelente ter essa possibilidade na manga. Primeiro que você começa a ficar mais protegido de qualquer crise econômica causada por essa ou por pandemias futuras, e depois que de repente pode virar uma fonte de renda extra…

Da forma como o mundo começou a se reorganizar depois da pandemia, não se pode mais ignorar a possibilidade de trabalhar de casa. E trabalhar de casa fica muito melhor com um home-office. Realmente ajuda ter um local onde você sabe que tem que se concentrar no trabalho, onde a mente não fique viajando e tirando seu foco. Trabalhar na mesma sala onde você está acostumado a relaxar tende a fazer seu cérebro pensar em relaxamento.

Ou, pior: faz com que ele relacione o lugar de descanso e entretenimento com trabalho. De repente você se pega pensando em trabalho quando deveria estar focado em descansar. Lembrar de compromisso no meio de um filme ou de uma conversa com uma pessoa querida é uma tristeza. E nem comecemos a falar sobre quem trabalha no quarto de dormir (e fazer outras coisas que não funcionam com trabalho na cabeça).

Pense num espaço específico para o trabalho na sua casa, porque mesmo que você não trabalhe assim agora, é cada vez mais provável que encontre um emprego com essa possibilidade. Não sabemos se essa pandemia está indo embora de verdade, os números dizem que ainda não. Quanto mais tempo o mundo convive com essa realidade, mais e mais negócios começam a perceber as vantagens de não precisar de grandes escritórios, depósitos de gente que passam mais da metade do tempo distraídas gastando aluguel, energia, água e equipamentos do empregador.

Sim, tem um certo golpe em jogar custos fixos do trabalho para o trabalhador, mas como vem com o bônus de ter privacidade, liberdade de horários e muito menos encheção de saco de chefes e colegas malas, não é como se não houvesse compensação. As empresas que conseguiram manter um grau de produtividade aceitável e reduziram custos vão continuar olhando com carinho para o home-office.

É razoável você se preparar para poder fazer as coisas de ambos os jeitos: trabalhar fora e dentro de casa. Um bom home-office nem precisa ser grande, só precisa ser específico: mesmo em casas que não tem cômodos extras, você pode separar um espaço de um deles para ser o seu escritório. O segredo é delimitar mentalmente que aquele é o lugar onde o trabalho acontece, e não ficar misturando propósitos ali.

Quanto maior a capacidade da sua casa de providenciar esse espaço, melhor. Você fica preparado para o futuro. Muitas vezes o preço de um lugar com um ou dois quartos nem é tão grande assim, e se você colocar na ponta do lápis o quanto gastaria de transporte e quantas horas perderia no processo de se preparar e se locomover para o trabalho, pode até ganhar dinheiro investindo mais num lugar que te permita trabalhar de casa. E tem outra: se você está preparado para trabalhar de casa, nem precisa pagar o extra por uma boa localização. Pode ir morar num bairro mais calmo com mais espaço pelo mesmo preço que pagaria para morar num lugar mais centralizado.

Claro, quem precisa se virar, se vira. Mas esse não é o ponto do texto, estamos presumindo algum poder de escolha, e com esse poder eu colocaria como prioridade numa nova casa a possibilidade de ter um ambiente de trabalho dedicado, mesmo que eu não estivesse trabalhando em algo que pudesse ser feito de casa ainda. Ninguém precisa morrer na mesma profissão que começou, e enquanto não der para trabalhar de casa, um home-office pode se tornar uma sala de estudos.

Estudar não é necessariamente o que vai te fazer subir na profissão, mas é um dos fatores mais confiáveis no processo. Sim, a vida depende muito de sorte, mas não é à toa que algumas pessoas têm mais sorte que as outras: estão preparadas para muito mais oportunidades. Se você tem um home-office, não só pode estudar para uma profissão que possa ser feita de casa, como também vai ter mais preparação mental e disposição para assumir uma dessas vagas. Quem sabe até vai ter ideias de abrir seu próprio negócio e se livrar de patrões de vez!

É mais do que ter um quartinho para colocar o notebook (ou se você for um ser evoluído, um computador de verdade), é ter um local que te ajuda a planejar seu futuro profissional e te lembra que você não tem que ser escravo de nenhum trabalho específico. Especialmente aqueles que te fazem mal, mas pagam as contas. Da mesma forma que ter uma academia em casa não garante que você entre em forma, um home-office não garante que você vá melhorar como profissional, mas vamos concordar que tem esse espaço dedicado está muito mais perto de conseguir o resultado?

O mundo mudou, trabalhar de casa é muito mais comum agora. Quando o povão começar a voltar para debaixo das garras de chefes malas e congestionamentos diários, você vai ter uma escolha. Quem não pensou em home-office provavelmente não vai ter…

Para dizer que eu só gosto de trabalhar de bermuda (qualidade de vida), para dizer que a gente vive numa realidade paralela (ninguém é rico aqui, você consegue se tentar), ou mesmo para dizer que detesta ficar em casa por causa das pessoas que estão nela: somir@desfavor.com

SALLY

Qual é a prioridade de uma casa depois da pandemia?

Antes de mais nada, permitam explicar a pergunta, pois perguntamos algo parecido semanas atrás. A pergunta de hoje é qual deveria ser a sua prioridade ao adquirir ou alugar uma nova moradia em tempos de pandemia. A da semana anterior era em qual cômodo da casa se deveria investir mais. Uma não excluí ou contradiz a outra.

Se você vai se mudar, eu priorizaria uma coisa agora: um quintal. Não precisa ser um quintal enorme, com piscina, quadra de tênis ou qualquer luxo. Apenas um pedacinho de terra com luz do sol.

Com o tempo você arruma, coloca ele do seu jeito, planta umas plantinhas do seu agrado. Pouco importa como é esse quintal, o fundamental é: tenha para onde sair e respirar, pegar luz do dia, estar do lado de fora.

Palavra de quem cresceu a vida em apartamento: a qualidade de vida é muito maior em uma casa, com quintal. Tem seus lados ruim? Claro, como tudo na vida. Mas eu te garanto que Somir só não escolheu o mesmo que eu por nunca ter morado em um apartamento na vida.

Você, sofredor, que mora em apartamento sabe do que eu estou falando. O vizinho de baixo peida, você escuta. O vizinho do lado assiste TV em volume alto, você escuta. O vizinho de cima faz sexo, você escuta. O vizinho do outro lado frita sardinha, suas roupas que estão no varal ficam com cheiro.

Não há qualquer possibilidade de ser feliz com tantos seres humanos próximos. Por mais legais que seus vizinhos sejam, todo mundo que está colado na gente causa algum incômodo em algum momento.

E tudo fica muito pior quando oscilamos entre ondas de uma pandemia. Existirão períodos em que, se você tiver juízo, vai ter que passar muito tempo dentro de casa, ou do apartamento (ouvindo vizinho peidar, fazer sexo e cheirando sardinha). Melhor estar um pouco mais distante dos seus vizinhos nos anos que estão por vir.

“Mas Sally, no quintal os vizinhos também podem atrapalhar sua vida”. Ok, mas não estão colados a você, como é o caso do apartamento. E, pior dos mundos, ao menos você tem acesso a sol, a ar puro, a uma troca de ambiente. É uma forma de sair de casa sem sair de casa. Quem realmente fez quarentena por muitos meses em um apartamento vai entender o que eu estou falando.

E se você tem criança ou animais de estimação, o quintal passa a ser ainda mais importante. Ambos vivem melhor se tiverem um quintal para brincar e você vive melhor se eles gastarem energia fora de casa. Quem tem qualquer um dos dois (crianças ou animais) também vai entender o que estou falando.

Além disso, tanto crianças como animais ficam mais saudáveis quando podem brincar fora todos os dias, pois um pouco de ar puro e luz solar é fundamental para todo ser vivo. Se você tem tempo de levar seu filho na pracinha todo dia para ele brincar e ver a luz do dia, parabéns, você é uma pessoa privilegiada. Para o resto dos mortais, quintal é vida.

Não sei se vocês repararam, mas na pandemia o estresse aumentou. Ficar entre quatro paredes, com luz fria, pode contribuir para isso. Falta de luz solar pode até ser causa para depressão. Um quintal te deixa mais saudável e permite hábitos que reduzem o estresse: desde cuidar de plantas, fazer um churrasco ou apenas deitar numa rede. É um intervalo do enclausuramento de um apartamento.

“Mas Sally, eu odeio a natureza”. Eu também. Asfalta o quintal se for o caso. Bota grama sintética. Bota um pula pula e fica pulando meia hora por dia para reduzir o colesterol. Faz o que você quiser. Essa é a magia do quintal. Você pode nem usar. Você pode não fazer nada disso. Mas pelo menos tem a opção. Dependendo do rumo que esta pandemia tome, ter a opção vai fazer toda a diferença. Relembro mais uma vez: não acabou.

Sim, eu sei, eu defendi investir a maior parte dos seus recursos em um Home Office no outro texto – e não me arrependo. Uma coisa não é excludente da outra: para trabalhar, você continua precisando de uma cadeira confortável, de uma mesa na altura adequada, etc. Mas isso pode ser colocado em qualquer imóvel, então, opte por colocar tudo isso em um que tenha quintal.

Eu arrisco dizer que quase tudo a gente soluciona: para calor tem ventilador ou ar-condicionado, para frio de calefação, para barulho tem fone com cancelamento de ruído… mas, para a sensação claustrofóbica de ficar o dia todo trancado, eu desconheço solução que não uma área externa.

Em tempos de normalidade a gente vai dar uma volta e tá tudo bem, em tempos de pandemia, dependendo do estágio, nem isso se pode fazer em segurança. Tomara que os tempos de normalidade sejam a regra, mas a verdade é que ainda não são.

“Mas Sally, a pandemia já acabou”. Não, meu anjo. Ainda não acabou. Tomara que acabe logo e nunca mais volte, mas a realidade é que não podemos ter certeza do que vai acontecer. Então, se eu pudesse escolher (e às vezes a gente não pode, fazer o quê), eu priorizaria um quintal.

Para dizer que eu sou alarmista, para dizer que você toma sol na varanda do apartamento ou ainda para desabafar toda a sofrência de viver em um apartamento: sally@desfavor.com

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Comments (2)

  • Sala de refeições que possa ser home-office, ou seja, pelo menos com muita ventilação e “bebedouro de copos”.

    Ainda bem que posso continuar com PC no quarto e quintal “pouco natural”…

  • O foda é encontrar uma Internet boa fibra 100% pra trabalhar e não aquele lixo da Claro de fibra só no poste e no prédio cabo coaxial que não tem upload descente. Fibra nem é caro, o duro é ter a maldita cobertura e quando tem o conduite do prédio tá sempre entupido, aí tem que passar fios por fora e furar todas as paredes. Revoltado!

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