Trump ou Biden?

Ano que vem, os americanos escolhem seu novo presidente, e para o azar deles, vão ter que escolher entre os mesmos da última vez. Sally e Somir concordam que nenhum dos dois é solução de problema, mas tem seus motivos próprios para torcer por um ou por outro. Os impopulares (não) votam.

Tema de hoje: quem você prefere que seja o novo presidente dos EUA, Biden ou Trump?

SOMIR

Eu torço pelo laranjão. Eu sei que Trump é bizarro, mas é por isso mesmo que vejo algo de positivo em sua possível eleição: um choque de realidade mundial. A sequência de eleições pendendo para o lado da direita cristã-conservadora-terraplanista parecia que ia dar esse chacoalhão na esquerda, mas ela enxergou a vitória de Biden (e aqui no Brasil de Lula) como uma correção de curso mágica.

“A gente não tinha errado, foi só uma maluquice pontual do povão.”

A parte da maluquice pontual pode até ter seu fundo de verdade, o frenesi de votar em Trump, Bolsonaro e cia. não é necessariamente o estado natural das pessoas, mas foi extremamente influenciado pelos erros da esquerda moderna. Digo isso porque desde que eleições começaram a ser feitas ao redor do mundo, sempre teve um ou outro populista conservador dando soluções mágicas para todos os problemas.

Em média, as pessoas alternam entre populistas dos dois lados da cerca, sem uma preferência clara. Se está incomodada com o populista de esquerda, vota no de direita, e vice-versa. Essa dificuldade de entender política e o trabalho dos políticos em geral é comum. Eu entendo o apelo do populismo, porque ele é basicamente prometer qualquer coisa que o povão acha que quer e não cumprir nada depois, culpando os opositores se cobrados. Posicionamento político mais fácil não existe. Para o político e para o eleitor. A culpa é sempre do outro.

Quando um político como Trump chega ao poder, temos uma possibilidade de enxergar melhor o que acontece quando elegemos populistas do tipo. A esquerda sempre foi mais eficiente em disfarçar seus erros, até porque conta com suporte de mais pessoas com alta capacidade de articulação e planejamento estratégico. Contar com suporte de pessoas mais conservadoras ajuda na parte da passionalidade, mas não costuma ser receita de sucesso na parte da racionalidade.

A direita populista fica mais exposta que a esquerda populista. Menos panos sendo passados. Podem me chamar de otimista incorrigível, mas eu ainda acredito que as pessoas podem aprender a se defender de populismo barato, desde que ele fique bem claro diante delas. Trump não coloca adesivo de arco-íris nas suas bombas, o que dá uma chance maior do cidadão médio perceber onde está se enfiando.

Não tem esse verniz de politicamente correto e humanismo em suas ações tresloucadas. Sim, eu sei que parece que estou flertando com o aceleracionismo (ideologia política de deixar tudo pegar fogo para poder refazer melhor depois) de novo, o que claramente não deu certo no primeiro mandato de Trump, nem de Bolsonaro, mas eu prometo que dessa vez não é a ideia por trás: é sobre transparência.

Trump é um imbecil com bombas atômicas, e isso é evidente para todo mundo. Biden é um senil com bombas atômicas, mas isso não é tão explorado assim pela grande mídia. Os dois criam riscos para o mundo todo, mas pelo menos o que Trump pode fazer está claro e pode ser combatido. Todo mundo vai prestar atenção.

E eu acredito que até na guerra da Ucrânia isso pode ter um efeito útil (positivo é uma palavra que não combina com guerra), Trump ou vai abandonar a Ucrânia e esfregar a cara do mundo todo no horror da invasão russa, afinal, com Biden no poder temos a ilusão que “algo está sendo feito”, ou vai ter uns cinco minutos e começar a arranjar confusão com Putin. Biden é previsível, Trump não, e Putin sabe disso. Das duas formas, a situação ucraniana escala para alguma resolução.

Do jeito que está, com essa defesa meia-bomba, o povo ucraniano vai sofrer mais e mais sem nenhuma previsão de sucesso. A contraofensiva deu errado, os russos estão em posição de defesa agora, eles ganharam, pagaram caro com recursos e vidas, mas ganharam. A guerra precisa ser recomeçada com alguma potência declarando guerra aos russos ou ser finalizada com a aceitação que ONU e OTAN traíram a Ucrânia quando prometeram defendê-la em troca da entrega de suas armas nucleares para os russos. Ninguém quer admitir que já era, mas já era.

Biden é mais do mesmo, lacração superficial e a mesma política escrota de sempre. Obama matava gente a rodo no Oriente Médio, os democratas são senhores da guerra também, no bolso do complexo industrial-militar americano. Trump, mesmo que por todos os motivos errados, é uma quebra nesse padrão. Sob seu poder, a “Polícia do Mundo” entrou de férias. Não aconteceu nada demais, aconteceu?

Se eu votasse nos EUA, nem sairia de casa, porque ambos são um problema, mas se eu tiver que analisar a situação na base do que pode ter mais potencial de sucesso, eu aposto mais no caos trumpista do que no marasmo democrata. O império está cansado, cambaleante. Se ele continuar na mesma, vai ficar cada vez mais doente. Eu não torço para que o trumpismo vire uma dinastia nos EUA, ninguém merece isso, mas eu realmente acredito que a mensagem que do jeito que está não vai dar certo precisa ser repetida para entenderem.

Os EUA precisam perceber que não resolveram quase nada colocando Biden no lugar de Trump. A centro-esquerda precisa se reinventar para ter alguma chance de sucesso no futuro, e não vai ser com a ilusão de que “voltamos ao rumo” de Biden e Lula que vamos conseguir isso. Continuamos no rumo do populismo corrupto com Lula no Brasil, os EUA continuam sendo falsos defensores da democracia e direitos humanos com Biden.

Seria melhor ter outro candidato menos retardado que Trump? Claro. É o que tem pra hoje? Não, não é. Sem contar que as memes vão ser históricas…

Para dizer que eu sou fascista, para dizer que o amor vai vencer lá também, ou mesmo para dizer que tinha que ter limite de idade para candidatos: somir@desfavor.com

SALLY

Em uma eleição entre Biden e Trump, quem você preferia que fosse o novo Presidente dos EUA?

Percebam que hoje não estamos perguntando quem você acha que vai ganhar, estamos perguntando quem você gostaria que vença.

Nenhum dos dois é boa coisa, se fossem, isso nem seria tema de controvérsia aqui, pois Somir e eu concordaríamos. Se me fosse permitido escolher, eu preferiria que Biden ganhasse.

Deixando claro que, além de desgostar do Biden por achar ele um hipócrita (faz tudo que um Republicano faz, mas revestido do manto de uma suposta tolerância), não acho que ele tenha qualquer condição de saúde física e mental para exercer esse cargo ou qualquer outro. Eu não confiaria o meu cachorro para o Biden cuidar.

Ele está visivelmente esclerosado, tem diversos vídeos dele sem saber onde está, interrompendo discurso no meio totalmente perdido, cumprimentando pessoas imaginárias. O corpo também não está essa maravilha: cai frequentemente, se cagou em um evento oficial e é notório que não escuta nem enxerga direito.

Para piorar ainda mais a minha situação (no final, vai reforçar meus argumentos, prometo), Trump é uma daquelas pessoas odiosas e escrotas que eu preciso fazer um esforço enorme para desgostar. Minha mente tende a simpatizar com agentes do caos politicamente incorretos, então, eu preciso me policiar para não me permitir gostar do Laranja.

Então, por qual motivo estou torcendo para um hipócrita, esclerosado e decrépito, se, do outro lado tem um sujeito que eu, mesmo contrariada, não posso evitar de ter alguma simpatia? Por um motivo: Ucrânia. Se Trump ganhar se estabelece um desequilíbrio mundial que eu considero ser muito, mas muito ruim.

Não é segredo para ninguém que Trump anda de braços dados com Putin. Sabe-se inclusive que a interferência de Putin e dos russos pode ter sido determinante para que Trump vença as primeiras eleições. Portanto, se ele vencer, a tendência natural é que os EUA parem de ajudar a Ucrânia e, sem essa ajuda, as chances de Putin dominar o país aumentem. Eu cogito até dos EUA passarem a ajudar a Rússia, ainda que debaixo dos panos.

Simplesmente não consigo escolher com base em preferências pessoais quando tem isso em jogo. É inadmissível que a esta altura da evolução humana um país pare suas tropas na fronteira de um Estado Soberano, grite “agora tudo isso é meu” e use de violência contra civis e crimes de guerra para tomar tudo na mão grande. Não dá. Não consigo. Sou capaz de torcer para qualquer resultado no qual Putin não vença no final.

Tem pessoas sendo torturadas, tem pessoas sofrendo violência física, sexual e psicológica, tem crianças sendo roubadas de seus pais e levadas para outro país, tem campos de concentração, tem barbáries sendo cometidas há mais de um ano. Eu vou torcer para qualquer cenário no qual quem se achou no direito de fazer isso se ferre muito e que sirva como exemplo para o resto da humanidade: quem tentar fazer uma porra dessas novamente vai acabar mal.

Pouco me importa o dólar, os EUA, as importações ou as exportações. É uma questão humanitária. “Mas Sally ou EUA cometem mil atrocidades humanitárias”. Sim, e meu mais sincero desejo é que eles se fodam também, não por guerra contra o capitalismo malvado, mas por ser um povo burro, idiota, flácido, arrogante, pretencioso e bélico.

Tomara que eles também se ferrem muito, mas a crise humanitária mais grave e urgente do momento é Ucrânia e eu quero que o Putin se foda demais, se foda publicamente, se foda de forma muito humilhante. E com Trump no poder isso fica mais difícil.

Sendo bem sincera aqui, eu nem cheguei a fazer as contas do que me convém mais em matéria de economia e benefícios com cada um dos candidatos. Eu só quero que país que ataca outro país na mão grande se foda. Inclusive os EUA. Se alguém souber de alguma eleição em algum lugar do mundo cujo resultado possa foder os EUA, por favor me avise que eu vou torcer para esse resultado.

Tem um limite do que você pode tolerar que aconteça, mesmo longe de você. Quando algo tão grotesco assim é tolerado, existem chances reais disso chegar em países não envolvidos. Talvez na Banânia, não. Talvez na República das Bananas nada pegue, mas no resto do mundo sim. Eu não quero esse precedente vigorando no mundo: alguém podendo chegar e falar “essa parte do mapa agora é minha, fica na moral”.

Então, caguei para economia, para o preço de viagem para a Disney, para o valor que vou pagar por produtos importados. Eu só tenho um foco: convergir para que não seja aceitável nem cogitável fazer novamente o que Putin fez. Se tiver que torcer para o João Kleber, para um espantalho ou para um chimpanzé albino, eu vou.

Trump só seria aceitável se apresentasse comportamento destemperado contra Putin. Se isso acontecer, ele ganha a minha torcida. Se ele gritar com Putin como gritou com o gordinho coreano, dizendo que o botão dele é maior e funciona, eu visto boné “make america great again”. Enquanto Trump não der indícios convincentes que vai trabalhar para aniquilar Putin e sua corja, minha torcida continua para Biden.

Esse é meu grau de putez: votar num idoso esclerosado hipócrita e vexaminoso para repudiar o que Putin está fazendo.

Para dizer que torce para o Biden pois se o Trump ganhar a tendencia é que o Bolsonaro volte e ganhe no Brasil, para dizer que nada seria pior do que o Trump ganhar e dois malucos megalomaníacos com armas nucleares brigarem ou ainda para dizer que você torce para o que causar a maior treta: sally@desfavor.com

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Comments (12)

  • Olha, nenhum dos dois é bom, difícil se ater à proposta do texto, até porque eu tendo a não olhar tanto pra essas questões do tipo guerra da ucrânia, ou apertar o botão vermelho primeiro etc. Na pior das hipoteses, preferiria mesmo o Obama, que até onde eu sei, melhorou e muito as desigualdades nos eua, principalmente no que se refere à assistência pra quem realmente precisa, na parte médica, por exemplo.

    Na real, acho um absurdo ver e ouvir esses casos por aí de gente diabética que tem que mensurar uso da insulina pra fazer com que dure o mês inteiro, e não realizam o tratamento adequado, ou antes, gente que tem que vender a casa ou o carro pra poder pagar o tratamento adequado, ou mesmo ter que pagar toda a universidade dos filhos, quando aqui no br a gente tem universidade federal de alto nível de ensino e pesquisa, e tratamento de graça pelo sus. Também não estou querendo, com isso, defender o br de todo não, mas apenas chamar atenção pra esses pontos sensíveis que, a meu ver, são complicados no contexto do capitalismo selvagem dos eua + neoliberalismo.

    O mais complicado mesmo fica por conta de tentar explanar isso, independente da escolha do presidente, já que acabo sendo mal compreendido e chamado de comunista etc.

    • Já disse aqui antes em outro contexto, mas também cabe repetir agora: “Sempre se critica o Brasil por ser um país de contradições e incoerências, mas os EUA também não ficam atrás. A terra que se canta em seu hino nacional como “The land of the free and The home of the brave” é admirável sob muitos aspectos, mas, em outros, é um desastre completo.”

  • Badalhocas Perdidas

    Discordo do Somir quando ele diz que “o império está cansado, cambaleante”. Na verdade, o império já caiu. Porque um país que, por duas eleições presidenciais seguidas, deixou tudo descaralhar até ao ponto de agora ter apenas essas duas merdas de opções pra escolher, já foi pro saco faz tempo. Antes, o apocalipse era um temor. Hoje, é uma esperança…

    • Caiu como? Maior potência econômica e bélica do mundo.
      Caiu só se for do ponto de vista hippie de falar sobre estrutura social e outras coisas que não impactam em nada a dominância dos EUA perante o resto do mundo.

    • Secundo. Se o Homem Laranja Mau não tivesse perdido graças aos votos mágicos, assim que a ONU e o Zelensky viessem exigir dinheiro e recursos pra financiar a partida de War do Sr. Shekelstein, o Laranjão ia mandar um “cada cachorro que lamba sua própria caceta” pra eles, e só o dinheiro da União Européia não seria suficiente pra bancar as pilhas do carrinho de controle remoto.

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