CBM: MC Loma

Ás vezes, precisamos dar um passo para trás para dar dois para frente. É de minha completa vontade o tema de hoje, por mais ondas de choque que isso lance sobre o legado do desfavor. Tremam, mortais, tremam… pois hoje estou aqui para falar de um cerumano (acredito que nesses casos seja a palavra correta) que não para de me fascinar: MC Loma.

A primeira vez que a existência desse peculiar exemplar de homo sapiens sapiens (pode ter uma redundância aqui…), foi através de um clipe chamado Envolvimento, parido pela besta do apocalipse em pessoa, Kondzilla.

Confesso que desde o sucesso de Jojo Toddynho eu adquiri o hábito de conferir os primeiros segundos dos clipes de funk mais populares. Só os primeiros segundos, porque eu criei um jogo solitário de adivinhação: prever qual será o impedimento de fala que o(a) funkeiro(a) da vez vai ter. Aparentemente é uma fórmula de sucesso ser incapaz de pronunciar corretamente mesmo as letras mais banais possíveis. Ao clicar no vídeo de Loma, senti uma decepção por ter errado que ela seria gaga (até porque já passou da hora de uma gaga estourar com o nome de MC Leide Gaga – fica a dica, Kondzilla); no final das contas ela só tinha língua presa mesmo. Mas… algo foi me mantendo atento ao vídeo, mesmo após ter descoberto a forma como ela falaria errado.

MC Loma está na frente de um comércio abandonado (mau sinal) fingindo que come um sorvete até receber uma ligação. Como era de se prever, não dá para entender uma palavra que ela fala, pois a língua ataca seus dentes vorazmente o tempo todo, transformando tudo o que diz numa cacofonia de esses e efes. Na preparação desse vídeo, notei algo impressionante: é praticamente impossível parar em qualquer frame do vídeo onde MC Loma não esteja com a língua entre os dentes, ou mesmo com a boca completamente fechada. Temo que ela sequer consiga fechar a boca totalmente. Vestida de lavradora emergente e com óculos que refletem o câmera, ela observa a chegada de um carro de brinquedo dirigido por um garçom desnutrido. Ao fim da cena, começa a música. Normalmente seria aí onde eu pararia, mas… eu comecei a sentir uma estranha atração mórbida por tudo aquilo…

Eles continuam andando por um condomínio fechado (que vai perder valor de mercado depois desse clipe). Mais uma cena bizarra do garçom abrindo uma porta inexistente no carro para ela e começamos a ver do que esse clipe é feito: pessoas claramente confusas com o lugar onde estão. Logo depois podemos ver a primeira aparição das supostas Gêmeas da Lacração, que segundo a Sally são dançarinas não-praticantes. Até eu que não entendo de dança posso notar que elas mais parecem estar lutando contra algum inseto que invadiu suas roupas do que praticando alguma coreografia minimamente coerente.

Eu já estava ficando de saco cheio, mas MC Loma entregou novamente: num corte insano, ela aparece fantasiada de Cleópatra. O mais divertido dessa cena é a constante expressão de confusão no olhar de Loma. Ela parece estar feliz com a atenção, mas completamente perdida com o movimento que acontece ao seu redor. Quase como um cachorro lidando com várias pessoas chamando sua atenção ao mesmo tempo. Na sequência, Kondzilla nos brinda com uma cena demoníaca, onde Loma e suas minions surgem num fundo escuro parecendo que brincaram com Césio 137, em closes assustadores da maquiagem radioativa.

Na sequência, ela diz sua palavra mágica: Cabruntchio. Numa infeliz pesquisa que agora vai assombrar o meu histórico de internet, agora sei o que é: MC Loma tinha uma caixa de som que dizia “It’s Bluetooth” quando ligava. Ela ouviu isso diversas vezes, entendeu como entendeu e agora tem alguma informação no seu cérebro que está perdida para sempre para dar lugar a essa explicação. De nada. Como Kondzilla estava de saco cheio e só filmou aquelas cenas, não fez nada além de cortar milhares de vezes de volta para os mesmos cenários até o fim da música. No final do clipe ela dispara mais uma frase de efeito: “Escama só de peixe”. Está preparado para perder mais uma informação possivelmente mais válida que essa em troca? Que bom! No Nordeste, terra natal desse presente para a humanidade, “escamoso” é um termo negativo para homens.

O clipe acaba, não entendo um décimo do que ela falou e tenho a sensação de que tinha algo melhor aí que não foi aproveitado. Eis que Sally me manda o link do vídeo original, pré pasteurização do Kondzilla. E vendo esse clipe que eu começo a ficar seriamente ameaçado de… de…. sentir alguma afeição por ela… gezuiz… o que aconteceu comigo?

Esqueça aquela baboseia industrializada do Kondzilla, achamos ouro! Essa sim é a MC Loma que eu aprendi a amar faz alguns segundos e provavelmente vai me decepcionar assim que fizer qualquer outra coisa. MC Loma demonstra pérolas de genialidade tosca durante o clipe todo! Começamos num estilo cinema verité, com câmera chacoalhando, iluminação natural e Loma olhando para a câmera sem parar para quebrar nossas preconcepções sobre a sétima arte. Confesso que continuo não entendendo bulhufas do que ela fala, e são 30 segundos que esse ser fala sem parar. Talvez aí esteja a vantagem de nunca conseguir fechar a boca: o fluxo de ar nunca é interrompido e a pessoa não precisa de vírgula nem na vida real!

A cena do motorista, nessa versão, é ela sentada na cesta da bicicleta de um transeunte aleatório que achou na rua! Tudo só é possível porque ela provavelmente pesa uns 12 quilos, um deles só de maquiagem a julgar pela cor acinzentada do seu rosto em comparação com o resto do corpo. Já aos 47 segundos de clipe, enquanto ela paga de diva na situação que está, podemos ver um aglomerado de mulheres na esquina, que pelas vestes me fazem acreditar que estivessem lá a trabalho. E não estou falando de trabalho no clipe. Um belo retrato da sociedade.

Cortamos para um close do rosto dela, ainda numa rua escura, com uma lâmpada quebrada fazendo um efeito muito mais bacana que os do clipe do Kondzilla e uma maquiagem que se ainda mantém a cara dela cinza, pelo menos compensa com manchas coloridas aleatórias. Notem como ela parece extremamente mais consciente do que está fazendo aqui do que em todo o clipe super produzido (em termos) com mais visualizações.

Corte, vamos para o chuveiro externo de uma casa que eu APOSTO que não tem piscina pra acompanhar, e lá está Loma e os dois Postes da Lacração. Loma (apelido de Paloma, caso você ainda não tenha notado) engole a cena, colocando as duas meninas mais ajeitadinhas no chinelo. Falando em chinelo, você vai ver que esqueceram um em cena aos 1:11. Mas, perto daquela tampa de lata de lixo abandonada no take, a gente até tolera.

Mais um corte, mais um grande momento da filmografia brasileira: os Bonecos de Posto da Lacração chacoalham seus membros de qualquer jeito diante de uma parede mais mofada que a popularidade do Lula, só para serem novamente eclipsadas pelo carisma de MC Loma, sentada no seu trono patrocinado pelo Club Social, cuja equipe da marketing ainda não deve saber se isso fez bem ou mal para a marca. O câmera claramente não queria se limitar por bobagens como enquadramento e faz Loma ficar só com o topo da cabeça na cena por diversas vezes. Talvez estivesse interessado nas Toalhas Molhadas da Lacração, mas eu discordo: mulheres que atingem a puberdade ao 7 anos de idade e aparecem seminuas em clipes de funk temos aos borbotões, mas talentos naturais como MC Loma são fenômenos raros.

Mas nada temam. 1:28 de vídeo e você pode ver um close desse talento todo, MC Loma, talvez fruto da fome gerada pela desigualdade social, tenta comer a câmera. Podemos ver fios de baba e o charme de seus dentes rebeldes num contato imediato de primeiro grau. Quando o medo de ser engolido vivo passa, podemos notar algo curioso: Loma está sem maquiagem por ter tomado um banho, e parece mais suja que antes. Ela aparece recebendo um espírito diante de um carro (ou disfarçando se aliviar na rua) e mais takes sensualizando (não coloquei aspas no sensualizando porque elas deveriam ser óbvias).

Acabou? Claro que não. Vamos para 1:47. Os Cones da Lacração aceitam sua posição inferior e aparecem abanando MC Loma com folhas ressecadas de mamona ou algo muito parecido. Desconfio que tenha sido uma escolha artística de momento, porque podemos ver outras folhas da mesma planta caídas no frame. Considerando que a locação ou é uma viela ou o quintal pra lá de negligenciado de algum dos presentes, aposto que estava crescendo por algum buraco na parede antes da filmagem. Mais cenas do trio se estrebuchando no chuveiro externo, e aí chegamos na cena que me provou que até um relógio quebrado acerta a hora duas vezes por dia: aos 2:10, o take de MC Loma naquela rua escura, a iluminação saltitante e até mesmo sua escolha de roupas pareceu uma cena de clipe da M.I.A. ou algo do gênero, coisa que muita gente ia pagar caro pra ter.

Na sequência, ela fica se esfregando num carro, possivelmente até o dono começar a reclamar. Mais um take final da cara cinza… e fim. Continuo sem saber o que aconteceu. Sally vai querer me matar, mas tem algo de Pilha aí, um total desrespeito por qualquer padrão de qualidade com a empáfia de quem está dominando o mundo. Essa falta de noção e cara de pau tem seu charme. A Anitta está gastando milhões para simular isso…

Tanto que logo na sequência ela lança mais um clipe, música IDÊNTICA a anterior (cara de pau), mas falando de japoneses e fazendo olhinho puxado com o dedo (falta de noção); fazendo gente chata de rede social berrar apropriação cultural e desrespeito! Eu não queria sentir simpatia por ela, mas é mais forte que eu. Duvido que vá durar muito, mas que seja sem noção enquanto dure.

Para dizer que colocaram o autor errado no texto, para dizer que linkar três vídeos dela deve violar a Convenção de Genebra, ou mesmo para dizer que agora que prestou atenção, sentiu simpatia também: somir@desfavor.com

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Comments (33)

  • Sally, criaram um canal no YouTube só para mostrar os roubos e outras estripulias dos bandidinhos no rio de janeiro. O nome é Rio de NOJEIRA.
    kkkkkkkkkokkkkikkkkkkkk
    kkkkkkkkkokkkkikkkkkkkk
    kkkkkkkkkokkkkikkkkkkkk

  • Aguardo um desfavor de treme treme,a dança do japonês e um daquela guria dos falsetes que eu não lembro o nome.

  • Cabrunthio????
    Eu tinha entendido “é brutio”, de bruto.
    O que também não faria sentido.

    Isso aí é falta de bullying. Pensem na nossa época, se um de nós se metesse a pagar uma cybershot e fazer um filminho tosco desse, cantando mal e ostentando que nossos dentes da frente poderiam abrir uma garrafa, o quanto nossos irmãos e amiguinhos ridicularizariam e em 20 minutos a estaríamos envergonhados e recolhendo todas as cópias feitas.

    • cebruthius

      Mas isso não é o pior, o pior é que por todo o Brasil, mães estão tentando registrar seus filhos como cebruthius desde que o clipe foi lançado.

  • Gente … decepcionada com somos .
    isso sim é sinal q já passou da hora de Gezuis voltar . Cadê o arrebatamento minha gente ?

  • Isso me lembra aquele argumento contra a existência de Deus: se ele permite o mal, não é completamente bom; se não tem como impedi-lo, não é onipotente.

    • – Deus no contexto Mc Loma.
      – Ontocracia Evulutiva e 12h depois, Mc Loma

      Tem coisas que você só vê no Desfavor… hahahaha

  • É o perigo de olhar muito para o abismo. Ou uma variante de síndrome de Estocolmo. Ou aquelas histórias em que um investigador suscetível, após muito tempo lidando com criminosos, acaba ele mesmo virando um.

    • Gastão, eu vejo como evolução. Pode falar sobre tudo é ampliar sua capacidade mental. Só falar sobre um tema (por mais que seja ciência) é empobrecedor.

  • Somir resolveu começar a gostar de CBM. Isso é preocupante! Agora vai dificultar achar punição quando tiver free hugs.

  • hahahahahahahah!!

    Somir! Foi muito bom!!
    Eu queria adicionar que ela foi vetada de aparecer num programa de TV lá do Nordeste porque fez muitas exigências, tipo um avião!

    E queria agradecer por me ensinar o que ela fala: “Cabruntchio”!!!
    Eu achei que era “É glúteo!”

  • Qual é, Somir, vontade de te dar umas vassouradas, cara. A Sally te viciou. Depois vocês reclamam dos temas do CU. Janeiro teve aquela Cocô todinho aí você furou e teve ela de novo! Ou seja, perdemos 2 textos que poderiam ser DesContos. Sim, estou sendo folgada e reclamando de algo que eu não pago. Se eu quiser ver isso vou no youtube. Outro dia estavam pendindo essa coisa aí nos comentários e a Sally falou que não ia fazer pois estava reservando para sua punição. Eu estava na torcida para você não furar…

    Aiai, saudades dos tempos que a gente não precisava ver as caras feias dos funkeiros. Depois eu penso se eu assisto isso aí.
    Ae pessoal, vamos pensando nos temas para o próximo castigo dele. Esse sim vai ter que ser memorável.

    • Guarde sua vassoura e aceite novos tempos. Eu decidi aumentar o meu grau de complexidade, alcançando novos temas e fazendo conexões ainda mais abrangentes. Eu já estive no estado mental que você demonstra estar, e ele é desnecessariamente restritivo. E ainda tem o bônus de me tornar mais resistente às punições. Eu evoluí, as drogas de antes não me fazem mais mal.

      Boa sorte encontrando o novo antibiótico.

      • Sem querer criar briga, CBM não são novos temas. São repetitivos, até porque é sempre um funk. Para mim ficou gasto porque vocês abusaram das Maravilhas. Aí o que acontece é o que teve no da Cocô: um monte de gente que não comenta sai da moita exclusivamente para falar mal da pessoa. Nem estou dizendo que não mereça, mas se é simplesmente para falar mal pode fazer lá no youtube. Até fiquei com um pouco de pena quando no dia seguinte você teve 0 comentários, ou por exemplo, naquele texto em que Sally pedia para citarmos ideias que nós temos que seriam de direita e de esquerda.

        • Agradeço a preocupação, mas estou desfazendo a falácia do escorregador que implementei aqui desde o começo. O desfavor vai ficar bem, seja o que vier vamos dar um jeito. E sobre a parte do tema agradar ou não, é como qualquer relação: às vezes a outra pessoa faz coisas que a gente não gosta. Mas se a média compensa, é o que importa.

          • Amém, Senhor. Dia histórico para o Desfavor! Em algum lugar morreu um bebê panda! Passou da hora dessa falácia maldita cair.

            Faço minhas as palavras do Somir: não se preocupe, muito menos sinta pena, estamos muito felizes fazendo o que fazemos, tanto é que fazemos de graça.

          • não posso falar pelo outros, mas aqui um texto sem comentários envolve (ao menos) duas situações: um texto bem concatenado e/ou dificuldade decorrente de um conhecimento não tão amplo assim quanto acreditava ter…

            • Tem gente que prefere falar por e-mail também, nem todo mundo se sente confortável de deixar comentário em um ambiente tão crítico.

        • Outra vez eles mesmos disseram que não se importavam com o número de comentários pois qualidade > quantidade, preferem comentários que acrescentem a um monte de gente fazendo sperging.
          Se fosse assim eu teria que comentar “que texto legal, gostei” em todos os textos científicos que gosto (embora os posts engraçados também sejam bons), mas prefiro curtir os textos em silêncio.

      • “Eu decidi aumentar o meu grau de complexidade, alcançando novos temas e fazendo conexões ainda mais abrangentes”
        Tá é querendo conhecer melhor os hábitos dessa espécie curiosa que é o pobre carioca, deve tá fazendo alguma campanha publicitária direcionada a eles.
        Sem julgamentos, eu faria o mesmo (por dinheiro).

    • É win/win, ou ela continua sendo insanamente cara de pau e nos diverte, ou ela se desfaz numa bola de fogo de “semnoçãozice” e nos diverte também.

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