Quem conhece o Desfavor há algum tempo sabe o quanto de nosso arquivo fala sobre Rafael Pilha. Ele dá nome à nossa premiação anual dos maiores desfavores do ano e teve sua vida destrinchada em inúmeros textos da Sally. Diante da ideia de como ele reagiria ao Desfavor, Sally e Somir não encontram a mesma sintonia. Os impopulares dão para nós (a sua opinião).

Tema de hoje: se Rafael Ilha visse o Desfavor, reagiria com humor ou com processo?

SOMIR

Eu vou pegar o ângulo do processo. E por mais que a Sally não goste muito quando eu digo isso, o motivo é simples: o Rafael Pilha do Desfavor não existe. Ele é baseado em fatos reais, mas a maior parte da graça e da personalidade que se tira dele aqui no Desfavor é uma fabricação da Sally.

Para mim isso é muito claro, porque a primeira vez que eu percebi algo de diferente na Sally ela estava usando um perfil fake do Rafael Pilha no finado Orkut. Ela me passou a perna numa trollada de péssimo gosto, mas por trás de tudo tinha algo muito interessante sobre sua personalidade e caráter: o desgosto pela falsidade no trato social.

Desde então, eu comecei a perceber mais e mais como ela usava essa figura do Rafael Pilha para tirar sarro de como as pessoas se achavam tão importantes. Acho que percebi até antes dela essa parte da sua personalidade, que agora fica bem clara em seus textos para todos vocês. O Pilha era um avatar para alguém que sentia que o mundo se levava a sério demais, mas ainda não tinha articulado bem o pensamento.

O Rafael Ilha de verdade teve sim uma vida fascinante, encarou perrengues que a maioria de nós sequer imagina, mas se você acompanhar o que ele diz e faz em aparições públicas e notícias na vida real, vai perceber que não é a mesma pessoa idealizada pela cobertura hilária que Sally faz da vida dele. É uma pessoa bem mais… normal. Normal nos limites de quem teve a história insana que teve, é claro.

Ilha é evangélico, bolsonarista, participante de reality show da Record, todas as coisas que alguém que alguém que realmente aprendeu que essa vida não é tão séria assim jamais seria. O Pilha que a Sally descreve é um agente do caos, alguém que se diverte desfazendo as certezas das pessoas e pulando de cabeça em qualquer situação. O Pilha da Sally é santo padroeiro do Prêmio Pilha, o Ilha é uma pessoa que tem muita história maluca para contar, mas que ainda está dentro da Matrix.

Então, eu não apostaria nele entendendo essa sutileza de como virou figura mítica aqui no Desfavor. Talvez só conseguisse entender os elogios ofensivos como análises pessoais. O Pilha do Desfavor é um conceito, muito maior que um ser humano normal. Complicado entender isso se você vê a pessoa real no espelho todos os dias. Ele sentiria a diferença, e é mais provável que o ego sentisse a pancada de ter os erros e fracassos transformados em piada como um ataque do que como uma catarse da futilidade da condição humana.

Ilha é a inspiração do Pilha do Desfavor, não é exatamente a pessoa. Talvez por ser a criadora dessa personagem, Sally não consiga diferenciar. Ela tende a enxergar Ilha como Pilha, mas a segunda versão é uma idealização dela que muitos de nós acolhemos na memória, por ser algo muito mais engraçado e por vezes, mais profundo que a pessoa real.

Eu jamais teria paciência de ler o livro que a pessoa real escreveu, mas acompanhei grudado na tela a série que a Sally escreveu sobre a história. Porque na análise dela, é o Pilha que vive aquilo, a personagem caótica que faz tudo o que faz porque essa vida não é tão importante assim. Rafael Ilha, por sua vez, é uma pessoa com um gênio do cão que sofreu bastante com a fama e as drogas, um monstro de resistência às adversidades, sejamos justos, mas alguém que provavelmente não escolheria fazer as besteiras que fez dada outra oportunidade.

Por isso eu acho que o risco de ele não gostar do status que recebeu aqui é alto. O Pilha agente do caos riria de dois malucos alçando-o ao status de ídolo-mor de um blog por causa dos seus erros, mas o Rafael Ilha poderia enxergar como uma sacanagem com alguém que sofreu muito nesse processo. O que é mentira: Pilha só é o que é aqui porque sempre dá um jeito de tirar o máximo possível do caos que é sua vida. Ele é um exemplo (torto) de como nada é permanente.

A pessoa real poderia até enxergar uma possibilidade de usar o Desfavor como uma polêmica momentânea explorável para mais alguns minutos de atenção. Vivemos numa sociedade de escândalos virtuais descartáveis, que as pessoas usam para ganhar um dinheirinho extra. Nem digo de pedido de indenização, mas como oportunidade de estar no ciclo de notícias de novo. Uma pessoa mais “normal” enxergaria como chumbo trocado: nós batemos nele, ele pode bater na gente.

Não estamos nos escondendo dele, mas eu não sairia do meu caminho para buscar sua atenção: perceber o valor do que a Sally fez nesses quase 15 anos de comentários “maldosos-elogiosos” é para um público mais bem selecionado, um que Rafael Ilha pode não fazer parte. Não digo que é impossível ele perceber a graça da coisa, mas digo que não é a coisa mais provável. É muito fácil passar por cima da sutileza da coisa.

Na dúvida, presuma o resultado mais simples. É mais simples que uma pessoa entenda a figura mítica do Pilha aqui como uma ofensa do que como uma celebração do excesso de importância que o ser humano se dá.

Para dizer que não somos tão importantes assim, para dizer que sempre achou que era ofensa mesmo e perdeu a graça, ou mesmo para dizer que começou a ler por causa do texto da lagartixa e não entendeu nada: somir@desfavor.com

SALLY

Como Rafael Ilha reagiria se tivesse acesso ao Desfavor: com humor ou com processo?

Provavelmente com humor. Ele é uma pessoa bem-humorada, ele mesmo faz piada sobre sua vida. O que ele não gosta é de falta de respeito camuflada de humor, coisa que não fazemos aqui. Minha admiração por ele é genuína e isso pode ser percebido não por palavras (com palavras as pessoas podem mentir) e sim com atitudes.

“Mas Sally, você chama ele de Rafael Pilha, isso é falta de respeito”. Não necessariamente. Ele mesmo já tirou foto simulando estar comendo pilhas, ele mesmo brinca com o evento de várias formas. Não chamamos ele de “Pilha” de forma pejorativa, pois sabemos muito bem que ele não engoliu pilhas por ser um “maluco” e sim por um plano muito bem elaborado em um momento de desespero, para fugir de um local desumano onde ele estava sendo torturado.

Então “Pilha” é um símbolo de estratégia, resistência e de uma pessoa que não desiste nunca, não importa o tamanho da adversidade. É um troféu, não um deboche. É uma forma de manter viva na memória do que esse homem é capaz: em uma situação em qualquer um de nós se entregaria e desistiria, ele foi além. Esse é Rafael Pilha: aquele que faz o impensável, aquele que surpreende, aquele que olha para os limites e ri. Quem dera todos fossem Pilha, o Brasil estaria bem melhor…

Há quinze anos escrevo sobre ele aqui. Quinze anos. Será mesmo que alguém se daria ao trabalho de exaltar os feitos de uma pessoa por quinze anos só para debochar?

Fiz a cobertura (com postagens diárias) quando ele participou da Fazenda, torcendo por ele, relatando cada episódio do reality uma hora depois que ele acabava, com uma justiça que e edição nem sempre fazia. Fui dormir às duas da manhã, para acordar no dia seguinte às seis e ir trabalhar, logo eu, pessoa que mais preza pelo seu descanso, vivi três meses ininterruptos em severa privação de sono. Não parece algo que se faria por qualquer um, né?

Quando ele lançou seu livro, eu comprei o livro físico, pois queria prestigiá-lo. Poderia ter feito o download, poderia ter procurado online, mas não, eu fiz questão não apenas de comprar o livro físico, como também de divulgá-lo o quanto pude. Fiz inclusive review de cada capítulo aqui no Desfavor. Sinceramente, são atos que falam muito mais do que uma palavra eventualmente mal escolhida ou uma piada que talvez tenha ultrapassado os limites do bom-gosto (um defeito que eu sei que tenho, às vezes erro a mão).

Pilha foi meu primeiro amor na infância, o carinho que sinto por ele, mesmo sem conhecê-lo, é palpável. Quem quer escrotizar o outro, fazer bullying, conseguir a atenção do seu ídolo não se comporta como a gente se comporta. Seria muito fácil tentar falar com ele via redes sociais, conseguir sua atenção. Nós não queremos isso. Nunca tentamos entrar em contato com ele, nunca enviamos um texto para ele. Nós só queremos admirá-lo, exaltá-lo e torcer por ele discretamente, aqui no nosso cantinho, sem pedir nada em troca.

Eu torço genuinamente para ele. Ele me dá esperanças de que, não importa o desastre que aconteça, qualquer pessoa pode se reerguer. E é essa a mensagem que eu tento passar, ainda que brincando, ainda que exagerando, ainda que descontraindo, em todos os textos nos quais falei dele. Rafael Pilha é uma força da natureza, ele já passou por tudo… e deu a volta por cima, e se consagrou campeão em um reality que elege o vencedor por voto popular. Se essa história não te acolhe a alma, então você está morto por dentro.

Talvez um trecho ou outro escrito aqui possa desagradá-lo, afinal, quem é que faz algo por 15 anos sem cometer um erro? Mas, se ele tivesse acesso ao conjunto da obra, eu tenho certeza de que ele conseguiria perceber o amor que transpira de cada palavra (amor no sentido inocente, de admiração, carinho e torcida, que eu respeito demais a Aline e acho que eles formam um casal belíssimo). Você sente a real intenção da pessoa quando tem acesso ao conteúdo com contexto.

Claro que alguém cortar uma frase, um parágrafo, tirando de contexto, pode gerar uma reação negativa. Mas aí… até com a Bíblia isso pode acontecer! Então, eu escolho acreditar: eu sei quais são minhas intenções e meus sentimentos, e eles são verdadeiros. Eu escolho acreditar que, de alguma forma, a pessoa conseguirá perceber isso. Se não conseguir, que pena, responderemos a processo. É um risco que se corre quando se escolhe falar de alguém, e nós aceitamos esse risco pois achamos que a pessoa e a história de Rafael Pilha são inspiradoras demais para não serem contadas.

Talvez vocês nem saibam disso, mas já recebi e-mail de leitor do Desfavor viciado em drogas que encontrou forças para sair do vício (algo que a pessoa julgava impossível) depois de ler algumas coisas que postamos sobre o Pilha. Nas palavras do leitor, o texto deu uma sensação de “se ele conseguiu, eu também consigo”. Então, meus queridos, isso não tem preço. Isso é fazer o bem. Isso é inspirar os outros a serem melhores.

É como sempre dizemos aqui: a ofensa está na cabeça do ofendido. Você pode ler uma mesma frase de forma leve, construtiva ou bem-humorada ou de forma ofensiva. A leitura que se faz de algo fala mais sobre o estado interno do leitor do que sobre quem escreve. E eu acho que o estado interno do Rafael é muito bom. Ele é um vencedor, ele viu e viveu coisas demais para se ocupar com picuinha de processar um blog insignificante (nem famosos nós somos!) por falar dele. Francamente, ele é muito superior a isso.

Olha, assistir aos 90 dias de A Fazenda aturando aquelas pessoas desclassificadas, desinteressantes e medíocres, por si só, já deveria ser prova de uma profunda admiração. Tirando ele e a Vida Vlat (que saiu na primeira semana) o resto é simplesmente intragável! Ninguém se sujeitaria a assistir diariamente a essas pessoas se não tivesse um sentimento muito verdadeiro. É possível sacanear alguém sem passar por isso.

No mais, nosso amor é incondicional. Continuamos torcendo por ele, não importa qual seja sua reação se um dia nos encontrar e continuamos acreditando que ele é um exemplo que inspira, por isso, continuaremos falando nele, continuaremos com uma premiação anual que é um Oscar com o rosto dele, continuaremos decretando um dia de festa no nosso blog na data do aniversário dele. O bom do amor verdadeiro é isso: ele não é barganha, ele não quer nada em troca. Rafael Pilha, nós te amamos!

Para dizer que não consegue nem imaginar o susto que uma pessoa leva ao descobrir que tem um blog que dá um prêmio com seu nome, para dizer que o processo vem das mães dos meninos do “Ei, Você” ou ainda para dizer que ele nunca vai ler isso aqui (provavelmente não vai mesmo): sally@desfavor.com

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