Omissão Nacional.

Imagine que você está visitando outro país, pode ser qualquer um, mas funciona melhor se você pensar num mais civilizado e desenvolvido (o que ainda permite várias possibilidades!). Imaginou? Agora lembre-se que você veio do Brasil. Sally e Somir discordam até que ponto é interessante ser honesto sobre essa informação. Fronteiras abertas para os impopulares que quiserem opinar.

Tema de hoje: É válido omitir ou mesmo mentir que é brasileiro quando no exterior?

SOMIR

Eu sei que normalmente eu fico com o lado da omissão e da mentira nessas discussões, mas dessa vez eu não acho que ela traga vantagens suficientes. Então… não, não é válido omitir ou mentir nacionalidade brasileira em viagens para países estrangeiros. Mentira dá trabalho, então é bom guardá-la para ocasiões melhores.

Até porque ainda existem vantagens suficientes para contar a verdade nesse caso. Tudo bem que esse papo de que todo mundo adora os brasileiros é um exagero ufanista que a maioria dos países aplica para o próprio povo. Todo mundo se acha simpático e especial por nascer em uma determinada localização geográfica (por puro acaso). Humanidade, primeiro semestre.

A verdade é que na maioria do mundo o Brasil é basicamente irrelevante. Não cheira nem fede. Exceção feita à internet, onde somos justamente desprezados… Mas estamos falando sobre turismo “presencial” mesmo: Você num país diferente convivendo com os locais. E isso faz diferença.

Na prática, o estrangeiro médio é meio brasileiro médio também. Poucos realmente se importam com algo além de seus parcos conhecimentos sobre o mundo. Dizer que é brasileiro vai desencadear significados tão “neutros” na cabeça do gringo que vai ser bem mais fácil conquistar sua simpatia. Países que são ou já foram relevantes em escala mundial incutem em seus cidadãos uma série de mensagens e conceitos na cultura coletiva do planeta. O Brasil não é nem nunca foi relevante assim.

Claro que você vai acabar encontrando cabeças pensantes que sabem mais do que o combo “futebol, praia e bunda” sobre o Brasil, mas não se preocupe demais: Em qualquer lugar do mundo, os imbecis são a maioria. Melhor ser norueguês médio do que brasileiro médio, mas esse tipo de média não costuma ser suficiente para passar de ano. Grande parte das pessoas não vai ter cultura ou interesse suficientes para saber mais sobre o Brasil do que o básico do básico.

Nós sabemos que o Brasil é um país perigoso e injusto, mas pro resto do mundo somos pobres e ponto. Um brasileiro fazendo turismo ou negócios em outro país subverte esse conceito sem perder a presunção de povo alegre e INOFENSIVO. Isso mesmo, nada gera simpatia mais imediata do que ser inofensivo. O Brasil não entra em guerras, o Brasil não tem brigas violentas com vizinhos… O Brasil é neutro e pacífico no que tange a geopolítica mundial.

Países como os europeus ricos, os EUA, Rússia, China, Japão… esses sim mandam seus filhos para outros países com uma série de informações extras absorvidas pelos locais. São culturas mais fortes e desenvolvidas no quadro geral das coisas. Brasileiro tende a ser no máximo… exótico. Sabem tão pouco sobre o país… Muitos estrangeiros ficam surpresos ao saber que o Brasil não é só o Rio de Janeiro e que muitos de nós temos horror a esse famoso cartão postal.

Pra gente mais simples de outros países, falar que é brasileiro desarma reações negativas. No máximo em alguns países mais vira-latas da América Latina vão te olhar torto, de resto… E se você for lidar com gente mais educada e antenada, sorria: Seu país é pobre e é politicamente incorreto baixar a lenha em você! Vão ser ainda mais simpáticos e tentar fazer pose concordando com suas visões sobre seu país natal. É uma merda ser irrelevante para o mundo, mas não vem sem algumas vantagens.

Lógico, se você estiver lidando com nacionalistas raivosos, não é bom dizer que vem do Brasil, mas… não é bom dizer que vem de nenhum país que não o deles mesmo. Elas por elas. Ah, brasileiro também se aproveita da presunção de “amante latino”, seja você homem ou mulher, pode ajudar bastante na hora de conseguir sexo internacional!

Se você resolver omitir ou mesmo mentir essa informação, tem que pensar em qual nacionalidade vai acabar se encaixando. Com raras exceções, as pessoas que falam uma língua a vida inteira percebem em poucos segundos quando a outra tem sotaque estrangeiro. E vamos concordar que a língua portuguesa não abre muitas portas nesse mundo… Você vai acabar falando pelo menos um inglês tosco para se comunicar. E todo mundo vai perceber que você não é um local.

E aí, como não é ofensivo perguntar se alguém veio de outro país (pelo menos na grande maioria das culturas), vão acabar te colocando na parede. Vai fingir um desmaio? Não dá, tem que responder. Se vai mentir sobre ser brasileiro, tem que entender o que significa dizer que vem de outro: Ou fala um igualmente irrelevante como Argentina (foi mal, Sally, mas é verdade), ou igualmente inofensivo como a Islândia (foi mal, Björk, mas é verdade) , ou se prepara para pegar todas as presunções automáticas sobre sua nova nacionalidade.

Vai nessa de achar que é melhor dizer que é americano, francês ou espanhol. Muitos desses países mais famosos tem rico histórico de interações internacionais, e não se acumula poder e dinheiro sem pisar na cabeça dos outros. Brasileiro sai do zero, mas pelo menos não se arrisca a começar qualquer relação estrangeira com saldo negativo.

Se NEM brasileiro médio se preocupa com o que acontece no Brasil, da onde que vocês tiraram a ideia de que estrangeiros médios vão?

Para dizer que até nossas vantagens são cagadas, para dizer que o certo é se declarar cidadão da RID, ou mesmo para dizer que prefere acreditar que é importante a ser realista: somir@desfavor.com

SALLY

É válido omitir ou até mesmo mentir que é brasileiro quando viajar ao exterior?

Sim, Meus Queridos. Infelizmente é melhor, no mínimo, não falar nada. Entendo quem não queira mentir, mas omitir é o mínimo que se espera se você quer ter tratamento digno, em vez de ser seguido dentro de uma loja para terem certeza de que você não vai roubar nada. Desnecessário viajar com uma bandeira do Brasil amarrada nas costas, deixando bem claro de onde você veio. Sejam realistas, não há muito para se orgulhar por ser brasileiro.

Eu compreendo que o brasileiro médio desconheça a realidade morando no Brasil, um local com uma imprensa vergonhosa que mente, manipula e distorce com toda a facilidade. O brasileiro médio é um ser sem cultura, sem poder de questionamento e sem ensino de qualidade. Mas a coisa muda de figura quando se vai para um país civilizado, onde ser bom em esportes não é lá grandes méritos e onde a imprensa tem compromisso coma verdade e divulga todos os vexames cometidos pelos tupiniquins. Por mais que o povo goste de ser enganado e de se enganar, a verdade é que a imagem do brasileiro no exterior é péssima. E com razão.

Em países onde não há “jeitinho”, onde a malandragem não é vista como esperteza e sim como crime, não costumam receber com bons olhos o brasileiro médio. Países com educação formal e de qualidade se envergonham com o comportamento do brasileiro médio. Países civilizados onde o cidadão se sujeita às normas concordando ou não com elas abominam a postura mal educada e egoísta do brasileiro. Isso você pode constatar mandando alguém que não seja brasileiro perguntar o que acham dos brasileiros. As respostas são surpreendentes.

Acredito eu que todos que estão aqui acham o brasileiro médio deplorável. Pois bem, vocês estão no mesmo saco que eles e terão a presunção de ser como eles até que possam provar o contrário. Como nem sempre há tempo ou oportunidade para operar esta prova, o melhor é omitir o fato e evitar que paire sobre suas cabeças essa presunção de malandro, ou pior, se você for mulher, de puta. Lamento muitíssimo informar, mas mulher brasileira tem presunção de puta no exterior. E não sem motivo.

Brasileiros são considerados inconvenientes. As normas de boa educação do Brasil deixam a desejar quando comparadas com o padrão de conduta de países civilizados. O que o brasileiro médio chama de “alegria, espontaneidade e energia positiva” os países civilizados chamam de macaquice, inconveniência e falta de educação. Salvo honrosas exceções, o brasileiro médio é apontado e ridicularizado lá fora, geralmente pelas costas, porque as pessoas são educadas. E ainda volta achando que foi super bem acolhido e querido. Não, não foi. Não é porque as pessoas foram EDUCADAS que se depreende que gostaram do visitante. Mas o brasileiro médio nunca vai ter essa noção, porque é um sincericida mal educado que quando não gosta de alguém “fala na cara mesmo”. E ainda acha que o resto do mundo é assim também.

Qualquer pessoa de bom senso vai te dizer que a imagem do brasileiro no exterior é queimada. Qualquer pessoa de bom senso não quer que paire sobre ela a presunção de brasileiro médio. Então, porque ostentar sua nacionalidade, quando claramente ela vai depor contra você? Só deve ostentar nacionalidade quem tem orgulho do seu país. O brasileiro médio tem orgulho do país, não pelos méritos do país, mas porque ELE nasceu. Sim, são arrogantes o suficiente para achar que o país merece defesa porque eles nasceram lá. Universo Umbigo. Se você não se acha tão importante, deve saber que atualmente o Brasil não merece essa moral toda.

Ostentar sua nacionalidade é ter orgulho do seu país. Se você tem orgulho do Brasil, sugiro um eletroencefalograma, só para confirmar se há atividade cerebral. Você ostentaria uma condição de ex-detento? Sairia na rua com uma camiseta escrito “Fui preso por matar uma pessoa”? Não, né? Não se ostenta algo que não se ache bonito, motivo de orgulho, exemplo. Amar o seu país não se confunde com ter orgulho dele. Quem ama de verdade o Brasil sabe que a situação está vergonhosa e é preciso trabalhar muito para, quem sabe um dia, poder ter orgulho deste país. Amar não é e não deve ser sinônimo de amar a qualquer preço, passando por cima de qualquer defeito. Antes de mais nada, é preciso ser consciente e não se portar como se a vida fosse um desenho da Disney.

É simples: curta sua viagem, passeie, não furte nada, não grite, não seja mal educado. Seja discreto, fale baixo, respeite as normas do país onde você está. Ninguém vai nem perceber que você é brasileiro e, francamente, ninguém está interessado. Qual é a necessidade de espalhar para o mundo a nacionalidade? Ninguém quer saber, você não é tão importante. Principalmente quando esta é uma informação que vai depor contra você.

Indo além, eu acho que mesmo perguntado não há necessidade de se dizer brasileiro. É feio renegar as raízes? Talvez. Mas mais feio é que paire sobre você uma presunção de brasileiro médio. Pergunta para o Somir se na internet ele admite que é brasileiro? Nem fodendo. Ele sabe que se o fizer vai ser enxotado de fóruns, o que ele fala vai valer menos e ele vai virar pessoa não confiável. O mesmo ocorre ao vivo e a cores, são as mesmas pessoas, só que olho no olho.

Não me venham com moralismos, todos nós escondemos nossos podres, nossos esqueletinhos no armário. Garanto que todos vocês mentem ou omitem algumas informações vergonhosas de suas vidas. O ato em si, todo mundo faz. A questão é: você acha vergonhoso ser brasileiro? Você acha que o fato de ser brasileiro depõe contra você em países civilizados? Se a resposta é SIM, não tem porque se queimar contando uma informação que depõe contra você. Não é pirraça, é autopreservação. Quando este país fizer por merecer, aí sim você ostenta seu orgulho em ser brasileiro em camisetas, bandeiras e tatuagens. Até lá, tenha amor próprio e faça o que for melhor para você!

Para me encher o saco com um discurso patriótico barato e receber um palavrão em retorno, para negar a realidade e dizer que o brasileiro é querido em todos os países do mundo ou ainda para dizer que não adianta esconder, a cara de gentinha entrega o brasileiro: sally@desfavor.com

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Comments (20)

  • Recomendo a mentira em qualquer país, talvez na América do Sul não seja tão problemático, mas ainda é se você for mulher. Não há a menor razão de ser em se anunciar como brasileira. Podem até te acharem bonitinha e exótica, mas vão sempre te olhar como puta, burra, incapaz, sem caráter, vinda de um país desenvolvido e prontinha para dar o golpe.
    Sou bem sonsa e escondo a minha nacionalidade sempre.
    Obs.: tenta ver como os locais se vestem para você não destoar muito, porque as roupas brasileiras logo denunciam da onde a gente vem.

    • Uma amiga da minha mãe que casou com um gringo e foi morar na Europa contou que antes, ainda na fase do noivado, quando viajou pra conhecer os pais dele lá na Europa, já recebeu olhares tortos do pessoal da imigração assim que apresentou documentos que atestavam que ela era brasileira.

  • O maior desgosto já foi ter nascido aqui, então eu já me acostumei a sofrer. Se me perguntarem eu digo. Vão tratar mal, mas aqui já me tratam mal, todos tratam todos com falta de respeito, então não ia me fazer diferença.

  • Creio que a melhor estratégia seja omitir, e divulgar o fato apenas quando relevante e pertinente. Ser brasileiro é um péssimo cartão de visitas pra sair exibindo por aí a esmo.

  • No meu caso, dá pra perceber a quilômetros de distância que sou da América Latina, nem adianta fugir rs

    Eu zero faço o tipo orgulho brasileiro, mas se me perguntam, ou se surge naturalmente na conversa, eu falo, sim. Não vejo sentido em omitir/mentir.

  • “ A verdade é que na maioria do mundo o Brasil é basicamente irrelevante.”
    Nao poderia concordar mais. O que eu já encontrei de “europeu médio” que arrisca umas palavras de espanhol ao saber que eu sou brasileira não está no gibi. Aquela história que norte-americano pensa que a capital do Brasil é Buenos Aires, tem na Europa também! Pelo menos do norte da Alemanha para cima, nos países nórdicos. Aparentemente a situação é mais como explicou a Sally quando se está no sul europeu. Brasileiro nos países nórdicos é absolutamente irrelevante, ninguém nem registra. Minto. Quem já visitou o Brasil acredita que toda brasileira é, não diria puta, mas, “liberada” e “da cor do pecado”. Brasileiros “brancos” são vistos como incongruências. Mas não existe nenhum preconceito específico, isso está reservado atualmente para os coleguinhas muçulmanos. O brasileiro é, no máximo, “exótico”.

    • Quando estive na Inglaterra e contei que era do Brasil, uma adolescente perguntou pra mãe onde ficava o país.

      Na época (eu também era adolescente, tinha 15 anos) foi um choque pra mim, mas um bom exercício de desimportância também rs

  • O dia do troll vai ser só falar mal de BM? DESSE JEITO VOU CANCELAR MINHA ASSIN, quer dizer, mal quisto mesmo é turista chinês, não que isso limpe a barra de BR, mas enquanto existir turista chinês, a gente é café com leite. E eles nem tem a opção de mentir a nacionalidade.
    Sally só pode fazer isso porque é fluente em espanhol.

  • Concordo 100% com a Sally. Dizer -se brasileiro, infelizmente, depõe contra, e muito. Prefiro que não saibam minha nacionalidade pra que os nativos já não tenham má vontade comigo logo de saída, com a presunção errônea de que, como todos os outros BMs, eu também seja pilantra, malandro, tarado, aproveitador, etc. Porque detestaria que suspeitassem de mim sem motivo o tempo todo e também é bem difícil mostrar que “focinho de porco não é tomada” pra ganhar a confiança
    dos gringos lá na terra deles.

  • Nunca saí do Brasil, mas essa discussão me fez lembrar de um capítulo de Persépolis, aquele quadrinho biográfico sobre uma menina iraniana na Áustria. O Oriente Médio passava por vários conflitos e começava a sofrer o estigma de terrorismo. Tem uma cena em que um colega de escola pergunta a nacionalidade da menina e ela mente que veio da França (ela estudava francês no Irã). Outro dia, a menina vê uns colegas rindo dela e comentando que dava pra perceber claramente que ela não era francesa por causa do sotaque. Cringe.

    E sobre fama de puta, até onde eu vejo qualquer mulher que não seja da Europa ocidental e América do norte é vista de forma sexualizada. Leste-europeias, latino-americanas, africanas, sul-asiáticas… até japonesas, que são de um país rico e certinho. Quando não é nacionalidade, arrumam outro motivo: a etnia, a cultura, a roupa… e até fralda pode ser uma roupa provocante, visto o número de abusos de recém-nascidas. Homem é merda.

  • O irônico é que esse brasileiro médio mal-educado, barulhento e supostamente inferior conseguiu imigrar e está vivendo a vida dele. Quem se acha superior a ele, não.
    Enfim, concordo com você, Somir. Se perguntarem, melhor ser honesto e só “passar vergonha” por ser brasileiro do que mentir, inevitavelmente ser descoberto e passar vergonha (de verdade) por ser brasileiro + mentiroso + inseguro
    Além disso, quando não esperam muito de você é mais fácil de impressionar.

  • Bom, mas aí ninguém deveria ter orgulho da nacionalidade. Nem os suíços, paraísos fiscais de dinheiro do narcotráfico e da corrupção do mundo. Depõe contra os países civilizados também o que fizeram com os países que colonizaram, sugaram, roubaram ouro, deixaram o povo miserável. Não tenho orgulho de ser brasileiro, mas europeu também não deveria ter orgulho de ter feito o que fez com grande parte da América e da África

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