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Vacinados contra a lógica.

Vacinados contra a lógica.

| Desfavor | | 18 comentários em Vacinados contra a lógica.

Uma escola da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, que conta com uma ativa comunidade antivacina está no centro do maior surto de catapora do Estado em décadas, dizem as autoridades. Na sexta-feira, 36 alunos da Asheville Waldorf School foram diagnosticados com a doença, segundo o jornal local Asheville Citizen-Times. O colégio tem uma das taxas de dispensa de imunização por razões religiosas mais altas do Estado, o que permite que os estudantes não sejam vacinados. LINK


Quem ignora os avanços da humanidade atrasa todo mundo ao seu redor. Desfavor da semana.

SALLY

O movimento antivacina acaba de conquistar um de seus maiores feitos: provocou um dos maiores surtos de catapora das últimas décadas. Difícil trazer um novo ponto de vista, difícil não falar do óbvio, até porque já abordamos essa imbecilidade que é se recusar a vacinar o filho em outros textos, mas a coisa está tomando uma proporção que faz surgir um novo desfavor: onde está o Poder Público para punir severamente quem não vacina os filhos? Quais sanções, penalidades ou medidas estão sendo adotadas para impossibilitar esse tipo de imbecilidade que prejudica inocentes?

Muita gente diz que é “seleção natural”, que “foda-se se os filhos desses idiotas vão morrer”, mas não é essa a minha principal preocupação. Existe um grupo de pessoas no mundo que, por motivos variáveis, não pode tomar vacinas e está com seu sistema imunológico enfraquecido. Pode ser em função de uma quimioterapia, pode ser por uma doença autoimune, pode ser por diversos motivos diferentes, alguns que perduram para o resto da vida. Este grupo precisa de proteção.

Para que essas pessoas consigam sobreviver, é preciso que o resto da sociedade faça sua parte e tome suas vacinas, de modo a protegê-los de forma indireta. Essas pessoas, que por sinal, são um número considerável, dependem de todo o resto para viver. E quando se permite que pais não vacinem os filhos, se está colocando em risco não apenas a vida desta criança, como a vida de uma parcela da população.

“Mas Sally, o Estado não pode te obrigar a fazer nada”. Balela. Nos obriga a muita coisa. Deixa de pagar os seus impostos para você ver se, em qualquer país do mundo, não há consequências. E não estou falando em obrigar, em invadir a casa da pessoa com uma seringa na mão, segurar à força à criança e aplicar a vacina. Estou falando em medidas eficientes para que a negligência desses pais não prejudique o resto da sociedade. Quer conviver em sociedade? Tem que estar vacinado, salvo de algum motivo médico intransponível impedir.

Não dá mais ter tolerância com ignorante, o preço está ficando caro demais. É uma questão que nem deveria ser passível de discussão, uma vez que o próprio médico que levantou todas as suspeitas contra as vacinas já foi a público se desmentir, afirmando que o fez por motivações financeiras e que sua pesquisa não tinha embasamento. Seus argumentos, pesquisas e dados já foram refutados e “desprovados” pela comunidade médica. O que mais é preciso fazer para que as pessoas percebam que caíram em uma tremenda Fake News médica?

Nada. É como os terraplanistas, a mentira se instaurou no cérebro porque, de alguma forma, ela se combinou com algo que a pessoa precisa e quer acreditar. Não dá mais para reverter isso na base da conscientização das pessoas. Vamos virar essa página? É hora de medidas duras, que isolem do convívio social crianças não vacinadas por opção e que puna de forma severa pais que cometam esse tipo de negligência com seus filhos. Não, pais não tem o direito de colocar a vida de seus filhos nem de grupos sociais em risco, não há ginástica mental que avalize um absurdo desse.

Se um pai diz “Eu tenho o direito de deixar meu filho de cinco anos de idade brincar com uma arma carregada e leva-la para a escola e o Estado não tem o direito de me impedir” todo mundo vai gritar. Armas matam. Mas doenças matam também, deixar um filho sem vacina é deixar uma arma biológica carregada, que pode disparar, ferir e matar não só a criança como inocentes. Então, façam o favor, governos do mundo todo, OMS, ONU, Cabo Daciolo ou quem mais puder intervir nessa questão: tomem atitudes drásticas.

A omissão é ensurdecedora. Acredito que chegamos a um ponto onde não apenas os pais retardados mentais são os responsáveis por surtos de doenças que poderiam estar erradicadas, as autoridades também o são. O legislador tem que dar ferramentas para que o Judiciário impeça que isso aconteça, o Judiciário que já tem essas ferramentas tem que atuar de forma incisiva para evitar esse tipo de descaso, caso contrário, serão todos cúmplices deste retrocesso. O que está paralisando as autoridades?

Vejo muita gente empenhada em defender um suposto “direito dos pais”, mas, mesmo olhando com a atual legislação, os pais não tem o direito de não vacinar o filho. Pode sim ser motivo para destituí-los do seu poder familiar, se o juiz tiver culhões e não tiver medo do lacre. O curioso é que as mesmas pessoas que defendem com empenho o direito à livre escolha dos pais, apesar dos riscos, dá um faniquito quando a questão descamba para armas. Aí acabou o direito individual, se coloca em risco a sociedade, não pode e ponto final. Falta coerência.

Pais não tem o direito, por suas crenças pessoais, de colocar em risco os próprios filhos e uma parcela da sociedade. Ponto final. FAÇAM ALGUMA COISA. Conscientizar fanático nunca foi uma opção. Se a pessoa acredita em algo que o próprio médico que “descobriu” já desmentiu publicamente, ela está fora do alcance da sua mão, a coisa só pode ser resolvida com medidas muito severas restritivas de direito, com punição, com uma reprimenda preventiva e repressiva que seja forte demais para que alguém se arrisque a não vacinar os filhos.

Desde a criação, o direito tem um objetivo: a paz social, a sobrevivência da espécie, impedir que nos matemos das mais diversas formas. Qualquer liberdade individual que coloque o coletivo em risco de vida perde quando pesados em uma balança. Então, parem de ter medo de usar um pulso forte com quem está colocando a vida de inocentes em risco, caso contrário, serão cúmplices de todas as mortes que venham a ocorrer.

O direito dos pais em fazer escolhas pelos filhos não é absoluto, é relativo. Quando falamos de algo que causa dando graves e irreversíveis, cabe ao Estado intervir. Um pai não tem o direito de fazer sexo com sua filha de três anos de idade se achar que isso é o melhor para ela. Uma mãe não tem o direito de amputar as duas pernas de sua filha de um ano de idade se achar que isso é o melhor para ela. Então, menos endeusamento das escolhas maternas e paternas e mais bom senso e preservação social.

Acho que o problema chegou a um ponto grave o bastante para justificar uma atitude drástica. Foda-se se vão gostar ou não. Tira o os filhos dos pais que não vacinarem, prende os pais, deporta para uma ilha só de pessoas não vacinadas, cobra uma multa altíssima, realmente não me importo com a medida exata, só quero uma atitude drástica e eficiente contra esse absurdo que já durou tempo demais. Alguns pais se comportando como mongoloides a gente espera, o Poder Público se comportando como mongoloide não. FAÇAM ALGUMA COISA.

Para dizer que você espera o Poder Público se comportando como mongoloide, para dizer que o Estado deveria vacinar à força sim ou ainda para dizer que pais que não vacinam deveriam pagar uma “taxa mensal” altíssima pelos custos que geram ao serviço público de saúde: sally@desfavor.com

SOMIR

Estou notando um padrão preocupante vindo junto com a virada de pêndulo em várias das sociedades ocidentais: a guinada à direita implica mais do que conservadorismo comportamental, implica numa supervalorização da opinião individual. É muito importante saber reconhecer o que te serve ou não sobre a moralidade vigente (moral é um conjunto de costumes de uma sociedade), mas nada nessa vida é simples o suficiente para que qualquer indivíduo sempre tenha respostas melhores do que o consenso.

O que estou dizendo aqui é que é importante você saber se rebelar contra o que acha errado no mundo, mas que na maior parte dos casos não precisa. Não te faz bem ser contra tudo o que a maioria das pessoas está fazendo, porque muitas dessas coisas foram pensadas por pessoas mais inteligentes e testadas por milênios de convivência em sociedade. Algumas coisas são mais discutíveis que outras.

E eu falo sobre a guinada à direita no pensamento popular porque uma das linhas mais fortes do que forma essa mentalidade nos dias atuais fala muito sobre liberdades pessoais e desconfiança do Estado. Da mesma forma que a esquerda é composta de várias linhas de pensamento precariamente alinhadas num grande grupo ideológico, a direita também. Nunca é tão simples quanto “nós contra eles”. Por exemplo: no cenário atual, eu me considero de esquerda na questão dos direitos humanos e de direita na das liberdades pessoais.

E é nessa linha de pensamento de direita sobre o poder sobre a própria vida e a falta de confiança nas decisões do Estado que residem escolhas bizarras como as do movimento anti-vacinação. Sentindo-se empoderadas por uma mentalidade arrogante de rejeição do conhecimento científico vigente, desafiam o Estado ao não vacinarem suas crianças. Na cabeça delas, é a forma mais segura de criar seus filhos, mesmo que tenham um conhecimento precário sobre medicina.

Mas se podemos ter uma certeza com pessoas burras, é que elas tem uma segurança enorme nas suas afirmações. Argumento até que é uma das únicas formas de conseguir esse grau de confiança nas próprias decisões: ou você gasta muito tempo da sua vida estudando e testando uma hipótese, ou você tem uma limitação tão grande na área que qualquer informação é a única que você conseguiu.

É direito da pessoa ignorar conhecimento estabelecido e colocar em risco a sobrevivência dos próprios filhos? Sim (crianças deveriam ser protegidas, mas não dá pra salvar todas). Agora, como a Sally bem disse, a estupidez do movimento anti-vacina não serve só para fazer uma seleção natural de gente burra e suas crias, coloca em risco a saúde de quem não tem nada a ver com isso também.

Uma sociedade precisa de poucas regras básicas para ser viável, se você só considerar que o seu direito acaba quando começa o de outra pessoa, dá pra depreender basicamente todo o nosso sistema de gerência social. Adicione não fazer com os outros o que não gostaria que fizessem com você e já resolvemos toda a questão ética e moral. O problema é que por mais que sejam ideias muito conhecidas, a aplicação delas é complexa, pois batem de frente com muito do comportamento instintivo humano, forjado sob a lei do mais forte desde tempos imemoriais.

Não é simples exigir que todas as pessoas consigam entender as razões racionais de comportamentos saudáveis para a convivência humana em grandes grupos, por isso precisamos de coisas como religiões e governos: pra muita gente a ideia é tão complicada que só a ameaça de punição consegue mantê-las sob controle. Eu sei que bato muito nessa tecla, mas o problema da humanidade é a disparidade intelectual entre as pessoas. Algumas entendem o porquê das decisões que norteiam nosso comportamento, mas a maioria sequer tem tempo disponível (ou mesmo capacidade no cérebro) para entender a lição, tem que decorar mesmo e fazer por fazer.

O problema é que gente que decora uma informação não sabe aplica-la quando o contexto muda. Temos uma sociedade baseada em condicionamento a aceitar decisões tomadas por pessoas mais inteligentes pelo medo de repressão real ou imaginária, e isso nos deixa numa situação pra lá de precária: não tinha nenhuma defesa real dos valores racionais dentro da cabeça das pessoas. Assim que elas tiverem alguma certeza, por mais burra e desinformada que seja, começam a agir contra a coletividade imediatamente. Afinal, nunca foi sua preocupação.

Nada é de graça nessa vida: a virada do pêndulo pode ajudar a manter sob controle os malucos politicamente corretos, mas também reduz as nossas defesas contra gente extremamente ignorante cheia de certezas. Não dá pra relaxar. Eu aposto que esse movimento anti-vacina tem tudo pra crescer aqui no Brasil pelo momento cultural e político que estamos vivendo, e seja lá onde essa ideia surgir, ela tem que ser enfrentada com força, porque quem cai nesse papo de que vacinas fazem mal já demonstrou que não tem defesas internas contra comportamentos perigosos para a coletividade. Podem me chamar de radical, mas essa gente só é controlada pelo medo.

Nem que seja o medo de assumir uma posição em público. Parece escroto, mas é a realidade: se você não reprimir muito quem começa a falar essas bobagens, essa pessoa transmite uma espécie de “doença intelectual” para as outras que não foram vacinadas por informações melhores durante a vida. Eu não vou deixar ninguém próximo de mim falar alguma besteira dessas sem ser bem cruel e fazê-la se sentir uma retardada, nesse caso é a única alternativa. Não é no amor que se resolve isso, infelizmente.

Quem não é vacinado fica doente.

Para dizer que eu estou sendo pago pela indústria farmacêutica, para usar argumentos científicos que sequer entende, ou mesmo para dizer que a culpa é da sociedade por não ter te dado educação de qualidade: somir@desfavor.com


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