Ele disse, ela disse: Vermelho significa pare?

Sacou? Hã? Hã? Hã?

Mulheres tem uma habilidade impressionante: Sangram por dias a fio e não morrem (eventualmente podem matar). Muito embora a maioria delas não vá tratar a menstruação como algo exatamente digno de elogios, é algo que quase todas tem de lidar durante boa parte de sua vida. E durante boa parte da vida, sexo é uma das atividades mais constantes de uma pessoa.

Sexo durante a menstruação é um assunto que vai surgir na vida de virtualmente qualquer mulher nesse mundo. E por conseqüência, dos homens que fazem sexo com elas. A questão de hoje é simples e rima.

Tema de hoje: Sexo durante a menstruação, sim ou não?

Se ambos consentirem, claro. Afinal, sexo sem consentimento é estupro.

Ser humano é ser nojento. Somos máquinas de absorver, processar e expelir material orgânico. Qualquer pessoa que você conheceu, conhece ou vá conhecer é uma dessas máquinas, por mais atraente que seja. Resta a nós apenas escolher quais desses subprodutos da condição humana serão toleráveis nas nossas relações interpessoais.

Se por um acaso fui muito vago na descrição anterior, permitam-me ser um pouco mais… prático. A maioria das pessoas não tem nojo de beijar “de língua” outra pessoa (atraente sexualmente), mesmo sem ter a menor noção de quais são os hábitos higiênicos da pessoa em questão. Que atire a primeira pedra quem nunca lidou com um bafo ou um gosto levemente estranho numa dessas aventuras pela boca alheia. Embora ninguém deva gostar de beijar gente porca, sejamos honestos: Já aturamos vários desconfortos com a saliva e o hálito alheio em nossas vidas. E isso é mais do que comum… Já viu alguém terminar um namoro porque o Zé ou Maria Ruela estava com bafo de alho depois de um churrasco?

“Ah, foda-se. Eu sei que o hálito dessa pessoa não é assim normalmente, sei o que causou essa variação, sei que é algo que passa logo e… honestamente, nem é tão ruim assim. É só arranjar um chiclete.”

E eu estou usando o exemplo de uma pessoa que realmente se importa com isso. O “foda-se” costuma ser bem mais automático do que esse exemplo. O nosso grau médio de preocupação com a saliva de outra pessoa é razoavelmente baixo, principalmente considerando que ela pode transmitir doenças e tem algumas semelhanças curiosas com outro líquido que eliminamos no dia-a-dia…

A maioria das pessoas tem MUITO nojo de entrar em contato com a urina de outra pessoa. Pense comigo: Se você tivesse informações confiáveis sobre a saúde, digamos, do amor da sua vida, que garantissem a higiene e saúde desta pessoa… Você beberia a urina dela? O problema de consumir urina de uma pessoa extremamente saudável recairia principalmente na concentração de uréia (SPOILER: Também presente na saliva.), que apenas em grandes quantidades poderia te fazer mal. De um ponto de vista puramente técnico, tende a ser mais limpa que a saliva. (Não tem restos de comida microscópicos apodrecendo nela. A sua escova de dente não é mágica, sinto avisar…)

Mas você pode imaginar um casal se separando depois de um deles fazer um pedido desses, não? A simples idéia parece repulsiva para muitas pessoas. Independentemente dos riscos ou higiene presentes no caso.

Sexo, por definição, é um festival de troca de excreções, secreções e um encontro entre suas incontáveis bactérias com as bactérias da “pessoa amada”. É secreção vaginal encontrando com secreção bucal, é excreção peniana encontrando com mucosas (mucosas = muco = mesma coisa que escorre do seu nariz), é partícula de urina, fezes e alimentos apodrecendo para tudo quanto é lado. E tudo isso acontece se você estiver todo(a) porco(a) ou se tiver acabado de tomar banho. Higiene nessa hora só diminui a quantidade dessas partículas, excreções e secreções. É impossível se livrar delas. IMPOSSÍVEL.

Mas quero só ver alguém parar de fazer sexo, mesmo sabendo disso. Parecendo limpo e cheirando bem, bola pra frente. Parecendo limpo e o cheiro não comprometendo, bola pra frente. Parecendo sujo e cheirando mal? Tem gente que encara… (Tem sempre quem encare.)

Existe um fator de seleção do que é repulsivo ou não nas nossas relações próximas com outras pessoas que não pode ser simplesmente ignorado.

Só para sacanear: Se te oferecerem uma BARATA criada em laboratório, mais limpa e higiênica do que qualquer outra comida que você já consumiu na sua vida, você morderia a casquinha crocante (imagine o som) e se deliciaria com o interior pastoso (imagine escorrendo na sua língua) enquanto as patinhas dela chacoalham nervosamente por seus lábios? Nojo? Bom, seria mais saudável do que a comida cheia de partículas de fezes humanas que você consome diariamente.

Higiene percebida não é exatamente higiene real. Temos vários bloqueios e tabus enfiados na nossa mente sobre o que é aceitável ou não. Alguns saudáveis, alguns sociais e vários “empurrados” para cima de você por gente que inventou que sexo é uma coisa demoníaca.

Pessoalmente, eu não vejo um grande problema em fazer sexo com uma mulher menstruada. Se eu não tiver mais nenhum motivo para duvidar da higiene dela, é basicamente sangue em vários estágios de coagulação. Claro, em alguns casos parece que tem um saco de moedas enferrujadas escondido em algum lugar do quarto (ou banheiro). Claro, tem toda aquela melação e as “marcas do crime” claramente visíveis. (“Como essa marca vermelha veio parar nas minhas costas?”) Claro, a percepção de higiene do ato não se compara com a de uma relação “normal”… Mas, no fim das contas, “sangue” menstrual de uma mulher saudável não é para conter nenhuma substância perigosa e é facilmente removível com água.

Se uma pessoa sangrar sobre sua perna, você pega uma serra e arranca ela fora, ou você corre para se limpar? Nossa pele é impermeável, lavou tá novo.

Não tem nada a ver com fetiche por menstruação. Pessoas como eu que não ligam de “se sujar” um pouco podem muito bem ter seus limites. Sexo oral é passar dessa linha para mim, mas pode não ser para outro homem. Dificilmente ele vai estar se arriscando mais do que eu. Esse tipo de limite sexual tende a ser uma definição sobre até onde você vai considerar os prós e os contras da prática em questão. São limites com pouca sustentação lógica e muita subjetividade, que pode ter sido desencadeada por preconceitos sociais, noções pessoais e facilidade de entendimento. (É mais fácil não pensar na parte química e biológica das coisas, não?)

Às vezes uma conversa ou uma demonstração de que não tem problemas com o assunto pode fazer uma pessoa pensar melhor nos próprios tabus. Não precisa forçar, basta conversar e ver qual é o resultado.

Eu conheço a minha CARA, ela vai usar a mesma tática que sempre usa quando o assunto do “Ele disse, ela disse” é sexo: Vitimização coletiva do gênero feminino. Lembrem-se apenas de qual é o TEMA de hoje. (Quem eu estou enganando? Claro que não vão perceber…)

Para dizer que eu sou nojento, para dizer que me odeia, para dizer que me odeia porque eu sou nojento ou mesmo para dizer que eu sou nojento porque você me odeia: somir@desfavor.com


Tal qual o primeiro Ele Disse, Ela Disse escrito neste blog (sobre sexo anal), o objetivo não é falar de quem pratica, gosta e é muito bem resolvido. Se a pessoa faz, gosta e está feliz, não tem o que discutir. O objeto de discussão é quando um não quer e o outro insiste. Até onde é frescura deixar de fazer sexo porque a mulher está menstruada?

Em matéria de sexo eu sou da opinião que não existem frescuras. Se você não gosta e não se sente bem fazendo, não é frescura, é questão de gosto. Sou contra fazer qualquer coisa que te faça sentir mal. Aparentemente Madame acha que alguns sacrifícios são necessários. Vou citar alguns argumentos na tentativa de provar que existem fundamentos racionais e que não se trata de mera frescura.

Se o homem não quer, nem tem o que discutir, porque não vai acontecer, até mesmo por uma questão funcional. Se o homem tem nojo, aversão ou qualquer outro sentimento negativo, não será viável. O problema é quando a recusa vem da mulher, porque mulher costuma respeitar recusa de homem, já o inverso… Dependendo de quem seja seu parceiro, ela pode acabar escutando que isso “é frescura”. Não é. Não é mesmo.

Para começo de conversa, algumas mulheres experimentam grandes desconfortos quando estão menstruadas, como por exemplo, cólicas que fariam qualquer machão chorar em posição fetal. Não creio que uma pessoa com esse tipo de dor tenha vontade de fazer sexo. É opção dela e de mais ninguém fazer essa escolha.

Tem também o fator nojinho. Vamos combinar que o cheiro nem sempre é dos melhores e que pode causar uma certa sujeira (para quem não sabe, mancha de sangue é bem trabalhosa de tirar). Eu sei que existem formas e viabilizar, mas é direito da mulher não querer foder no chuveiro ou usar qualquer outro recurso diferente porque está menstruada.

E para aqueles Cuecas que enchem a boca dizendo “O que é isso! Não tem nada a ver, dá para fazer sexo com a mulher menstruada normalmente”, quero chamar a atenção para a palavra NORMALMENTE. Então, se é tão normal assim e não atrapalha EM NADA, o homem que topa fazer sexo com uma mulher menstruada tem que estar disposto a enfiar o focinho no sangue, né não? Só que sabemos que isso nem sempre acontece. É consenso (salvo uma meia dúzia de exceções) que o homem não fará sexo oral na mulher. Para algumas mulheres isso pode representar um desfalque tão grande que preferem nem fazer nada.

Também é possível que o constrangimento em fazer sexo menstruada, por si só, deixe a mulher tão tensa que ela não consiga aproveitar o momento. Seja pela razão que for, por questões estéticas, por vergonha, por falta de costume, enfim… quem sou eu para julgar os motivos de uma coisa tão pessoal? Não se sente bem? Não faz, oras!

A grande questão é: se a mulher não quer, não sente vontade, não existem argumentos racionais que a façam ficar com vontade. Se você não se sente bem, não adianta forçar. Será que a mulher deve fazer mesmo sem se sentir bem? Eu sou partidária de não fazer NADA que me faça sentir mal. Vai fazer só para agradar um homem? Não vai aproveitar nada fazendo uma coisa com a qual ela se sente desconfortável.

Mas eles são bonitos, não é mesmo? Eles acham que tem uma pica mágica e que quando nos comerem tudo de ruim passará e tudo será maravilhoso, afinal, eles são os fodões na cama! Já disse e repito: homem é tudo mais ou menos a mesma coisa, se engana o homem que pensa se detentor de táticas ninjas que enlouquecem qualquer mulher (se engana ou foi muito bem enganado por mulheres como eu… hahaha). Se a mulher não quer, não adianta fazer malabares com fogo enquanto mete e assovia o hino do Bragantino, porque, Meu Amigo, não vai ser bom para ela.

Se o constrangimento é fruto de uma situação passageira ou mutável, pode até ser que se chegue a um denominador comum que viabilize a coisa. Mas se a resistência é pura e simples, inerente à mulher, lamento muito, melhor respeitar.

É aquele raciocínio tosco de cabeça masculina “Não entendo/não concordo, portanto, não respeito”. Na SUA cabecinha de homem você pode até não entender os motivos (lógico que não entende, não fica menstruado…) ou não concordar com eles, mas isso não quer dizer que os motivos não existam e que não sejam legítimos. Ainda tem alguns que ficam em uma insistência sacal, e quando a mulher reafirma que não quer, só falta chamar de histérica.

Quero ver quando as mulheres começarem a “não entender” um homem que não quer fazer fio terra e começarem a desvalorizar a recusa, dizendo ser “frescura” e insistindo incessantemente para fazer. Garanto que eles perderiam a calma. Nessa hora, vamos chamá-los de histéricos também.

Não, não estou advogando em causa própria, antes que alguém comece a levar isso para o pessoal. Não sofro com esse dilema. Mas acompanho de perto pessoas que sofrem com isso. Tanto mulheres que não querem fazer sofrendo pressão de homens que querem como mulheres que querem fazer pressionando homens que não querem. Vamos parar de pressionar os outros para fazerem coisas que lhes são sexualmente desagradáveis? De onde eu venho, se não está bom para um, o outro também não quer…

Para me chamar de histérica, para dizer que qualquer recusa sexual feminina é sempre movida única e exclusivamente por frescura e para dizer que não se importa em sujar seu lençol de sangue porque não é você quem vai lavar mesmo: sally@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Comments (13)

  • Eu vou enfiar meu dedo no cu do homem? Mas nem fodendo! Hoje ele quer o dedo, amanhã vai procurar uma coisa maior e mais grossa (pau). Isso é início da viadagem.

  • Não sei qual o problema com o fio-terra, mas que preconceito tolo. Homossexualismo é a atração por outro homem, apens isso.

    Oras!!!

  • Mesmo que no lugar de sangue a secreção fosse apenas água, o desconforto e o inchaço na região vaginal é terrivel em muitas mulheres-EU.
    Quando uma pessoa tem uma dor ou um desconforto no corpo, tem o direto de não deixar cutucar com um pau,sem ser taxada de frescurenta.

  • Cara, na real eu não fico com a mínima cólica quanto tô de xico hahaha! Fico no mínimo 5 dias, então se não meter o fucinho no sangue assoviando o hino do mengão, vai ficar de bate punheta sozinho. Agora fazer fio terra no macho aí já acho viadagem. Isso não faço mesmo, enfio logo o cabo de vassoura pra acabar com essa marra!

  • "…e que quando nos comerem…"
    Na verdade quem "come" são as mulheres, pois são elas quem tem os lábios e etc…

  • Sinceramente? Já fiz e a imagem do meu pau cheio de sangue não me agradou. No chuveiro também não curti.

    Agora se a mulher insistir, quiser muito, bem, eu mesmo por orgulho não nego fogo…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: