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CBM: Parara Tibum.

CBM: Parara Tibum.

| Sally | | 34 comentários em CBM: Parara Tibum.

Se você não for muito novo, deve lembrar da música que os anões do filme Branca de Neve cantavam quando acabavam seu dia de trabalho na mina e voltavam para seu lar, enfileirados: “Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou…”. Pois é, prepare-se, você está prestes a cobrir de merda uma recordação feliz e bonita da sua infância. Fizeram uma versão funk-pornô dessa música e o Desfavor não poderia deixar de comentar. Se funk já é uma merda feito por carioca, feito por paulista então… prepare-se para sentir saudades de Tom Produções!



O clipe começa com quatro anões caminhando por um bosque tosco. Todos sabemos que deveriam ser sete, mas provavelmente o orçamento do clipe não comportou mais anões. Ok, tem menos, mas são anões, até aí eu posso entender a referência. Corta para um close de várias maçãs. Anões, maçãs, já entendemos onde se quer chegar, é uma alusão à Branca de Neve. Os anões marcham enfileirados.

Eis que algo destoa violentamente: aparece o cosplay de Branca de Neve falando na porra de um IPHONE, branco ainda por cima. Aparentemente a vontade de ostentar é maior do que o comprometimento com a realidade. Para quem será que a Branca de Neve está ligando? “Alô, PRONCON? Queria fazer uma reclamação sobre uma maçã”. Muito triste.

Os anões continuam marchando, mas, para minha surpresa, aos 9 segundos vejo um vulto no chão. Ao que tudo indica, um quinto anão caiu. Ele parece rastejar. Não bastava ter menos anões do que o que manda o figurino, os poucos que tem não sabem andar. O bosque parece cenário do Chaves, vira e mexe sai aquela fumaça branca de boate da década de 80 de algum arbusto.

Aparece uma moça cosplay de Rainha Má. Sim, a moça tem um corpinho bacana, mas a virilha toda empolada me deu agonia. Aparece a nossa estrela, uma menina de uns 18 anos, surpreendentemente magra para os padrões do mundo funk, cantando com voz de criança erótica. Meu desejo inicial era dar um prato de sopa ou um pedaço de pão para a moça, essas costelinhas aparecendo me despertam compaixão. Não tem comida em Santo André não, minha gente? Dançarina de funk magricela que nem essa moça é o mesmo que pegar Valescão, enfiar em um tutu e botar para dançar ballet. Coitada, ela nunca na vida vai poder brigar com ninguém do seu meio, se Thayssa Maravilha pega ela na esquina, parte ela ao meio com um peteleco.

Ela vem acompanhada de duas “brancadenevetes”, essas sim com um corpinho de respeito, usando duas camisolas com uns apliques que devem ter a intenção de camuflar o fato de serem duas camisolas (fail!). O cosplay de Branca de neve está com uma roupa pornô de Branca de Neve, mas seu corpo rabiscado tipo bloco de notas não permite que entre muito bem na personagem. Tatuagens bizarras me levam a desconfiar que essa mocinha já esteve presa, porque só presidiário, marinheiro ou estivador fazem aquilo. Meia calça branca com sapato preto E peep toe (as mulheres me entenderão) finalizam o grande estupro visual.

A câmera começa a filmar as mocinhas de costas, provavelmente para conquistar o público masculino. Fica minha humilde sugestão: quando for essa a intenção, melhor não colocar um anão correndo na frente, com o cofrinho aparecendo. A cueca preta e cinza com listra do anão meio que corta o clima, acho eu. As três param e fazem o “quadradinho”, passo bem popular do funk carioca, uma derivação de algo bonito e harmônico que a dança do ventre criou e funk deturpou. Foca na loirinha, ela é a que melhor dança das três. Deve ser a única carioca.

A Branca de Neve passa vergonha do começo ao fim, seja tentando dançar, seja tentando ser sexy. Quem te viu, quem te vê, Tati Zaqui: boné, calça larga, jeito de menininho, pegando as menininhas… Mas, vá lá, está na capa da Playboy deste mês, tem que tentar fazer parecer alguma química com o sexo oposto. Fantasiaram ela de menina direitinho, mas para sex symbol falta muito ainda. Não tem jeito, é um moleque, Justin Bieber consegue ser mais feminino do que ela. Por sinal, ela teve que se tratar de uma depressão por causa do Justin Bieber, olha o naipe da pessoa…

Voltando para o clipe, corta para um esquilo. Sim, um esquilo. Apesar do iphone, apesar do cofre do anão, eles ainda tentam manter um toque de magia. A imagem parece ter sido tirada randomicamente de um documentário e colada no meio do clipe. Um close da cosplay de Branca de Neve olhando maliciosamente para uma maçã feriu meu TOC: os cílios postiços do seu olho esquerdo só podem ter sido colocados pelo Michael J. Fox. Além da cola aparecendo, estão completamente tortos. Pausa aos 43 segundo que aparece claramente, aproveita e dá uma olhada na axila e me diz se não podia ter se depilado direitinho para gravar o clipe?

É sabido por todos que coreografia de axé e funk é basicamente mímica. Quando a palavra “tempo” ou “hora” é dita, por exemplo, as mocinhas batem com indicado no pulso, como que simulando um relógio. Pelo visto esse processo evoluiu e agora os gestos não precisam mais guardar coerência com a música: quando ela canta “depois de alguns dias” ela gira as mãos em torno da própria cabeça, como que insinuando sinais de loucura. Nos meus gloriosos tempos de baixaria, só fazíamos esse gesto para frases como “vou te deixar maluco”. Sinal dos tempos, estou obsoleta.

Agora eu quero fazer um apelo para os figurinistas de todo o mundo: tomara que caia é uma coisa que não deu certo. Tomara que caia só serve para uma ocasião: quando a mulher vai ficar imóvel. Tomara que caia CAI quando a mulher se mexe. Não tem coisa pior do que o desamparo de sentir a roupa caindo, tipo a loirinha que ficou puxando esse tomara que caia o clipe inteiro. Mesmo assim, ponto para ela por não ter colocado uma alça de silicone. Pobre adora pensar que alça de silicone é transparente, alguém deveria avisar que não é.

Uma coisa que sempre me incomodou é o sotaque nasalado de paulista. Algumas palavras ficam especialmente irritantes. “Senta” é uma delas: SÊINTA. Infelizmente essa palavra aparece milhões de vezes na música e, a cada vez que é pronunciada, o sotaque piora. Seria o mesmo que fazer um clipe com uma carioca falando “Castelo das Pedras” a música toda.

Entra em cena o caçador, contratado pela Rainha Má para matar a Branca de Neve. Infelizmente o caçado tem uma cara de viado do caralho, o que impede de compor o personagem. Por qual motivo uma pessoa deixa pelos na sua cara mas remove todos do seu peito? Nunca saberemos. Ele parece o Sandy e Junior (sim, sempre serão uma pessoa só), porém bombado.

Curiosamente o caçador está com um machado nas mãos e camisa xadrez. Sim, seria demais pedir para que saibam a diferença entre caçador e lenhador, sei disso. Mas não seria demais pedir que ele tivesse tirado o celular do bolo antes de filmar.Também não seria pedir demais que não usasse uma calça não transparente e colada, para que não fossemos todos obrigados a ver o que desponta aos 2:06 min.

Por algum motivo que eu desconheço, a Branca de Neve e os anões (tatuados e sem dentes) estão enchendo a cara. O anão vestido de amarelo parece o Mini Leo Lins. Na hora em que a história ia ficar boa, o clipe muda o script. O caçador não tenta matar ninguém, fica apenas olhando com cara de cu para a mulherada. A Rainha Má parece chamar Branca de Neve para um desafio de passinho, mas basicamente de passinho anal. Olha com cara desafiadora e rebola. Não custa ressaltar que, ao que tudo indica, piercing é tendência forte entre as desclassificadas, se você tiver um, recomendo que tire.

A Branca de Neve aceita o desafio, mas não deveria, pois passa vergonha. Além de ter uma bundinha de mico miserável e deficitária, ela não tem independência de quadril e não consegue fazer o movimento direito. Sim, você pode estar intrigado com essa afirmativa, mas, meus queridos, até para dançar créu tem que ter habilidade. NADA no corpo deve mexer, apenas o quadril. É assim que se faz. Nossa Branca de Neve mexe tudo: ombro, barriga, pescoço e joelho, não adianta, paulista dançando funk sempre vai parecer um ataque epiléptico. A Rainha Má vai embora, provavelmente com pena, e a Branca de Neve parte para cima do caçador boiola. É visível que foi um esforço, tanto para ela como para o caçador, essa esfregada de dois segundos.

Você respira, você sente um alívio pois a imagem fica escura, você acha que o estupro auditivo acabou. Mas a tela volta a se iluminar. Aparecem, em uma fonte que só pode ser a versão moderna da Comic Sans, os contatos para contratar um show da moça (tratar com Rubens). Rubens, como todo pobre brega que se preze, tem um Nextel. Aposto que Rubens deixa o Nextel no viva-voz em locais públicos e também aposto que Rubens não sabe pronunciar “Nextel”.Caso queira se deprimir, faça como eu e ligue para Rubens para saber o quando essa amental ganha por show.

Para comentar a foto da playboy em que ela está de close e de costas (não sabia que podia estragar tanto tão cedo), para me agradecer por eu não ter te acrescentado nada no dia de hoje ou ainda para sentir saudades de Pablo: sally@desfavor.com


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