Mal representados.

SALLY

Este é um daqueles casos de Desfavor da Semana em que está tudo tão errado em tantos níveis, que fica até difícil começar.

O fato exposto na notícia é que Lula não está nomeando mulheres para seus Ministérios. Silêncio, o brasileiro está descobrindo que Lula não é lacrador.

Durante a campanha, Lula levantou a bandeira feminina com força, tanto é que isso chegou a ser tema de um Desfavor da Semana por aqui: tem muito mais coisa acontecendo no Brasil do que questões envolvendo mulheres. Por mais importantes que elas sejam, não dá para passar um debate todo focado nisso quando tem gente de ambos os sexos passando fome, sem saneamento básico, sem atendimento médico e sem uma casa para morar.

Mas Lula o fez. Se consagrou como “o candidato que respeita e prestigia as mulheres”. Porém, quando chegou a hora de colocar mulher no poder… Fuén. Ignorando solenemente.

Inclusive Simone Tebet, que foi a grande responsável pela vitória dele. Não podemos esquecer que Lula ganhou por uma diferença ínfima do Bolsonaro, algo em torno de 1%, e que Tebet foi a terceira candidata mais votada, ou seja, ela certamente levou mais de 1% de votos para Lula quando se aliou a ele no segundo turno. E continua ignorada.

Quem mandou, não é mesmo? Sim, quem se alia e confia em Lula tem mais é que tomar na tarraqueta, porém, não deixa de ser escroto o que Lula está fazendo. Idiota de quem confia e acredita, mas quem mente, engana e usa continua sendo um escroto.

Nós já tínhamos cantado essa bola antes das eleições: Lula dia sim, dia também, soltava diversas falas machistas, que eram tratadas pela mídia puxa-saco do PT como “equívocos”. Se Bolsonaro falasse a mesma coisa, era um machista filho da puta. Boa sorte aí para vocês, que construíram um personagem que não existe, um Lula empoderador, feministo e pacífico. Boa sorte lidando com a realidade. Haja pano para passar por 4 anos.

E por falar em realidade… sério mesmo que ESSA é a preocupação do povo? Quantas mulheres tem no Ministério? Ninguém está preocupado dele ter aumentado os Ministérios de 23 para 37 não? Deveriam estar, vocês pagarão a conta de um funcionalismo público inchado para acomodar todos os apadrinhados e todos aqueles aos quais Lula deve favores. Haddad no Ministério da Fuckin’ Fazenda e vocês preocupados com quantidade de Ministra que tem buceta?

Francamente, o Brasil está indo ladeira abaixo. Se eu fosse brasileira e morasse no Brasil, eu teria um pouco mais de humildade e menos exigência: desejaria que colocassem qualquer ser humano que resolva o problema, que seja competente e que tenha um mínimo de honestidade, pouco importa o que ele tenha no meio das pernas. Hora de pensar em gente que resolve, não em militância.

“Ain, mas tem homem e mulher que resolve, igualmente competentes”. Tem sim, mas é um meio em que os homens chegam com muito mais facilidade, portanto, estatisticamente, tem mais homem que resolve e competente. Vamos dar um passeio pelas mulheres do PT? Dilma Mulher Sapiens Rousseff, Gleisi Maluca Hoffmann, Benedita Ladra da Silva… preciso continuar?

E, que fique claro, apesar disso tudo, Lula continua um escroto. Não esperávamos nada dele, achamos imbecil quem confiou nele, não achamos genitália importante e sim o resultado da administração da pessoa mas… ele baseou sua campanha nisso. É falta de hombridade, é covardia, é cretinice levantar uma bandeira por um ano e quando chega no poder agir de forma completamente contrária ao que prometeu.

Na verdade, é pior do que isso: ele não está apenas agindo de forma contrária a tudo que defendeu, ele está agindo igual a aquele que tanto criticou. Está agindo da mesma forma que Bolsonaro: dando Ministério de consolação para mulher. “Toma o Ministério da Cultura, escolhe lá umas peças de teatro enquanto os homens cuidam da economia”.

Então, por mais que a gente não concorde com essa patrulha por Ministro ter buceta (achamos mais importante que seja competente, seja lá qual sexo for), não vamos aliviar para o Lula: o cretino já começou fazendo o que faz de melhor, ser um hipócrita do caralho, se portar em desacordo com o que defende e se portar de acordo com o que critica. Deve ser um novo recorde: sacanear seu eleitorado antes mesmo de assumir.

E ainda tem eleitor fingindo demência: “eu topo qualquer coisa para não ter o Bolsonaro como Presidente”. Mas vai bem tomar no seu cuzinho sujo e mentiroso, vai! Tinha dez candidatos no primeiro turno para vocês escolherem, poderiam não ter mandado nem Lula nem Bolsonaro para o segundo turno. Essa falácia que só Lula tiraria Bolsonaro só cola para quem tem menos de dois neurônios.

Vocês, brasileiros, gostam de bandido, pois se identificam com eles, com sua malandragem, admiram seu jeitinho, respeitam seu mau-caratismo de sempre querer se dar bem. Sempre e quando não atrite com os seus interesses: quando isso acontece vira “político é tudo ladrão”.

Se o político mexe uns pauzinhos para empregar o teu filho na prefeitura de Mossoró do Cu do Mundo, ele é uma pessoa maravilhosa, se é pego desviando dinheiro do seu posto de saúde é um ladrão escroto. Oi? A desonestidade é única, indivisível e injustificável. Parem de aplaudir quando a desonestidade favorece e criticar quando ela prejudica.

E parem de escolher pessoas que vão definir os rumos do país com base em atributos físicos. Foda-se se é homem, mulher, preto, branco, loiro, moreno, olho azul, olho castanho… O país está indo para o buraco, caso você não tenha frequentado o supermercado ultimamente e reparado. Vocês precisam de pessoas competentes, independente de atributos físicos.

Eu não espero muita coisa do brasileiro. Quase nada, na verdade. Um povo que trouxe de volta o PT realmente precisa de um aprendizado na dor, mas com muita dor mesmo, para entender e repensar o que fez. Mas eu espero que ao menos as pessoas tenham uma gotinha microscópica de decência de criticar o Lula agora que ele já está eleito. Se feito de otário e ainda por cima aplaudir é demais, até mesmo para vocês.

Antes não podia criticar pois “não é momento”, “se criticar o Bolsonaro fica”. Pois muito que bem, e agora? Agora pode, não é mesmo? Ou será que vamos ter dois anos de “calma, ele acabou de chegar e pegou um país quebrado pelo BOLSONARO” e mais dois anos de “não critica se não o BOLSONARO volta nas próximas eleições”? Nem crente fala tanto do diabo quanto petista fala do Bolsonaro. Olhem pro próprio rabo, símios!

Parabéns, Brasil! Vocês deram voltas e mais voltas e foram parar duas décadas atrás. Ao menos percebam e fiquem putos.

Para dizer que curte muito essa minha versão putaça, para dizer que brasileiro prefere tomar no cu calado a admitir que estava errado ou ainda para dizer que pelo menos não é o Bolsonaro: sally@desfavor.com

SOMIR

Sim, eu concordo com a Sally que o Brasil precisa prestar atenção nos seus problemas reais e cair na real sobre o Lula, mas eu queria mesmo focar na questão do falso deus da diversidade. No século XXI, tornou-se realmente importante para as democracias modernas ter uma quantidade maior de minorias (vulgo qualquer coisa que não um homem branco) como ministros. Quer dizer, tornou-se importante para a imagem dessas democracias…

E como publicitário, eu sou o primeiro a te dizer que quando a propaganda não bate com o produto, as coisas vão mal. No imaginário progressista, a baixa representatividade das minorias é resultado de seleção preconceituosa dos talentos disponíveis. Que num mundo ideal, qualquer escolha baseada em capacidade de realizar um trabalho terminaria com uma representação fiel dos grupos que formam a sociedade.

Vejam bem, eu gosto dessa ideia, até de um ponto de vista puramente racional: é essencial que consigamos achar as pessoas mais capazes para o serviço público, pois dele depende boa parte do nosso modo de vida. Quando o Estado é incompetente, a maioria sofre. Se a pessoa mais bem talhada para uma função calha de ser uma mulher negra, é um fracasso da sociedade como um todo que ela seja deixada de lado por uma opção pior.

E sim, eu entendo muito bem o argumento de que se “pessoas diversas” não tiverem oportunidades de ganhar experiência numa função, estão sendo artificialmente impedidas de competir em condições iguais. Só que esse argumento tem uma sutileza que normalmente é ignorada pelos fiéis da igreja da diversidade: excelência é uma escada. Um passo por vez.

Por que não escolhem uma mulher negra para ministra da Fazenda (antiga Economia)? Será que é por preconceito contra mulheres e negros? Por mais que Lula tenha dito muita besteira sobre mulheres e até mesmo negros ao longo da sua vida, não tem nada de sério o suficiente para fazer a gente desconfiar de um preconceito explícito sobre essa combinação de sexo e raça. Aliás, eu tenho certeza de que se tivéssemos um nome forte para a área ao dispor dele, ele adoraria indicar e ganhar uma chuva de elogios de toda a esquerda.

O problema é que não temos nomes fortes com essa combinação. E o problema de não termos nomes fortes nesse nível significa que não temos nomes fortes abaixo dele, e abaixo, e abaixo… o buraco é muito mais embaixo. Eu não fecho os olhos para as diferenças entre homens e mulheres, e nem mesmo para as muito mais polêmicas diferenças entre as raças, mas até que me provem o contrário, não tem absolutamente nada no potencial intelectual entre homens brancos e mulheres negras que impeça a formação de alguém capaz de assumir a pasta da Economia brasileira.

“Mas o Lula escolheu o Haddad, nem precisava ser um nome forte para a área!”

Eu sei. Mas coloca isso em segundo plano agora, estamos passeando por um mundo ideal antes de voltar à dura realidade. Porque mesmo no mundo ideal, diversidade por diversidade é um erro. Por uma série de motivos históricos, um grupo específico de seres humanos, os homens brancos, tiveram mais acesso e oportunidade para subir a escada da excelência. E pior: muitos pularam degraus sem merecer a sua posição.

Se você for da turma da diversidade a qualquer custo, eu sei muito bem que são esses homens brancos que tropeçaram e “caíram para cima” em posições de poder que te incomodam com força. Se você não for totalmente maluco(a), ainda aprecia as contribuições dos homens brancos realmente talentosos e esforçados que ajudaram a humanidade a melhorar. O que não está certo é gente ter tanto recurso e poder só por causa do sexo e da cor da pele, né?

Pois é.

Não se melhora o mundo pulando degraus na escada da excelência. Não é uma vantagem real jogar gente diversa nos degraus mais altos para equilibrar o jogo, porque essas pessoas vão ser apenas cópias coloridas dos homens brancos que também pularam etapas. O Brasil tem uma série de problemas de desenvolvimento que punem desproporcionalmente a parcela mais pobre da população, que infelizmente é composta por mais mulheres e negros.

Jogar gente lá no topo não resolve o problema fundamental. O Brasil não pode se dar ao luxo de pensar em diversidade antes de oportunidade. Se estivéssemos na Suécia, vá lá: as pessoas conseguem subir a escada da excelência com muito mais facilidade, e realmente existe um argumento sobre experimentar novos pontos de vista com o material humano que eles conseguem entregar em cada um dos degraus.

Num país onde mais de 30 milhões de pessoas não tem segurança alimentar, é bem complicado pensar no topo da escada: tem um abismo separando a maior parte do povo de sequer chegar no primeiro dos degraus. A nossa diversidade nem começou ainda. E não vai ser essa mentalidade de loteria, de pinçar pessoas aleatórias do abismo para colocar no topo da escada que vai mudar isso.

É hora de colocar gente competente no poder (já falhamos) que consiga diminuir o tamanho do primeiro degrau. Precisamos de mais mulheres negras fazendo curso superior de economia, não de mais ministras negras da Economia. Aliás, vamos ser brutalmente honestos: precisamos de mais mulheres negras completando o ensino fundamental. Com recursos e apoio mínimo do Estado.

Grandes coisas ter diversidade publicitária nos ministérios se na próxima eleição vão ficar discutindo aborto de novo. O nível é muito baixo para diversidade ser um problema. A mulher negra média tem dificuldade de morar num lugar com saneamento básico! E não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo: ou você escolhe as pessoas mais capazes sem olhar para a aparência delas, ou não vamos parar de girar em falso e punir terrivelmente justamente quem queremos ajudar a vencer a injustiça.

Quando o Brasil entrar no top 30 que seja do IDH, aí sim pode ser hora de pensar nisso, mas antes? É só propaganda política, e daquelas bem chatas que ninguém quer assistir. Só vai gerar mais preconceito e incômodo. Não tem atalho: tem que dar acesso ao primeiro degrau e não pensar em mais nada até isso estiver resolvido.

Para dizer que o Desfavor não é diverso, para dizer que o Brasil ia gastar diversidade com bobagem mesmo, ou mesmo para dizer que se pode o Haddad pode tudo: somir@desfavor.com

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