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Desfavor da semana: Solene corno.

| Desfavor | | 12 comentários em Desfavor da semana: Solene corno.

solene... corno... hã? hã?

Não aconteceu nesta semana, mas recebemos a dica de reportagem da nossa cara Suellen ontem mesmo. A reportagem foi publicada dia 15/10, está valendo.

Trecho: “Um juiz do 1º Juizado Especial Cível do TJ (Tribunal de Justiça) do Rio afirma em uma sentença que um homem traído resolveu processar o amante da mulher por ele o transformar em um ‘solene corno’. No processo, o marido acusa ‘o outro’ de calúnia e ofensa à honra e pede indenização por danos morais.”

Resultado? O marido traído ganhou. Ganhou uma sentença (desfavor de breguice) contrária ao seu pedido, ganhou fama de corno e principalmente, ganhou o desfavor da semana.

Somir

Dentre algumas opções, incluindo o caso do mini-troll do balão, ficou fácil decidir o desfavor da semana depois de ler a matéria em questão. Cornos existem aos borbotões, mas cornos atestados por sentença judicial fanfarrona… É o tipo da novidade que merece menção.

O marido traído em questão só reforça o que eu sempre imaginei: Tem gente que está corna e tem gente que É corna. E é diferente sim. Ninguém está livre do risco de ser sacaneado nessa vida, a mente alheia é um mistério ainda não desvendável. Muita gente acaba tendo de lidar com a frustração de ter levado um par de chifres e continua vivendo após o fato.

Mas sempre existem aqueles que simplesmente não desistem de evadir sua privacidade e capitalizar o máximo possível de desfavores em cima da traição. O que me parece difícil de entender é a vantagem que uma pessoa pode levar ao mencionar que foi chifrada… Quer dizer, além de vender mais discos no caso de ter uma dupla sertaneja.

É a famosa vitimização fazendo o seu papel. A pessoa deve achar que ao fazer um drama em cima do caso se exime de qualquer culpa no processo. Mas a realidade não é bem assim… Uma traição dificilmente é uma ação de pura e simples “maldade” de uma das partes. Uma pessoa que faz esse circo todo em cima da situação normalmente faz o tipo de quem acaba sendo o “último a saber”.

No caso analisado hoje, o simples fato do “ofendido” ter entrado na justiça para tentar receber uma compensação pelo acontecido já demonstra que ele (no melhor dos casos) é um corno natural. O homem descobre que foi traído, se utiliza de sua posição como policial federal para ameaçar o “Ricardão”, é denunciado na corregedoria da instituição que trabalha e acaba virando piada por lá. E depois de tudo quer processar o cara que traçou a mulher dele por causa disso! Percebem que em nenhum dos passos o solene corno tenta RESOLVER o problema?

O drama, a vitimização e o blefe das ameaças deixam na cara que é o tipo de homem que leva chifre MESMO. Não estou dizendo que traição é uma coisa certa ou defendendo a mulher dele, eu honestamente acho mais digno o homem que mata mulher e amante depois de ficar sabendo do que o que entra nesse círculo vicioso de auto-humilhação. (Essa opinião é mais condizente com a coluna “Flertando com o Desastre”…)

Exageros à parte, a idéia é que ao invés de lidar com o problema de uma forma que o elimine logo, tem gente que prefere receber tapinhas nas costas e compensações pelo seu sofrimento. Tem gente que não resolve e quer levar vantagem em tudo.

Se o solene corno tivesse simplesmente se afastado da mulher que lhe traiu (a saída que eu enxergo como a melhor de todas), não ficaria famoso por isso e ainda teria o bônus de não conviver com uma pessoa que não o respeita! É tão complicado assim?

O brasileiro está acostumado a enxergar o Estado como um pai relapso com seus filhos mais pobres, mas mesmo assim é uma visão paternalista, esperando que uma instituição resolva seus problemas pessoais e lhe dê vantagens indepentemente de seu mérito. Agora temos uma pessoa querendo ser compensada por ter sido traída! Qual a função do Estado na tarefa de regular para quem uma mulher dá ou deixa de dar aqui? Qual a função do Estado no processo de uma pessoa usar seu bom-senso para não deixar alguma situação vexatória se tornar pública nesse caso?

Não é assim que as coisas funcionam. Problemas pessoais se resolvem com atitudes pessoais. O casamento é um contrato social que pode ser dissolvido caso uma das partes não cumpra com o prometido, e só. O único possível crime contido no caso foram as ameaças do policial federal traído contra o amante de sua mulher.

O resto é drama.

Falando em drama, a sentença do juiz “leigo” é de uma breguice exemplar. Parece até um castigo extra para o solene corno. Eu sou da teoria de que gente que faz muita citação costuma ser bem chata, e o nosso querido juiz leigo não foge à regra. Méritos por não ter apoiado o comportamento ridículo do proponente da ação, mas poderíamos ter ficado sem pérolas como:

“As mulheres se apaixonam e, principalmente, sentem o ‘doce sabor da vingança’ –meu marido não me quer, não me deseja, me acha uma ‘baranga’ –(azar dele!), mas o meu amante me olha com desejo, me quer –eu sou um bom violino, há que se ter um bom músico para me fazer mostrar toda a música que sou capaz de oferecer!!!!” *acompanhe ouvindo uma música do Wando*

A sentença em si é um desfavor auxiliar, mas pelo menos é engraçada. Fico imaginando se alguém me deixaria ser um juiz leigo, eu tenho certeza que escreveria sentenças ainda mais divertidas. Sally, me explica como eu faço para conseguir esse posto? Você não vai se arrepender.

Para dizer que temos de convidar o juiz leigo para escrever um Desfavor Convidado, para dizer que sente compaixão por cornos ou mesmo para mandar um e-mail cheio de ameaças e ser denunciado novamente: somir@desfavor.com


Sally

Vem crescendo uma mania escrota na sociedade brasileira, herdada dos EUA, de buscar no Judiciário um refúgio para paternalismo, vingança e vitimização. As pessoas se sentem no direito de não lidar com um mínimo de frustração, inerente à vida de qualquer pessoa e resolver tudo no processo (ou no blefe ridículo de ameaçar processar): a fila do banco demorou? Processa o banco! O café estava quente e queimou a sua boca? Processa a loja! Essa mania de gente POBRE (porque pobre é um ESTADO DE ESPÍRITO), BREGA E COM BAIXA ESTIMA de ficar alardeando que vai processar ou de fato processar para se sentir “mais cidadão”. Eca!

Existem danos em nossas vidas, físicos, mentais, financeiros e outros, que são riscos inerentes ao negócio. Se eu comer muitos doces eu vou engordar? Provavelmente sim. A escolha é minha. Se eu fizer a escolha de comer muitos doces e engordar, devo me responsabilizar por ela. Mas não. Nããããoooo! Vamos processar a Nestle! A culpa é dela que fez o doce! As pessoas fazem escolhas erradas e depois, quando a trolha entra, querem responsabilizar o fabricante, o vizinho, a puta que os pariu, menos a eles mesmos. E alguém tem que pagar! Porque esse povinho ta sempre tentando tirar um qualquer de alguém.

O nosso Desfavor da Semana é justamente sobre isso: o sujeito escolhe mal pra caralho a esposa e depois quer ser indenizado por isso. Francamente… Tudo bem que ela causou um dano emocional a ele, mas porra, levar um chifre é um RISCO inerente a uma relação hoje em dia, lamento muito. Se cada um que cornear tiver que pagar, o Judiciária vai ficar abarrotado.

Sem contar que, a esposa, a mulher que lhe jurou fidelidade, o traiu e ele decide processar APENAS O AMANTE, porque a esposa ele perdoou. Sentença de improcedência é pouco, tinha que mandar castrar esse cidadão para ele não passar seus genes imbecilóides adiante com baby cornos. Tudo bem que a chance dos filhos serem realmente dele é pequena, mas não custa cortar fora as bolas dele, afinal, pelo visto, ele NÃO AS USA MESMO!

Roupa suja se lava em casa. Desavenças de marido e mulher devem ser tratadas em particular e apenas casos extremos serem levados ao judiciário. Inacreditável que o sujeito esteja tão sedento por uns trocados ou por 15 minutos de fama, ou por vingancinha (ou por todos) que tenha se prestado ao papel de ser DECLARADO CORNO POR SENTENÇA!

Quando a imbecilidade vem do povo, a gente estranha mas compreende, porque afinal, o povo não tem muita base para porra nenhuma nessa vida. O problema maior é quando a imbecilidade vem do judiciário. E imbecilidade tem nome: Juízes Leigos. Ou é JUIZ, ou é LEIGO. Colocar leigos para julgar, sobretudo em um cargo onde pesa mais a indicação do que a competência do candidato, é uma VE-GO-NHA. Mais vergonha ainda um juiz togado homologar esse amontoado de frases feitas que mais parece um livro de Paulo Coelho. Essa sentença, na íntegra, é um vexame.

Mas questionar juízes leigos não é o tema de hoje. O tema de hoje é esse corno somado a essa sentença canastrona cheia de clichês do tipo “As mulheres se apaixonam e, principalmente, sentem o ‘doce sabor da vingança’ –meu marido não me quer, não me deseja, me acha uma ‘baranga’ –(azar dele!), mas o meu amante me olha com desejo, me quer –eu sou um bom violino, há que se ter um bom músico para me fazer mostrar toda a música que sou capaz de oferecer!!!!” ou ainda “Pais, prendam suas ‘cabras’ que meu ‘bode’ está solto. Só que, com o passar dos séculos, a mulher deixou de ser submissa e está atuante no mercado de trabalho, recebendo o mesmo salário do homem quando ocupa uma função pública”. Wat? WAT? WAAAAT?

ISSO não é causa para ser sequer apreciada pelo judiciário. O custo para o Estado e para nossos bolsos de um processo desses é absurdo!

E tirando a questão prática, o que leva alguém a dar publicidade ao fato de SER CORNO? As pessoas são dementes o suficiente de SE QUEIMAR apenas para queimar outra pessoa que desgostam?

O povo tem que parar de abarrotar o judiciário e aprender a sofrer com dignidade! Alguns eventos sofridos são inerentes à vida, inerentes ao “risco do negócio” e são também frutos de escolhas ruins de nossa inteira responsabilidade. Como é fácil e cômodo sentar no autoperdão, achar culpados e ainda tentar tomar uma grana deles! “Olha que eu processo ela, heeeein?” Afe! BREGA! CAFONA! PROCESSA EEEEEUUU! Tô esperando sentada aqui, e necas de alguém me processar…

Onde está o amor próprio deste homem, que em documentos escritos diz que a mulher fez sexo com outro mas que a perdoa? Pena que amor próprio não vende em farmácia, porque as pessoas seriam muito menos pentelhas se o tivessem. E outra: se fosse uma MULHER entrando com esta ação contra o marido que a traiu, todo mundo ia chamar de histérica, recalcada e maluca. Espero que estejam prontos para falar o mesmo desse amental.

E o Juiz ainda perde seu precioso tempo fazendo uma sentença na qual tenta parecer erudito e acaba soando como uma música do Latino! Esta causa não tem mérito, nem deveria ter sido levada adiante! Não tem as condições mínimas da ação! Enquanto isso, tem gente morrendo porque o plano se recusa a pagar exames, porque o Estado se recusa a fornecer medicamentos ou por outros motivos urgentes que não são apreciados a tempo pelo Judiciário.

Não foi em cidadezinha do interior não, ta? Foi no Rio de Janeiro. Ele reclama de ter sido transformado em um “solene corno”. Daqui a pouco mulher que sai com o sujeito que não liga no dia seguinte vai estar processando, acusando de ter sido transformada em “solene puta”. É sério, gente. Se todos os cornos decidirem processar, VAI FALTAR JUIZ!

Bom senso, por favor!

Para dizer que só não nos processa porque sabe que iríamos gostar, para dizer que na verdade o Juiz era um Troll e a gente que não entendeu e para começar a fazer as contas do quanto vai cobrar em juízo por cada chifre que já levou: sally@desfavor.com


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