I Am

“I Am” é um documentário protagonizado pelo diretor de cinema Tom Shadyac. Se você não está ligando o nome à pessoa, ele é um diretor de sucesso que já ganhou vários Oscars. Você deve ter visto algum filme dele: Ace Ventura, O Mentiroso, O Professor Aloprado, Todo Poderoso, Patch Adams e outros.

Depois de sofrer um acidente com alguns desdobramentos que o fazem refletir, ele decide tentar encontrar resposta para algumas perguntas e acaba fazendo um documentário estudando a humanidade, buscando um novo ponto de vista, questionando coisas que normalmente ninguém questiona.

Para isso ele se vale de algumas pesquisas científicas e de entrevistas com pessoas que alguma vez na vida o levaram a refletir: cientistas, psicólogos, lideres religiosos, escritores, professores e até poetas. Ele vai atrás dessas pessoas e as enche de perguntas, juntando todas as respostas de forma complementar.

Não espere nada grandioso em matéria de efeitos gráficos, é um documentário feito por uma equipe de quatro pessoas no melhor estilo “uma câmera na mão”. Tom Shadyac, que passou a vida toda trabalhando com equipes de 400 pessoas, optou por fazer algo simples dessa vez. Mas simples não é necessariamente ruim, o resultado é sensacional.

Mesmo sem grandes efeitos visuais, o documentário se presta ao que se propõe: levantar discussões e reflexões. Talvez (e provavelmente) você não concorde com muita coisa que será apresentada, o que é muito saudável. Mas duvido que não te faça refletir. Esse é o grande objetivo de um bom documentário, estimular a reflexão e o pensamento crítica, e não mostrar verdades absolutas e respostas fechadas.

O título do documentário, “I am” (“Eu sou”) já me pareceu genial, no contexto em que ele é apresentado. A forma como ele é conduzido também é de uma delicadeza comovente. Assuntos pesados e profundos são tratados com uma leveza agradável, onde um assunto puxa o outro de forma quase que imperceptível, concatenados por uma lógica sutil. Quando você se dá conta, já está refletindo. As raras pitadas de humor ajudam a tornar tudo mais palatável. Sabemos que de humor Tom Shadyac entende.

Ele aparece como personagem, como condutor, como entrevistador e até como cobaia, em uma narrativa que foge ao convencional. Em muitos momentos flerta com clichês, mas tem a sabedoria de permeá-los com ciência pura salva o documentário de um caminho piegas que tende a ser inevitável nesse tipo de pauta. Seja uma nova visão dos estudos de Charles Darwin, seja a reavaliação das funções do cérebro e do coração, razão e emoção caminham de mãos dadas de forma harmônica.

Todos os estudos científicos mostrados estão vastamente documentados. Pode confiar na fonte. Salvo engano, estão disponíveis no site dedicado ao documentário, para quem deseje saber mais. “I am” não advoga em causa própria, até porque, não levanta nenhuma bandeira. Assim como você e eu, ele também quer encontrar algumas respostas. Só isso.

O documentário mostra o que há de pior e de melhor no ser humano, um contraste interessante entre o que somos e o que acreditamos ser, que faz pensar e refletir sobre o que somos e o que queremos ser. Embriões de teorias interessantes que mereceriam muitos e muitos documentários cada uma delas.

A conclusão final é aberta e a resposta encontrada por Tom Shadyac é tratada como uma resposta, não como “a” resposta. Escolhas que ele fez que lhe serviram para o que ele buscava, que de forma alguma são impostas a terceiros. Muito pelo contrário, o estímulo é no sentido de que cada qual trace sua linha, formule suas escolhas. E ele se mantém coerente a estas escolhas até hoje, apesar do documentário ter sido filmado em 2010, reafirmando que vive melhor assim.

“I am” pode ser desconfortável para alguns, pela constante de chamar para si a responsabilidade de muitas coisas que gostamos de delegar. Levanta um véu de ignorância e comodismo de pensamento que muitos temos. Tira da zona de conforto. A proposta inicial de descobrir o que há de errado com o mundo e o que podemos fazer a esse respeito rapidamente muda o foco do externo para o interno, em um ponto de vista inesperado.

Conceitos tidos como certos são questionados e redesenhados. É sempre doloroso ver certezas ruindo, mas também é enriquecedor absorver ou ao menos cogitar novos pontos de vista. Como ele mesmo diz no trailer “começamos perguntando o que está errado com o mundo mas acabamos descobrindo o que está certo nele”.

Aviso: se você é machão latino-americano subdesenvolvido e não chora na frente de terceiros, vai beber uma água na cena onde o filho reencontra o pai que estava em uma guerra. Grandes chances de você passar vergonha. Pede licença e diz que vai ao banheiro, que essa cena mexe com o emocional de qualquer pessoa que não seja morta por dentro.

Aos poucos a imagem que temos da humanidade se redesenha e, com sorte, a imagem que temos de nós mesmos. Certezas antigas dão lugar a questionamentos e arrisco dizer que dificilmente uma pessoa sai a mesma depois de ter visto esse documentário. Mais: a tendência é que saia com vontade de ser uma pessoa melhor, o que é muito importante. E, para isso, não é preciso adotar o caminho e as escolhas que Tom Shadyac adotou, é preciso apenas reflexão para compreender como você pode colaborar.

Sem querer ser arrogante, muito do que está ali você já viu no Desfavor, mas nunca tão bem apresentado. Vale a pena conferir, está disponível online, inclusive legendado para o português.

Para dizer que desde que eu recomendei Rogerio Skylab eu perdi a credibilidade, para dizer que o problema são os outros ou ainda para pedir a opinião de Siago Tomir: sally@desfavor.com

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Comments (30)

  • “…Um filme que vale ser visto até mesmo para não gostar.” Como não seguir uma sugestão brilhante destas?

    Sally, vou repetir: se você indica, eu assisto. Eis o mais confiável parâmetro.

  • Passei apenas para dizer: OBRIGADA.

    Eu carrego a estranha sensação (que vai e volta de tempos em tempos) de que há algo de muito errado com o mundo. Sempre bom saber que não estou sozinha nessa.

    A conclusão aberta e a ausência de respostas exatas, definitivas, absolutas abrem uma série de possibilidades. Estou longe de achar uma resposta e os questionamentos só aumentam, o que é assustador, mas também é libertador.

  • Assisti e recomendei esse documentário. Obrigada, Sally. Por mais obras como essa, que nos obrigue a refletir sobre a vida e sobre o que estamos fazendo pra sermos pessoas melhores e pra tornar o mundo um lugar melhor para se viver.

  • Acabei de ver o documentário, e achei interessante, porém fiquei intrigada quando começou a falar de estarmos todos ligados, em qualquer lugar e a toda hora, e sobre os resultados da pesquisa sobre o coração conseguir ‘prever’ os acontecimentos.
    O que você acha disso Sally? O coração consegue mesmo ser tão intuitivo assim, a ponto de saber o que virá, quando nem mesmo os responsáveis por isso sabem?

  • Mais alguém quer tumultuar? Aproveita que hoje é dia de faxina e deixa um loooongo comentário sem sentido ou sem pertinência que não acrescente nada.

  • Eu tinha visto a indicação desse documentário a partir de uma dessas “celebridades” fitness da web, mas como em seguida ela citou O Segredo e outras coisas que não lembro, achei que fosse tudo do mesmo balaio e passei batido. Bom saber que devo reconsiderar a dica.

      • Voltando pra comentar que finalmente assisti o documentário. Gostei muito. Pipocaram reflexões e lágrimas. Nunca é fácil nos implicarmos pela situação na qual chegamos, mas é necessário se quisermos evoluir como seres humanos. Valeu a dica, Sally.

  • Decepção com esse texto. Um documentário tão bom merecia algo melhor.

    No começo, a autora fala o tempo todo de “não espere algo grandioso em termos gráficos” e blablabla, como se isso fosse sequer uma questão para o documentário. É o típico pensamento de quem é abastecido por blockbusters de Hollywood: “não explodiu nada, mas mesmo assim eu gostei”.

    Depois, ainda dá uma dessas: “em uma narrativa que foge ao convencional. Em muitos momentos flerta com clichês”. Adoraria saber como a narrativa foge do convencional flertando com clichês, mas tenho medo que essa doença da autora seja contagiosa.

    Por fim: Tom Shadyac nunca ganhou um Oscar na vida. Nunca foi indicado em nenhuma categoria. E eu vou tentar não rir da parte que você disse que ele entende de comédia por causa de filmes como Ace Ventura, Todo Poderoso e O Mentiroso.

    • Sobre os gráficos: bacana avisar já que tudo que ele fez antes tinha esse apelo. É bem óbvio que o documentário não toma isso por base, bastante idiota sua colocação.

      Sobre FLERTAR, procure no dicionário o significado e talvez você consiga compreender o que eu escrevo. Provavelmente não, seu comentário e seu português mostram que cognição não é o seu forte.

      Sobre Oscar, o próprio trailer do documentário anuncia assim. Dá uma olhadinha na filmografia e vê lá se não tem Oscar. Obs: Oscar não é só de melhor filme não…

      No mais, nunca entenderei essa mania de se dar ao trabalho de perder tempo com o que não gosta. Acho que fica meio vergonhoso para você.

    • Sobre os gráficos: bacana avisar já que tudo que ele fez antes tinha esse apelo. É bem óbvio que o documentário não toma isso por base, bastante idiota sua colocação.

      Sobre FLERTAR, procure no dicionário o significado e talvez você consiga compreender o que eu escrevo. Provavelmente não, seu comentário e seu português mostram que cognição não é o seu forte.

      Sobre Oscar, o próprio trailer do documentário anuncia assim. Dá uma olhadinha na filmografia e vê lá se não tem Oscar. Obs: Oscar não é só de melhor filme não…

      No mais, nunca entenderei essa mania de se dar ao trabalho de perder tempo com o que não gosta. Acho que fica meio vergonhoso para você.

  • Sally, com certeza vou assistir. Só quero adicionar uma informação: existem duas coisas com esse nome, o filme e o documentário. O filme eu detestei, e assisti pensando ser esse I am que vc falou nessa postagem.

    A ficha caiu agora que eu assisti o trem errado, que horror…

  • Pronto, já achei completo e agora só falta assistir. Valeu por avisar que vou chorar, assim me asseguro que vou assistir sem ninguém por perto.
    As dicas da RID são fodásticas! O filme Os Intocáveis foi um dos melhores que já vi.

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