O passado me condena: Te amo não correspondido.

COLUNA NOVA: E por nova queremos dizer velha. Este texto foi originalmente postado no blog Sally Surtada, e devido a pedidos de leitoras saudosistas, está de volta.

Tem coisa pior do que ouvir um “eu te amo” não correspondido de alguém? Além do transtorno em si, você tem uma fração de segundos para decidir o que fazer, sendo esta fração de segundos observada de perto pelo interlocutor, na maior expectativa. A impressão que eu tenho é que nenhuma resposta, desde a mais sincera até a mais mentirosa, te livrarão de problemas. A vida é assim. Quando você menos espera, acontece a desgraça: ele abre a boca e solta um inesperado “eu te amo!”. Ok, se for correspondido, é um momento lindo. Mas se não for, Amiga Leitora, levanta de onde você está e começa a bater com uma panela na cabeça dançando a Macarena, porque a melhor saída é que ele pense que você enlouqueceu. Você está em sérios problemas…

O que fazer para contornar um “eu te amo” não correspondido sem magoar o autor da frase? Bom, sem dúvida, o mais seguro é a boa e velha “mentira branca”, que é amplamente aceita em sociedade: Sorriso amarelo, piscadinha de cílios e um “eu também…” com voz meiga. Eles também mentem de leve para a gente: “Não Amor, você não tem celulite”, “Não Amor, você não está gorda”, “Não Amor, nem acho Scheila Carvalho bonita, ela é muito vulgar”. Eu também te amo, viu?

MAS… se você parar para pensar a longo prazo, pode constatar que esta mentira vai custar caro. Se você afirmar que AMA a pessoa, será tratada e principalmente cobrada como tal. Além da canalhice de enganar alguém fazendo-o acreditar que está investindo tudo em uma pessoa que o corresponde, claro. O que fazer para não responder de forma direta sem ter que dizer que não ama a pessoa? Porque dizer “Desculpa mas eu não me sinto assim” é cruel e causa uma mágoa, pode acabar até fazendo com que a pessoa se desencante por você.

Pensando nisso, o Instituto Sally Somir de Qualidade de Vida desenvolveu quinze táticas usadas e aprovadas para tentar contornar este momento constrangedor. Sim, pode parecer ridículo, mas, acreditem, eventualmente, elas funcionam. E para garantir que você vai sair ilesa do imprevisto, tem também um Plano B, um Plano de Emergência dividido em três etapas para salvar qualquer Amiga Leitora do sufoco.

1) Estratégia do João Sem Braço: Quando o infeliz solta a bomba, fique olhando com cara meiga e começo a falar coisas como “OHHHHHHNNN! QUE FOFOOOOO!” e abraço a pessoa, faço a maior festa, como se estivesse falando com um filhote de cachorro que finalmente mijou no lugar certo. E depois da comemoração, mude de assunto. Se ele tiver um desenvolvimento mental deficitário e não perceber que é melhor deixar o assunto morrer, ou se ele for desagradável a ponto de voluntariamente te dar uma prensa dizendo coisas como “E você, me ama?”, é hora do plano de emergência.

PLANO DE EMERGÊNCIA: Este plano é válido para as dez estratégias estudadas e deve ser acionado quando elas falharem. Se divide em três fases: 1)Crie um foco de distração propositadamente, se vire, dê o seu jeito. Tire a roupa (sexo distrai que é uma beleza), derrame um copo de Coca-Cola na cama devido à “forte emoção” do momento, taque fogo na cortina, enfim, o que estiver ao seu alcance. Uma boa saída é começar a gritar dizendo que viu um ______ (complete com o bicho do qual você tem medo: barata, rato, lagartixa e etc) no _____ (complete com um local que esteja no seu campos de visão: atrás da cama, atrás da cortina etc). Dê um faniquito, grite, diga que é para ele matar, que ele tem que procurar até achar e matar etc. O assunto tem que morrer, o clima tem que acabar. Algumas pessoas, na hora do nervosismo, apelam para o telefone imaginário. É muito tentador, porém muito manjado, por isso, não pegue seu celular e atenda como se tivesse recebido uma ligação nem tente convencê-lo que o telefone da casa está tocando. Enfim, procure destruir o clima e criar outro assunto mais urgente para desviar a atenção.

Se ele tiver um desenvolvimento mental deficitário e não perceber que é melhor deixar o assunto morrer, ou se ele for desagradável a ponto de voluntariamente te dar uma prensa dizendo coisas como “E você, me ama?”, é hora da fase segunda fase: 2) Simule um desmaio. Se ele for muito pau no cu mesmo e quando você abrir os olhos ele estiver com o nariz colado no seu, te cutucando e dizendo “Mas hein? Você me ama, sim ou não?” é hora da terceira etapa: 3) Faça de conta que acordou com amnésia.

2) Estratégia da Palhaça: Depois de escutar a frase, tente descontrair o ambiente com piada. Pode ser sem graça, quem te ama ri mesmo se a piada for ruim, mais por educação do que por qualquer outra coisa. Exemplo: “Eu te amo!” – “Ahhh, eu também ME AMO muito! Todo mundo me ama, eu sou mó legal! Hahahahaha”. Novamente, se a pessoa tiver amor próprio e bom senso, deixará o assunto morrer e entenderá que isso foi um jeito bem bacana e criativo de dizer que NÃO, você não ama ele porra nenhuma. Mas, como amor próprio e bom senso não abundam, se ele insistir, apele para o Plano de Emergência.

3) Estratégia Formal: O animal manda a frase, você não se altera, continua agindo como se nada e apenas agradece: “Poxa, que legal você me dizer isso, Obrigada”. Firmeza e naturalidade. Se ele mostrar indignação pela sua reação, tente convencê-lo de que ele é maluco, está exagerando e está completamente descontrolado. Diga que está “elaborando” a informação que ele te passou e que vai “refletir” sobre isso e sobre muitas outras coisas, porque você gosta de pensar antes de falar. Se ainda assim ele insistir que não tem que pensar para saber se ama ou não alguém, Plano de Emergência nele.

4) Estratégia da Surda: Você simplesmente finge que não ouviu. Só isso. Geralmente a pessoa repete, um pouco mais alto. Continue indiferente. É bem improvável que dê certo, mas não custa tentar. Se a pessoa te cutucar ou gritar, se faça a distraída e diga algo como “Hã? Oi? Você falou comigo? Desculpa, nem ouvi, estou tão distraída… sabe, hoje é um dia muito difícil para mim, é que ___” (complete com uma memória dolorida, do tipo “faz um ano que meu cachorro morreu” ou “estou com uns problemas sérios no trabalho”). Reafirme o quanto o dia não está bom para você, o quão cheia está sua cabeça e o quanto você está indisponível. Se ainda assim ele for um sem noção egoísta filho da puta e não adiar a declaração, Plano de Emergência nele

5) Estratégia do Deixa Disso: Consiste em menosprezar o autor da frase. Quando ele vier com a bomba, você ri e diz com ar de piada “Ama nada!” (pode complementar, rindo, em tom de brincadeira, com um “Você diz isso para todas!”). Se ele for sensível ele vai ficar bastante magoado, mas não vai mais falar isso por um tempo. Se ele insistir em ser levado a sério e for mais enfático, dá teu jeito e arruma uma briga por causa da reação dele, ele tem que sair como o errado: “Credo, Fulano, era só uma brincadeira, precisa falar assim comigo?” – é bom que já corta o clima de romance. Se possível brigue, para garantir que a porra da frase não vai voltar mais. Se ele se desculpar e repetir a declaração, Plano de Emergência nele.

6) Estratégia da Virada de Mesa: Essa Quando ele soltar a frase, simplesmente se ofenda. Isso aí, fique puta, dê uma de maluca! “Ama, né? Sei. Se amasse você não ________” (complete o espaço com coisas que ele faz/fez que te desagradam, vale tudo, desde briga pela tampa do vaso até olhar para a bunda de alguém). Se o sujeito geralmente se esforça para provar por A + B que te ama, diga um incisivo “Você não sabe o que é amar!”. Ele vai atribuir esse comportamento descontrolado a TPM ou a alguma dessas “coisas de mulher” que ele não entende. Uma frase que o Somir me disse uma vez me marcou, ele disse que mulher pode se comportar como uma descontrolada sem preocupação com a coerência porque homem espera isso mesmo dela. Se ainda assim ele insistir em provar que te ama, corte o assunto dizendo algo genérico como “Ta bom, ta bom, eu não vou mudar sua opinião, você não vai mudar a minha, melhor a gente nem discutir mais sobre isso se não a gente vai brigar”. Caso ele insista, Plano de Emergência.

7) Estratégia da Narcolepsia: Se houver contexto para isso, tipo vocês estarem deitados na cama conversando ou deitados no sofá vendo um filme, e você estiver de costas para ele, apenas feche os olhos e faça de conta que está dormindo. Se ele repetir, continue inerte. Muito cuidado na hora crítica, quando ele pergunta “Você está dormindo?”, pois o desespero é tanto que a gente acaba respondendo afirmativamente. Continue calada. Isso deve bastar para ele se convencer de que você efetivamente está dormindo. Prepare-se, homens falam coisas estranhas quando acham que a mulher está dormindo e não está ouvindo. Se ele for imbecilóide o suficiente para “te acordar”, Plano de Emergência nele.

8) Estratégia do Amor à Prova: Depois que ele soltar a frase, olhe para ele com cara de dúvida, pense por alguns segundos e diga em tom firme “Então prove! Já sofri muitas desilusões na vida, já não acredito mais em palavras” Logo depois, peça como prova alguma coisa que sabe que ele nunca faria, como fio terra, depilação ou vestir a camisa do Vasco. É provável que ele mesmo deixe o assunto morrer. Sim, você pode usar a cartada “mulher traumatizada”. É uma coisa tão comum que dificilmente ele desconfiará. Porque homem, quando está na dúvida entre duas versões (traumatizada ou não me ama?) prefere acreditar sempre na que é mais favorável ao seu ego. Mas, se ele efetivamente atender ao seu pedido e “provar” seu amor (culpa sua, tinha que ter pedido coisa pior), Plano de Emergência nele.

9) Estratégia do Tempo: Essa tem prazo de validade limitado. Se vocês estiverem juntos por pouco tempo, pode ser utilizada. Acho que até uns seis meses passa. Quando vier a gracinha, você desacredita o sentimento soltando algo como “Você não acha que é muito cedo para falar em amor? Hoje em dia as pessoas dizem eu te amo como quem limpa a bunda, a gente nem se conhece direito, como pode você me amar?”. A culpa é toda do tempo. Não é você que não ama ele, é o tempo que não basta para que qualquer ser humano do mundo possa afirmar que ama alguém, compreende? Se ainda assim ele insistir que dá tempo sim e começar a falar coisas sobre amor a primeira vista, Plano de Emergência nele.

10) Estratégia do Se Ame: Quando ele soltar a frase, rebata com um “Para me amar, você primeiro teria que SE AMAR. O primeiro amor é o amor próprio! Como você pode me amar sem se amar?”. Quando ele olhar surpreso, prove por A + B que ele faz coisas que mostram que ele não se ama, aquelas pequenas coisas auto-destrutivas que todos nós fazemos, como por exemplo, fumar, ser sedentário ou não fazer check up anual no médico, não fazer exame de próstata, dirigir muito depressa e etc. Grandes chances do assunto morrer. Diga que primeiro ele tem que SE amar (grite quando falar a palavra SE, eles ficam desnorteados quando a gente grita) e só depois vocês conversarão sobre o relacionamento. Como nós sabemos que ele não vai parar de fazer as coisas citadas acima, é provável que o tema demore para voltar. Porém, se ele heroicamente mudar sua postura, Plano de Emergência nele.

11) Estratégia da Relativização: Não responda à frase. Comece a divagar, “A La Somir”. Não diga nem que ama, nem que não ama. Solte algo como: “Massss… o que é o amor? Quem pode definir? É um conceito muito relativo… muito pessoal… muito subjetivo Como saber quando é amor? O que é amor PARA VOCÊ?”. Se puder, tente permear o discurso com informações culturais demonstrativas, como por exemplo “Você sabia que numa tribo no Zimbábue o homem prova seu amor à mulher deixando que abelhas piquem seu pênis? Seria isso amor? O que você acha?”. No final, se você tiver habilidade, ele mesmo está duvidando que te ama. Homens são ruins em definir sentimentos e abstração, ele não vai se sair bem, acredite. Se por um acaso ele driblar toda a problemática e afirmar que te ama, Plano de Emergência nele.

12) Estratégia Comunista: Olhe para ele de forma raivosa e inicie um discurso comunista. Mentalize o Fidel Castro e mande ver! Coisas como “Amor? Amor é uma invenção pequeno-burguesa, um conceito egoísta criado para estimular o consumo! Tem gente passando fome no mundo e você me vem falar de amor? Tanta coisa mais urgente, mais importante! Vai acabar a água potável do mundo, você sabia?”. Discurse sem dó. Fidel feelings. Sete horas seguidas se ele deixar. Se ele te cortar, faça-o parecer egoísta por estar falando de um relacionamento quando neste momento crianças estão morrendo de fome. Se ainda assim ele insistir, Plano de Emergência nele.

13) Estratégia Suicida: Diga que está muito feliz porque você queria mesmo casar e ter filhos com ele e sabia disso desde o primeiro encontro, mas não falou para não assustá-lo. Planeje ali mesmo onde vai ser a lua de mel e o nome dos filhos. Cobre uma data para o casamento, mas antes diga “Só quero casar se você REALMENTE me amar, viu? Casamento tem que ter amor de verdade! Você tem certeza de que me ama?”. É bem provável que ele recue. Se não recuar, Plano de Emergência nele.

14) Estratégia do Corpo Fechado: Faça bico. Diga que da única vez na vida em que você amou e se entregou a alguém, saiu muito magoada, por isso você tem o coração fechado para o amor desde então. Você não se permite amar ninguém. É importante que você convença ele de que você realmente acredita nisso. O problema não é com ele, é você que decidiu que não vai amar mais ninguém. Fique o resto do dia triste. É provável que ele tente te demover da idéia, mas sabe como é, trauma leva tempo para superar… Se ele insistir e não respeitar o “tempo” do seu “trauma”, Plano de Emergência nele.

15) Estratégia do Choro: Essa é universal, minha gente, pode ser usada em qualquer caso! Assim que ele acabar de falar a maldita frase, CHORE. Isso mesmo! Comece a chorar! Manda ver! Ele não vai saber se é choro de emoção, de tristeza, de raiva… Mas o lado bom é que homens tendem a ficar apavorados ao ver mulher chorando. Se ele ficar sem reação, já vai ser um ponto para você. É provável que ele fique observando, se perguntando mentalmente o que merda está acontecendo, mas que não te pergunte nada por medo de você achar ele um escroto sem consideração. Todo mundo sabe, não se cutuca mulher chorando. Ele sabe que ele tinha a obrigação de saber porque você está chorando, e já que ele não sabe, isso faz dele, aos seus olhos, um insensível de merda. O pavor dele pressentindo o tamanho da confusão que vai dar deve bastar para mantê-lo calado ou mudar de assunto para te distrair. Se ele insistir, Plano de Emergência nele.