Desfavor da semana: Casamento intocável.

ds-casaintoca

O Congresso está em fase final de elaboração de um estatuto que prevê alterações tanto no Código Civil, dando direito a deficientes intelectuais a se casarem sem ter autorização dos pais ou da Justiça, quanto na Lei de Cotas, com a inclusão de pequenas e médias empresas na obrigação de empregar pelo menos um deficiente. FONTE

Ok, não é lá a notícia mais urgente da semana, mas se a gente aqui não falar disso, ninguém mais vai ter coragem. Desfavor da semana.

SOMIR

Agora é deficiente intelectual? Ótimo! Então eu vou me apropriar do termo “deficiente mental” para me referir a quem vota no Lula e dá dinheiro para igreja! Deficiente mental é quem nem desculpa fisiológica tem para o atraso. Mas não estamos aqui para divagar sobre isso… Falemos dos deficientes intelectuais em vias de receber o direito de se casar quando quiserem!

Não sei se só eu pensei nisso na hora, mas… Deficientes intelectuais vão poder se casar antes dos homossexuais! Sem regras malucas, sem necessidade de batalhas judiciais… só escolher um parceiro e casar! Isso diz muito sobre as prioridades malucas de um país legislado por oportunistas, corruptos e/ou completos incompetentes. Cagam e andam para o bem estar da população, só querem botar no currículo projetos que angariem simpatia de potenciais eleitores. Ou que no mínimo os protejam de qualquer potencial crítica.

Quem vai ser o escroto que vai ser CONTRA dar mais direitos a pessoas com deficiência intelectual? Pega mal. Além disso, temos uma raivosa classe de pais amargos com a vida prontos para transformar qualquer discordância em guerra santa. Ninguém mexe com os “iluminados”. Nem mesmo se você estiver genuinamente preocupado com o bem estar deles.

Talvez a deputada responsável pelo projeto esteja advogando em causa própria, porque jogar pessoas com considerável atraso intelectual na vala comum do casamento é uma ideia no mínimo… retardada. Tanta é a sanha de pagar de defensora dos fracos e oprimidos que nem mesmo pensar que essa seria uma medida análoga a liberar casamento para crianças passa pela cabecinha de vento de quem escreve o projeto.

Casamento já é uma ideia deficiente por natureza, um contrato social glorificado, útil basicamente para definir heranças, partilhas de bens e guardas sobre filhos. Todas coisas que fazem xixi na mão de deficientes intelectuais… As limitações atuais não existem para oprimir, e sim para proteger.

Pode-se argumentar que atualmente temos formas mais inteligentes para lidar com essas pessoas, com um bem-vindo aumento de participação e inclusão na sociedade. Deficiente intelectual não se esconde num porão, com mais estímulos “de adulto”, eles tendem a reagir de forma positiva e encontrar espaços para fazer sua contribuição para o mundo. Bacana! Ótimo! Mas… não vamos colocar o carro na frente dos bois.

Ou a deficiência intelectual existe ou não existe. Se ela existe, é escroto cobrar demais de quem a tem. Em sociedades mais humanistas e igualitárias, entende-se que é justo e nobre dar condições especiais de participação para que pessoas com deficiências físicas ou intelectuais consigam ao menos encontrar um lugar digno na sociedade. Se sai um estatuto descrevendo essas condições especiais para o grupo dos deficientes intelectuais, então é incoerente tratá-los como se não fossem um caso à parte, oras.

Casamento, como todo contrato, tem cláusulas que podem ser usadas contra quem o assinou. É essencial que a pessoa entenda o compromisso que está firmando ou que pelo menos presuma-se que não tem nada muito além de sua compreensão nos termos do contrato. O dia em que eu vir um deficiente intelectual ficando rico assinando bons contratos (Eike Batista é um deficiente mental segundo minha nova terminologia, e tem diferença!), até posso mudar de ideia, mas na situação atual é basicamente como entregar um formulário de imposto de renda para uma criança! É mais informação que a pessoa tende a absorver.

O mesmo se diz sobre o voto. Num país onde o voto é levado tão a sério que a maioria das pessoas é obrigada a votar para ser considerada cidadã, não parece coerente que pessoas com claros atrasos de compreensão da realidade ao seu redor possam partilhar do ato. Mas, PT no governo há mais de uma década… o voto dos deficientes intelectuais seria um peido no mar de merda do sistema político atual.

E o pior é a constatação que críticas ao projeto provavelmente só se encontrará por aqui. A aparência de politicamente correto já é muito mais importante do que preocupação com lógica, justiça e bem estar social. Casamento livre de deficiente intelectual parece e é uma ideia cretina. Não precisa ter medo de constatar o óbvio. Pode ser que não passe nada dessa proposta, mas o problema é que a pessoa que sugere uma asneira dessas não vai receber as necessárias (e democráticas) críticas.

Até porque o pior preconceito é o velado. O motivo de acharem que qualquer crítica orbitando o universo dos deficientes intelectuais é uma crítica direta aos deficientes intelectuais só explicita como a maioria das pessoas sempre olha para um deles se coçando para falar mal. Projeção pura: “Eu quero meter o pau, então todo mundo também quer”.

Se eu tivesse alguma bronca contra deficientes intelectuais, eu com certeza aplaudiria a ideia deles se casando. Casamento a gente não deseja nem para o pior inimigo…

Para dizer que ficou impressionado com a finesse dos textos (para o padrão desfavor, é claro), para dizer que já precisa ser deficiente intelectual para se casar, ou mesmo para dizer que desde que os gays não se casem você acha tudo lindo: somir@desfavor.com

SALLY

Da última vez que escrevemos sobre um assunto relacionado (deficientes mentais fazendo filhos) choveu ameaça de processo e até mesmo de morte. Como sempre, o processo não veio. Mas não custa continuar tentando, um dia, quem sabe, a gente realiza o sonho do processo próprio. Será um prazer falar novamente sobre o assunto e receber mamães furiosas porque alguém finalmente falou uma verdade em vez de se portar com uma pena condescendente. Pode xingar, a gente aprova todos os xingamentos nos comentários.

Ao assunto. O Congresso elaborou um Estatuto que prevê uma série de alterações em diversos dispositivos legais que afetam diretamente a vida de deficientes. A relatora é a deputada federal Mara Gabrilli (PSDB-SP) e o projeto se encontra em fase de conclusão. Raramente a gente fala sobre meros projetos, até porque, quando eles são teratológicos como esse, sabemos que há grandes chances de não passarem ou serem sistematicamente “emendados” gerando inúmeras votações. Mas com este é diferente, este envolve “intocáveis” e qualquer vírgula que se coloque em sua oposição gerará uma presunção de preconceito e discriminação, gerando histeria social. Mas, como a gente tem prazer em dizer o que mais ninguém diz, lá vamos nós para mais uma rodada de xingamentos e ameaças.

Algumas alterações são bem interessantes e produtivas, mas duas me chamaram a atenção: pessoas com deficiência intelectual (ou mental, ou sei lá qual é o termo autorizado no momento) poderão VOTAR e SE CASAR sem precisar da autorização dos tutores ou da justiça para isso.

Antes de qualquer coisa, uma pinceladinha de direito aqui. Em se tratando de deficientes mentais, as medidas restritivas não são punitivas e sim PROTETIVAS. Não é que não de dê certos direitos ao deficiente por preconceito ou para praticar bullying. O legislador entendeu que este grupo precisa de uma proteção especial por ter seu discernimento comprometido. Por isso precisam da autorização de tutores ou do Judiciário para praticar alguns atos, justamente para sua proteção, para evitar que sejam enganados ou sacaneados por oportunistas. Querer dar “direitos iguais” a quem tem uma desigualdade intelectual significativa é sacanear esta pessoa. É de uma burrice e uma crueldade sem precedentes. Um ser humano com deficiência intelectual precisa sim de proteção e precisa sim de restrição em alguns atos que pessoas comuns podem praticar de forma autônoma.

Dito isto, voltemos ao assunto. Permitir que uma pessoa com deficiência intelectual se case sem a autorização dos pais ou do Judiciário é um convite a interesseiros, oportunistas e golpistas. Não é inclusão, é sacanagem mesmo. Veja bem, isso já acontece com pessoas que, teoricamente, tem o discernimento intacto. Imagina uma pessoa com uma deficiência intelectual! Se estando 100% a gente já faz muita merda que se arrepende, o que vai acontecer com quem está em condição de desvantagem mentalmente falando?

A única forma de defesa que havia era condicionar seu casamento à aprovação da família (que geralmente são seus tutores), pois estes, com discernimento intacto, poderiam filtrar oportunistas inescrupulosos e impedir que o deficiente seja alvo de um golpe ou qualquer outro tipo de sacanagem. Mas não, apareceram com essa novidade agora. Se o deficiente intelectual se encantar por alguém e quiser casar, o Poder Legislativo diz que não tem problema. Imagina o quanto não vai custar para uma interesseira “se apaixonar” por um deficiente mental rico e fazer a cabeça dele para se casarem? Imagina quantos não serão manipulados e levados para longe de sua família que os ama e os criou?

Daí vem outra consequência: os filhos. Porque quando o deficiente mental está sob a tutela da família, debaixo do seu teto, é possível controlar melhor a situação. Mas após o casamento, fica mais complicado. Não demora muito para que a(o) alpinista social meta um filho no cônjuge e com isso gere para o deficiente mental a obrigação de pagar pensão pelas próximas duas décadas, obrigação esta que fatalmente recairá nos pais do deficiente, uma vez que dificilmente ele terá condições de prover seu sustento e o de uma criança. Legal, né? E se houver não pagamento de pensão, vão prender o deficiente? Muito legal. Parabéns aos envolvidos.

E o que dizer de deficientes mentais votando? Serei forte e vou resistir à piada pronta de dizer que esta já é a realidade do país faz tempo. Eu vou deixar passar. Voto é (ou ao menos deveria ser) uma atividade intelectual. É necessário um mínimo de cognição, de compreensão da realidade, de estudo e de informação para escolher um candidato. Não é exigível que uma pessoa com deficiência cognitiva tenha aptidão para entender o cenário político e as plataformas de cada partido e cada candidato. Muito menos que acompanhe a vida pregressa de cada um e selecione aquele cuja ideologia e ética mais se coadunam com os seus valores. Tão de sacanagem, né? Só podem estar de sacanagem.

Espero que todos percebam que não estamos “menosprezando” pessoas com deficiência intelectual. São seres humanos que merecem respeito e felicidade, porém querer atribuir-lhes responsabilidade justamente na área em que eles tem um déficit é sacanagem. Uma pessoa com deficiência intelectual pode ser um brilhante pintor, muito melhor do que o resto da humanidade, mas, por favor, escolher quem vai governar o país não. Porque esta escolha afeta a todos nós. Você entraria em um carro onde um cego está dirigindo? Pois é, é isso que este Estatuto bizarro faz com a gente: coloca gente sem discernimento para escolher quem irá nos conduzir.

Sério mesmo, só a gente acha aberrante que isso sequer esteja sendo cogitado? Pelo visto sim, porque há um incômodo silêncio a respeito desse assunto, ninguém quer falar sobre o elefante branco que está no meio da sala. Culpa dessa sociedade histérica que se ofende quando apontamos que deficientes tem limitações, como se ter limitação fosse ofensivo por si só. O ofensivo é dizer que deficientes não tem qualquer função social. Limitações todos nós temos. E confere muito mais dignidade ao deficiente que se reconheça seu valor reconhecendo também a limitação, se não fica parecendo que ele só é valorizado porque se está negando sua deficiência.

Se pode votar, pode casar e pode ter filhos, então dá licença, mas tem que poder ser responsabilizado criminalmente também. É para surtar na inadequação? Vamos colocar o pacote todo, os direitos e os deveres, assim da próxima vez que um Fernandinho engatar em mim rola delegacia de polícia. Me poupem, o Brasil está cada vez mais ridículo!

Para fazer alguma piada inevitável entre o brasileiro médio e deficientes mentais, para dizer que talvez o nível dos políticos melhore ou ainda para prever mais uma enxurrada de cotas: sally@desfavor.com

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Comments (24)

  • E o desfavor da Mara Gabrilli merece destaque especial aqui, em especial tendo em vista que desde que sofreu um acidente de carro há uns 30 anos atrás, ela ficou tetraplegica.
    Entrou na política e foi de deputada a senadora por São Paulo, além de ser vice na chapa da Tebet na eleição de 2022.

  • Sally, uma coisa que me questiono: será que a mídia tem sei lá, algum poder secreto, estratégia, pó de pirimpim pim ou algo do tipo pra que se dê atenções a algumas notícias e não a outras? Como explicar esse fenômeno: todo mundo dando atenção à cura gay e outras coisinhas por aí, enquanto essa notícia relatada não circula por aí? Bahh…

    • Isso se chama marketing. Colocar uma manchete enorme no centro da página com letras garrafais e uma foto que atraia a atenção. Esse e outros artifícios são usados o tempo todo para encorajar algumas notícias e desencorajar outras. Até com o tamanho da fonte os putos mexem.

  • Muito medo do futuro cada vez mais sombrio desse país vendo coisas como essa acontecendo…Daqui a pouco eles vão poder se eleger também, e já pensou o que acontece? Vai um lá botar um deficiente intelectual como “laranja” enquanto por trás é capaz de ter um filho da puta inescrupuloso mexendo os pauzinhos em proveito próprio.Cada vez mais eu me convenço que a opção(pelo menos pra mim) é ir embora dessa bagaça o quanto antes.

  • Não acredito que isso esteja mesmo acontecendo… Dá medo pensar no que isto aqui pode virar se as coisas continuarem caminhando nessa direção. Assim como também não acredito que não vi nenhum outro meio de comunicação – oficial ou alternativo – mencionando esse assunto…

  • Eu vou votar exatamente no político que vai me permitir casar! Tem uma gostosa me dando mole e meus pais ficam dizendo que ela só quer o dinheiro, imagina…
    Debilóide tem, né! Debilóide precisa votar e se casar.

  • Eu axo qui vosseis saum um bando di mau amados com enveja! Casamento de defiçiente intelequitual é uma bença!

    Agora falando sério, nenhum médico corajoso vai se habilitar a explicar cientificamente as limitações dessas pessoas de uma maneira prática, nua e crua?

    Se bem que olha…do jeito que o sistema eleitoral vai, capaz de os ”especiais” votarem em candidatos menos piores que o povaréu em geral! Vai ver eles têm mais discernimento que a creyça da calça jeans (http://www.youtube.com/watch?v=_iyopqgS_Og).

  • Estão cagando com a proteção do Estado aos vulneráveis. Daqui a pouco vai ter lei cobrando cota para cegos nos cargos de motorista. Uma coisa é limitar o acesso das pessoas a situações que elas seriam capazes de lidar, outra é jogar aos leões, do tipo “se fode aí!”. Eu tenho medo da evolução do politicamente correto, porque o comum é surgir uma tendência oposta com o mesmo grau de ignorância, tipo um neo-fascismo, para compensar.

    • O discurso politicamente correto é praticamente intragável em um país injusto como o Brasil, mas como a política brasileira é calcada no clientelismo e no fisiologismo, cooptar militantes que possam trazer problemas e dar regalos a título de “preocupação com o bem social” é uma forma fácil e sorrateira de marcar espaço no jogo político com base na política do menor esforço.

      Minha preocupação maior é com os fanáticos, que além de serem “os tolos maiores”, ainda são verdadeiros macacos com navalha. Uma discussão política com tais grupos é algo quase que no nível de tatibitati e ainda assim, se precisa ter cuidado pra não ter tal turma contra você, pois essa turma tende a levar eventuais críticas pro lado pessoal.

      • ” Uma discussão política com tais grupos é algo quase que no nível de tatibitati e ainda assim, se precisa ter cuidado pra não ter tal turma contra você, pois essa turma tende a levar eventuais críticas pro lado pessoal.”

        Já tentou fazer pra eles um teatrinho de fantoches com uma meia em cada mão?

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