Bandidos da fé.

Aqui a gente fala mal de religião, mas sabemos separar misticismo genérico de gente usando fé para acumular dinheiro e poder. Sally e Somir concordam que atualmente os evangélicos tem mais expoentes dessa banda podre, mas não enxergam o mesmo diabo no fundo desse inferno. Os impopulares acreditam (ou não).

Tema de hoje: quem é o pior, em matéria de danos que causa para a sociedade, entre todos esses pastores evangélicos e bispos?

SOMIR

Eu vou de Silas Malafaia. Eu entendo a escolha da Sally, mas eu percebo uma diferença considerável entre o foco essencialmente lucrativo de Macedo e o mais político de Malafaia. Vejo mais mal sendo feito pela minha escolha hoje.

Não mudo minha tese que os bispos evangélicos do neopentecostalismo são o mais próximo do anticristo já criado na sociedade ocidental, afinal, distorcem as poucas coisas boas ainda presentes na fé cristã em busca de vantagens pessoais, custe o que custar para o bem da sociedade em geral. É gente que vai explorar miserável sem nenhuma vergonha na cara, tentando deixá-los cada vez mais pobres, raivosos e preconceituosos para aumentar sua capacidade de controle.

Se Jesus fosse real e voltasse, eu tenho certeza de que botaria fogo nos dois assim que pisasse no Brasil. Mas dentro desse eixo maligno, existem graus. Eu enxergo Silas Malafaia como pior porque ele enfiou os dois pés na política, talvez até por perceber que no campo dos negócios Edir Macedo é imbatível.

Percebendo que o seu público-alvo realmente gostou dessa brincadeira de adorar Bolsonaro, ele foi além do apoio pelas pautas conservadoras, virou bispo de político. Quem organizou o maior evento recente dos bolsonaristas foi ele, e fez questão de estar lá com seu “deus de aluguel” diante da multidão e pegar emprestado o poder de direcionar a massa para seus objetivos pessoais.

Edir Macedo ainda percebe mais vantagem em manter sua religião voltada para Cristo, mas Malafaia pulou para o barco do bolsonarismo, aproveitando a massa de fiéis que se formou ao redor do ex-presidente. Sozinho, Bolsonaro é limitado e francamente, muito mesquinho para se importar com a escala de poder de uma teocracia. Ele quer levar vantagem, fazer rachadinha, vender joia que ganhou de presente e usar cartão corporativo. Tem limite na ambição, provavelmente limite intelectual mesmo.

Mas Malafaia é alguém mais ambicioso, ele percebe o potencial de ter uma massa desesperada seguindo seus desígnios, e já que Bolsonaro deixa essa brecha disponível, ele resolveu ocupar o espaço. O neopentecostal raiz que só está nessa para transformar dízimo de favelado em carrão achou um ponto de equilíbrio entre renda constante e complacência do Estado. Políticos não correm atrás das suas práticas claramente estelionatárias, e ainda por cima dão vantagens fiscais polpudas para angariar apoio nos cultos.

Isso parecia ser agradável para a maioria dos evangélicos com fins lucrativos, mas eu aposto que a concorrência pelo dinheiro suado dos fiéis chegou num ponto que exigiu diferenciais competitivos. Não bastava apenas berrar com uma Bíblia em mãos, precisava achar algo que realmente animasse o povão. Macedo foi um dos primeiros a relaxar as regras do protestantismo no Brasil, criando uma escola de fé fast-food, onde você pode fazer basicamente o que quiser e pagar pelo perdão no culto.

A Universal saiu tão na frente que gerou uma série de imitadores, e o mercado é largo o suficiente para sustentar muitas grandes empresas por algum tempo. Só que todas as frutas nos galhos baixos já foram colhidas: agora as igrejas neopentecostais precisam disputar fiéis. Macedo começou o jogo político para aumentar sua capacidade de escapar de impostos, mas Malafaia percebeu que podia ir além.

As pautas conservadoras funcionavam muito bem com o povão, um misto de frustração com a bonança que não veio da globalização misturada com os exageros muito públicos dos mais progressistas. Como esses não controlaram seus malucos, eles chamaram tanta atenção que criaram todo um mercado de conservadorismo na sociedades ocidentais.

Macedo continuou com seu foco comercial, Malafaia percebeu que tinha muito o que explorar em angariar poder político em cima dessa massa de descamisados que cismou que gays eram o motivo de faltar dinheiro na conta no final do mês. E pelo discurso dele, percebe-se que não tem nenhuma restrição a explodir o funcionamento da sociedade moderna se isso for vantajoso para ele.

Se o Brasil virar o Afeganistão, tudo bem, porque quem depende de uma economia livre é o Macedo, Malafaia já fez o cálculo que não tem problema um Estado falido se ele puder ser ou estar do lado do grande líder. Todo shithole tem pelo menos uma casta privilegiada que vive em condições maravilhosas em comparação ao povão miserável. Direita ou esquerda, tanto faz, se o povo for fraco os líderes vivem como reis.

Malafaia vai apostar sem medo de perder porque confia que vai estar do lado dos reis, Macedo por sua vez, já tem o seu império funcional dentro do modelo democrático, ele tem muito a perder. Inclusive eu até acho Macedo menos pior porque ele tem potencial de continuar desvirtuando a fé cristã para ganhar mais e mais dinheiro, o que eu já disse antes aqui, é a minha teoria de como os evangélicos não vão se tornar problemáticos demais se a coisa continuar como está: é mais fácil deixar todo mundo fingir que é cristão e continuar fazendo as mesmas coisas de sempre. O povo só precisa ser cozinhado lentamente para abandonar mais e mais preceitos da sua fé.

No mundo que Macedo ganha, a religião cristã tolera tudo porque é mais lucrativo, e se mantém próxima da política pelo mesmo motivo que outras grandes empresas se mantém próximas da política: para reduzir impostos e manipular leis para ganhar mais dinheiro. Eles não vão querer explodir o Estado inteiro se as coisas já estiverem funcionando.

No mundo onde Malafaia ganha, pode botar fogo em tudo porque do ponto de vista de quem controla o povo pela força ou pela fé, a riqueza continua ao lado dele independentemente se o resto da população sofre ou não. Como eu vejo hoje, os planos de Macedo dependem do mundo secular muito mais dos que o de Malafaia.

Para dizer que o povo ia adorar outra merda no lugar, para dizer que é tudo dinheiro no final das contas, ou mesmo para dizer que a Igreja Católica é sempre pior (hoje em dia?): comente.

SALLY

Quem é o pior, em matéria de danos que causa para a sociedade, entre todos esses pastores evangélicos e bispos?

Que difícil, a maioria é deplorável, cada um no seu estilo… Levando em conta um somatório de fatores, eu acho que o pior é o Bispo Macedo.

São vários desfavores embutidos em uma pessoa. Para começo de conversa, foi o Macedão quem pavimentou essa grande estrada do estelionato religioso pela qual todos os demais trafegam hoje. É dele o modelo, é dele a execução, é dele o pacote todo que serve de estratégia até hoje. Hoje a Igreja Universal do Reino de Deus tem mais de 8 milhões de fiéis em mais de 180 países.

O cara é bom no que faz. Não que seja boa pessoa, mas é bom em criar uma fábrica de explorar desempoderado. Ele construiu um império, comprou até veículos da mídia, algo que, além de custar caro, ainda é proibido pela lei.

Para quem não sabe, a Constituição (se bem interpretada), não permite que entidades religiosas ou seus líderes sejam donos de canais de televisão ou rádio. Macedão tem 23 emissoras de televisão, 40 de rádio, dois jornais de circulação diária, além do jornal da IURD. Não tem como um sujeito desses não ter uma enorme influência.

Além disso, ele exerce uma enorme influência na política. No Brasil, um Estado Laico que tem uma Frente Parlamentar Evangélica (ou Bancada Evangélica), boa parte de seus membros bate continência para Edir Macedo.

E não é só isso, ele emplacou vários líderes de sua igreja em cargos políticos relevantes, como é o caso de Marcelo Crivella, que, entre outras coisas, já foi Prefeito do Rio de Janeiro, Ministro (do governo Dilma, tá?) e Senador Federal.

Quando ele inaugurou seu mega-templo (Templo do Rei Salomão, o maior espaço religioso do Brasil), em 2014, ficou bem claro o tamanho de redes de contato e de proteção que possuí. Procura a lista de políticos que compareceram para prestigiar o evento e você vai ver que não foi apenas a bancada evangélica. Só para citar alguns: Dilma, Temer, Haddad e Alckmin estavam lá, aplaudindo e elogiando. Os mesmos que depois foram votados por quem “não quero político que prestigie evangélico”.

Esse somatório de dinheiro, poder de manipulação das massas e influência entre políticos e empresários lhe dá não apenas muito retorno financeiro, como também certeza da impunidade. O que ele já fez, já disse e já abusou do sistema não é brincadeira. Já chutou santa ao vivo em programa de tv, já respondeu a inúmeras ações judiciais com acusações como charlatanismo, curandeirismo, lavagem de dinheiro, fraude fiscal, associação criminosa e coisas até piores e sempre foi inocentado.

Ele já foi denunciado publicamente por fiéis lesados e até por pastores que saíram da IURD, com uma riqueza de provas que vão desde documentos até vídeos. Ele mesmo já ofereceu inúmeras provas contra si mesmo de atos criminosos como intolerância religiosa.

Vazou vídeo dele ensinando como pedir dinheiro e enganar os fiéis, no qual se vê uma clara má-intenção e crueldade. Durante a pandemia, ele incentivou os fiéis a saírem às ruas sem máscara dizendo que só pegaria doença quem não fosse temente a Deus. É um Megazord de crimes.

E nada acontece. Chegou a ser preso muito tempo atrás, por pouquíssimo tempo, mas a situação foi rapidamente revertida. Está impune. E nada vai acontecer. É um bispo que transita muito bem entre a esquerda e a direita, então, não importa qual seja o governo, ele é sempre agraciado, ele sempre recebe benefícios, ele é sempre intocável.

Eu sinceramente não vejo muita diferença ideológica entre bispos evangélicos, acho que o que muda é a alegoria da qual revestem suas mentiras. Então, partindo da premissa que são mais ou menos a mesma merda criminosa, o pior é o que tem mais habilidade, mais poder, mais alcance. E que, além de tudo, hoje é macaco velho, muito safo, experiente e malandro.

Macedão escolhe as batalhas dele, ele não fica brigando com Felipe Neto em rede social como Silas Malafaia. Isso o torna perigoso, pois ele quase sempre voa abaixo do radar. Enquanto Valdemiro fazia o Pilha e era flagrado com escopeta em blitz, Edir Macedo tenta se manter low profile.

Nem sempre conseguiu, mas a julgar pela quantidade de merda que fez e pelos 45 anos de IURD, era para estar muito mais visado, investigado, queimado e certamente preso. Já reparou que nem a imprensa foca em cacetar ele? O sujeito é muito bom em se blindar, o sujeito é duro na queda.

Além de tudo isso, a capacidade de se reinventar é surpreendente. Quantas pessoas você conhece que faturam bilhões com o mesmo modelo de negócio por mais de quatro décadas e adaptam esse modelo a todas as mudanças sociais? Macedão sobreviveu a tudo, ele foi desde um tempo no qual se pregava por rádio e Tv até internet e chatgpt e continua eficiente. Sim, até pastor evangélico precisa se atualizar, oferecendo conteúdo online e aceitando dízimo no Pix. Esse sujeito, meus amigos, é um perigo.

E nem carismático eu acho que ele seja. Não é simpático, não é bonito, não gera afinidade com o povo. Conquistou na raça mesmo, no firme propósito de arrancar dinheiro de pobre. Aquilo ali é ambição pura, uma máquina. Eu tenho medo de gente assim, obstinada o suficiente para fazer qualquer coisa, até mesmo ouvir ladainha de brasileiro médio em troca de dízimo.

Ele é o que existe de maior em matéria de estelionato, impunidade e manipulação. Não vejo hoje outro pior do que ele.

Para dizer que seremos processados pelos bispos (será uma honra), para dizer que a pior é a Flordelis, que ainda mata ou ainda para dizer que precisamos escutar a palavra do Senhor (pode ser, mas sem intermediários): comente.

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Comments (10)

  • Macedão, fácil. Malafaia é um estelionatário da fé oportunista até a medula, mas a estrada que ele segue foi pavimentada pelo Edir.

    Além disso a ambição do Macedão faz o Malafaia parecer um bostileiro médio que se regozija em um “hihi levei vantagem” ao usar um caixa automático de mercado e conseguir levar alguma pequeneza sem pagar.

  • Como não tem Mablo Parçal, eu vou de Pedir Maiscedo.

    Malacheia parece ter uma obsessão com gays, mas Maiscedo já falou abertamente que mulheres não deveriam estudar mais que o homem para não “fugir do chamado de submissão”.

    Não que Malacheia não tenha seus delírios sexistas, mas o alcance dele é menor. Você falar sobre tirar autonomia de uma minoria já é ruim, agora sobre metade da população?

    Universal inclusive se faz presente em outros países, Assembléia de Malafaia não tenho certeza.

    Os esquerdistas também focam muito no Malacheia por se associar mais com a política, a ponto de deixar o Maiscedo passar batido, e é nessas horas que as maiores merdas acontecem.

      • Tão praga que conseguiu o feito de tomar banimento em país africano e levar o governo brasileiro a apelar ao beija mão em favor dos interesses da “Igreja”.

    • Pablo Marçal, por mais merda que seja (um típico coach estelionatário), é um bostinha perto de Malafaia e Macedo.
      Se isso fosse uma competição, Marçal estaria na segunda divisão, competindo com o Wagner Thomazoni (um pilantra que usa da “lacração” pra se alavancar como influencer nas redes sociais), a Andrea Werner (outra pilantra, que se escorou no filho autista pra vender imagem de boa mae e consequentemente fazer carreira na politica, incluindo usar da questão do fornecimento da Risperidona, um remédio com fortes efeitos colaterais a ponto de levar crianças autistas à morte, com o objetivo de se autopromover, chegando a bloquear quem questionasse a jogada suja dessa “bolsominion de sinal trocado”) e os asseclas do Olavo de Carvalho na linha de Rodrigo Constantino, Allan dos Santos e Padre Paulo Ricardo por exemplo.
      Cabe lembrar que tem gente na verve neopentecostal defendendo o uso da Risperidona pra tratamento de pessoas com drogadição desconsiderando os efeitos daninhos desse psicotrópico, que é desaconselhavel o uso contínuo salvo em casos excepcionais, até porque o potencial de prejuízos psíquicos não fica muito a dever pra lobotomização, com a desvantagem que o medicamento ainda tem como efeito colateral fazer a pessoa engordar sem controle e desenvolver problemas de saúde correlatos a obesidade a depender do caso.

    • As articulações dos ministérios da Assembleia de Deus vem a partir dos EUA e eles tem base em mais países que a IURD, sendo uma denominação mais antiga, tendo suas bases remontando ao início do século passado. Por isso, os assembleianos são denominados PENTECOSTAIS e a IURD e denominações mais recentes na mesma linha, são denominadas NEOPENTECOSTAIS.
      O IBGE conta os assembleianos considerando a subdivisão por ministérios, o que resulta na situação esdrúxula de se considerar que a IURD teria mais seguidores que a Assembleia de Deus como um todo, sendo que o que de fato ocorre é o contrário. A proeminência da Assembleia no Brasil é tão relevante a ponto de quase metade da população protestante no país ser ligada a um dos ministérios da AD e o número de seguidores aqui ser algo próximo a metade do número de assembleianos pelo mundo afora.

  • “ou mesmo para dizer que a Igreja Católica é sempre pior (hoje em dia?)”
    Não mesmo, igreja católica atual só tem gente de meia-idade pra cima. A cada ano mais e mais gente nasce em famílias evanjegues ignorantes, muito mais perigoso.

    O Brasil dos anos 90 elegeu um presidente ateu, tratava nudez com naturalidade na mídia e mulheres famosas falavam abertamente sobre aborto (aquela famosa edição da Veja). Isso nunca mais vai acontecer.

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