O livro mais útil.

Livros podem fazer muita diferença na nossa vida. Mas na hora de escolher um deles por utilidade, Sally e Somir leem coisas diferentes nessa história. Os impopulares concordam, discordam ou indicam os seus.

Tema de hoje: qual é o livro mais útil que você já leu?

SOMIR

Eu vou de “Uma Breve História do Tempo” de Stephen Hawking. O livro descreve, de forma relativamente simples, muitos conceitos sobre astrofísica e cosmologia como o Big Bang, Buracos Negros e até Teoria das Cordas. Interessante, muitos podem concordar… mas, útil? É aqui que eu vou além das palavras escritas no livro e me concentro no que o livro faz com a sua mente.

Mesmo um entusiasta do espaço como eu sabe que esses temas não costumam ter efeito direto na vida de uma pessoa normal. Não adianta decorar para usar depois, uma pequena porcentagem das pessoas sequer se importa com astronomia e física para manter uma conversa sobre o tema. O conteúdo do livro é fascinante, algumas coisas um pouco datadas, por ter sido lançado em 1988, mas se você quiser apenas ler o que está lá e mudar sua vida, não vai funcionar.

O livro em questão é uma porta de entrada para a realização do tamanho do universo e da complexidade das coisas. Eu li o livro antes de ter o acesso constante em alta velocidade da internet, então minha cabeça ainda não estava devidamente “explodida”. Para mim foi extremamente útil porque me fez finalmente ter uma ideia de que a realidade era imensamente maior do que o meu mundinho.

Eu também li o livro que a Sally vai indicar, e fiquei surpreso por gostar bastante da ideia central, mas na minha nunca humilde opinião, nada é mais útil do que explodir as barreiras da sua mente e perceber as limitações que ela pode nos impor.

Talvez usar ciência para expandir a percepção seja algo mais relacionado com a minha forma de enxergar as coisas, mas o resultado prático foi que depois de ler o livro de Hawking, eu saí de um universo do tamanho dos lugares que frequentava e pessoas que conhecia para vários bilhões de anos-luz em todas as direções.

Ninguém está imune a enxergar um mundo pequeno e limitado. Na verdade, é a forma mais comum de funcionar. Toda essa gente brigando por motivos minúsculos, achando que o mundo vai acabar a qualquer momento e engolindo informação falsa sem pensar meia vez sofre do mesmo problema de ter paredes dentro da mente. De achar que tudo é tão pequeno quanto sua vista alcança.

Em algum momento, é importante que sua mente exploda. Não sei como funcionou ou se funcionou com você, mas eu sei como é a sensação. Primeiro bate uma fascinação, como se você tivesse saído da Matrix e estivesse vendo o mundo como ele é pela primeira vez. Depois vem um incômodo com a sua insignificância, um que eu lidei com uma fase bem “do contra”, e se você continuar aberto a aprender, eventualmente as coisas dão a volta e você percebe que para todos os efeitos práticos, universo e conhecimento são infinitos… e fascinantes mesmo.

Que não tem aprendizado inútil, que não tem tempo desperdiçado, que não tem regras escritas na pedra sobre o que você tem ou não tem que fazer com sua vida. Eu me coloquei no meu lugar percebendo como a Terra é uma partícula de poeira voando por aí, a sua experiência de explosão mental pode ser diferente, eu só consigo falar sobre como funcionou comigo, mas sei o que é o estado mental pós-explosão, e sei que quem já passou por isso consegue identificar a sensação.

Eu acho que como eu sempre derivei muito prazer de aprender coisas novas e ter mais e mais para conhecer sobre um tema (mente inquieta, o que tem seus pontos positivos e negativos), o espaço com suas distâncias gigantescas e períodos de tempo inconcebíveis teve esse efeito. Não foi ler sobre o Big Bang que causou isso, foi a porta que se abriu depois.

E o livro tem muitos méritos porque sabe falar sobre o tema, pega na sua mão desde o começo e te carrega sem exigir conhecimentos prévios. O prefácio é do Carl Sagan, então com certeza tem selo de qualidade na questão de acessibilidade. Hoje o livro não tem mais o mesmo valor porque eu já passei muitas e muitas horas da minha vida consumindo informações sobre astronomia e física, mas naquele momento eu não conseguiria ir para nenhuma versão mais avançada sem achar chato e confuso.

Abrir a mente é mais importante que moldar a mente. Sim, existem reflexões muito valiosas no livro que a Sally escolheu, mas só a minha mente sem todas aquelas paredes do passado conseguiria absorvê-las. Útil é aquilo que te dá opções, é aprender a pescar ao invés de receber o peixe. “Uma Breve História do Tempo” me fez querer aprender mais sobre… tudo. E de bônus, me deu informações muito interessantes sobre o conhecimento acumulado da humanidade sobre o universo.

E olha que eu sou antielitista em relação aos livros: se você gosta do formato, ótimo, se você não gosta, no século XXI tem vídeos e áudios excelentes que podem fazer a mesma coisa. Sem contar na acessibilidade de ferramentas científicas Made in China: talvez olhar por um telescópio comprado no AliExpress seja o seu momento de explosão mental. Eu lembro que quando fui a um observatório pela primeira vez e vi Saturno com seus anéis diretamente, fiquei doido com todas as implicações daquilo por muitos dias. É difícil prever o que vai mexer com você.

Livros são excelentes formas de aprender e pensar sobre a realidade, de qualquer forma. Nada como uma dieta variada para se manter saudável. Se você ainda não leu o livro de Hawking, tem em tudo quanto é lugar, até para ouvir se quiser. Não sei se vai ser o seu momento “explosão mental” obrigatoriamente, mas é um ótimo caminho pensar sobre o tamanho das coisas e como somos minúsculos.

O que por sua vez, é um ótimo caminho para sair das amarras de uma mente limitada por excesso de outras pessoas limitadas ao nosso redor.

Para dizer que ler é coisa de velho, para dizer que é claro que seria um livro chato, ou mesmo para dizer que o espaço nem existe: somir@desfavor.com

SALLY

Qual é o livro mais útil que você já leu?

“O Poder do Agora”, do Eckhart Tolle. O título é péssimo, faz parecer que é um livro de autoajuda, o que é uma tremenda injustiça.

O que mais me irrita nos livros de autoajuda é como oferecem soluções padronizadas, algo que jamais daria certo considerando que não somos todos iguais. Outro ponto que me chateia é a dinâmica de dar o peixe em vez de ensinar a pescar, essa coisa paternalista de dizer ao outro como resolver seus problemas. Por fim, a terceira grande característica hedionda é oferecer soluções mágicas: um ritual, uma alimentação, um hábito que vai resolver a sua vida. Nada disso existe.

“O Poder do Agora” não trabalha com essas premissas. A proposta é te fazer enxergar o mundo de outra forma, ou ao menos saber que existem outros pontos de vista, outras formas de encarar a realidade, que podem te ajudar a se sentir mais em paz.

O livro não vai resolver sua vida, não vai curar depressão, não vai te dar fórmulas, mas, se você conseguir ler com a mente aberta e tomar qualquer cinco minutos diários para exercitar o mindset que ele sugere, certamente vai te ajudar a expandir sua mente e sua percepção. Pode parecer pouco, mas pode significar uma grande mudança na sua vida. E o conteúdo que está ali você pode aplicar quando quiser, de forma gratuita e constatar por você mesmo como contribuí para a sua qualidade de vida.

Se você já trilha um caminho de aprimoramento, evolução, autoconhecimento e espiritualidade, provavelmente o livro não vai te dizer nada de novo, já que ele aborda questões básicas. Importantes? Sim, mas básicas. Nesse caso, eu recomendo que você leia outros livros dele, como “Um novo mundo” (novamente, não é autoajuda). Mas, se você está começando, não consigo imaginar um melhor começo.

E é justamente o motivo pelo qual ele é, na minha opinião, o mais útil: consegue ser uma bela porta de entrada para um mundo ao qual muita gente tem resistência (eu mesma tinha). Se eu tivesse lido esse mesmo conteúdo escrito de forma menos direta, menos racional ou com alegorias, certamente teria pulado fora. O livro me fez ficar, me fez testar e constatar que as ferramentas que ele oferece de fato ajudam.

O livro “O Poder do Agora” consegue trazer um conteúdo profundo de forma minimamente palatável, tanto é que são mais de 5 milhões de cópias vendidas em todo mundo. A estrutura do livro é basicamente de perguntas e respostas, respondendo às perguntas mais comuns que normalmente quem está começando a molhar os pés nesse caminho de autoconhecimento, evolução pessoal e espiritualidade faz. Essa dinâmica de perguntas e respostas torna a leitura muito mais fácil e agradável.

Não é um livro que vai te responder tudo (nenhum vai), mas é uma belíssima porta de entrara para esse universo interior, que te dá a base e as ferramentas para viver melhor. Em nenhum momento o livro te impõe o que fazer, criando rituais, rotinas ou determinando formas, ele fala da abstração. É mais provável que você “sinta” o livro, “sinta” o que ele quer dizer, do que que o entenda do ponto de vista racional.

Se você está em um ponto da sua vida no qual está de saco cheio de sofrimento, de ansiedade, de angústia, de dúvidas e de vazio, esse livro é para você. A mudança de sistema de pensamento que ele propõe equivale aos tijolinhos que alguém usa para construir sua casa: você não vai receber a casa pronta, mas ao menos terá material para construí-la da forma que achar melhor.

Óbvio que eu não posso falar por todos, mas, falando por mim: o simples fato de ler o livro já me fez sentir melhor. A leitura fez com que várias questões assentem na minha cabeça, como se alguém organizasse minha biblioteca de pensamentos mentais e a ordenasse de uma forma que finalmente fez sentido para mim. Então, por mais que eu saiba que nem todos se sentirão assim, vale minha indicação.

Aos olhos de um desavisado, compreender astrofísica e física quântica pode parecer a coisa mais complicada do mundo, mas, não se enganem, olhar para dentro é mais difícil do que explicar do que ciência. Mudar todo um sistema de pensamento desgracento que vem sendo massificado por décadas e que só tem gerado dor, sofrimento, ansiedade, doença mental e necessidade de remedinho tarja preta é uma missão muito difícil.

Quando se fala sobre ciência para o público no geral, na pior das hipóteses, se fala com pessoas que não sabem nada, mas quando se fala sobre o universo interior, se fala com pessoas que tem crenças totalmente nocivas, equivocadas, tóxicas e massificadas por todos os que estão à sua volta. Portanto, se fala com quem não sabe nada e ainda está em resistência contra o que você diz. E, mesmo assim, é um dos livros mais vendidos da área.

Por mais que eu ame o livro que o Somir escolheu e o ache muito interessante, sei que não adianta nada compreender o universo, o tempo, o espaço e a física quântica se a pessoa não se compreende internamente. Não adianta ter total domínio do racional se o emocional está capengando. É legal, é útil, desperta o interesse da pessoa para a ciência, mas… nada disso adianta se a pessoa não está muito centrada, mentalmente sã, inteira. A base começa dentro, só depois de ter compreensão, domínio e saúde interna é que temos que pensar em estudar o fora.

“Mas Sally, você está dizendo que o autoconhecimento é mais importante do que a ciência?”. Não, eu não estou dizendo isso. Não adianta se autoconhecer e não ter penicilina, não ter antibiótico, não ter vacina, ciência é extremamente importante. Estou dizendo que, na minha opinião, para leigos como nós, o livro que eu escolhi é mais ÚTIL (esse é o termo usado para abordar o tema), pois, para leigos como nós, saúde mental é pré-condição para aprender e executar todo o resto. E leigos como nós podem efetivamente fazer algo em suas vidas com esse livro.

Por mais importante que seja a ciência, você, leigo, não pode fabricar sua própria vacina, operar seu apêndice ou procurar pela cura do câncer. Ler sobre ciência tem seu valor, ganha-se em conhecimento, mas efeito prático imediato não se tem. Já o livro que eu escolhi efetivamente é capaz de te dar ferramentas para que você, sozinho, sem precisar de mais ninguém ou nenhuma infraestrutura melhore sua qualidade de vida, seu emocional e sua sanidade mental.

Desculpa aí pessoal da ciência que eu amo de coração, mas em matéria de utilidade, eu fico com “O Poder do Agora”.

Para dizer que o melhor livro é O Pequeno Príncipe, para dizer que não consegue mais ler apenas ver vídeos ou ainda para dizer que deveriamos escrer Des Cult sobre esses livros: sally@desfavor.com

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Comments (18)

  • Eu comprei O Poder do Agora por sugestão de uma pessoa que admiro, no entanto não consegui ler mais que 15 páginas. Achei o livro horroroso e cogitei a possibilidade de doá-lo – coisa que nunca faço, já que tenho certo apreço e apego por todos livros físicos que leio. Ainda se encontra na minha estante, talvez seja o caso de dar uma segunda chance.

    • Isso me soa como resistência sua a aquilo que o livro está tentando dizer. Por qual motivo o livro te irritou tanto que te impediu de passar das primeiras páginas? Foi a forma de escrita? O conteúdo? O estilo do autor?

      • Tive que pegar o livro aqui para relembrar o que me fez rejeitar a leitura.
        Acredito que algumas frases e palavras, que aparecem logo no começo do livro, fizeram disparar alguns alertas na minha cabeça e ativaram as alavancas dos meus preconceitos.
        Coisas como “propósito divino do universo”, “mestre espiritual”, “energia vital”, me trouxeram dúvidas a respeito da proposta do autor. Utilizei dos meus preconceitos para tentar definir o que me estava sendo apresentado, e fiquei receoso de que fosse algo entre charlatanismo e psicologia de boteco.
        Não que eu simplesmente não me interesse por temas “espirituais” por assim dizer. Já li alguns livros da Bíblia e gostei. Quanto ao campo da psicologia eu prefiro leituras que me forneçam explicações do funcionamento da mente ou dos mecanismos bioquímicos do cérebro – por pura curiosidade, já que não tenho formação na área.
        Mas talvez tenha errado em julgar precipitadamente. Utilizo meu preconceito como uma ferramenta de probabilidade e estatística, baseado simplesmente na minha vivência. Às vezes falha …
        Vou tentar dar uma segunda chance ao livro.

        • Eu também tenho resistência a esses termos, pois geralmente estão ligados a charlatanismo, pseudociência e estelionato. Mas o livro tem ferramentas valiosas para viver de uma forma melhor. Tenta focar na essência do livro, não nos termos.

  • Livro dos Provérbios. Ateu ou não é ótimo para nossa bagunça emocional e sabedoria sobre questões mundanas.

      • Intenso e profundo sem se tornar prolixo e exasperante. Mesmo se o enfoque se resumisse à guerrilha e ao Processo de Reorganização Nacional, já seria bom. Ao demonstrar as falhas e manipulações da recuperação da memória ocorrida há alguns anos, torna-se diferenciado. E ainda vai além na abordagem da morte (talvez o que esteja mais em conformidade com a ideia de “utilidade”).
        Curiosamente, a edição brasileira deste livro “encalhou”. Comprei um exemplar novo por menos de dez reais.

  • De certa forma, percebo que os dois livros se complementariam. Um basicamente mostra um (ou se preferir, o) caminho e o outro, que tipo de manifestações podem decorrer de encontrarmos esse caminho (ou evitá-lo).

    Pessoalmente, acredito que esse nosso estágio atual seja apenas o primeiro degrau (ou um dos primeiros) de uma camada incontável de possibilidades de aprimoramento (sem implicar necessariamente em ir em voltar para cá, mas sempre para uma outra dimensão, melhor ou pior, a depender de nossas escolhas).

    Não que eu afirme categoricamente que reencarnação exista, mas é que ficaria simplesmente triste se essa vida aqui fosse confirmada como o ápice da nossa existência (ainda mais num local com 50% de esgoto tratado)…prefiro seguir acreditando que há algo além.

  • Achava que o Somir, ateu como é, iria indicar como livro mais útil a Bíblia. Dá um excelente peso de porta…

  • Sally e Somir, confesso que eu ainda não li nenhum dos dois livros que foram indicados por vocês. Mas vou procurar lê-los assim que puder. Pelo que vi na postagem, as duas obras servem para exapndir nossas mentes, cada uma a seu modo. A do Stephen Hawking nos introduz às ideias complicadas da física e da cosmologia e dá uma grande lição de humildade ao mostrar o quão insignificantes somos dentro da Grande Escala Geral das Coisas que rege o Universo. Já a do Eckhart Tolle nos ensina uma maneira diferente de ver e de entender a nós mesmos, mostra sem recorrer a fórmulas mágicas como tratar de certas questões aflitivas que todos temos em nosso íntimo e também dá ferramentas para que uma mudança de vida ocorra. Agradeço a vocês dois pelas indicações e, para terminar, deixo uma frase atribuída a Albert Einstien: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.

  • Melhor livro EVER, que deveria já ser ensinado nas escolas desde cedinho: GERMINAL, do Émile Zola. Aliás, TODOS os livros dele deveriam ser estudados a fundo sob o ponto de vista psicológico (até o último ano do Ensino Médio), pra mostrar como o ser humano pode ser escroto e como ele não é nada na ordem das coisas.

    • Da mesma escola naturalista de literatura, só que brasileiro, recomendo O Cortiço, do Aluísio Azevedo. Li no ensino médio e fiquei impactada. O livro tem mais de 130 anos e a sociedade brasileira permanece a mesma em tantos aspectos…

        • Esse eu só li obrigado, quando ainda estava no colégio, e não achei lá grande coisa. Mas talvez eu passe a ter outro olhar sobre esse livro se o reler hoje. Então, quem sabe…

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