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Stand Up escrito.

Stand Up escrito.

| Sally | | 46 comentários em Stand Up escrito.

Como já falei em outro texto, Stand Up é uma arte difícil. Por ser uma forma condensada de humor, requer muito conteúdo e também um grande timing e feeling do público. Muitas vezes a forma de contar e a hora certa de concluir a piada é o determinante para que alguém seja ou não engraçado. Por isso o Stand Up costuma ser apresentado ao vivo, com um público interagindo, pois ele é o termômetro que indica o sucesso das piadas e a condução de todo o show. Preferencialmente, devem ser adotados temas universais e uma introdução suficiente do tema deve ser feita no começo de cada “piada”.

Não é possível fazer um Stand Up escrito, pois as partes principais se perdem: tom de voz, tempo da piada, linguagem corporal, interação com o público e tantos outros fatores fundamentais. Não é viável fazer alguém rir no formato Stand Up por escrito, muito menos se você não trabalha e nunca trabalhou com Stand Up e muito muito menos se for um tema que poucas pessoas no mundo dominam. Ao menos isso é o que me foi dito por quem entende.

Justamente por isso eu resolvi que o texto de hoje será um Stand Up escrito com temas bem restritos: as experiências no Desfavor. Isso mesmo, eu vou escrever as piadas e só quem leu os textos conseguirá compreender a piada na sua totalidade. A graça está em fazer o impossível, aquilo que é fácil todo mundo faz. Bem… se ficar uma merda, era o esperado e se ficar bom é um milagre. Win/Win.

“Olá pessoal, vocês já me conhecem, meu nome é Sally… quer dizer, esse não é meu nome real, eu escrevo tantas barbaridades aqui que precisei usar um nome falso, aí escolhi Sally, que é para vocês ficarem na dúvida se eu sou um poodle ou uma atriz de filme pornô. Como vocês também sabem, eu sou argentina, carrego na minha genética um complexo de superioridade que me faz sentir melhor do que todos, por isso escrevo um blog de domingo a domingo: Descansar é para os fracos! Chupa Deus!

Moro no Brasil, mas eu nunca me adaptei ao país. Eu não sei fazer as coisas básicas que brasileiro faz, por exemplo, ir à praia. A areia cola no meu corpo, entra em todos os orifícios e, por mais que eu tome banho, ela nunca sai por completo. Quando eu chego da praia e tiro o biquíni para tomar banho parece que caguei uma duna. O chuveiro fica com tanta areia, mas tanta areia, que quando eu saio do banho o gato entra, caga e enterra. Depois de mais de 30 anos no Rio, não sei como meu cu ainda não produziu uma pérola.

Por causa dos meus textos muita gente me acusa de não gostar de crianças. Não é verdade, crianças podem ser muito divertidas, principalmente quando tropeçam e caem. Meu problema na verdade é com as mães, e pelo visto, delas comigo, já tem quase três mil mães me xingando em um texto meu. Ironicamente, parece não ser uma classe desunida, já que as ofensas não foram para mim e sim para a minha mãe. Todos os dias tenho que ler gente me mandando ir para o inferno, o que é uma grande redundância, pois eu aprovo os comentários quando estou no trabalho.

Outro problema que encaro frequentemente aqui são reações agressivas a meu ateísmo, que, curiosamente, foi reforçado pelo Brasil: se Deus é brasileiro, então mais um motivo muito forte para não acreditar nele. Nunca vou entender a forma como o brasileiro lida com religião, odeiam ateus mas eles mesmos não levam religião a sério. Aqui tem essa figura sensacional do “não praticante”, já viram? A pessoa não vai à igreja, não segue os preceitos da religião mas se diz católica “não-praticante”. E todo mundo aceita! Já me conformei, desisti de entender e resolvi me beneficiar: a partir de hoje sou jogadora de basquete não praticante. E já estudo expandir meu ramo de atuação: se um dia fizer concurso público, serei negra-não praticante.

Eu também encarei alguma hostilidade por aqui fazendo piada com famosos. Em um texto sobre o Roberto Carlos eu comentei que achava muito estranho que várias pessoas que o cercavam morreram de câncer em um curto espaço de tempo fiz um questionamento válido: indaguei se a perna dele seria de pau ou de urânio. Não gostaram. Também questionei se a esposa do Justus teve desejo de comer um quadro do Picasso durante a gestação e isso lhe foi negado. Não agradou, citaram minha mãe novamente. Felizmente, com o advento da Lava Jato, agora posso usar essa piada com o Cerveró sem maiores problemas, afinal, no Brasil existem duas raças com as quais sempre será autorizado qualquer tipo de humor: políticos e argentinos.

Muita gente me pergunta como consegui construir uma relação de respeito para escrever um blog com um ex-namorado. Eu sempre respondo que não precisa de respeito para escrever um blog. Se você pensar bem, minha relação com ele no Desfavor continua muito parecida com um namoro: discordamos pelo menos uma vez por semana, metade do que ele diz não faz sentido para mim e sempre tem pessoas em nosso entorno nos xingando e nos desejando mal. Eu sei, eu sei, eu reclamo dele, mas também reclamo quando ele fura e deixa de postar. Somir é como menstruação: quando não vem preocupa, quando vem incomoda.

Já fui muito recriminada pela forma como me refiro a pobre, as pessoas insistem em afirmar que me falta humildade. Ué… eu sou argentina, queriam o que? É como dizer que falta instinto paternal no Alexandre Nardoni. Quero ver com que cara essas pessoas vão ficar se um dia uma das minhas muitas teorias sobre pobres for comprovada, por exemplo, que a falta de proteína na primeira infância reduz a audição, por isso tudo no pobre é alto: ele grita, coloca o volume da TV nas alturas e fala com o celular aos berros no viva voz. Talvez um dia meu entendimento de que pobres tem obrigação social de serem limpinhos, gordos de serem engraçados e feios de serem gente boa seja cientificamente comprovado.

Mas, eu gosto do brasileiro, esse povo maravilhoso que faz tatuagem no braço com letra de convite de casamento e acha que tá bonito, que caga de porta aberta e acha que isso é ter intimidade, que coloca tanto adoçante no café que a própria bebida acaba tendo câncer e acha que está fazendo dieta saudável. Esta terra de homens maravilhosos que te convidam para ir ao motel “só para conversar”, que colocam nome de jogador de futebol no cachorro e que usam fitinha do Senhor do Bonfim. Essa terra de mulheres maravilhosas que sentem essa atração incontrolável por pus, sempre querendo espremer cravos das costas dos namorados, que são contra o aborto pois “só Deus pode tirar uma vida” mas depois pedem bandido morto e que querem que o homem pague a conta mas seja feminista.

Felizmente, depois de falar tanta coisa controversa, consegui manter meu anonimato. Não sei por mais quanto tempo ainda vou conseguir manter meu nome real em segredo, o que é uma pena, pois um nome escroto, brega e com consoantes duplas e Y certamente causa muito mais identificação no brasileiro. Tomara que consiga continuar falando o que quero por muitos e muitos anos no meu cantinho, sem ser notada. Uma coisa é certa: se tudo mais der errado, faço o que qualquer mulher brasileira faz quando uma cagada da vida fecha as portas do mercado de trabalho para ela: poso para a playboy, coloco a culpa no machismo ou acuso de discriminação e começo uma campanha contra a argentinofobia.”

Desculpem por isso, quando alguém me diz que algo não pode ser feito eu não tenho mais sossego enquanto não faço. Passa na quinta que minha postagem está muito mais legal e vai te surpreender…

Para dizer que como humorista eu sou uma ótima advogada, para dizer que em país onde humorista de Stand Up encena piada até que não foi tão ruim ou ainda para dizer que agora que eu fiz não há a menor necessidade de repetir isso: deixe seu comentário.


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