Sobreviventes dos anos 80

Esta semana li uma notícia que dizia morrem mais crianças hoje do que na década de 80. Morrem mais por doença, por acidentes, por suicídio, por uso de drogas e por outras causas. Na matéria explicavam que o novo estilo de vida dos tempos modernos é especialmente prejudicial para as crianças: os pais têm pouco tempo para cuidar, o estresse, a poluição, a comida congelada e muitos outros fatores contribuiriam para que, apesar dos avanços da medicina, morram mais crianças hoje.

Obviamente quem escreveu isso não foi criança nos anos 80 ou obviamente há um erro de cálculo aí. Impossível que qualquer geração atual tenha uma infância mais perigosa, intoxicante e mortal do que a nossa, de pessoas que foram crianças nos anos 80. Que tipo de geração de crianças de cristal estão nascendo para que hoje, morram mais do que nos anos 80?

Nos anos 80 não tinha essa conversinha de alimento orgânico, de coisa sem agrotóxico, de alimento sem gordura trans. Nos anos 80 borrifavam as plantações com aquele Baygon preto e foda-se, é isso que vai para o seu prato e ai de você se não comer, pois além de apanhar ainda tinha que ouvir aquele sermão de que “tem criança passando fome na África e você jogando comida fora”.

Não só isso, os fast foods, os alimentos embutidos, os sorvetes, nada era controlado. Gordura trans deveria ser a coisa mais saudável que tinha em um lanche de fast food ou em um picolé. Para vocês terem uma ideia, o Chicabon não derretia, mesmo em um calor de 40°. Tinha cera de vela aquela merda, só isso explica. Hoje você abre um Chicabon em um dia quente e ele nem derrete, ele evapora na sua frente.

Sabe o sorvete de pote que hoje vocês pegam molinho com qualquer colher? No meu tempo não tinha isso não. O sorvete ficava duro feito uma pedra. A gente enfiava uma colher e tentava tirar e dobrava a colher.

Os salgadinhos de pacote todos tinha uma cor meio Chenobyl, fluorescente. E a bala da época era a Bala Soft, que vinha em dois sabores: Asfixia e SAMU. Era uma bala projetada anatomicamente para escorregar pela sua garganta e te engasgar. E a bala que não escorregava, a Van Melle, vinha com cocaína dentro. O que diabos estão servindo para a geração atual que pode ser pior do que isso?

Hoje as mães levam os filhos à praia em determinados horários, besuntam a criança toda em protetor solar kids, colocam chapeuzinho, hidratam a criança a cada duas horas, reaplicam o protetor solar de hora em hora, deixam a criança debaixo do guarda-sol e ela só entra na água de mãozinha dada com os pais.

Pois bem, deixem-me contar um pouquinho sobre como se ia à praia nos anos 80. Começava que essa coisa de cadeirinha de criança no carro não existia na maioria das famílias. Normalmente, na hora de ir à praia, meu deslocamento, SE fosse de carro, se alternava em três formas diferentes, uma mais incorreta do que a outra: ou ia no chiqueirinho (aquela mala aberta) da Belina, trocando socos com meu irmão, ou ia no banco traseiro, de pé, trocando socos com meu irmão, ou ia no banco da frente, no colo da minha mãe (que obviamente estava sem cinto de segurança), chorando por ter trocado socos com meu irmão, e meu irmão no colo do meu pai, AO VOLANTE, chorando por ter trocado socos comigo. Se batêssemos de carro viraríamos purê ou carne moída no asfalto.

Filtro solar? Olha, não era algo muito difundido, era um só para adultos e crianças (com cheiro de inseticida e provavelmente alguma química cancerígena) e era caro pacarai. O máximo que meus pais faziam era passar um tiquinho na mão e distribuir de forma apressada no meu rosto e no do meu irmão. E era isso para o dia todo, zero chances de alguém reaplicar algo. E, na década de 80 se ia à praia de manhã cedo e de voltava no final da tarde. Criança assando 12 horas ao sol.

Alguém me hidratava de hora em hora? Alguém colocava chapeuzinho? Não. E criança podia ir na água sem a presença de um adulto, mediante o contrato verbal de “só não vai muito longe/muito fundo” – nas praias do Rio de Janeiro, onde bombeiro salva vidas se afoga. Nos anos 80 a gente exigia ao máximo do anjo da guarda, botava para trabalhar as 24 horas do dia.

E a volta, SE fosse de carro, obrigavam as crianças a entrarem no carro que ficou 12h ao sol, que obviamente não tinha ar-condicionado. 12hs fritando no sol com mais duas horas de sauna para fechar o dia. O câncer de pele lutava com a desidratação para decidir quem nos levaria.

Nos anos 80 o único produto de higiene e beleza feito para crianças era o Shampoo Johnsson e o Talco Johnsson (que recentemente perdeu um processo milionário nos EUA por ser cancerígeno). Todo o resto só usava quem tinha muito dinheiro, ou seja, a maioria das crianças usavam coisa de adulto mesmo, e eram autorizadas a isso.

Tinha um batom que eu não lembro o nome, mas era conhecido como “Batom 24h”. Ele era verde (sim, verde) e ficava vermelho menstruação alguns minutos depois que você passava na boca. E sim, durava quase 24h.

Esse batom só pode ter sido uma trollagem bem-sucedida, pois ele é a antítese do que um batom deve ser. Já seria difícil para mim hoje, passar sem borrar (respeitando o contorno da boca) um batom cuja cor não aparece enquanto você se pinta, imagina com a minha coordenação motora quando eu tinha apenas um dígito de idade, qual era o resultado final.

Abstraindo o fato de que um batom verde que fica vermelho na boca deve ter todos os elementos da tabela periódica, o fato de você não ver o que estava pintando (a cor do batom aparecia minutos depois) fazia com que as crianças pareçam o Bozo depois de se pintar. E sim, aquele desastre durava 24h. No dia seguinte você ia para a escola parecendo o Coringa, ou por causa do batom borrado, ou por causa da vermelhidão no rosto depois da sua mãe tentar esfregar a sua cara para tirar o batom borrado.

Passávamos um gel no cabelo chamado “New Wave”. O troço era colorido e ainda tinha uma tonelada de purpurina. Obviamente era criado para um público adulto, mas adulto não ligava a mínima para o que criança fazia, então, as crianças também usavam. Além do visual hediondo do cabelo melecado, grudento, colorido e purpurinado, eu tenho certeza absoluta de que o troço era tóxico, pois uma vez, em meio a um surto de piolhos no verão, a mãe de um coleguinha no colégio descobriu que o gel New Wave matava piolho.

Você, mãe no ano 2021, me responda uma coisa: o que você faria com esta informação? O que você faria se descobrisse que um produto adulto é capaz de matar outro ser vivo? Manteria longe do seu filho, certo? Sabe o que as mães dos anos 80 fizeram? Quando tinham um filho com piolho, compravam o gel New Wave e passavam nas crianças, pois era mais eficiente que os remédios para matar piolho da época. É toda uma geração que tomou metais pesados no couro cabeludo e certamente teve seu cérebro alterado de alguma forma.

Os poucos cuidados que os pais tinham com os filhos eram errados. Basicamente você não podia cair em piscina ou no mar depois de comer (infundado) pois teria câimbras e se afogaria, teria indigestão ou coisa do tipo. Você não podia comer sorvete quando estava resfriado (infundado), não pode engolir chiclete se não morre (infundado) e você não podia fazer caretas de frente para um ventilador pois o rosto ficaria torto (absurdamente infundado).

De resto? Fica à vontade. Se cair comida no chão assopra e come, se um estranho te oferecer um saquinho de doces de Cosme e Damião na rua pode comer e se quiser passar batom radioativo no rosto todo tá tudo bem. O grande problema era engolir chiclete. Sim, senhores, nós somos sobreviventes dos anos 80, estávamos nas mãos de uma cambada de desinformados.

Já vi muita gente dizer que tinha menos perigos pois não tinha internet e suas influências negativas. E precisava? A TV dos anos 80 era pior do que qualquer Youtuber! Um dia inteiro do Bozo Drogadão, apresentando o programa trincado, novelas da Globo com todo tipo de baixaria e mensagem errada e filmes semipornográficos nas tardes do SBT eram nossa programação básica.

Crianças eram deixadas sozinhas na idade em que os pais achassem que podiam ficar sozinhas e não tinha dessa de vir o Conselho Tutelar te interpelar. E se acontecesse alguma coisa e a criança precisasse chamar os pais no trabalho, certamente ela morria, pois o telefone fixo daquela época tinha a eficiência de uma tartaruga manca. Conseguir sinal para discar já era um desafio, completar a ligação, o outro lado da linha não estar ocupado, alguém atender e alguém localizar seus pais era missão quase impossível.

A gente saía e não tinha como avisar se ia atrasar, se aconteceu algum impressivos, se precisava que fosse buscar mais cedo. Vinham te buscar X horas, em tal lugar e ponto final. Era um salto de fé. Qualquer fator que mudasse essa equação causava um desencontro e, certamente, um esporro e um castigo.

A gente teve que aprender a se planejar desde pequeno: naquele horário você tinha que estar naquele lugar, não tinha como mudar o plano. E nessa, mais de uma vez acabamos nos desencontrando (seja dos pais, seja dos amigos) e ficamos tomando chuva ou sol escaldante no quengo sem ter a quem recorrer. Hoje em dia nem cachorro é deixado nessa situação, sozinho, ao relento.

Bullying? Essa palavra nem existia, mas se existisse, seria para descrever a forma como nossos pais nos criavam: “se apanhar na rua e voltar chorando apanha novamente em casa” era mantra. Tratar medos ou fobias de forma traumática também: tem medo de aranha? Nada como pegar uma aranha e jogar dentro da sua blusa “para perder o medo”. Hoje os pais protegem os filhos se eles sofrem bullying na escola, nos anos 80 eram os pais que faziam bullying com os filhos.

Um parágrafo especial para o cigarro. Meus pais nunca fumaram, mas eu convivi com muitas pessoas que fumavam na época. Ninguém nem sonhava em “proteger” uma criança de cigarro. Se fumava em qualquer ambiente, inclusive fechado. Se fumava em avião. A pessoa ia na sua casa visitar seu bebê recém-nascido, acendia um cigarro e baforava no berço. Todos nós fomos fumantes passivos por uma década pois mesmo que nossos pais não fumassem, em tudo quanto é canto tinha gente fumando.

Criança dos anos 80 era exposta a tudo quanto é vírus e bactéria – e não apenas humanas. A gente ganhava uns pintinhos em feiras e aniversário que certamente não estavam vacinados contra todas as pestes aviárias. Levávamos esse pintinho para casa, que muitas vezes era um apartamento, e tínhamos contato diário com ele e com seus excrementos.

Só quando o pintinho crescia (a maioria morria) é que nossos pais se livravam dele com o clássico “ele foi para o sítio” ou “a mamãe dele veio buscá-lo”. O mesmo valia para hamster, preás, coelhos e outros pets: ninguém vacinava essas porras, a gente ganhava e levava para casa. Muito me admira que uma pandemia não tenha começado com quem teve infância nos anos 80.

Vocês acham que os brinquedos da década de 80 tinham sua segurança testada como tem hoje em dia? Não. Quem já perdeu um dente no Pogobol (seu ou do seu amigo) sabe muito bem que os brinquedos dos anos 80 eram projetados para provocar lesão corporal em crianças.

Quando não provocavam quedas ou fraturas, tinham peças pequenas facilmente engolíveis ou eram feitos de material tóxico. Uma vez eu lambi uma boneca da Moranguinho e tive diarreia por uma semana. Uma amiga teve que ser hospitalizada por comer aquele brilho labial de duas cores (vermelho e rosa) que vinha dentro de uma embalagem plástica que simulava um morango.

Não estou reclamando, os anos 80 nos fizeram fortes (e provavelmente radioativos também). Só não entendo como hoje, com todos os cuidados, com todas as informações, com toda a fiscalização, podem morrer mais crianças do que nos anos 80. Se essas crianças de hoje tivessem nascido naquela época, a humanidade estava extinta.

Para dizer que o mundo tá tão ruim que está com saudades dos anos 80, para dizer que é por isso que quem foi criança na década de 80 é maluco ou ainda para dizer que você sabe que a pandemia acabou quando tem texto de humor no Desfavor: sally@desfavor.com

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Comments (64)

  • Vindo aqui só pra comentar mais uma coisa a respeito dos famigerados Power Rangers: na época em que estreou, teve gente politicamente correta que reclamou que a série reforçava estereótipos raciais e de gênero: com uma atriz asiática interpretando a Power Ranger Amarela, um negro no papel do Power Ranger Preto e uma garota toda fofinha e cuti-cuti como a Power Ranger Rosa.

  • Branca de Neve Pornô

    Tem uma moda que felizmente não sobreviveu (muito) proveniente dos anos 80, mas que ainda dá as caras com certo necropresidenciável que está ai pra assustar os mais incautos, que como típico playboy da terceira idade que é, não perde a pose.
    A moda é a da CALÇA APERTADA.

    • Zezé Di Camargo era um famoso adepto da calça apertada, esmagando as bolas mesmo. Vai ver que é por isso que em vez de cantar ele berra com aquela voz de cabrito.

  • Sou do tempo que o mertiolate ardia, se criava anticorpos tomando chuva e brincando na terra e bullying se resolvia na porrada.

  • Porygon é o caralho. Anos 80 era época de Flashdance onde a mulher dançava com o pé enfaixado com um esparadrapo… E pra variar tinha um episódio com forte potencial de causar crise nos epilepticos.

  • Sou da geração anos 90. Me lembro de ganhar o batom em formato de uva e morango (sempre me davam um quando eu ficava doente), a minha mãe dizia que ia guardar e o batom desaparecia para sempre.
    Andar de carro lotado, com o motorista ultra mamado, depois de horas na praia e sem cinto de segurança era de lei.
    As festinhas de aniversário eram das crianças, mas eram os adultos que bebiam até quase cair. Memórias. Muitos bullyings e mentiras contadas, como: na volta eu compro; tem que comer cenoura para ter os olhos verdes; se não for à escola vira burro e puxa carroça.. mas a pior parte era andar de ônibus com fumante. Eu enjoava sempre.

  • Pode muito bem ser só fake news, mas há uns anos não houve uma história de uma creche que foi processada por um casal de pais super-protetores porque a criança ralou o joelho numa queda no pátio? A tal creche ainda teria perdido esse processo e sido obrigada, por decisão judicial, a providenciar joelheiras e cotoveleiras para todos os outros pirralhos para não acabar fechando.

    • Não duvido

      Quando a gente ralava o joelho nos anos 80 os pais falavam que não era nada e “assopravam” o lugar dizendo que ia passar, jogando infinitas bactérias da boca na ferida

  • Fui criança nos anos 90 e era mais ou menos a mesma coisa. Os passeios de carro eram feitos na Kombi do meu tio, aquelas de dois lugares com carroceria atrás. O meu tio e geralmente a minha mãe e minha tia iam na frente (sem cinto de segurança) e nós as crianças íamos sentados soltos na carroceria do lado de fora. Não raro a levantava e ficava de arreganho com a Kombi em movimento. Como um de nós nunca caiu de lá de cima.com a cabeça no meio fio de uma calçada não se sabe

  • Fui criança nos anos 90 e já foi um pouco mais light do que os anos 80, mas também não se compara à hoje. Eram tempos difíceis, uma época a gente não tinha tv (minha vó era evangélica e não deixava), aí meu irmão (com uns 9 anos) ia na padaria assistir futebol, toda quarta a noite. Hoje a familia inteira passa horas vendo a galinha pintadinha.
    Tinha aquele kisuco radioativo que era vendido em saquinhos minúsculos he rendia 2 litros e tinha a versão que já vinha pronta pra beber, normalmente numa embalagem transparente em formato de revolver, a gente saia do mercado mamando o revolver de kisuco radioativo ahahahaha… o estomago já ficou esperto, desde os 5 anos mandando porcaria.
    A tv aberta era super educativa, sbt passava semi pornografia em dia útil no cinema em casa e aos domingos a familia brasileira via Carla Perez rebolando na boquinha da garrafa e a banheira do gugu que era quase um exame ginecológico. Lembro que eu tava no primario, alguém perguntou o que sugnificava “segura o tchan” e a professora “isso é quando a menina é muito nova e tem muitos filhos” Hahahaha nenhuma criança entendeu essa critica social, hoje eu entendo e me divirto demais.

  • Nem vou falar de dirigir bêbado(a) e sem estar com cinto para não amassar a roupa…Aqui as lembranças mais tenras da década de 80 (e das décadas anteriores) eram diretores de escolas.

    Nada de abordagem construtivista: sem apurar a culpa, o (a) diretor(a) puxava sumariamente o aluno pelo uniforme (ou pelos cabelos) e o arrastava até a sala da diretoria (às vezes com a cara esfregando no chão) e, aí sim, ligava para os pais virem ter uma reunião.

    Ou então, como o diretor da última escola em que estudei no ensino fundamental, que nos mandava para um acampamento todas as férias e nos declarava monitores das crianças mais novas. Crianças de 9, 10 anos, monitorando crianças de 5, 6, para não caírem na cachoeira perto do acampamento, cheia de pedras, ou então para não se afogarem na piscina (sendo que muitos monitores nem sabiam nadar ainda).

    E nada de perguntar se a criança era alérgica, ou tinha restrição alimentar…muitas descobriam isso na escola (ou no hospital). E nem vou falar dos trotes que esse diretor do acampamento bolava para “endurecer o nosso caráter”. Todo ano (já que os pais queriam se livrar da gente nas férias).

    • Na minha escola, quando eu era bem pequena, a professora passou de mesa em mesa com carimbo (que era uma bola vermelha) e carimbou a mão de todas as crianças dizendo “ESTA É A MÃO COM A QUAL SE ESCREVE”. Se alguém era canhoto, foda-se, virou ambidestro, pois foi obrigado a escrever com a mão direita. Às vezes me pergunto se os anos 80 de fato existiram ou se foram fruto da minha imaginação.

      • Essa me surpreendeu, Sally. Não imaginava que nos anos 80 esse tipo de coisa ainda acontecesse. Eu mesmo, quando pequeno, não cheguei a ver ninguém implicando com alguma criança por ser canhota, mas soube por relatos do meu pai que, dos anos 60 para trás, os pirralhos que segurassem um lápis com a mão esquerda na escola eram considerados por muitos adultos – inclusive pelos próprios pais – como “defeituosos”, “de cabeça fraca”,“débeis mentais”, “retardados”, “burros”,“rebeldes” ou “possuídos pelo demônio”. E esses petizes ainda eram forçados, muitas vezes com coerção física – reguadas, palmatórias, puxões de orelhas, vara de marmelo – a usarem apenas a mão direita para tarefas cotidianas.

        • Acho que não era nada contra os canhotos, era ignorância mesmo: se presumia que toda criança escrevia com a mão direita e ponto final

        • Lembro da minha melhor amiga falando que as freiras do colégio dela chegaram a amarrar a mão esquerda dela para forçar o uso da direita na escola. E ela nem tinha dez anos…

          • Puxa vida, Suellen… Eu achava que esse negócio de impedir criança de fazer as coisas com a mão esquerda já estivesse em desuso nos anos 80.

  • Esses moleques mimados e superprotegidos de hoje são fracos, molengas, sem garra e sem traquejo pra nada de prático. Não aguentariam vivos nem cinco minutos no meu tempo. Levariam cuecão no colégio todo dia e nem haveria pra quem reclamar, porque todo mundo ainda acharia muito do bem feito.

  • Nasci nos anos 90, mas tive algumas dessas situações na minha infância kkkkkkkkkk. Se eu fizer 10% do que eu vivi com meu filho hoje, é arriscado o Conselho Tutelar tomar meu filho de mim. Eu deixo ele 10 minutos sem fralda dentro de casa e sempre aparece um fdp pra encher o saco e dizer: “mas ele está exposto as sujeiras da casa, blá, blá, blá…”
    Gente chata.

    • Também sou dos anos 90, e parte das situações descritas no texto também me recordo.

      Aliás, fiquei me perguntando quantos comentários mi-mi-mi do tipo “ain pq vc institucionaliza o bullying e o preconceito na escola, isso tem que acabar” a Sally recebeu. Tema polêmico esse, afinal, não nego que, por um lado, é algo complicado pra lidar em ambiente escolar mesmo, mas por outro lado, o mi-mi-mi hoje realmente é grande e pra pouca coisa. Achar um meio termo as vezes é difícil.

  • Nossa ! Exatamente a minha infância . Uma vez , umas amigas inventaram de descolorir os pêlos das pernas com água oxigenada e um pó q não sei o q era. Não tinha Google pra saber a proporção não . Fomos para o fundão da sala q batia sol . A professora alérgica começou a passar mal e mandou a gente pra secretaria . Lá a diretora mandou a gente ficar com aquilo nas pernas até a hora da saída . O troço ardia à beça e fiquei com uma queimadura . Ainda levei uma advertência e levei uma coça com cinto . Ps.: nas pernas

  • “A gente saía e não tinha como avisar se ia atrasar, se aconteceu algum impressivos, se precisava que fosse buscar mais cedo.”
    Onde se lê “impressivos”, não seria “imprevistos”?

  • Nos anos 80, criança birrenta ou malcriada tomava safanões da mãe levada ao limite da paciência onde quer que fosse, até mesmo em locais públicos. E não passava pela cabeça de ninguém chamar o Conselho Tutelar para denunciar a “desnaturada” por “maus tratos”. Claro que jamais se deve espancar uma criança, mas umas palmadinhas educativas nunca fizeram mal a ninguém. E, como diz o velho ditado, “é de pequenino que torce o pepino.” Antes levar uns corretivos em casa da mãe do que crescer sem limites e acabar tomando porradas muito piores no mundo lá fora, da vida.

    • Minha mãe só me olhava, não havia nem a necessidade de um safanão. Mas se eu fizesse algum vexame na rua, tipo me jogar no chão e gritar, certeza que o safanão viria, na frente de quem fosse, no ambiente que fosse.

  • Quando eu levei um pintinho pra casa, minha mãe nem esperou ele crescer. Deu pra vizinha no dia seguinte e eu fiquei acompanhando o crescimento dele de longe. A mesma coisa foi com um coelho que minha avó me deu.

    Esse batom 24hs deixa qualquer batonzinho matte de “longa duração” no chinelo (e curiosamente ainda vende por aqui). Chupa, Maybelline!

  • Eu fui criança nos anos 80 e vc descreveu com perfeição as idas à praia! Essa hisforinha de filtro solar é uma viadice e fora que vários médicos falam pra não usar porque barra a vitamina D. Se as crianças de hoje em dia morrem mais, deve ser por excesso de cuidado, vivem numa bolha, por isso nem anticorpos tem mais.

    • Mas câncer de pele é o câncer de maior incidência no Brasil! Tem que usar protetor sim.
      Pegar sol sem protetor também é necessário, porém antes da 10 e após as 16h

  • Me deu uma saudade agora….rsrsrs.
    E não tinha esse negócio de alergia, intolerância alimentar, comida especial…comia oq tinha no prato e acabou.
    Nós brincávamos na rua, correndo pra baixo e pra cima. Ou descia uma ladeira num carrinho de rolimã com zero segurança, se caísse ralava o cotovelo, a mão, a cara! Tinha briga, soco, choro….e no outro dia estávamos lá fazendo tudo igual. Meu irmão surfava em cima dos trens!!!
    Quando eu quebrei o braço foi minha mãe quem tirou o gesso um tempo depois pq ela julgou “Que já estava bom de usar gesso” e que era pra “usar o braço” pra poder melhorar logo….bom, meu braço está funcionando até hoje….
    Bons tempos.

      • Se depender dessa geração nova, boomers e millennials nunca vão ficar desempregados.
        Zoomers mal sabem usar o Excel e cometem erros de português que nem minha avó cometeria na idade deles. O que adianta tanta tecnologia e internet?

        • Eu nem acho que seja esse o ponto fraco. Depois da minha geração, salvo honrosas exceções, temos dois extremos: o workaholic capaz de trabalhar 500 horas executando ordens(zero criatividade e 10 execução) x o disruptivo (10 criatividade e 0 execução, disciplina e senso de sacrifício).

          Sempre tive muita dificuldade em encontrar para contratar pessoas muito produtivas e muito criativas. Parece que quem produz só o sabe fazer naquele esquema fabril, de acabar ordem. E parece que quem consegue trazer novas ideias é um desorganizado que não consegue executar um plano com eficiência.

          • Ou só faz sem pensar ou só pensa sem fazer, né? Sendo que um profissional realmente bom deve ser capaz tanto de pensar o que faz quanto de fazer o que pensa.

  • Hoje em dia os Enzos crescem em ambientes totalmente esterilizados, o sistema imunológico não tem nada pra fazer e acaba surgindo alergias bizarras.

  • A única vez na vida em que usei gel New Wave no cabelo foi numa festinha temática da escola em que todas as crianças tinham que se vestir como os personagens do filme Grease: os meninos de jaqueta preta e mocassim à lá John Travolta e as meninas de saia longa e laço de fita à lá Olivia Newton-John. Felizmente, não tenho fotos disso. Lembro que meu cabelo ficou durinho, à prova de vento, e, mesmo depois de lavar a cabeça várias vezes, o gel custou a sair completamente. Para terem uma idéia de onde veio a “inspiração”, vejam esta cena: https://www.youtube.com/watch?. list=PLm2YV9ECIvZ6TSkGBsXTalQiGXwML9vD2&v=ucU5c9ilIIc.

  • Além dos filmes pornográficos em plena luz do dia, tinha coisas inadequadas até em programas pretensamente infantis. Os programas infantis se resumiam em pegar uma moça loira e meter num shortinho e top pra ser apresentadora e cantora. Pareciam clones. E aqueles comerciais de brinquedos enganosos? O Canal 90 fez uma série de vídeos só sobre isso.

    • Minha maior mágoa é a globo passando “Marcas do destino” às três da tarde. Não se expõe uma criança ao Rocky Dennis, é muita sacanagem!

      • Como era o nome daquele filme semi-pornô que tinha uma personagem que ficava com os peitos de fora dizendo “Venha a mim!”? Era Férias do Barulho?

        • Não sei… só lembro de um semipornô da época chamado “Amor de menina”, que passava no Cinema em Casa em plena luz do dia também, hahaha… Não existia “Classificação etária” naqueles tempos, não?

        • Fiz uma busca rápida no Google, Sally, e parece que o título é esse mesmo. Pelo que eu li, esse filme teve como protagonista ninguém menos que Johnny Depp em início de carreira e a atriz dessa cena que você mencionou teve como “ponto alto” de sua trajetória profissional um papel de vilã em uma das inúmeras temporadas dos Power Rangers. Ah, e quem também marcou presença nesse filme – até aparecendo pelada – foi a loira peituda Leslie Easterbrook, que ficou famosa como a durona Debbie Callahan na cinessérie da Loucademia de Polícia.

      • Menção honrosa às seguintes pérolas do Cinema em Casa, do SBT: “David”, sobre um garoto que sobrevive a um incêndio e fica completamente deformado, nível Freddy Krueger, e “Fogo no céu”, o clássico do cara que é abduzido e torturado por ETs (este eu reassisti depois de adulta e achei trash, mas aos 6 anos, fiquei apavorada!). Vejam os comentários naquele site “Filmow”, todo mundo diz a mesma coisa deles, hahaha… Trauma eterno define!!!

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