Skip to main content

Colunas

Arquivos

Anônima mente.

Anônima mente.

| Desfavor | | 35 comentários em Anônima mente.

Como a maioria de vocês já deve saber, não somos afeitos a exposição por aqui. Sally e Somir valorizam o anonimato, mas diferem quando falamos da expectativa de se manterem anônimos e o que devem fazer para se proteger. Os impopulares mostram a cara (se quiserem).

Tema de hoje: Como lidar com a manutenção do anonimato?

SOMIR

Lutando até o fim por ele. Ou você tenta se manter anônimo, ou não. Não existe meio termo. Eu escolhi manter uma sólida camada de proteção entre minhas identidades virtuais e minha real e pretendo que as coisas continuem assim. O anonimato parcial que a Sally defende me parece risco desnecessário.

E se você ainda está confuso com o tema, leia nossos textos que vai ficar claro sobre o que estamos falando. De qualquer forma: eu já tive mais motivos do que tenho atualmente para me manter escondido, não teria me que mudar para o Timbuktu e fazer uma plástica se me descobrissem, mas mesmo assim acredito no valor do anonimato para me dar autonomia e um saudável grau de separação entre as coisas que gosto de fazer (pelo menos online).

Mas aqui eu tenho que admitir que acho uma graça especial em forjar e viver diferentes personalidades, principalmente no mundo digital. Acho que até contei antes, alguns dos leitores que vieram para cá logo no começo do desfavor foram convidados por uma outra identidade minha sem nenhuma ligação com o Somir. Talvez alguns deles ainda estejam por aqui. Eu ainda faço isso com outras personagens, mas num ritmo bem menor.

E na minha experiência, é possível sim tomar a decisão de se manter anônimo e resistir às pressões desse novo mundo de evasão de privacidade da web moderna. Nada nessa vida é de graça, contanto: você não vai ter a mesma experiência que a turma das redes sociais tem, mas ainda sim dá para consumir boa parte do conteúdo disponível e até mesmo criar relacionamentos interessantes.

Garanto que seria bem mais fácil não ter que memorizar nomes, senhas, gostos e estilos de umas dez ‘personas’ diferentes, como já tive que fazer em alguns momentos, mas é normal que você se esforce mais para conseguir fazer as coisas que gosta. Não estou apenas passando atestado de maluco, quero deixar claro aqui que sei sobre o que estou falando e reafirmando a possibilidade real de se manter anônimo se quiser.

E essa separação não precisa impactar negativamente sua vida real, digo, a vida com seu nome e sua imagem expostas para o mundo. Você pode ter uma vida relativamente comum com alguns ‘compartimentos’ extras para a personalidade que quer manter anônima. É só saber administrar o tempo e controlar a informação disponibilizada.

O segredo para se manter anônimo é criar uma identidade separada. Não precisa fingir ser outra pessoa em tudo, basta ter alguns elementos básicos criados especialmente para essa identidade. Inclusive alguns que você planta para serem descobertos no futuro. Um pouco de paranóia e 99% das pessoas vai ser incapaz de passar pelas suas defesas.

E olha que tudo isso no caso se alguém perder tempo procurando pela pessoa atrás da identidade anônima. Raramente se é importante a esse ponto, raramente se encontra alguém com vontade de correr atrás. O melhor esconderijo é a insignificância, já dizia alguém que eu não sei quem, mas que provavelmente já disse isso antes de mim.

Se você não provocar ninguém a te achar, seja tirando onda do próprio anonimato, seja ‘prometendo’ algum prêmio para quem o fizer, quase certeza que ninguém vai tentar. Já provocamos muita gente aqui com nosso conteúdo azedo, mas nem isso parece motivar as pessoas a fazer mais do que uma busca rápida no Google.

Correm mais atrás da Sally, até porque ela é melhor nessa coisa de irritar e/ou cativar o público, talvez por isso ela se preocupe mais com o que acontece se a descobrirem. Eu? Eu nego até o final e ainda tenho toda uma estrutura paranóica de proteção que colocaria a imensa maioria das pessoas em dúvida mesmo no caso de me acharem mesmo. Sem contar as vantagens de mentir muito bem.

A condição para se manter anônimo é querer se manter anônimo e pagar o preço por isso. Isso significa não misturar as identidades, isolar conscientemente as pessoas ao seu redor de informações perigosas, ter grande disciplina na manutenção de ‘pessoas’ diferentes vivendo sob um mesmo crânio… Sem contar se inteirar sobre as tecnologias necessárias para a manutenção do anonimato.

Não estou respondendo que é fácil seguir esse caminho, só estou dizendo que ele é possível. E no que tange a função do anonimato, é claramente a melhor solução. Evidente que é mais fácil ser anônimo só quando ninguém está tentando descobrir quem você é, mas se for para fazer o fácil, bota a própria cara e se esconde entre as pessoas próximas mesmo.

Ser anônimo me permite desenvolver ideias com grande liberdade por aqui, força os leitores a se concentrar na informação passada, e até me permite ‘puxar o plugue’ a qualquer momento e desaparecer sem deixar rastros assim que quiser. Não pretendo sumir, mas é bom ter essa opção livre.

E nada disso me impede de ter contato com outras pessoas. Cidadão ou cidadã não precisa saber meu nome e endereço para trocar ideias comigo. Sei que alguém pode dizer que tem gente aqui no desfavor que me conhece pessoalmente, Sally sendo o maior exemplo, mas: de todas as pessoas que já me viram e frequentam o desfavor, todas eu conheci ANTES de me decidir pelo anonimato real (mais ou menos na época que o desfavor começou).

Sou anônimo, os que me conhecem fora daqui eu confio de verdade que não vão me entregar… funcionou aqui no desfavor. Nada melhor do que uma evidência para suportar uma conclusão.

Para dizer que ninguém liga pra mim, para dizer que se isso aqui desse dinheiro o papo seria outro, ou mesmo para dizer que sabe que eu sou o Emílio: somir@desfavor.com

SALLY

Partindo da premissa que hoje não há mais privacidade com internet da forma como está, nós perguntamos: como lidar com anonimato? Tentar se esconder até o último suspiro ou fazendo uma escolha calculada de quando vai se mostrar?

Eu acho que o anonimato eterno, como era meu plano original, não é mais viável. Aceito, que dói menos. Fui habilidosa em me esconder por seis anos, mas sei que é impossível que isso dure para sempre, como eu havia planejado. É preciso adaptação a novos tempos e novas realidades. E a impossibilidade de anonimato é uma realidade hoje. Não trabalho mais com a ilusão de lutar até o fim pelo anonimato, que seja eterno enquanto dure.

Quando meu anonimato começar a ruir, prefiro eu mesma vir a público e dar um oi para vocês. Francamente, lutar contra uma tendência forte como a evasão de privacidade é entrar para perder. Tá tranquilo, a hora que alguém sem ambição na vida me der tamanha importância a ponto de perder seu tempo tentando divulgar a minha imagem, eu mesma me encarrego de vir a público. No mínimo, vai ser frustrante para quem supostamente tentava me prejudicar.

Não valorizo o anonimato como antes por não gostar de causas perdidas. Se eu sei que é impossível manter para sempre, não faz sentido tentar manter com unhas e dentes pelo maior tempo possível. Seria apenas adiar o inevitável. A verdade é que quem quer anonimato tem que sair da internet. Se eu quisesse anonimato acima de tudo, fecharia o Desfavor, apagaria todas as postagens e iria viver a minha vida sem deixar rastros. A vida é feita de escolhas, quem quer o bônus tem que arcar com o ônus.

O bônus é conseguir reunir pessoas que pensam mais ou menos parecido comigo, debater assunto que não podem sequer ser pronunciados no dia a dia, olho no olho e debochar daquilo que é sagrado e ofende. O ônus é o risco de exposição. Somir acha que pode ter o bônus sem ter o ônus, eu sou mais realista. Eu escolho ter o bônus e arcar com o ônus, e assim será, de uma forma serena, sem espernear. Sem a arrogância de pensar que eu vou conseguir o impossível. Risco calculado, consciente.

Vamos contextualizar anonimato? Quando o Desfavor começou, pessoas sensatas não se expunham na internet e a pobralhada cafona e sem noção postava foto pessoal, foto da casa, foto dos lugares que frequentava. Evoluímos para pior. Hoje os sem noção marcam permanentemente onde estão em redes sociais e aplicativos que controlam sua localização com GPS, postam fotos nuas, divulgam seu telefone e endereço. Pessoas sensatas “apenas” postam fotos de si mesmas. O que para mim era algo extremamente invasivo e desnecessário é hoje brincadeira de criança.

Nesse contexto, entendo menos mortal ter uma foto exposta. A indignidade ganhou novos contornos muito mais profundos, seria tolo da minha parte ficar no contexto engessado de seis anos atrás. Não vou divulgar minha cara voluntariamente, mas bem, estou topando o risco disso acontecer e se acontecer, não vai ser nenhum fim de mundo. Foda-se, tem gente fazendo tanta coisa pior do que eu e expondo aos quatro cantos…

Na era da volatilidade da informação, mostram seu rosto hoje e em dez segundos tem alguma “notícia” nova e você e sua identidade revelada já eram. Pois é, tem muita gente para stalkear, muita gente evadindo a privacidade de uma forma tão sórdida que o simples rosto de alguém não é nada. Ninguém se importa, eu não sou tão interessante assim para causar todo esse frenesi. Em algum lugar, centenas de pessoas estão fazendo coisas muito piores, muito mais midiáticas e bombásticas.

Estamos em um tempo onde a pessoa não apenas pode publicar o que escreve, como também fazer da sua vida um programa de televisão. Blogs, vídeos, todo tipo de exposição está ao alcance de um clique, seja pelas câmeras nos celulares, seja pelo advento do YouTube. Qualquer desconhecido pode fazer o que antes era privilégio de atores, escritores, jornalistas. Qualquer pessoa pode criar seu próprio canal, seu programa.

Todo mundo tem todas as ferramentas para se mostrar o quanto quiser e como quiser. O resultado? Esse show de horrores que vemos por aí. Todo tipo de evasão indigna de privacidade. Comparado a isso, o que é meu rosto? Nada, quase nada. A grande indignidade coletiva tirou o peso da minha identidade. O que é um peido em uma sociedade onde todos estão cagados?

Não contem com uma revelação voluntária da minha identidade, continuo achando preferível ficar anônima, mas estou ciente de estar sentada em um barril de pólvora: celulares com GPS, dados cruzados na internet e centenas de outros fatores podem sim me denunciar. Eu assumo o risco e faço essa escolha. Não me acho esperta o bastante para driblar um mundo de recursos. Tamos aí, se vazar, vazou. Mais: após tantos anos de troladas, acho que estamos protegidos pelas nossas próprias mentiras. Se vazar uma foto do Somir ou minha, por mais verdadeira que seja, será que alguém vai ter coragem de acreditar?

Para quem, como a gente, prefere o anonimato, melhor forma de lidar com a nova realidade é assumindo o risco. Não se engane, seu anonimato não vai ser para sempre. Se quiser continuar na internet, esteja pronto para ter seu rosto divulgado e faça desse limão uma limonada.

Para dizer que ninguém quer saber a nossa cara, para continuar acreditando que eu seja aquela menina loira de olhos claros das fotos vazadas ou ainda para dizer que você é esperto demais para ser pego: sally@desfavor.com


Comments (35)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: