Flertando com o desastre: Escola Gay.

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“A primeira escola brasileira voltada para o público gay deve começar a funcionar no próximo ano, em Campinas (93 km de São Paulo). A Escola Jovem LGTB (Lésbicas, Gays, Transexuais e Bissexuais) vai oferecer, entre outras matérias, a de formação de drag queens.”

Quando li esta notícia no jornal de domingo minha primeira reação foi de revolta. Minto, minha primeira reação foi ligar para o Somir e sacanear Campinas. Mas a segunda reação foi de revolta. Sabe aquele discurso fácil de dizer que isso é uma forma de discriminação? Pois é. Achei meio segregacionista.

Depois, conversando com amigos gays e refletindo um pouco mais, me passou pela cabeça que este tipo de iniciativa pode parecer incorreta em tese, mas na prática pode se mostrar muito útil. Segregacionista seria se todos os gays fossem obrigados a freqüentar escolas voltadas apenas para homossexuais. Não é isso que está acontecendo. Abriu-se uma possibilidade para QUEM QUISER freqüentar uma escola voltada para o público gay.

“Mas Sally, se eles são iguais aos heteros, porque uma escola só para eles?”. Porque infelizmente a maior parte dos heteros tem um preconceito galopante, ainda que velado, que faz com que muitos homossexuais se sintam desconfortáveis e passem por alguns constrangimentos que nós nem sonhamos nas pequenas atividades do dia a dia.

Ninguém está proibindo homossexuais de freqüentar qualquer lugar. Apenas se está facultando que freqüentem, se quiserem, um local onde sabem que existirão outras pessoas com uma característica em comum: a predileção por pessoas do mesmo sexo. Na minha cabecinha tosca, não tem muita diferença entre isso e uma escola para descendentes de japoneses ou italianos. São pessoas com características em comum reunidas.

Talvez seja meio rude ou meio grosseiro reunir pessoas em função de sua sexualidade. Mas, conversando com um grande amigo meu assumidamente gay, fui apresentada a argumentos de ordem prática sobre os quais nunca havia pensado. Ele me disse, por exemplo, o quanto é difícil para homossexuais flertar e conhecer pretendentes, porque como se não bastasse a situação estar complicada para todo mundo, eles ainda tem que lidar com a barreira extra de tentar depreender quem é gay e quem não é, correndo o risco de levar um murro se errar no julgamento.

Segundo este meu amigo, teria sido um alívio para ele poder freqüentar no dia a dia um local onde sabe que todos tem a mesma opção sexual que ele, onde poderia conhecer e flertar casualmente, sem aquele clima de “vou para a buatchiii gay tentar me arrumar”. Teria sido, nas palavras dele, um “facilitador” e tanto.

Eu gosto de estar no meio “dos meus”. Tenho prazer em me reunir com pessoas com as quais tenho alguma afinidade específica e formar grupos. Me faz sentir melhor saber que existem pessoas com as mesmas predileções e escolhas de vida. Eu também vejo esse sentimento aqui no blog. Quando tratamos de assuntos polêmicos, sempre recebo uma penca de e-mails ou comentários dizendo “Que bom saber que tem mais gente que pensa como eu, me sinto melhor”. Andar entre semelhantes mitiga uma sensação de desamparo e inadequação que todos nós temos de tempos em tempos. Os críticos desta escola voltada para o público homossexual deveriam pensar um pouco nisso antes de sair dando as pedradas violentas no projeto. É muito fácil criticar em tese.

E nem vou rebater as críticas sobre a verba gasta para esse projeto, cerca de R$ 180 mil reais, porque depois da quantia que foi destinada a publicidade do atual governo, vide a postagem de sábado, acho que esse valor é irrisório.

Existem pesquisas comprovando que muitos jovens abandonam seus estudos em função do preconceito que sofrem no que diz respeito a sua sexualidade. Para quem acha ruim uma escola voltada para o público gay, eu pergunto qual seria a sugestão para que estes jovens continuem estudando. Porque todo mundo critica, mas ninguém oferece uma solução melhor.

Talvez muitos aqui pensem como eu pensava ao ler a notícia pela primeira vez: como um projeto preconceituoso e desnecessário. Conversando com os maiores interessados, revi meus conceitos. Porque esse papo de igualdade formal é balela, a igualdade tem que ser substancial. Tratar os iguais como iguais e tratar os desiguais como desiguais, na medida de sua desigualdade, buscando a inclusão social.

Confesso que não gosto do termo “Escola Gay”. O termo “Escola Gay” pode passar uma imagem errada. A escola não é apenas para gays. Heteros podem se matricular caso queiram, entretanto, o público alvo são os homossexuais. Seria interessante colocar um hetero no meio de muitos gays para que ele se sinta como minoria uma vez na vida. Pequenas coisas, que nós nem sonhamos, como o constrangimento ao utilizar o banheiro masculino, podem tornar a vida de estudantes um inferno e nada como se colocar no lugar do outro para aprender a ser mais tolerante.

A maior dificuldade dos gays é se expressar livremente, justamente aquilo a que a escola se propõe. Um local onde todos possam se expressar livremente. “Mas Sally, ninguém nunca proibiu um gay de falar em lugar nenhum!”. Talvez não com palavras, mas quando se é minoria e parte da sociedade tem preconceito contra você, é bem provável que você não se sinta muito confortável para se expressar.

O curioso é que a imprensa fez questão de noticiar que esta escola gay ministrará “cursos para formação de drag queens”. Foda. Fica parecendo que os alunos entrarão de calça jeans e sairão cheios de plumas, paetês e cílios postiços. Fica parecendo que não é um projeto sério. Deveriam divulgar que se estudará literatura, artes cênicas, artes plásticas, até mesmo a criação de uma revista (coloca este Flertando com o Desastre na revistinha purpurinada, gentemmm!) e história relacionada com a cultura gay. Porque sim, e bacana conhecer toda a história da luta gay ao longo dos séculos e as personalidades famosas que davam ré no quibe. (me permito brincar, porque não tenho preconceitos. vou tratar gays como iguais, sacanenado quando quiser, da mesma forma como faço com argentinos, com vascaínos e com o Somir, nem venham com discurso)

Este tipo de iniciativa já vem sendo colocada em prática em outras partes do mundo. Nos EUA, por exemplo, existem escolas destinadas a homossexuais desde 2003. E nem de longe foi essa polêmica toda que estão criando aqui. Dá vergonha de ler alguns dos comentários em sites e blogs que tratam sobre o assunto.

Mesmo que tudo mais dê errado e na prática o projeto se mostre um fracasso por uma série de motivos, já teve uma repercussão positiva: fez a sociedade discutir. Cutucou os homofóbicos: “Ei! Gays existem, e cada vez temos mais gays se assumindo, eles são uma realidade, a ponto de justificar criar uma escola só para eles. Eles vieram para ficar, é melhor você se acostumar. NÃO é doença, tanto é que o governo está financiando estudo voltado para este público. Sim, eles são socialmente aceitos, só você que não aceita, melhor se acostumar com a diversidade”

E nem pensem em começar a me dizer que o Brasil não tem mais preconceito contra homossexuais. Quantos beijos gays não foram censurados em novelas? Toda novela neguinho ameaça colocar um beijo gay no ar e nunca sai! Os casais gays de novela são IRREAIS, trocam apenas olhares tenros, enquanto o José Mayer (que ódio deste cidadão onipresente…) passa a vara em geral, na cama, na escada ou na praia deserta. Alou, Rede Globooo! Choca muito mais José Mayer de sunga mostrando suas pelanquinhas com sua carinha de Pug montado em cima de uma menina com idade para ser sua filha, trocando chupões do que dois atores lindinhos metendo a língua um na boca do outro!

Meus queridos, os Gays vão dominar o mundo – e eu acho isso ótimo. Eles tem a força de um homem e a sensibilidade de uma mulher, o que os torna mais completos do que nós, heteros. Tem menos filhos, o que os torna um sucesso na carreira e com muito dinheiro no bolso por não ter que pagar creche, fralda e cia. São divertidos. São amigos da mulherada. Te levam para o shopping e não querem te comer! Te levam para jantar, tem um ótimo papo e não querem te comer! Anota aí: VAI CHEGAR UMA HORA QUE GAYS SERÃO A MAIORIA E NÓS, HETEROS, MINORIA – e o mundo vai ser bem melhor.

Um recadinho aos homofóbicos que criticam o projeto: Cuidado com o tratamento que você dá às pessoas quando está subindo, pois são estas mesmas pessoas que você vai encontrar quando estiver descendo. O mundo é gay, acostumem-se. Da mesma forma que existem escolas para público predominantemente judeu, para público predominantemente italiano, e para outros públicos, as escolas para público predominantemente gay vieram para ficar e são tão legítimas quanto.

Incomoda tanto assim como a pessoa escolhe ter prazer quando faz sexo? Já pensou se as SUAS formas de ter prazer durante o sexo fossem detalhadas em público? Será que você seria considerado tão normal assim?

Aguardo ansiosamente pela primeira escola para ateus.

Para aqueles que se interessarem pelo projeto e quiserem participar: escola@e-jovem.com

Para pedir que eu coloque ordem no galinheiro, já que o Somir vem atrasando seus textos, para dizer que Escola Gay só podia ser em Campinas mesmo e para dizer que vai mandar um e-mail mas é para matricular “um amigo” seu: sally@desfavor.com

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Comments (9)

  • Jacinto Pinto Aquino Rego

    Isso é em Campinas?

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  • Deco, uma honra ter você aqui no blog. Fico ainda mais feliz de você ter gostado do meu texto.

    Apóio 100% a idéia. Discurso pronto é muito fácil, o difícil é pensar, quebrar preconceitos e levantar uma bandeira minoritária!

  • Paulo César Nascimento

    Isso é em Campinas?

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  • Querida Sally, essa escola gay em Campinas já é notícia velha, apesar de eu ainda não a ter visto com os próprios olhos….. Será que é obra fantasma do governo? Vou passar na frente um dia pra ver se ela existe de verdade….

    Mas legal mesmo é se fosse uma escola nerd, tipo a Campus Party….

    Somir e eu estamos tentando convencer alguns vereadores a instalarem a primeira escola nerd do Brasil, aqui em campinas tambem…..

    Vai ter aula de física quantica, robotica e programaçao de jogos 3 D, vai ser um sucesso….

    Chester

  • Sally, brilhante seu texto. Adorei sua descrição de como vc partiu da crítica para a busca de entendimento e daí à compreensão.

    O termo "Escola Gay" tem uma pegadinha – é sim uma escola gay, mas aberta a todos. Ou seja, a temática é gay, a função da escola é valorizar a cultura gay, mas todos podem participar e conhecer mais esse universo. É assim que combatemos o preconceito.

    E, Somir, ninguém vai ganhar dinheiro com isso porque os cursos serão GRATUITOS, valeu?

    Mais informações no site da escola, http://www.e-jovem.com

    Abraço,

    Deco Ribeiro, diretor
    ESCOLA JOVEM LGBT

  • Tem razão, Sal… Onde eu trabalho um FDP falou que preferia ter uma filha puta do que uma filha lésbica, deu vontade de juntar a galera do jiu-jitsu e meter a porrada nele na saída. Eu sou lésbica e trabalho com call center, todo mundo sabe que 80% de call center é GLBT, mas sempre vem um hetero cretino desses (que é minoria no local) querer tirar onda.

  • Isso é em Campinas?

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  • Escola para ateus é uma sugestão interessante, porém mais eficaz seria a instituição de uma formação não-religiosa em todas as escolas (excetuando-se, obviamente, aquelas instituições de ensino que declaradamente são vinculadas a entidades religiosas), o que evitaria direcionamentos valorativos e alienações precoces.

    Quanto a escola gay, não considero que toda forma de rotulação conduza a resultados nefastos, mas sim aquela que é deturpada em torno de noções absolutas, baseadas na exclusão do outro.
    Portanto, o que se faz necessário é perceber a existência e compreender o outro. Com tal objetivo, podem constituir-se como iniciativa válida as escolas dirigidas a homossexuais (abstraído a sua faceta puramente mercadológica), inclusive como formas de consolidação da identidade, as quais seriam a primeira vista meramente sectárias.

  • Ê!!! Vamos segregar para incluir!

    A única coisa que eu enxergo nisso é oportunismo. Nicho de mercado. Gente querendo ganhar dinheiro e só.

    Porque enfiar um PUTA de um rótulo desses em cima da cabeça é a antítese do combate ao preconceito.

    E outra: Pessoas 100% heterossexuais e 100% homossexuais são a minoria. Os extremos da sexualidade humana neste quesito.

    Pode apostar que pelo menos metade da população mundial tem pézinho que seja na orientação sexual oposta a que diz em público.

    Rótulo nesse campo é uma merda e explica muito mal como as pessoas realmente reagem aos próprios desejos sexuais. Não é escolha, é genética. Na teoria a escola pode até fazer sentido, na prática é tudo muito mais complicado.

    Vai fazer o quê depois? Criar uma cidade gay? Com leis gays? Ah, faça-me o desfavor.

    Cravo aqui: Não vai vingar como algo além de um "gueto". E não vai ser exatamente pelo preconceito dos que estão de fora.

    Somos basicamente a mesma merda, independentemente de nacionalidade, raça, credo ou orientação sexual.

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