Des Contos: Surpresa!

Des Contos

Quando você namora uma pessoa que mora longe, que aproveitar ao máximo cada momento. Começo de namoro, então, é pior ainda. Você quer fazer surpresas, quer criar momentos marcantes. Infelizmente, quando você namora com uma pessoa que nasceu sem coração, as únicas surpresas que relamente agradam são as de cunho sexual. Isto já me fez passar diversos maus momentos com a Madame que divide o blog comigo e hoje vou contar um deles: Siago Tomir + Eu, Desfavor.

Um belo dia decidi fazer uma surpresa desse tipo a Siago Tomir. Por algum motivo, a imbecilóide aqui achou que seria bacana ir buscá-lo no aeroporto usando uma lingerie bem ousada e um sapato de salto muito alto – apenas. Queria ver a reação dele ao entrar no meu carro e me ver assim. Eu sempre o buscava já do lado de fora do aeroporto, por isso, como sabia que não teria que sair do carro, me pareceu uma boa idéia. Sim, isto é uma constante na minha vida. As maiores merdas que eu faço me parecem uma boa idéia em um primeiro momento. Um misto de falta de discernimento com burrice.

Coloquei um casacão tipo sobretudo e uma lingerie por baixo, porque a lingerie era tão cheia de trecos que não dava nem para colocar um vestido ou uma calça. Era verão, o que implica em 35º à noite. Mas como eu só usaria o casaco do caminho do elavador até o carro, achei que não teria problema. Entrei no carro, tirei o casacão e o coloquei no banco de trás. Lá fui eu, dirigindo que nem uma lesma para não correr o risco de me envolver em nenhum acidente. Cheguei no aeroporto e parei o carro na área de desembarque. Enquanto esperava ouvindo música, me achando 100% protegida pelos vidros pretos do meu carro, percebi que outro carro de aproximava em alta velocidade.

Meio segundo depois, uma batida. Não em mim, mas em um taxista que estava saindo da área de desembarque e bateu no carrão importado que vinha em alta velocidade. Uma batida feia. O taxista saiu do carro com a cara ensanguentada berrando e o motorista do carrão, um atorzinho global, saiu do carro com um olhar e uns trejeitos tipo Rafael Pilha, que indicavam o uso de algum tipo de substância questionável.

Essa mania babaca que eu tenho de me meter fez com que eu abra dois dedos do vidro e pergunte: “Tá todo mundo bem? Vocês precisam de ajuda? Quer que chame uma ambulância?”. Ambos fizeram sinal de que estavam bem e eu fechei de volta o vidro. Não deu nem dez segundos, começaram a bater boca. Para quem não sabe, alguns (eu disse alguns, antes que o sindicato dos taxistas venha aqui dizer que vai me processar para depois não processar porra nenhuma) taxistas do Rio de Janeiro podem ser bastante estressados. Não recomendo brigar com taxista. Muitos andam armados. Mas o Global estava se sentindo invencível, e começou a colocar a culpa do acidente no taxista, que não teve culpa alguma. E falar sem parar todo tipo de inconveniência. Gente cheirada é uma merda.

A briga foi aumentando. A coisa foi ficando feia. Começou a juntar gente em volta. Não que alguém fosse apartar, geralmente os populares daqui ou ficam olhando ou ainda botam pilha. Taxista e Global começaram a trocar ameaças. Eu peguei o celular e comecei a ligar para Siago Tomir, porque queria sair logo dali, com medo de levar uma rebarba de um tiro. O telefone toca e eu vejo Siago Tomir pelo meu retrovisor, parado em um cantinho, lá atrás, do lado de fora, procurando o celular e FUMANDO:

Sally: “Siago, você já desembarcou?”

Tomir: “Já. Estou tomando uma coca-cola. Você já chegou?”

Sally: “Já cheguei sim, Meu Amor”

Tomir: “Assim que eu acabar aqui eu te encontro”

Sally: “Tá gostosa a coca-cola?”

Tomir: “Oi?”

Sally: “Meu sexto sentido me diz que você está fumando”

Tomir: “Não, não estou”

Sally: “Então devo estar enganada”

Tomir: “Está sim”

Sally: “Até porque, se você estiver fumando, eu vou sentir o cheiro”

Tomir: “Não começa, Sally! Tem pessoas fumando perto de mim, se eu estiver com cheiro, é do cigarro dos outros”

Sally: “Na sua boca?”

Tomir: “hahaha” *riso nervoso

Sally: “Bom, só liguei porque tá tendo um quase tiroteio aqui, queria te pedir que viesse logo”

Tomir: “TÔ INDO!”

Não-cariocas costumam ficar nervosos em situações de violência urbana. A gente aqui no Rio meio que se acostumou e nem se assusta tanto. Mas Siago Tomir ficava alarmado. Fiquei olhando pelo retrovisor e vi ele jogando o cigarro pro alto desesperado, enchendo a boca de balas e correndo com a mala na mão. Enquanto isso, o Global ameaçava o Taxista e o chamava de “seu merda” e um carro da polícia parava no local.

Taxista: “Ele bateu no meu carro! Ele vinha em alta velocidade, feito um maluco!”

Global: “MENTIRA!”

Taxista: “Mentira porra nenhuma, seu playboy! Você tava em alta velocidade sim!”

Global: “MENTIRA!”

Policial: “Tem testemunhas?”

Todos olharam em direção a meu carro. Senti aquela sensação de “tem coisas que só acontecem comigo”. O policial se aproximou do meu carro. Abri dois dedinhos da janela, enquanto Siago Tomir se aproximava correndo do carro.

Policial: “Boa noite”

Sally: “Boa noite”

Policial: “A Senhora presenciou o evento?”

Sally: “Presenciei”

Policial: “A senhora sabe precisar se o condutor que abalroou o veículo estava em alta velocidade?”

Sally: “Altíssima velocidade”

Global: “MENTIRA!”

Policial: “A Senhora pode sair do veículo para prestar alguns esclarecimentos?”

Sally: “Não”

Policial, Taxista e Global se olharam com cara de interrogação. Somir, que tinha acabado de chegar, também me olhou com uma cara estranha. O Policial ficou visivelmente puto. El achou que eu estava escondendo algo ou fazendo algo de errado.

Sally: “Quer dizer… até posso, mas preciso de uns minutinhos. Deixa eu fechar o vidro e já já eu saio…”

Policial: “Senhora, saia do veículo agora”

Sally: “Só um minutinho…”

Policial: “Agora”

Existem policiais que quando se acham confrontados querem mostrar poder. Não são todos, mas infelizmente era o caso deste. Ele achou que eu ia esconder alguma coisa, ou pegar alguma arma ou fazer alguma merda e queria me fazer sair do carro na mesma hora. Eu queria fechar o vidro e colocar meu casacão, mesmo sendo verão.

Sally: “Não”

Tomir: “Sally… p que está acontecendo?”

Sally: “Cala a boca que você estava fumando”

Tomir:

Policial: “Senhora, saia do veículo”

Tomir tentou abrir a porta do carro. Em um golpe ninja, tranquei as portas gritando “NÃÃÃÃÃÃO!”

Tomir: “Tem alguém aí com você?” * visivelmente puto

Sally: “Tem sim, vim te buscar com meu amante no banco de trás do carro, eu espertona!”

Taxista: “Ô Dona, desce logo desse carro e vamos acabar com isso”

Global: “Eu vou embora”

Policial: “Ninguém sai daqui”

Global: “Você sabe com quem você está falando?”

Taxista: “Seu playboy! Você vai ter que pagar meu prejuízo!”

Global:Fala com o meu advogado! Quero ver provar!”

Pensei em me virar e pegar o casacão, mas para isso teria que levantar a bunda para o alto e todo mundo veria até o meu útero. Peguei meu celular e mandei uma mensagem de texto para o Tomir:

SÓ DE CALCINHA. TIRA O POLICIAL DAQUI

Tomir recebeu, leu e ficou com a cara toda vermelha. Depois ficou me fuzilando com o olhar. A veia na testa dele começou a saltar. Quando a veia na testa dele salta, coisas boas não acontecem.

Tomir: “Acho que estou enfartando!”

Tomir se jogou no chão tremendo. Talvez ele não saiba que isso é sinal de epilepsia. Mesmo assim, o policial foi socorrê-lo e se ofereceu para chamar uma ambulância. Aproveitei o factóide, vesti o casaco e sai do carro. De casacão. No verão. Suando até o cu.

Tomir: “Acho que melhorei…” *levantando sem a menor cerimônia

Policial: “Senhora, vou pedir que a senhora retire o casaco”

Sally: “Não”

Policial: “Senhora, vou ter que revistá-la”

Tomir: “NÃO!”

Sally: “Olha só, o casaco não é para esconder armas nem drogas, por favor, acredite em mim”

Global: “Deve estar cheia de pó…”

Policial: “Senhora, por favor encoste as mãos no veículo”

Global: “Tá vendo o que você fez, seu taxista de merda?”

O taxista correu para o carro e voltou com pedaço de pau na mão

Taxista: “QUEM É MERDA? QUEM É MERDA?”

O Policial puxou a arma:

Policial: TODO MUNDO ENCOSTADO NO VEÍCULO! Você! Larga esse pau!

Somir: Precisava, Sally? Precisava?

Sally: Tudo teria dado certo se VOCÊ não estivesse atrasado por estar fumando escondido!

Global: Maconheiro?

Taxista: Eu quero saber quem vai pagar meu prejuízo!

Policial: TODO MUNDO CALADO!

O Policial solicitou “reforços”. Os seguranças do aeroporto saíram para ver o que estava acontecendo. Mais pessoas começaram a se juntar à nossa volta.

Popular 1: O que ela está fazendo com esse casaco nesse calor?

Popular 2: É o menino da novela?

Popular 3: Vamos tirar foto com o celular!

Policial: “Senhora, tire o casaco”

Sally: “Só aceito ser revistada por uma policial mulher, eu tenho esse direito”

Global: “Eu vou processar todos vocês!”

Taxista: “Cala a boca, seu playboy!”

Tomir: “Daqui a pouco vai ter gente da imprensa aqui…”

Mais policiais chegaram. Uma policial fêmea me revistou. Expliquei para ela que estava sem roupa por baixo e ela riu. Contei o que tinha visto do acidente e ela fez um mini-relatório. Eu suava, de casaco em um calor infernal. Depois colheram o depoimento do Global, que berrava, gesticulava e falava coisas desconexas:

Global: “ESSE MERDA, SAIU SEM OLHAR E BATEU EM MIM! É UM MERDA, UM FUDIDO! SE FOSSE INTELIGENTE NÃO SERIA TAXISTA!”

Foi quando o taxista pegou de volta o pedaço de pau e deu na cara do Global

Policial: “CHEGA! TODO MUNDO PRA DELEGACIA!”

Lá fui eu para a delegacia, suando. Chegando lá, aquela espera que só quem já passou por delegacia sabe como é. Suando, suando, suando.

Tomir: “Quer que eu pegue uma roupa minha, da minha mala, para você vestir?”

Sally: “Suas bermudas vão cair em mim”

Tomir: “Sério que você não percebeu que podia dar merda?”

Sally: “Não, não percebi”

Tomir: “Evidente que ia dar merda!”

Sally: “Tá bom, Tomir. Não achei que ia dar merda”

Tomir: “O que você tem na cabeça?”

Sally: “Merda. MERDA. MER-DA. Se não, não estaria com você!”

No dia seguinte, sai uma notinha em um jornaleco de quinta categoria: “O ator fulano de tal caiu da escada de sua casa e machucou o rosto”…

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Comments (6)

  • haha, adorei o barraco. Pelo que eu entendi o vidro estava fechado, então presumo que o ar estivesse ligado. Não dava para continuar de casaco?

  • BOOOOOOA, Sally!

    Eu sinceramente não entendo essa desculpa de "caí da escada", "bati no armário", etc
    Porra, quando a gente cai, a PRIMEIRA coisa que faz é proteger o crânio, né? Aff

    Lica

  • Eu já li essa tática de ir buscar o macho sem roupa em algum livreto desses tipo "como conquistar um homem". Foi vc quem escreveu ou copiou de lá? hahaha Agora tem a versão Desfavor, que é como pagar mico no verão! Com certeza ia dar merda, essas surpresas sexuais nunca dão certo. Esses mesmos livros que ensinam a mulher a fazer fio terra no bofe. Uma amiga minha quase perdeu o noivo por causa disso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: