Ele disse, ela disse: O começo do fim.

Até quando estar vivo vale a pena? No caso de um acidente ou doença que crie uma série de impedimentos para a vida de uma pessoa, irreversíveis, Somir e Sally defendem pontos de vista diferentes sobre como deve-se seguir a vida.

Defendem pontos diferentes, mas concordam.

O “Ele disse, ela disse” de hoje tem uma novidade: Um dos dois está MENTINDO sobre sua opinião real. Cabe a você, leitor ou leitora, descobrir quem.

A resposta será dada neste domingo.

Tema de hoje: Vale a pena viver com limitações severas?

Hoje eu vou dar a minha opinião sobre o assunto. Respeito quem quiser pensar diferente, já que quando o assunto é o valor da própria vida, cada um que decida onde o calo realmente lhe aperta. Porém, como sei que minha opinião não é lá muito popular, faz sentido que eu tente explicar melhor o porquê dessa minha decisão.

Decisão, no caso, de não querer continuar vivendo caso sofra algum acidente de percurso na vida e tenha que conviver com impedimentos sérios para a vida. Claro que não estou falando de algo que possa ser tratado ou curado. Não é questão de desistir do processo de recuperação, é questão de reconhecer que às vezes o que resta não é o suficiente.

Eu gosto de pensar que sou uma pessoal essencialmente cerebral. Que meu corpo não passa de um suporte de luxo cujo propósito é ser controlado de acordo com a racionalidade. Eu gosto de pensar assim, mas sei que estou errado. Em nossos corpos residem aspectos de valor inestimável para a vida: Liberdade, prazer, percepção (o cérebro decodifica, não percebe), sociabilidade e atração.

Limitações físicas afetam diretamente, se não todos, pelo menos alguns desses aspectos. E ao afetá-los, causam efeitos negativos na mente tanto num momento inicial quanto a longo prazo. Nem mesmo uma pessoa que tem orgulho da própria inteligência e criatividade consegue passar por isso sem perder uma parte de si no caminho.

Eu traço minha linha de decisão simples sobre a não-continuidade da minha vida numa situação mais grave que paraplegia, e olhe lá… A minha lógica nesse caso é que qualquer condição que me coloque na posição de depender de outras pessoas para continuar vivo, higiênico e funcional é cruel demais para valer o trabalho de continuar vivendo. Eu não gosto nem de pedir um copo d’água para quem está indo para a cozinha, imagine só pedir para limpar a minha bunda!

Pois é, a verdade fede. Aposto que o Hawking se sente o máximo quando alguém troca sua fralda.

E para ser honesto: Qualquer condição que retire minha capacidade de exercer minha masculinidade (vulgarmente conhecido como “dar no couro”) é horrível demais para valer qualquer sobrevida. Desculpem-me a sinceridade aqueles que convivem com isso, mas não deve ser vida. Imagino até que mulheres devam sofrer um pouco menos, mas mesmo assim não deve ser algo tão aceitável.

E a liberdade de ir e vir? Tire isso de uma pessoa e ela perde grande parte da sua capacidade de conviver no mundo real. O paraplégico ainda tem a cadeira de rodas, elevadores e carros adaptados (por isso eu considero que nesse caso ainda poderia valer a pena), mas em outros casos… Não poder sair de casa, não poder ver e ser visto por outras pessoas a hora que bem entender… Prisão perpétua para um réu inocente. Isso é vida?

Tem gente que quebra quando lhe tiram seu orgulho. Eu sou uma delas. E aposto que tem muito mais gente aqui que concorda. Sem independência não há vida. Como eu disse no começo, até respeito quem toma uma decisão diferente da minha, mas com certeza não as admiro por isso. Exemplo de superação? Parece-me exemplo de masoquismo. Qual o mérito de continuar vivendo entrevado numa cama? Se disserem que é pela família e pelas pessoas próximas, digo com propriedade: Não vale a pena. São momentos a mais que podem estragar uma relação. É tentar fazer o milésimo gol jogando 5 minutos por jogo. Eu não gosto de ver as pessoas com as quais eu me importo em estados lastimáveis. E você?

A vida tem um limite. Um momento onde os momentos de sofrimento para si e para as pessoas ao seu redor superam os que realmente valem a pena.

Morrer todo mundo morre. Viver é que são elas…

Para me chamar de insensível, para me jogar uma praga para que eu fique que nem o CB, ou mesmo para dizer que eu minto bem pra caralho: somir@desfavor.com


Quando uma pessoa sofre um acidente que lhe acarreta sérias limitações permanentes justamente naquilo em que ela mais gosta de fazer é evidente e aceitável que sinta um desespero inicial. Deve existir uma fase de inconformismo, de questionamentos e dúvidas. Com certeza eu passaria por um período de revolta ou de não-aceitação. Mas daí a dizer que a vida não vale mais a pena, bem, acho muito forte.

Dizer que se eu for privada de fazer as atividades que mais gosto não quero mais viver é dizer que minha vida se resume a estas atividades apenas, que não tenho capacidade de adaptação. E não é verdade. Optar por deixar de viver, ou em bom português, se matar, é uma fuga muito fácil. Sem contar que é um gesto extremamente egoísta com os que ficam.

Não vamos confundir esta hipótese com casos terminais onde tudo que resta à pessoa é o sofrimento. Estamos falando de uma situação onde a pessoa tem chances de sobrevida, porém com limitações que a impeçam de desempenhar suas atividades favoritas. Minhas atividades favoritas são mutáveis. Hoje, na minha atual condição, são umas, mas amanhã, se a situação fática mudar, podem ser outras. Não sou limitada a ponto de só ter meia dúzia de atividade que gosto.

Por pior que pareça a limitação, sempre tem algo de bom que você pode fazer da sua vida. Vejamos Stephen Hawking. Sofre sérias limitações e mesmo assim prestou contribuições geniais à ciência. Claro, demanda uma fase de adaptação, ajuda das pessoas queridas, apoio e um trabalho de reconstrução da sua vida. Mas é melhor do que desistir dela, certo?

Eu sei que a Madame aqui de cima vai fazer um discurso orgulhoso dizendo que é uma merda viver dependendo de alguém, mas eu pergunto: o que é melhor, viver dependendo ou não viver? Até que ponto todos nós, tidos como “normais”, não dependemos de alguma forma de outras pessoas?

O ser humano se adapta a tudo, cansamos de ver exemplos disso todos os dias. Porque eu, que sou uma pessoa que tenho muita força de vontade e disciplina, não me adaptaria? Porque não redirecionar sua vida? Esse discurso da Madame me soa bastante infantil e mimado: “se as coisas não saírem do jeito que EU quero, eu me mato e pronto!”. Falta de preparo para lidar com as rasteiras que a vida pode dar em qualquer um de nós. Ainda bem que ele não tem filhos, né não? Abandona o barco com uma certa facilidade.

Por pior que pareça uma situação, ela sempre traz algum aspecto positivo. O desconhecido assusta, mas depois que a gente entende exatamente com o que está lidando, cria mecanismos próprios para tornar aquela situação mais palatável. Não dá para dizer de forma prévia “se acontecer tal coisa não vale a pena continuar vivendo”. Não temos como saber, no caso concreto, como nossas vidas se acomodarão a essa nova situação. É preciso tentar vencer o desafio antes de concluir que ele é intransponível. Quantas vezes ao longo das nossas vidas não pensamos que uma determinada situação seria terrível e quando a vivenciamos na prática ela não se mostrou tão ruim?

Ter que passar por uma situação dessas é ter que passar por sofrimento. Muitas pessoas tem pavor de ter que passar por sofrimento, por isso se sujeitam às coisas mais terríveis: ficam em relacionamentos falidos, aturam desaforos e humilhações e abrem mão de coisas importantes em suas vidas. O sofrimento chega para todos, de uma forma ou de outra. E o sofrimento passa. Ninguém sofre para sempre. Encontramos caminhos para lidar com ele. Não devemos ter medo do sofrimento e muito menos criar essa paranóia de fugir dele, porque ele chega, ele sempre chega. E passa.

Independente de questões religiosas, que reprovam o fato de uma pessoa tirar sua própria vida, imaginem o sofrimento dos que ficam! Pais, amigos, filhos, família… Acho que todos preferem ter seus entes queridos com algumas limitações a seu lado do que enterrados a sete palmos do chão. Quando você escolhe desistir, está dizendo para seus amigos e família “Vocês não são bons o suficiente para fazer isto aqui valer a pena, não os amo o suficiente para ficar aqui e lutar para tentar refazer a minha vida”. Eu acho terrível. E se alguma pessoa querida fizesse isso comigo eu ficaria arrasada.

Lembro que quando Christopher Reeve (o ex Superman) sofreu um acidente que o deixou tetraplégico, escreveu um livro chamado “Still me” (algo como “Ainda sou eu”). E é isso mesmo. Eu posso ficar sem mexer os dois braços e as duas pernas que ainda serei eu e ainda terei alguma coisa boa para dar a alguém. E me admira Madame, que desvaloriza por demais o corpo e hipervaloriza o intelecto, pensar em abandonar este mundo porque o corpo lhe apresenta limitações.

Para me dizer que desde a primeira linha já sabia quem de nós estava mentindo, para me dizer que acha que isso é uma pegadinha e que ambos estão mentindo e para me dizer que acha que isso é uma pegadinha da pegadinha e eu escrevi o texto do Somir e o Somir escreveu o meu: sally@desfavor.com

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Comments (19)

  • Rá!!!
    Eu disse que era manipulação =P.

    O Somir respeitando a opinião de alguém… bleh!!

    E eu quase acreditei que o somir era o mentiroso!O texto estava muito brando, muito compreensivo.
    Entretanto… era óbvio demais!

    Por isso apostei na Sally ;)

  • O quê?

    Você tem noção de como me doeu escrever "respeito a sua opinião" no meu texto para aumentar a minha presunção de mentiroso?

    E você pula fora assim?

    Sacanagem, Sally. Sacanagem. O mínimo que se faz pelo que se jogou na granada é continuar lutando.

  • A mentirosa sou eu.

    Mas vocês atiraram no que viram e acertaram no que não viram.

    Ficar deficiente não quer dizer necessariamente participar de Paraolimpiada. Eu jamais me exporia a fazer algo que demande justamente minha parte deficiente.

    Eu não gostaria de viver assim porque não poderia fazer as coisas que mais gosto, e para elas não há substituto. Sou uma pessoa muito ativa, incapaz de viver sem total independência. Não é mérito, é DEFEITO meu. Admiro quem tem a capacidade de se adaptar. Acredito que eu não teria.

    Se eu não puder anda, não puder dançar, não puder fazer sexo, não puder viver sozinha, podem sentar a eutanásia que eu agradeço. Escolha pessoal minha.

    Obs: Sou babacamente previsível. Quase todo mundo acertou… aff

  • Se o Somir mentiu, não sei, mas acho que não… Agora a Sally? Com toda certeza.

    Só faltou ela dizer que adora assistir as para-olímpiadas. [2]

    lembrei das para-olimpíadas na hora em que ela começou a falar das limitações

    (mas acho que o somir mente também, o post tá muito suave pra ser dele)

  • se é o Somir palhaço que sempre mente… acho que dessa vez seria a Sally que mentiria… mas o Somir dizendo que respeita a opinião dos outros é duro de engolir… :P

    Somir mentiroso!

  • Se o Somir mentiu, não sei, mas acho que não… Agora a Sally? Com toda certeza.

    Só faltou ela dizer que adora assistir as para-olímpiadas.

    Sobre o tema em si, prefiro não opinar, aliás, evito até pensar no assunto.

  • Hã…Me parece que os dois estão mentindo. Que os textos estão torcados.Quem as paraolimpiadas ridiculas…e que exemplo de superação não existe é a Sally.

    Magoei qdo vi que ela pensa assim
    :(

  • Só porque acho que fomos manipulados para pensar que um está mentindo quando o outro é que está mentindo na verdade, meu voto vai para a Sally.

    ;)

  • Adorei essa Postagem, e aposto que a Sally é quem está mentindo, aresposta dela foi muito previsível para o tamn=anho do desfavor que ela é!(Embora talvez eles tivessem utilizado dessa estratégia para confundir a nós leitores) mas ainda assim aposto que a Sally mentiu!

  • Eu acho que é a Sally a mentirosa. Concordo com Somir. Além do mais, é um tanto estranho as pessoas poderem decidir tudo o mais em suas vidas, com quem e quando vão fuder, no que vão trabalhar etc e tal, mas não poderem decidir quando estão de saco cheio de continuar vivendo.
    Egoismo é os parentes que querem por que querem controlar a vida do outro determinando até quando deve ou não morrer! Além do mais, pra muitos pais tirar a própria vida nem o mais grave que algum filho pode fazer, é melhor que o filho tire a própria vida do que vire viado, ou traficante, ou pedófilo, ou blogueiro, por exemplo (quer dizer, estou falando dos meus pais).
    Resumindo, cada um tem o direito de decidir como quer viver sua vida e também de como e quando quer acabar com ela.

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