Ele disse, ela disse: Jantando na faixa.

Imagine-se na seguinte situação: Você foi convidado para jantar por uma pessoa com a qual não tem muita intimidade. Chegando no restaurante, tem que escolher o que vai pedir… Sally e Somir discordam sobre a etiqueta (de preço) mais aceitável nessa situação. Ela prega a moderação, ele… não. Os impopulares também estão convidados, mas só para dar sua opinião.

Tema de hoje: Convidado em jantar deve pedir atentando ao preço?

SOMIR

Não. Pede o que quiser e foda-se o preço. Antes de qualquer coisa, faço questão de afirmar que minha opinião não é baseada em rebeldia “contra o sistema” ou algo parecido, e sim em conhecimento acumulado e estratégias de quem se vale de jantares, almoços e afins para conseguir o que quer… seja lá fechar negócios ou abrir pernas (oinc).

Sejamos realistas: Se uma pessoa com a qual você não tem intimidade te convida para um jantar, algum interesse ela tem. E não vamos tratar interesses como algo negativo, as pessoas trocam favores e influências em benefício mútuo diariamente, é parte de como funciona nossa sociedade. O convite não é um favor, é um agrado, uma tentativa de aproximação. E isso faz toda a diferença.

O interesse de quem convida dificilmente vai ser julgar sua habilidade de pedir um prato de preço razoável. A pessoa está lá para conversar com você, para estreitar laços, pedir ou ofertar algo… ou mesmo descaradamente para puxar seu saco. Bobagem achar que economizar alguns reais para quem convida vai mudar suficientemente a visão que ela tem de você. Lembre-se: O objetivo do jantar é outro.

Se você pede o que quer, você fica mais satisfeito. Se você fica mais satisfeito, você fica mais aberto. Se você fica mais aberto… Do ponto de vista de quem convida, é até mais negócio que o convidado esteja relaxado e “disponível”, mesmo que isso signifique um custo um pouco maior. Novamente: O objetivo do jantar não é economizar na conta.

Além disso, o próprio local onde se realiza o jantar indica a faixa de preço que quem convida tinha em mente. Uma coisa é jantar num barzinho, outra é num restaurante chique. O próprio lugar já é a estratégia de despesas de quem convidou. Quem fica com frescura de pagar conta não convida ninguém para restaurante caro! Aliás, se alguém te chama para jantar num lugar caríssimo, é DESFEITA ficar com cu doce de preço na hora de escolher o prato: Está claríssimo que a pessoa quer fazer esse “mimo”.

A faixa de preço “aceitável” não te pertence nesse momento. O máximo que você pode fazer é conjecturar, e mesmo assim nada garante que vai fazer alguma diferença na imagem que quem convidou terá de você. Ou mesmo que ela vai sequer prestar atenção nisso. A não ser que você trabalhe com a máfia, a tendência é a pessoa pague com cartão e não com dinheiro. Quem te convidou vai fazer uma “leitura diagonal” da conta só para garantir que não cobraram quinhentos reais de couvert artístico e seguir sua vida como se nada. E se por um acaso a pessoa puxar um maço de notas para pagar a conta, pode apostar que ela vai achar o máximo se exibir pagando caro.

Quem pede prato caro com naturalidade não passa impressão de esganado, passa impressão de que aquele pedido é comum para a pessoa. Quem encana com somas de dinheiro desse nível (variação na conta de um restaurante) ou é sovina ou é pobre. O sovina não vai te convidar. O pobre vai te levar no lugar onde pode pagar. Quem te convidou vai esperar um comportamento condizente com o local.

E outra: As pessoas não são tão mesquinhas assim… Mesmo gente que assiste novela, vota no Lula e frequenta culto de igreja evangélica costuma ser generosa num momento desses. Essa coisa de “provedor” tem um apelo instintivo poderoso, e gente que convida para jantar em restaurante não costuma estar passando sufoco financeiro. Essa paranoia de que você vai ser julgado e condenado por uma bobagem como pedir um prato mais caro dificilmente vai se traduzir em realidade.

Que estranho estar numa coluna dessas e demonstrar mais conhecimento sobre o ser humano do que a Sally… Não sei em que jantares ela esteve longe de mim, mas cara feia e drama por causa de conta numa situação dessas me parece algo surreal. Sério… em que situação pedir o prato de preço médio vai fazer alguma diferença?

Não costumo argumentar dessa forma, mas… se você acha que encanar com preço do prato tem alguma função prática nessa situação, ou você é uma pessoa de neuroses peculiares feito Sally (SPOILER: Universo Umbigo, ela encana com isso porque acha que é o centro das atenções, sempre…), ou você ainda está naquela fase da vida onde acha que McDonald’s é restaurante. Não é assim que se faz negócios…

E já que eu estou considerando a fatura liquidada, vou aproveitar para preencher as últimas linhas com um conselho para as mulheres: Parem de pedir comidas sem graça só para não parecerem gordas. Homem (e por homem eu obviamente excluo vegetarianos) se amarra numa mulher que não faz cu doce e encara um filé maior que sua cabeça, ou pelo menos algo menos depressivo do que salada e filé de frango com legumes. Se você já está num jantar onde ele te convidou, o “querer te comer” já está garantido.

Foi o que eu escrevi logo no começo do texto: O convite para jantar é um pretexto para exercer um interesse. Se o interesse é agradar e cativar uma mulher, é uma derrota se ela acaba comendo algo horrível só para fazer pose de saudável. Melhor parecer gorda do que parecer que só vai dar de luz apagada…

Para dizer que tudo o que eu disse é mentira, que é falta de educação pedir o que quer e que todo mundo encana com isso… mesmo com o trabalho de teclar tudo com a mão fechada: somir@desfavor.com

SALLY

Quando alguém te convida para jantar fora, você deve escolher o prato atentando para o preço? Acredito que sim. Eu sempre procuro escolher um meio termo entre o mais caro e o mais barato, pois temo que extremos possam parecer ofensivos ou depor contra a minha pessoa.

Não estamos falando aqui de situações de intimidade, onde sua mãe ou seu irmão te levam para jantar. Estamos falando de um convite feito por pessoas que não são íntimas. Penso que quando não há intimidade, algumas formalidades são bem vindas para não correr o risco de passar uma imagem equivocada. Quem te conhece bem sabe o que você é e não vai ser o seu jantar que vai mudar isso, mas quem ainda está te conhecendo pode sim ter uma impressão errada e difícil de desfazer. Porque arriscar se não custa nada escolher outro prato?

Ao ser convidado formalmente para um jantar, você vai sabendo que não vai pagar a conta. Sentar na mesa e pedir uma lagosta pode fazer parecer que você é um aproveitador ou um morto de fome. Pedir a salada mais barata pode te fazer parecer uma pessoa insegura que está com vergonha daquela situação. Não que seja esse o caso, reparem que eu estou dizendo que PODE TE FAZER PARECER. Considerando que não há intimidade e que o outro ainda está formando uma opinião a seu respeito, não custa tomar o cuidado de não se exceder em nenhum dos dois extremos na hora do pedido. Se você está ali jantando com aquela pessoa, é sinal de que ela tem algo a te oferecer.

“Mas Sally, você mesma fica dizendo que a gente tem que fazer o que tem vontade!”. Sim, e continuo afirmando isso. Ou vai me dizer que dentro de uma faixa mediana de preço não tem pelo menos dois ou três pratos que você não tem vontade de comer? Não estou mandando ninguém comer algo que não goste só para não correr o risco de passar uma imagem errada, estou dizendo para escolher um prato, dentre os muitos que haverão, que te agrade mas que não tenha um preço extremado. Não importa que você não seja um interesseiro ou um morto de fome, importa não PARECER um interesseiro ou morto de fome, porque quando você não tem intimidade com o interlocutor, você é o que parece ser.

Você não vai ao jantar de chinelo. Você não vai a um jantar de pijama. Você não vai a um jantar sujo, sem tomar banho. Existem uma série de normas sociais que a gente procura cumprir em determinados eventos. Um jantar é um evento que pede um pouco mais de formalidade, que tem um fim específico: conversar sobre algo. Você não sai para jantar com alguém e passa a noite toda falando no celular com outra pessoa (ao menos não deveria). Pois bem, considerando que o fim específico do jantar seja conversar sobre algo, é fundamental que você cause uma boa impressão, afinal, ninguém vai ter interesse em conversar sobre algo com um escroto, pau no cu, inconveniente e imbecilóide. Logo, a imagem que você passará nesse jantar pode ser determinante para a forma como o interlocutor vai te ouvir e vai reagir.

Uma pessoa mal vestida, mal educada que fala com a boca cheia, cola meleca debaixo da mesa, arrota, interrompe o outro, atende celular e bate papo, etc, etc, pode dizer a mesma coisa (em matéria de conteúdo) que uma pessoa bem apresentada e que cause boa impressão e ainda assim será menos considerada. Para obter o melhor resultado possível daquele jantar (seja ele fechar um negócio, seja ele conseguir um encontro amoroso) é indispensável que se cause uma boa impressão ou que ao menos fique claro algum esforço para causar uma boa impressão (talvez ao perceber as boas intenções os erros não te prejudiquem tanto). Se concordamos que o ideal é causar a melhor impressão possível, temos que concordar que não podemos medir o outro por aquilo que NÓS pensamos, até porque, vocês sabem, nós Impopulares somos minoria. Sempre.

Se queremos causar uma boa impressão mirando no objetivo final do jantar, temos que pensar com uma cabeça genérica, antevendo eventuais problemas. Lamento informar mas a maior parte das pessoas é chata, injusta e hipócrita. Mesmo que a pessoa diga “Pode pedir o que você quiser”, não duvido nada que esteja te julgando, te avaliando pelo pedido. Não apenas pelo preço, mas também pelo grau de sofisticação do prato, pela forma como você segura os talheres e por vários outros fatores. É escroto? Pra caralho. Acontece? Pra caralho.

Então, sabendo que existe um risco considerável de que o prato pedido defina quem você é (ao menos em parte), não custa nada agir de acordo com a adequação. Um jantar não é momento de dar tapa na cara da sociedade, é momento de se esforçar para obter o resultado final pretendido. Se você pagar de rebelde e sair peitando o senso comum, por mais idiota que ele seja, o prejudicado será você, apenas você. Não se dá soco de cima para baixo. Quer romper regras que você considera idiotas? Espere para fazê-lo quando estiver por cima (ou escreva um blog com um pseudônimo), pois se você o fizer quando estiver em uma condição de “convidado” de alguém, vai parecer arrogante, aproveitador, escroto e abusado, mesmo que não seja esse o caso. Adequação, minha gente, adequação. É chato mas é necessário.

Mas Sally, medir uma pessoa pelo prato que ela escolheu é medíocre!”. E você acha que a maior parte das pessoas são O QUE? Mentes brilhantes e sofisticadas? A realidade é essa! Não adianta, por mais incorreto que seja, as chances de alguém fazer um mau juízo de você caso peça um prato com preço extremado existem e não são pequenas. Vivemos em uma sociedade onde se julga a mulher pela roupa, o homem pelo carro, a competência pela marca do celular e a beleza pelo tamanho da bunda. Cêjura que ainda espera discernimento de alguém? É assim que as coisas são: pessoas nos julgam o tempo todo por aquilo que ELAS acham que nós aparentamos ser, com base em critérios idiotas. Ou você entra na dança e faz o jogo para conseguir o que quer ou dá tapa na cara da sociedade e se fode todo.

Nesse caso específico, eu prefiro jogar o jogo, porque não é nada tão grave escolher entre dezenas de pratos com preço na média. Não é um sacrifício exorbitante não comer trufas. Como o prejuízo é quase que inexistente, acho que compensa tomar esse pequeno cuidado para elidir qualquer risco de uma interpretação errada que vai me queimar, afinal, eu sei que a sociedade não pensa com a minha cabeça. Felizmente. Ou Infelizmente, não sei.

Custa fazer uma escolha um pouco mais restrita para em troca não correr o risco de ter sua imagem chamuscada? Não custa. A menos, é claro, que você seja mais teimoso do que uma mula empacada, aí custa muito…

Para desistir de convidar o Somir para jantar, para dizer que mulher que pede prato caro é interesseira ou ainda para dizer que na Cacau Show a trufa é baratinha: sally@desfavor.com

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Comments (26)

  • Pede logo o que tu queres! Se a pessoa te convidou para jantar, presume-se que ela não está nem aí para o que vai gastar. Ademais, um convite para uma janta entre pessoas sem qualquer afinidade, nada mais é que uma tentativa de obter alguma vantagem do convidado, seja nos negócios ou na cama…

    Logo, penso que de nada adianta ficar fazendo cú doce na hora de escolher o que comer, pois, o seu anfitrião está pouco se lixando com a conta, o que ele realmente quer é desfrutar de alguma relação que possa beneficiá-lo, ou, na maioria das vezes, te comer! Haha.

    E digo mais, não vão ser R$ 50,00 para mais ou para menos, que vão fazer a pessoa perder o interesse em você.

    • Não se presume isso não. Essa é a SUA forma de pensar, que não necessariamente corresponde ao comportamento da maioria

      • Na verdade corresponde sim. Não é nem mais questão de ganhar a discussão, é passar a informação correta para as pessoas.

        O anfitrião “pouco íntimo” realmente não liga para a conta na maioria das vezes. É parte do jogo… Concordar ou discordar é uma coisa, ignorar o fato é outra.

        • Chatonildo Somir,

          Você tem uma pinta de ser pão duro pra caracas!!…Essas suas “regras” parecem mais valer para quando você é convidado do que quando você convida.

          Se eu convidar a pessoa pra jantar… eu faço o seguinte:

          Não digo que vou pagar… se ela se comportar como pinto no lixo, quando vier a conta…. vai dividir tudo o melhor, vamos pagar em separado. Se ela se comportar como uma pessoa normal, não esfomeada e coerente…. eu pago a conta.

          • Na verdade, eu baseio minhas “regras” na experiência acumulada nessas situações, frequentemente como quem convida.

            Correndo o risco de parecer machista (o que é sempre divertido), estou percebendo que mulheres tem pouca ou nenhuma experiência de vida com o lado de quem convida.

      • É evidente que é a minha forma de pensar e, ao menos que você trabalhe no IBGE, não diga que não corresponde ao comportamento da maioria, essa é a SUA opinião…

  • Gourmand de sunga

    Jantar de negócios: o cara quer te bajular pra fechar negócio, vai recuperar o investimento depois. Peça o que quiser comer, do jeito que o Somir sugeriu.

    Jantar de interesse sexual: o cara quer te bajular para ter sexo (com ou sem prosseguimento amoroso). Se você só quer sexo com ele, pedir o prato mais caro é uma boa; se você estiver apostando em criar uma boa imagem para ver se ele se interessa em manter um relacionamento estável, aí a dica do valor médio é boa. Não garante nada, mas como não há nada que garanta, vale tentar.

  • Dividindo ou não dividindo eu pediria o meio termo, sem dividir então é uma puta sacanagem. A pessoa legal, que eu tenha consideração me chama pra sair e eu dar um preju dos diabos? Não rola!

  • Acho coerente olhar o preço…pode dar uma de desentendida e sugerir um prato caro, ai dependendo da situação, aceita-se ou não. Sempre dá para dar um jeito, usando o bom senso.

    [OFF] Deep web Sally…vi que em 2011 vc tocou no assunto. Acho que tá na hora de entrar.

    • E se dividir a conta não for uma opção? Se você TIVER QUE aceitar que a outra pessoa pague, caso contrário estará se portando de uma forma inadequada?

  • Para quem viu em especial Siago Tomir – Na churrascaria, a posição do Somir nesse tema é quase que “chover no molhado”. Já quanto a Sally, a postura adotada é previsível dado que ela tenta manter muitas vezes uma postura comedida e até mesmo defensiva em nome de manter as aparências para o seu próprio bem.

    Não tomo nenhum dos dois por errado em suas posições, até porque é uma questão que vai de cada um e a depender, pode ser que uma pessoa adote ora um comportamento, ora outro.

    De qualquer forma, não foi nenhuma surpresa o posicionamento quanto a questão tratada hoje no “Ele disse, ela disse”.

    • Eu também acho sacanagem dar uma “facada” na pessoa pedindo o prato mais caro. Não tem necessidade, dá para comer bem sem pedir o prato mais caro…

      • Não sei nem por que me dou ao trabalho… mas… o tema NÃO era pedir o prato mais caro, era pedir o que a pessoa bem entendesse.

  • Tenho o desprazer de conhecer gerentes que gastam por mês em refeições no corporativo o mesmo valor que eu recebo de salário. Conheço esse mundinho sujo mais do que eu gostaria. Então eu tendo a concordar com o Somir, na maioria das vezes é só uma desculpa pro próprio executivo ir comer fora. Apesar de que sinto um nojinho muito grande de quem faz isso, tanto que já recusei alguns convites.
    Mas se eu percebesse que não se trata de mera desculpa pra executivo jantar/almoçar fora eu me portaria de forma mais parecida com a Sally.

    • Tb acho que depende… Se perceber que a pessoa está se financiando com a empresa ou se eu sei que a pessoa tem realmente uma condição financeira boa, peço o que eu tenho vontade.

      Se eu não souber qual é a condição da pessoa, pergunto o que ela vai pedir ou peço uma sugestão do cardápio. Dependendo do que ela me der de “dica” peço o do meio, o mais barato, o que eu tenho vontade, enfim…

      Acho que outras coisas também contam para um julgamento como a postura quando vai pedir (é fácil reconhecer o morto de fome), a necessidade de pedir todos os pratos do cardápio (entrada, salada, principal, queijo, sobremesa, café e água importada), continuar comendo numa vibe Somir-na-churrascaria mesmo quando a pessoa claramente não aguenta mais…

      E tem o outro lado da “moderação”: se a pessoa escolheu aquele restaurante específico, ela tem noção da faixa de preços dos pratos. Pedir macarrão no Antiquarius, por exemplo, eu acharia estranho. Ou a pessoa nunca foi/ nunca ouviu falar/ não conhece, ou eu errei feio na escolha do lugar e a pessoa não gosta de nada do cardápio.

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