Aquela do táxi…

Siago Tomir estava no Rio de Janeiro. Contrariado pelo calor e pela esculhambação local, começou o show de mau humor:

Siago: CALOR INFERNAL!
Sally: Trinta graus, Siago
Siago: Justamente! CALOR INFERNAL
Sally: Isso não é calor para os padrões daqui
Siago: É calor para os padrões civilizados
Sally:Ok, já entendi. O que posso fazer por você?
Siago: Vamos voltar de taxi, não aguento mais andar na rua
Sally: Ok, vamos pegar um taxi

Chamamos um taxi, entramos e começamos a conversar. Como costuma acontecer, o motorista se meteu na conversa:

Siago: Preciso fumar
Sally: Não vai fumar aqui não!
Motorista: Nem pensar em fumar aqui
Siago: *cara de espanto
Motorista: Ontem mesmo coloquei um cara para fora do meu táxi na porrada porque ele tentou fumar
Sally: Fez muito bem
Siago: Oi?
Motorista: Isso aí que você ouviu, se você fumar te coloco para fora do meu taxi na porrada, tá avisado

A situação já era tensa, mas tudo piorou quando o motorista de táxi começou a correr e cantar pneu. Como não existe nada que não possa piorar mais ainda, Siago Tomir percebeu que o taxista não tinha as duas mãos. Não parecia uma amputação, parecia uma vibe Talidomida. O braço acabava em um formato arredondado. Eu não percebi, mas Siago Tomir logo tratou de me alertar:

Sally: Quer parar de me cutucar? Se quer fumar vai esperar!
Siago: *apontando
Sally: Aqui é normal motorista correr, tá agitado por causa disso? Você também corre quando dirige!
Siago: *se contorcendo e apontando
Sally: *olhando

Quando percebi o que ele estava querendo me dizer, quase morri. O motorista dirigia com os dois cotocos. Um ele enfiava por dentro do volante, rodando-o. O outro ele usava para dar uns cutucões na marcha.

Siago: *olhando fixo para o cotoco
Sally: *arregalando os olhos
Motorista: Desculpa o mau jeito aí, colega, mas tem coisas que me tiram do sério
Siago: Sem problemas
Motorista: Tenho um filho pequeno para cuidar, sabe? Não posso me arriscar a ter câncer de pulmão

Estabelecida uma conversa, Siago olhava fascinado para o cotoco e começou a abusar da sorte.

Siago: Quer dizer que você deu porrada em um passageiro?
Motorista: Dei mesmo! Ele não queria apagar o cigarro, dei porrada mesmo. Eu sou assim, esquentado
Sally: Para, Siago
Siago: Deixou o cara NA MÃO?
Sally: PARA, SIAGO
Motorista: Deixei, deixei ele no meio da rua
Siago: *se segurando para não rir

Tentei mudar o foco da conversa, porque Siago Tomir quando escolhe um alvo, não para

Sally: Podemos passar no shopping para ver aqueles jogos de videogame que você queria comprar
Motorista: Eu dei um PlayStation para o meu filho
Siago: É mesmo?
Sally: Por favor, para
Siago: E você joga com ele?
Sally: *tapa na própria testa
Motorista: Jogo sim! Ele não consegue me ganhar
Siago: *rindo para dentro
Sally: O senhor está correndo um pouco, se importaria de ir mais devagar?
Motorista: Olha, Dona, dirigir devagar é coisa de mulherzinha
Siago: *rindo abertamente

O motorista fazia curvas em alta velocidade, cantando pneu, sempre virando o volante com o cotoco por dentro. Siago Tomir pegou um papel, escreveu “mão de cotonete” e me mostrou. Dei um tapa nele e o motorista resolveu se meter.

Motorista: Não me leva a mal não, Dona, mas se a minha mulher me der um tapa eu cubro ela de porrada
Siago: *rindo alto
Sally: Foi um tapa de leve
Motorista: Mesmo assim, não admito.
Siago: Com mulher tem que ser assim, MÃO FIRME
Sally: *beliscando Siago
Motorista: *curva fechada cantando pneu
Sally: É isso, está decidido, vamos parar no shopping. Moço, pode deixar a gente logo ali na frente

Siago Tomir demonstrava um interesse enorme no Mão de Cotonete. Eu estava apavorada com sua direção perigosa, mas ele insistiu:

Siago: Não, tá muito calor, vamos para o outro endereço mesmo
Sally: Eu quero ir ao shopping
Siago: Outra hora a gente vai
Motorista: Dona, o marido mandou, tá mandado
Sally: Não somos casados
Motorista: Tem que ver isso aí
Sally: Oi?
Motorista: Deus não gosta
Siago: Você é casado?
Motorista: Como manda o figurino!
Sally: Deus deve estar muito feliz com você
Motorista: Está sim
Siago: *rindo para dentro
Sally: Só que eu não acredito em Deus
Motorista: Como não? Nem brinca com isso, Dona, que Deus castiga!
Siago: *abaixando para rir
Sally: Pois é, no caso, EU não fui castigada por ele não…

Depois de passar um tempo nos convencendo a casar, Mão de Cotonete nos deixou no destino final. Eu desconfiei, Siago Tomir estava muito calado. Ele não perderia uma oportunidade dessas. Mas na hora de pagar a corrida, veio a explicação. Ele estendeu uma mão fechada cheia de moedas:

Siago: Desculpa, só tenho moedas
Sally: Vai apanhar
Siago: Toma
Sally: Vai apanhar e não vai poder bater porque as pessoas vão ficar contra você

Mão de Cotonete olhava para Siago Tomir. Com medo que ele fosse atacado pelo cotoco, peguei dinheiro na minha bolsa, na forma de nota, e entreguei ao motorista, que juntou um cotoco ao outro pegando a nota.

Motorista: Vê se casam, hein? Se não Deus castiga
Sally: Tipo o que?
Siago: Você vai sentir o peso da MÃO de Deus
Motorista: Coisa ruim acontece com quem não louva a Deus! *apontando o cotoco nas nossas caras
Sally: *fazendo um joinha
Siago: Adeus, foi um prazer
Sally: *acenando
Motorista: Vai onde, cara! Vem aqui, me dá um aperto de mão!

Para duvidar que o Mão de Cotonete exista, para dizer que você também já pegou táxi com o Mão de Cotonete ou ainda para perguntar em que bairro foi isso porque você quer pegar um taxi com o Mão de Cotonete: sally@desfavor.com

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