Desmodelada.

Excepcionalmente, teremos só um texto. Sally recusou-se a decidir por um tema ou mesmo se comunicar de qualquer forma.

+A australiana Madeline Stuart, de 18 anos, conseguiu realizar o sonho dela e de muitas outras garotas: virar modelo. Mesmo sendo portadora de Síndrome de Down, Madeline persistiu no desejo e tem feito uma série de ensaios fotográficos.

Desfavor da semana.

SOMIR

Eu vou falar sobre Madeline, a modelo com Síndrome de Down. Pode não parecer algo grandioso, mas fala muito sobre a humanidade. Que uma garota tenha o sonho de ser modelo, nada demais. Quantas não tem? Mas fica algo no ar quando realmente pensamos no tema: é correto expor alguém sem o discernimento correto para ser julgada pela aparência? As pessoas tendem a pirar quando crianças entram para esse mundo, inclusive já falamos sobre algo parecido no caso da Vogue Kids.

Para a maioria das pessoas, modelar é ter seu ego esmagado por expectativas de olhos alheios. Ser bacana não entra no julgamento. É uma profissão física, mas no caso da garota em questão, tem algo de escroto que ninguém parece ter coragem de mencionar: ela está começando seu jogo numa desvantagem acentuada por sua condição e vai ser perdoada por isso por… pena. Estamos todos vendo o elefante na sala. E por mais que eu ache feio falar algo assim, o sonho de uma moça nessa condição tem a mesma profundidade do meu de ser jogador de futebol quando moleque. Se uma criança decide se jogar num mundo competitivo e repressor como o mercado da aparência, alguma boa alma vai apresentar os problemas óbvios, não?

Tudo bem dar uma aliviada para alguém que com certeza tem amor genuíno pelo o que faz, mas estamos indo no caminho errado: ao invés de desescalar a futilidade da indústria da aspiração, achamos melhor enfiar vários exemplos de superação goela adentro dela. As modelos plus size de hoje vão pesar toneladas no futuro com essa mentalidade. Para fingir que não somos escrotos que só se preocupam com aparência, colocamos algumas pessoas dentro do modelo aceitável, nem que seja pela janela. Se a menina é feia? Olha, tem coisa pior nesse mundo com menos genes. Mas esse nem é o ponto, é uma criança com mais coragem que juízo.

Quem deveria pensar melhor nisso são as pessoas ao seu redor. Pessoas que estão longe de seu melhor estado de discernimento às vezes precisam de um pouco de proteção e compreensão. Se quem está ao lado dessa pessoa está focado num objetivo escuso, grandes chances dessa pessoa vulnerável cometer erros. E pior, viver na sombra deles por muito tempo. A vida tem seus movimentos.

E deveríamos ser mais compreensivos. Todos já estivemos em situações onde tínhamos certeza de estar fazendo a coisa certa – ou mesmo resignados com algum fracasso – e na verdade estávamos nos expondo a um perigo. Ninguém está imune aos erros, mas que pelo menos tenhamos a oportunidade de corrigi-los, não? Se você só consegue imaginar uma situação irreal, ela se torna tudo o que você acredita.

E o silêncio é venenoso. Quando os que estão ao redor da pessoa distante de suas melhores faculdades de julgamento escolhem observar passivamente, só estão incentivando o problema. Como saber se ele não pode ser desfeito se não nos comunicarmos? Talvez o erro não seja a vaidade, e sim a exposição na hora errada. O sentimento é válido, mas desencontros acontecem.

Às vezes nos cercamos de pessoas que achamos que nos fazem bem, elas alimentam suas neuras, te fazem se sentir menos maluco. E convenhamos que é bem mais fácil se livrar de influências negativas quando você não está abalado por alguma deficiência em sua vida. Mas quando tudo vem junto, você só consegue se agarrar na tábua de salvação mais próxima. Se a pessoa visse que o porto seguro estava mais próximo do que imaginava… bom, talvez a pessoa tivesse nadado mais longe.

E se o que você persegue parece uma miragem? O certo é continuar ou arranjar um plano para não secar até a morte? As pessoas ao seu redor tem papel decisivo nessa percepção… depois de escutar pela enésima vez que tudo vai dar errado e não tem nada lá para você, até os mais fortes vacilam. Mas mesmo assim, tentam uma última corrida. Às vezes basta um pouco de areia na cara para você abrir mão de suas últimas forças.

Se alguém com uma visão menos confusa das coisas está por perto, não é errado se calar? Deixar a pessoa correr quando não precisa, deixá-la parar quando está próxima de conseguir… ninguém consegue resolver tudo sozinho, ou pelo menos é uma cobrança exagerada que consiga. O que pode faltar é uma visão mais privilegiada da cena. Enxergar o objetivo é essencial.

E se nos deixamos levar pelo mal julgamento de terceiros, não deixa de ser culpa nossa. Mas… alguns erros parecem mais passíveis de perdão. Melhor perceber o que se pode consertar do que viver num fracasso causado por algo maior do que nossa simples vontade. Erros acontecem. Vamos consertá-los?

Para dizer que não paga mensalidade pra isso, para dizer que isso tem que ser resolvido, ou mesmo para dizer que ainda não entendeu bem o que tudo isso tem a ver com a mon… moça: somir@desfavor.com

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