WATAntes da tempestade, a calmaria… Ou não. A tradição da despedida de solteiro é muito comum, mas nem tão comum é a opinião sobre a “segurança” de uma comemoração do tipo.

Tema de hoje: Despedida de solteiro, aceitável?

SOMIR

Sim. Eu nem diria que é muito defensável, é mais um daqueles rituais não muito lógicos que assolam a raça humana, mas não é como se uma despedida de solteiro fosse mudar alguma coisa. As pessoas são o que são, mesmo que você ainda não tenha percebido.

Compreendo que não seja lá um ambiente muito salutar para uma relação baseada em fidelidade, só que a vida é cheia dessas situações. Se não conseguir se controlar numa despedida de solteiro, faria merda de qualquer outro jeito.

Mas não nos apressemos… Vamos desmistificar um pouco essas despedidas de solteiro. Na hora de apontar os riscos, a pessoa resolve imaginar que todos estarão absurdamente bêbados na companhia dos exemplares mais belos e sensuais do sexo oposto deste mundo. Pode valer para aquele filme que você viu, mas não é assim que a banda toca na vida real.

As coisas tendem a ser mais toscas. Dinheiro não dá em árvore. Os pombinhos costumam estar enforcados com as dívidas comuns da época, os amigos mais chegados já estão encarando os custos dos presentes… Não é como se tivesse dinheiro sobrando para trazer uma daquelas capas de revista para esfregar suas genitálias na cara de todo mundo. E os “colegas”, aqueles que só estão lá para filar bebida, bom… eles não estão muito afim de fazer investimentos para começo de conversa.

Se alguém contratar stripper, boas chances de acabar com uma figurinha doida de vontade de terminar logo o serviço para pegar o próximo cliente. Pode até ter seus apelos, mas a situação realmente não joga muito a favor. Procedência duvidosa e muitas testemunhas inibem uma pessoa.

Percebam que eu disse SE alguém contratar stripper. Lembramos que é vida real e não filme? Bacana… Continuando.

Tudo bem que encher o caneco faz parte da premissa da despedida de solteiro, mas a não ser que você seja adolescente ou nunca beba, vai ter uma noção razoável de quando demais é demais. E além disso, a medida de manguaça na cabeça necessária para fazer péssimos valores de juízo E ter capacidade de levá-los em frente é mais estreita do que se imagina. O cidadão ou cidadã não vai tomar meia dúzia de cervejas e sair fazendo coisas inacreditáveis… Gente acostumada a beber aguenta muito mais e gente desacostumada começa a vomitar e querer desmaiar muito rápido.

Se está prestes a casar, presume-se que não seja mais uma criança. Tem que ter noção de quanto álcool o corpo suporta na média. Gente que não é capaz de definir se está bebendo demais tem nome: Alcoólatra. O resto sabe e escolhe se vai continuar.

E não podemos esquecer que não se faz uma despedida de solteiro sozinho(a). Só faltava me dizer que não vai ter uma porra de um amigo(a) para pelo menos chamar a atenção de quem está prestes a fazer uma cagada? Infantilidade achar que todos os amigos e amigas da pessoa com a qual você namora querem ver o circo pegar fogo. Às vezes um “pensa bem nisso que você vai fazer…” já faz a pessoa voltar a um mínimo de bom senso. Eu sei que porque já funcionou, comigo e com amigos meus.

E se todos(as) os(as) amigos(as) resolverem botar pilha, e que vergonha querer se casar com alguém cabeça fraca assim, ainda resta o fator principal:

As pessoas fazem o que elas querem fazer. Despedida de solteiro não é sessão de macumba e a pessoa não é pomba-gira… Se não tem a porra da força-de-vontade de se manter fiel numa festinha, é porque vai chifrar MUITO durante a relação. Quem se convence e auto-perdoa que “era outra pessoa” quando traiu deita e rola com a mesma desculpa toda vez que dá na telha. A despedida de solteiro não é o último contato da pessoa com o sexo oposto, oras!

Se você tem certeza que vai levar galho se a pessoa com a qual vai casar fizer uma despedida de solteiro, não faz sentido achar que depois vai ficar mais tranquilo.

A verdade inconveniente: A pessoa que enche a cara na despedida de solteiro ao ponto de achar que não deve mais se responsabilizar mais pelo que decide fez uma decisão consciente desde o começo. DEIXOU a merda acontecer com um álibi (que só convence gente tonta). Isso é uma forma de traição consciente.

E traição consciente não depende de uma situação específica.

Então, eu pergunto: Faz diferença a despedida de solteiro? Se o que pode dar errado é uma sequência previsível de escolhas ruins, estamos mais uma vez culpando a arma pela vontade de atirar. E honestamente: Se a pessoa que você escolheu para casar te meter um par de chifres na despedida de solteiro, você MERECE se foder para aprender a escolher melhor.

Até mesmo se você não ficar sabendo não teria feito diferença: Vai acontecer mais vezes mesmo. Ou você acaba sabendo depois, ou a pessoa é boa na arte de trair e você vai viver sua vida sem notarhttp://www.blogger.com/img/blank.gif o ocorrido. Ou pior: Você é daquelas pessoas que perdoa traição. Não muda nada.

O cara que fecha um puteiro para a despedida de solteiro vai dar sinais que faria isso muito antes na relação. Não “baixa” personalidade nova na pessoa.

Eu entendo a compulsão por estar no controle da situação, mas casamento já presume que você vai ter que lidar com outro ser humano que não pode vigiar 24 horas por dia.

Disso você nunca se despede.

Para dizer que é rico e não se identificou com minha argumentação, para reclamar que ser uma pentelha e presumir sempre o pior é sinal inegável do seu amor, ou mesmo para dizer que faltou mais machismo no meu texto (concordo…): somir@desfavor.com

SALLY

Existem situações na vida que podem não ser propriamente incorretas, por si só, mas que são situações onde o risco de dar merda aumenta. São aquelas situações que costumamos chamar de “flertando com o desastre” Pode ser que dê merda, não seria estranho se desse, ou pode ser que não dê merda. Mas as chances de dar merda são maiores do que o normal. Eu classifico assim as despedidas de solteiro.

Sendo super otimista e supondo que a despedida de solteiro preparada não envolva prostituição e strippers (o que geralmente envolve e a pessoa já entra no mundo de casada um par de cornos inaugurais, uma amostra grátis do que esta por vir), o ato em si costuma envolver rituais que flertam com o desastre. Para começo de conversa, por excelência é um ritual onde só participam pessoas do mesmo sexo do nubente – meninos com o noivo, meninas com a noiva, e que envolve massivas quantidades de bebida alcoólica.

Eu tendo a achar que um bando de mulher ou um bando de homem bêbados já começa a ser um prenúncio de desgraça. Gente bêbada em si já e meio caminho andado para dar alguma merda. Um bando de gente bêbada junta imbuída do espírito de aproveitar ao máximo as últimas horas de solteirice me parece pior ainda. Pode até ser que comece como uma reunião inocente, sem a intenção de fazer algo que magoe alguém, mas quero só ver se esse discernimento persiste depois que o noivo ou a noiva e seus amigos botadores de pilha estiverem todos embriagados.

Nunca casei mas já fui noiva algumas muitas vezes (sim, eu amarelo na hora H). Sei que é um momento onde, por mais que você ame a pessoa pode bater um medinho, um receio ou uma dúvida. É a última chance antes de passar uma suposta toda vida com a mesma pessoa. Estes sentimentos somados ao álcool e a um grupo de amigos que te empurram para a danação pode acabar em uma combinação explosiva. Pessoas fazem merda por impulso o tempo todo, imagina só quando tem o aval e incentivo dos amigos e a coragem do álcool! Uma decisão errada não seria de estranhar.

Sou radical quanto a álcool. Admito. Por isso me arrisco a dizer que às vezes não é possível nem ao menos se falar em “decisão”. Algumas pessoas bebem, sobretudo quando instigadas a beber pelos amigos, a um ponto de já não saberem o que fazem mais. Eu vi isso quando estava acompanhada de algumas amigas e algumas conhecidas em um município com nome de instrumento de pai de santo e encontramos na noitada um famoso ex-nadador com apelido de apresentadora de TV caindo de bêbado. Na época ele era sex symbol e algumas das conhecidas (sim, eu tenho preconceito com quem faz esse tipo de coisa, não teria amigas que fazem isso) deram um porre ainda maior nele e o levaram para o quarto do hotel e… bem… nem vou dizer que abusaram dele porque não participei e não sei o que aconteceu ao certo, mas pelo pouco que eu vi, aprendi que pode acontecer da pessoa não querer mas estar tão bêbada que perde o discernimento e faz merda sem conseguir entender, impedir ou mensurar. E sim, elas tem foto disso até hoje.

Depois desse episódio aquela frase feita de que “ninguém faz nada que não queira bêbado” foi para a lixeira da minha mente. Faz sim. Muitas vezes nem entende direito o que está fazendo. Muitas vezes nem lembra direito no dia seguinte. Perde a noção de certo e errado, de sentimentos e de perigo. Logo, colocar alguém prestes a assumir um compromisso assustador (principalmente para homens), bêbado, nas mãos de amigos que, via de regra, são criaturas que colocam pilha errada é arriscar demais em uma coisa que deveria ser muito importante: a pessoa que você escolheu passar o suposto resto da sua vida, ou ao menos construir um futuro a longo prazo.

Eu avalio se um ato é razoável, se ele se justifica ou não, pesando na balança os prós e os contras. No caso da despedida de solteiro acho que se ganha muito pouco (talvez uma noite divertida de farra) e se perde muito (o amor da sua vida, o casamento ou, no mínimo, a confiança do amor da sua vida). Vale a pena um ganho mínimo correndo um risco máximo? Eu acho que não, mas o que mais tem no mundo é gente que não está preparada para ser feliz e vive se sabotando.

Mesmo que se diga que vai ser uma coisa inocente na casa do Fulano e que se pense de coração que nada vai dar errado, é preciso levar em conta que a despedida de solteiro é um ritual que envolve uma dose de promiscuidade na sua essência. Você pode pensar que não, mas no meio de, sei lá, cinco, dez, quinze amigos, com certeza vai ter um que acha que tem que ter uma pitada de baixaria. É esse que chama uma stripper como “presente surpresa”, é esse que depois que todo mundo tá caindo de bêbado força a barra para fecharem a noite em um puteiro, etc, etc.

E não isento mulheres de responsabilidade não. Hoje em dia mulher tá foda, igual ou pior do que homem do quesito infidelidade. Eu mesma já testemunhei uma despedida de solteira a ser realizada na casa dos pais de uma amiga da noiva que tinha tudo para ser super inocente e acabou com a noiva tão bêbada, mas tão bêbada, que tirou a sunga do GoGo Boy com a boca, enquanto sua amiga tão bêbada, mas tão bêbada, fotografava tudo com o celular. No dia seguinte, neguinho lembrava de flashes. Eu, como não bebo, lembrava de detalhes sórdidos. Liguei para a “fotógrafa” para avisar mas era tarde demais.

Eu respeito quem quer correr riscos. O que eu não respeito são riscos idiotas, onde se sacrificam coisas importantes em troca de pouca merda. Despedida de solteiro é uma má idéia. Pode dar uma merda feia. Mesmo que seja uma festa inocente com brigadeiro e refrigerante, se alguém plantar uma fofoca maldosa pode causar um belo estrago. É um ritual idiota, machista e ultrapassado. Não tem como manter segredo em um ritual onde participam várias pessoas bêbadas. Sempre vaza alguma coisa.

Quer me tratar esquema 1920 e achar que pode ir para um puteiro “só para beber” ou sair para comemorar com os amigos e chegar cambaleando? Então faça o pacote completo 1920: me sustente, me dê jóias, pague um dote para a minha família, me dê mesada e me deixe sair para fazer compras com o cartão de crédito. Se querem ser machistas, peguem o pacote todo.

Quem se arrisca a fazer uma despedida de solteiro está dando munição para fofoqueiros que queiram separar o casal. Está dando oportunidade a que surjam dúvidas sobre confiança e fidelidade que talvez nunca sejam sanadas e virem uma ferida eterna. Está flertando com o desastre, se colocando “na rua” em uma condição de bebedeira que gera vulnerabilidade, se sujeitando a que alguém force uma barra e convença de fazer algo que magoe seu parceiro. Para que correr tantos riscos? Não estou falando de conseqüências pequenas como perder dinheiro ou arranhar o carro, estou falando de perder o amor da sua vida. E não se enganem, fazer despedida de solteiro escondido só acrescenta mais riscos além de todos os que narrei: o do ritual ser descoberto.

Aliás, sinceramente, ALGO NESSE MUNDO vale o risco de perder o amor da sua vida? Eu acho que não.

Para dizer que eu estou desatualizada já que perder dinheiro ou arranhar o carro não são conseqüências pequenas, para pedir as fotos do Xux… do ex-nadador pelado ou ainda para dizer que eu sou maluca, histérica ou atacar de qualquer forma minha personalidade na tentativa de minar minha credibilidade e meus argumentos: sally@desfavor.com

KKKK GRIPE SUÍNA!

SEMANA DO AVESSO: O desfavor traz mais uma semana temática, desta vez Sally mostra seu lado Somir, Somir mostra seu lado Sally.

Nesta coluna, um assunto que normalmente apresenta pontos-de-vista opostos nos dois: Preocupação com a opinião alheia.

Ela normalmente se importa, ele normalmente não. Mas quando uma palavra surge na discussão, os papéis de invertem.

Tema de hoje: Te incomoda ser chamado de burro(a)?

SOMIR

Lembro bem até hoje da cena: A professora me entregando uma prova com um ZERO como nota. Ao contrário da vez onde eu recebi meu primeiro B, no primário, chorar não era uma opção. Quando eu tinha 9 anos de idade, meu medo era ficar burro como as outras crianças, mas eu já estava no terceiro ano do segundo grau, contemplando algumas questões mais sérias.

O que me deixou preocupado não foi exatamente a nota, foi a forma arrogante como eu decidi fazer o teste sem sequer ter estudado, esperando tirar uma nota boa apenas por me achar um gênio. Aquilo tinha sido uma… burrice.

Evidente que não foi a primeira coisa burra que eu fiz na vida, mas foi algo que marcou. Eu pude perceber claramente o processo de ter informações para fazer a decisão certa e não utilizá-las, a definição de burrice no meu dicionário. A nota ruim foi ignorância, eu não sabia mesmo o que estava respondendo na prova, mas se assustar por recebê-la? Ô coisa burra!

Nem tive chance de me redimir, larguei a escola no dia seguinte. Não foi por causa da nota, tinha problemas diferentes e foi naquele momento que eu percebi que não dava para conciliar. (Salvo pelo supletivo…)

Vejam bem, até aquele momento eu só me preocupava em não SER burro. Mas bastou um olhar para eu começar a não querer ser visto como burro. Eu praticamente não frequentava as aulas e ainda por cima tive que mudar de período do ano anterior, então era um completo estranho na classe. Naquele dia, enquanto eu observava atônito aquela prova, a garota sentada na carteira ao lado pergunta para mim como eu tinha ido.

Mostrei o papel cheio de rabiscos vermelhos e fiz uma cara envergonhada. Ela viu a nota, olhou para mim e fez uma expressão que eu nunca vou esquecer. Difícil explicar em palavras, mas é um misto de condescendência e desistência. Ela não riu, ela não fez piada, ela só fez aquela cara e virou para o outro lado.

Eu reconheci a expressão não por tê-la visto antes, reconheci porque já a havia feito para outras pessoas. Sabe quando alguém diz algo tão estúpido que você nem sabe por onde começar a responder? Nunca ninguém tinha me disparado um olhar desses. Talvez quando criança, mas além dessas coisas não registrarem na memória, não é a mesma coisa.

E eu sei muito bem como eu trato quem considero burro. Não necessariamente de forma antagônica, mas definitivamente ofereço menos. Torna-se uma interação mais superficial e propensa a interrupções. E eu tenho que ser honesto: ME CAGO de medo de ser tratado assim. Superficialidade excessiva acaba com o sentido das coisas para mim. É como se eu nem estivesse tentando.

Se eu for tratado como burro por outras pessoas, é como se eu tivesse morrido para o mundo. E puta que pariu, NEM FODENDO que eu deixo algo importante assim totalmente nas mãos dos outros. Se quer me achar burro, direito seu, mas eu vou me esforçar para não deixar isso acontecer. Essa é a porta que eu não gosto de fechar (porque todas as outras eu dou um jeito de fechar… “terno e gravata? valeu, prefiro continuar desempregado”).

A vida é “menas” se você for considerado burro. Bonitinho dizer que é azar delas, mas também é azar seu. Não estou advogando que você deva ficar furioso(a) quando alguém te trata assim (até porque é burrice, ha!), mas deixar barato é fazer uma falha de comunicação se tornar realidade. Você continua sendo mais do que a outra pessoa está enxergando, mas se ela não tiver nem chance de rever seus conceitos, para ela você se torna burro. Não vai ter acesso ao que poderia ter se ela te tratasse como capaz.

Eu sempre imagino uma criança ouvindo sobre um daqueles assuntos “de adulto”. Os pais tem que se virar para adaptar o conhecimento para o tamanho da compreensão dos fedelhos. E não é raro que mandem tudo à merda e inventem uma historinha ridícula para tapar o buraco. As informações que você recebe de quem te acha burro se assemelham muito. Não é o quadro completo, não é o melhor que ela pode fazer. É conhecer a história pelo filme e não pelo livro sem sequer ter a oportunidade de escolher.

É uma perda real. E existem muitos motivos além do seu controle que podem criar essa ilusão de burrice na mente alheia. Compreensão perfeita de tudo o que te dizem é um talento que ainda não encontrou dono. As pessoas vão adaptar o que você diz ou faz de acordo com uma série de pré-conceitos sobre o que caracteriza uma pessoa burra ou inteligente. Se você nem ao menos se importar em estar do lado “certo” da visão alheia, está se contentando com pouco fácil demais.

Quando eu começo a teimar para ser visto como inteligente, não é só meu ego inflado pedindo aprovação, é a minha forma de dizer que eu estou vivo e posso mais. Eu quero aprender, eu quero ter opiniões e informações do mais alto nível, eu quero valorizar minha visão que essa vida toda é uma viagem muito mais intelectual do que física.

E eu não posso fazer isso sozinho. Se estamos no mesmo time (e isso não é sinônimo de concordar em tudo), eu faço questão de saber. E faço questão que você saiba. E não vai ser empinando o nariz e achando que todo mundo tem obrigação inata de conhecer o que você realmente é que vai ajudar nessa causa. E se quem te acha burro passa a mesma impressão para você, dê uma chance. Podem ser dois cometendo um erro.

Feio mesmo é nem tentar.

Para me chamar de burro nos comentários e me irritar por um motivo completamente diferente, para dizer que eu fiz muita firula só para dizer que sou feio, ou mesmo para dizer o dolorosamente óbvio que inteligência e burrice são conceitos relativos: somir@desfavor.com

SALLY

Você é realmente burro? Você é inseguro? O que os outros pensam é realmente tão importante?

Não, né? Então não vejo motivo para se preocupar com o que as pessoas pensam sobre sua inteligência. Claro que quando disto depende o sucesso de projetos de vida, temos uma razão para provar nossa competência, como por exemplo no caso do que o seu chefe pensa sobre a sua capacidade. Mas, no caso de pessoas que não interferem em nossas vidas, que são o tema deste Ele Disse, Ela Disse, sinceramente, foda-se com F maiúsculo.

Não é muito difícil detectar uma pessoa burra. A forma de argumentar, a construção de frases, o conteúdo dito, as respostas dadas… em vinte minutos de conversa você pode detectar uma pessoa burrinha. Então, pra que se preocupar se alguém te acha burro? Se um dia a pessoa quiser te conhecer melhor e quiser conversar com você ela vai constatar que você não é burro. A qualquer tempo ela pode bater um papo com você e descobrir que você não é burro. E mesmo que ela converse e te ache totalmente burro, no que isso te prejudica? Azar o desta pessoa que perde um ótimo colega, amigo(a), namorado(a) ou o que quer que seja.

Olha, eu tenho autoridade pra falar no assunto. Durante muito tempo fui dançarina de axé. Isso significa tomar o que for preciso para ficar com corpo de Panicat, fazer bronzeamento artificial e ter o cabelo loiro. Ah sim, usava microshort. Visualiza o layout. As pessoas não achavam que eu era burra, as pessoas TINHAM CERTEZA ABSOLUTA que eu era burra. Eu era o protótipo da burrice ambulante. Eu achava graça. Já tirei proveito da situação várias vezes, porque me tomavam como burra e gente burra é inofensiva. Ninguém se protege de gente burra. Kelly feelings.

A verdade vem a tona para quem decide te conhecer melhor. Cansei de ver a cara de espanto dos homens que saiam comigo pela primeira vez para jantar e depois de meia hora de conversa falavam “Nossa, eu tinha uma imagem completamente diferente de você” (tecla SAP para “te achava burra” ou “te achava piranha” ou ambos). Daí você pode pensar que é importante provar a inteligência antes disso, pois muitos homens podem ter deixado de sair comigo por me achar burra. Amigos, sinceramente? Esse tipo de pessoa que julga sem conhecer não me interessa. AINDA BEM que deixaram de sair comigo. Quem perde? Eles! E se me conheceram e mesmo assim me acharam burra, quem perde? Eles!

Para completar minha aura de pseudo-burrice, meu idioma materno não é o português. Só fui aprender português por volta dos cinco anos de idade. Por isso vira e mexe cometo um deslize falado ou escrito, coisas como “mais grande” (totalmente permitido no espanhol). É fatal, as pessoas me corrigem e me olham como se eu fosse burra. Se eu for me importar e ficar me explicando, fica uma coisa meio Sasha, sabe? “Fui alfabetizada em outro idioma…”. Soa como desculpa esfarrapada. Prefiro rir e dizer “Nossa, sou burrona!”.

Tem coisa mais cafona do que gente que fica enfiando frases sem contexto nas conversas só pra mostrar erudição? E gente que se apresenta como “advogado”? Grandes merda ser advogado. Pessoas preocupadas em mostrar que são inteligentes acabam fazendo um papel bobo, artificial – e isso não deixa de ser uma certa burrice, concordam? Meus textos refletem isso. Não faço a menor questão de mostrar que sou inteligente aqui. Minha linguagem de botequim se assemelha à de um estivador ou marinheiro. Como diz o Somir: “Você fala igual a um traficante carioca”. Minhas escolhas de tema são ecléticas, desde merda, passando por peido até poítica e reigião. E quer saber? Duvido que algum leitor do Desfavor me ache burra por causa disso. E se achar, olha as minhas rugas de preocupação!

Ser burro não é uma coisa assim tão ofensiva para merecer que eu me desdobre para provar que eu não sou. Se achassem que eu sou criminosa, mau caráter ou algo do gênero, talvez eu me sentisse incomodada e compelida a provar o contrário. Mas ser burra? Qual é o problema em ser burra? Sem contar que, dependendo de QUEM te acha burra, acaba sendo até um elogio, uma verdadeira prova da sua inteligência. Não vejo prejuízo no fato de alguém que não interfere na minha vida me achar burra.

Devo confessar que dá até um certo prazer mental silencioso quando uma pessoa me trata como burra. Sim, eu rio por dentro, porque se eu tenho uma certeza nessa vida é a de que eu não sou burra. Posso ser escrota, filha da puta e maluca, mas burra eu não sou. Então, burro é quem me acha burra por fazer uma avaliação tão errada! Paro e penso “Que burro! Ele me achou burra! hahaha” (e geralmente tiro proveito disso). Não é motivo para aborrecimento, é motivo para risos (e trollagem).

A opinião dos outros (como eu disse, quando esses outros não interferem na sua vida) é irrelevante e indiferente. Quem não deve não teme. Eu não preciso do olhar do outro para saber o meu valor e a minha capacidade. Eu sei que é possível que me achem burra sem que eu seja burra. O fato de me acharem burra não me faz duvidar nem por um segundo da minha capacidade muito menos me faz sentir burra de verdade.

Viver com a preocupação de que NINGUÉM te ache burro deve ser tortuoso. Sempre vai ter alguém que nos ache burros, até porque a maior parte das pessoas acha burro quem discorda delas (isso sim é coisa de gente burra!). Vai fazer o que? Ficar cuspindo erudição? Falar sobre física quântica? Deixa pra lá! Deixa te acharem burro, que se foda! A pessoa te acha burra? Vire o jogo e VOCÊ passe a achar a pessoa burra por ela te achar burro! Ou simplesmente ache graça. Ou, melhor ainda, nem pense nisso, tem coisas mais importantes na sua vida (se não tem, deveria ter – compre um cachorro).

Tentar agradar a todos é uma tarefa ingrata. Burrice ou inteligência são conceitos subjetivos. Vivemos em um país onde a maioria esmagadora da população é MUITO BURRA e SEM DISCERNIMENTO. Sério, vale a pena se incomodar com o que uma pessoa que vota no Tiririca, lê Dan Brown, escuta Claudia Leite e lê a Veja pensa de você? Não, não vale. Deixa achar, liga o foda-se.

Para me chamar de burra e me ver fazendo piada disso, para chamar o Somir de burro já que ele se importa ou ainda para dizer que ambos somos burros por escrever todo dia quatro páginas de graça para leitores que chegam até nós procurando por Veronica Moser: sally@desfavor.com

Isso não é tinta...Alerta vermelho no desfavor! Apresentamos hoje uma situação potencialmente espinhosa e definitivamente embaraçosa. Imaginemos que uma mulher com a qual você não tem muita intimidade dê sinais CLAROS que esteja menstruada por uma mancha na calça…

Tema de hoje: Avisa-se uma mulher sobre seu “vazamento”?

SOMIR

Não. E eu nem vou tentar tirar a presunção de egoísmo da minha opinião. A vida tem desses momentos onde a melhor idéia é evitar confusão para o próprio lado. Tudo bem que pode ser muito vergonhoso para uma mulher ser vista com uma mancha vermelha entre as pernas, mas não é como se eu fosse a única coisa entre ela e suas chances de felicidade futura.

Avisar uma pessoa que ela está prestes a atravessar uma rua movimentada sem prestar atenção é educação e praticamente uma obrigação, avisar uma pessoa que seu endométrio está agora revestindo as paredes da calça não chega a ser um dever cívico. E é considerando essa escala de importância que defino minha postura.

Quanto mais você invade a intimidade de alguém, maior a necessidade de ter um bom motivo (ou convite). Não estamos falando sobre um chiclete na sola do sapato, estamos falando sobre sangue recém escorrido das profundezas de uma mulher com a qual você não tem intimidade. Se você não puxaria esse assunto numa boa numa conversa informal, convenhamos que não é algo que as pessoas estão preparadas para ouvir no dia-a-dia.

Ainda mais considerando que no meu caso, seria um homem avisando. E não vivemos num mundo onde educação é realmente apreciada. Numa situação embaraçosa como essa, existe o risco de sobrar para o mensageiro. Primeiro porque cria a presunção que você estava olhando para um local do corpo dela que condiz mais com comportamento de tarado do que de bom-samaritano. Evidente que não há nenhuma obrigação do homem ter olhado por causa disso, mas não podemos ignorar a verdadeira definição de tarado:

Tarado = Homem que não gera interesse sexual numa mulher.

Qualquer um pode ser tarado. E isso pode te complicar, principalmente num ambiente de trabalho. De tanta frescura que os homens estão aturando por causa da definição vaga de assédio sexual, aprendemos que é melhor deixar que elas se fodam antes de levarmos no rabo. It’s evolution, baby!

Mas mesmo que você não esteja pensando numa “conhecida” escrota o suficiente para aplicar a manobra de vítima, ainda existe a chance de você fazer um bem para ela mantendo a “ilusão de normalidade”. Uma coisa é ter certeza que todos estão vendo sua calça manchada, outra completamente diferente é só perceber a mancha na segurança do lar.

Não me iludo: Aposto que é bem comum mulher perceber pontinhos vermelhos nas roupas entre suas pernas todo mês. O último pingo é da cueca, mas o primeiro é da calcinha. Se for algo sutil e só você perceber, pega mal mencionar.

Se todo mundo fizer sua parte e não pentelhar a moça, ela só vai ficar meio paranóica no dia seguinte e esquecer logo o que aconteceu. E há de se convir que uma mancha tão grande ao ponto de ser perceptível para todos ao redor dela é algo que deve passar ALGUM sinal para a dona do vazamento. Gezuiz, a calça deve ficar molhada o suficiente para a mulher sentir… E ainda tem aquele cheirinho de ferrugem. Precisa que EU me toque disso?

E grandes chances dela perceber primeiro, até porque mulher VIVE no banheiro. Avisá-la provavelmente vai fazê-la ganhar uns 15 minutos de vantagem sobre o que perceberia naturalmente ao baixar as calças.

Só que essa vantagem de 15 minutos demole a ilusão de normalidade. Ela pode sair do banheiro com certeza que todo mundo viu o que seu útero escondia, ou com uma dúvida razoável que sacou a tempo. Para ela é muito melhor achar que foi um crime perfeito. Olha, até que isso não foi muito egoísta… estou quase com orgulho de mim.

Quase… Chegamos agora a outro ponto importante: A possibilidade da mulher ser gostosa, ou ao menos traçável. Você não vai querer ser lembrado como o cara que a viu brincando de pintura vaginal na calça! Por mais que ela possa te enxergar como um cara legal que a avisou de um problema, também vai criar algumas barreiras por causa da vergonha. Barreiras que provavelmente vão se tornar intransponíveis. Vai puxar papo com ela como depois? “Pô, a economia está uma merda, mas pelo menos você não está grávida, né?”. Já comeu, campeão!

Precisa correr esse risco? Não precisa, né? Ela vai sobreviver e a vergonha vai passar logo. E talvez até aprender uma lição. Não vou fazer pose que SEI o que é menstruar, mas… porra, não pode ser física quântica em grego.

Se uma menina de 11 ou 12 anos aparece com uma mancha na calça, é completamente compreensível, uma mulher com anos e anos de experiência no assunto com certeza fez uma aposta e perdeu.

Mulher tem a melhor noção de todas sobre as tendências de sua maré interna (se ela sabe que é bagunçado, ela SABE que é bagunçado). Mulher pode usar calça, vestido ou saia. Mulher tem calças que não são claras. Mulher tem um universo paralelo dentro da bolsa. Em algum momento ali poderia ter ocorrido a idéia de que talvez não fosse uma idéia muito brilhante enfiar uma calça branca atochada no último tanto tempo depois da última menstruação. Ou mesmo durante uma… Gezuiz…

Ei, eu que não vou entrar em crise porque uma mulher apareceu com uma mancha na calça. O vermelho é bem mais aceitável que o marrom nesse caso. Mas não espere que eu me arrisque a pagar o pato por um risco que você escolheu correr.

Para me chamar de egoísta escroto, para fazer uma longa reclamação sobre a imprevisibilidade do seu sistema reprodutor, ou me perguntar se eu gostaria me avisassem se eu caguei na calça (se eu chegar no ponto de não perceber mais isso, já vou estar usando fraldas mesmo…): somir@desfavor.com

SALLY

Hoje temos uma pergunta simples e direta que se responde com “sim” ou “não” e não comporta muita divagação: Uma mulher com a qual você não tem muita intimidade está com a calça suja de sangue. Você avisa que ela ficou menstruada? SIM. Eu aviso.

Primeiro porque se fosse comigo eu gostaria de ser avisada. Segundo porque acredito que existam formas de avisar que não sejam descaradas e humilhantes.

Talvez a Madame aí de cima diga que não avisaria porque em seu pequeno cérebro do tamanho de um caroço de uva a única forma que lhe vem à mente de dar a notícia seja algo do tipo “IHHH! FICOU MENSTRUADAAA! TÁ TODA SUJA DE SAANGUEEE! QUE MEEEERDA!”. Existem formas discretas de avisar. Existem formas com um pouco mais de sutileza. Eu mesma já inovei algumas vezes quando tive que dar esse aviso. Basta se importar o suficiente para se dar ao trabalho de pensar. E eu me importo, mesmo que seja uma desconhecida, porque me coloco no lugar da pessoa.

Por exemplo, como aconteceu com uma colega de trabalho minha. Eu não tinha a menor intimidade com ela. Quando percebi que sua calça FUCKIN´ BRANCA estava tão manchada de sangue no meio das pernas que chegava a parecer a bandeira do Japão, pedi o número do celular dela alegando que precisava de algumas informações do setor dela que estavam na minha sala, mandando ela ficar atenta ao celular porque eu ligaria em poucos minutos. Mandei um torpedo na hora alertando sobre o “vazamento”. Sem constrangimento, sem olho no olho, sem ninguém perceber.

Mas a Madame aqui de cima não deve conseguir pensar nesse tipo de coisa. Porque? Porque o foco de seus pensamentos está sempre nele mesmo. Se vai causar algum transtorno ou constrangimento a ele ou dar trabalho, que se foda, ele não vai fazer, ainda que implique em uma ajuda importante para a outra pessoa. Sério, ele é morto por dentro, incapaz de pensar no que a pessoa precisa ouvir. Lembra, Madame, quando você teve que consolar aquela moça com uma foto de um gato no avatar por mim, já que eu não podia postar? Lembra as merdas que você escreveu? Só faltou chamar ela pra jogar uma pelada e esquecer dos problemas! Afff! Tem favor que não dá pra pedir pro Somir! A mulher estava na merda, não sei como ela não se matou depois disso. Um dia juro que transcrevo aqui o Somir consolando a infeliz.

Alertar uma mulher de que ela ficou menstruada não é ofensivo, pois ficar menstruada não é um erro, uma falta grave ou algo que a pessoa possa evitar (bem, eu posso, mas isso é assunto para um Desfavor Explica). A FORMA como se alerta é que pode ser humilhante ou ofensiva. Basta que você não seja uma pessoa sem noção. Basta que você seja uma pessoa educada. Basta que você se importe minimamente com o outro. Pode ser um pouco constrangedor, mas não se enganem, não avisar será ainda mais constrangedor para a mulher que está “vazando”. Não se sabe em que situação ela será surpreendida com a notícia, como no caso de uma amiga minha que percebeu quando deixou uma enorme mancha de sangue no sofá branco da sala do seu chefe e este soltou o nome dela + um palavrão. Teria sido menos constrangedor se alguém tivesse avisado.

“Mas Sally, de que adianta? A gente avisa e o que a mulher vai poder fazer?”. Essa pergunta só pode ter vindo de um Cueca, porque até as vozes da minha mente sabem que nessa situação dá-se um jeito! Amarra o casaco na cintura, vai na rua comprar uma saia ou uma calça nova, pede absorvente emprestado, veste um sobretudo que cubra a mancha ou até mesmo lava a parte manchada no banheiro e seca com secador. QUE SE FODA, vale tudo, até derrubar molho de tomate na calça toda, para parecer que aquela mancha não é sangue. Confiem na criatividade feminina, a gente dá um jeito!

Existem diversas formas menos constrangedoras de avisar. Não precisa tocar no assunto menstruação! Se acha o tema constrangedor, se faça de idiota: “Fulana, acho que você sentou em algum lugar sujo” ou ainda, se quiser ser solidária diga “Putz! Você também sentou naquele banco sujo? Eu acabei de manchar a minha calça assim! Vai no banheiro lavar antes que a mancha seque!”. Se vira, inventa. Manda um bilhete, um e-mail, um torpedo, MANDA FUCKIN´FLORES com um cartão escrito “Você está sangrando, porra”, faz qualquer coisa, mas faz! Lembre-se, esta mesma pessoa pode acabar manchando indelevelmente o sofá branco do chefe e você pode poupá-la desta vergonha.

“Mas Sally, ela vai acabar percebendo sozinha”. Outro Cueca falando. Algumas vezes não. Quando você não está esperando por isso, pode nem se tocar. Se estiver muito ocupada então… Você não sabe o tempo que ela vai demorar para descobrir nem em que circunstâncias ela vai descobrir, então, que tal poupá-la do risco de uma grande humilhação ou coisa pior? Custa? Se não quer falar dê um jeito de que ela mesma tenha que olhar na direção certa para perceber, como um amigo meu que disse que o sapato da colega estava com uma etiqueta e quando ela sentou e torceu a perna para ver a sola do sapato percebeu a grande mancha. Busque o jeito que você achar menos humilhante e constrangedor.

Não adianta tentar se convencer que nada de mais pode acontecer se ninguém avisar. Já pensou se ela estiver prestes a sair pela primeira vez com alguém? E se ela estiver realmente interessada na pessoa, já pensou que mau momento ela vai passar? Você gostaria de comparecer ao seu primeiro encontro todo cagado sem perceber que está cagado nas calças e de ser alertado disso pela pessoa que foi encontrar, depois de sujar o banco do carro dela de merda? Nunca subestime a Lei de Murphy.

“Mas Sally, não seria melhor esperar que uma colega mulher avise?”. Novamente um Cueca perguntando. Só pode. Mulher não tem colega, tem rival – salvo RARAS exceções. Uma amiga até avisaria, mas uma colega provavelmente vai ter prazer na humilhação dela. É grande a chance de que as mulheres façam de conta que não perceberam e não avisem porra nenhuma. Mas, se você acha que será menos pior que ela saiba através de uma mulher, chame uma colega em um canto, conte o que está acontecendo e peça para ela alertar a mulher menstruada. Depois fique olhando para ver se de fato ela vai alertar. Pressão silenciosa.

Eu sei que não é problema seu, mas um pequenino ato de menos de cinco segundos pode poupar aquela pessoa de uma das maiores vergonhas de sua vida! Poxa, você não gostaria que alguém fizesse isso por você? Custa muito pouco e pode significar muito para a mulher que você vai alertar.

Para me perguntar se eu alertaria alguém se a pessoa tivesse cagado nas calças, para me perguntar como se livrar da sua menstruação sem ganhar um câncer de brinde ou ainda para contar uma história triste para o Somir só para ver como é ele consolando alguém: sally@desfavor.com

wat?De um lado ou de outro da questão, a maioria de nós já enfrentou as dificuldades da relação entre irmãos de idades distintas. Claro que nem tudo são espinhos, mas o desfavor tem essa tendência de ver o lado problemático das coisas.

Depois de discussão nada fraterna, Sally e Somir decidiram estender o assunto até vocês, irmãos e irmãs. (Eu ouvi um aleluia?)

Tema de hoje: O que é mais difícil, ser irmão mais velho ou irmão mais novo?

SOMIR

Irmão mais novo. Apesar de ser esse o meu lado da história, não entendam o texto como um concurso de vitimização. Não tenho nenhum trauma dessa relação. Por isso eu vou considerar que tanto irmão (ou irmã, vai ser um saco ficar o texto todo fazendo essa separação, considerem ambos os sexos) mais novo quanto o mais velho vivem numa família sem grandes problemas.

(Estou falando de uma distância de pelo menos uns três anos, para que os irmãos não vivam as mesmas fases da vida ao mesmo tempo.)

E com um campo de análise equilibrado, começa a pesar para o irmão mais novo o fardo de ser o elemento mais baixo na hierarquia familiar. Tudo bem que pouca gente tem essa alergia à hierarquia como eu tenho, mas não é como se esse prazer “canino” em acatar ordens seja tão natural assim para seres complexos como nós.

A não ser que o irmão mais velho já seja quase um adulto quando você vem ao mundo, é quase certeza que sua rebeldia seja dirigida a ele. O irmão mais velho peita mais os pais, o irmão mais novo peita mais o mais velho. E isso gera uma série de problemas, já que o alvo da sua sanha revolucionária não vai pensar duas vezes antes de revidar. Seja apelando para sua ignorância sobre a vida, seja enfiando a porrada.

EM TESE, os pais deveriam ser muito mais preparados para lidar com uma criança ou adolescente querendo atenção da forma errada do que uma outra criança ou adolescente com apenas alguns anos de vantagem. Queiram o não, o irmão mais novo tem um intermediário nessa relação. Você se contentaria com o parecer médico da recepcionista da clínica? Irmão mais velho não substitui os pais e tende a fazer merda quando cai nessa situação. Não é por mal, não era obrigação mesmo do mais velho, mas acontece.

E o intermediário explica comportamentos comuns do irmão mais novo. Normalmente vira imitação com irmãos do mesmo sexo e antagonismo se forem opostos. E em ambos os casos a relação é mais vantajosa para o irmão mais velho.

O moleque que tenta imitar o mais velho a todo custo vira presa fácil para manipulação e acaba com algumas dúvidas sobre a própria personalidade que tendem a fazer estrago na adolescência (adolescente só faz merda, adolescente querendo se diferenciar faz o dobro). O irmão mais velho vai ter um reforço no ego por ter um fã incondicional (mesmo que não admita).

O moleque que vive brigando com a irmã mais velha vai enfrentar alguém bem mais ardiloso, maduro (até porque tem essa diferença séria entre os sexos) e dependendo da distância de idade, bem mais forte. Mulher tem carta branca para bater em homem. Resumindo: Vai ser um massacre.

Todo mundo gosta de dizer que sofre mais. Mas podem ter certeza que ninguém escolheria ter desvantagens intelectuais E físicas numa competição. E porra, não sejamos falsos, existe uma competição NATURAL entre irmãos. Principalmente em idades onde nosso senso de justiça ainda é subordinado ao nosso instinto de aprovação.

E é nessa competição que o terror da criança carente e mimada surge. Grandes chances do filho “estragado” ser o mais novo, e isso não é à toa: Tentando compensar as vantagens naturais do filho mais velho, os pais toleram comportamentos mais egoístas do mais novo. E ainda existe uma espécie de sentimento de culpa que permeia essa relação. O primeiro filho recebeu cuidados muitas vezes exagerados, enquanto o segundo já foi tratado de forma mais controlada. Os pais se lembram disso.

Eles sabem que o filho mais velho foi a estrela da família e o ralo da conta bancária por alguns anos, eles sabem que o mais novo não foi tão pajeado assim. Muitas coisas de segunda mão, reaproveitadas… Numa sociedade de consumo como a nossa, comprar coisas tende a gerar na mente das pessoas uma sensação maior de carinho e cuidado. Tudo bem que isso é uma bobagem enfiada goela abaixo das pessoas pela publicidade, mas não se pode ignorar o poder do inconsciente nas atitudes diárias.

E se você está ficando confuso sobre esse ponto de tratar tendência de ser mais mimado como algo negativo, pense em quão bem pessoas carentes e mimadas se dão na vida. Pense nas merdas de relacionamentos que elas acabam formando. É muito mais difícil ter uma vida emocional saudável com essa propensão a ser estragado vindo no pacote da sua criação.

O irmão mais velho dificilmente se enxerga com o valor que tem para o irmão mais novo. Ele acha que a relação entre o mais novo é exatamente a mesma que ele tem com os pais, o que não é verdade. Para o mais velho, a família ganhou um cachorro que falava, para o mais novo, a família tem uma pessoa a mais desde… sempre. Pior, alguém que vence boa parte dos primeiros desafios da vida antes de você. A comparação é absolutamente inevitável.

O mais novo vai se enxergar modificado pela lente do mais velho. Isso influi em cada passo da vida dele. Imagino que Sally vá escrever um texto expondo situações onde o irmão mais novo é um “incidente” a ser resolvido, o cachorro falante da família. Por mais que possa ser um incômodo, passa longe de ser uma questão existencial. São campos de importância completamente distintos.

Até imagino que algumas pessoas vão ligar “questão existencial” com a noção de dramaticidade, mas não é como se esse tipo de pessoa conseguisse ler mais do meio parágrafo, não? A frase está segura aqui.

Ser filho mais novo só não é mais difícil do que não se fazer de vítima. *esperando os comentários*

Para dizer que eu acabei de explicar como me tornei intransigente (discordo), para reclamar que a comparação de irmão mais novo com cachorro falante é ofensiva para os cães, ou mesmo para dizer que quer ouvir a opinião da Somira sobre o assunto: somir@desfavor.com

SALLY

O que é mais difícil, ser irmão mais velho ou irmão mais novo? Com certeza ser irmão mais velho.

Um pequeno parágrafo sobre outra coisa: quando defendemos uma posição aqui falamos da REGRA GERAL, porque apesar do que algumas cabecinhas burras dizem, GENERALIZAR NÃO É RUIM, A REGRA GERAL EXISTE e as exceções apenas confirmam a regra geral. Para tudo que é dito aqui existem exceções e ela não invalidam o argumento da regra geral. Generalizar não é burrice, burrice é acreditar que não existe uma tendência, uma regra geral. Então, se você tem um irmão mais novo com esclerose múltipla, câncer, um olho de vidro, que vota no PT, lê Paulo Coelho, escuta Jota Quest e é torcedor do Vasco e vai tentar invalidar meu argumento com isso, pense duas vezes. Não estamos falando de casos excepcionais.

Para começo de conversa, o irmão mais velho é a cobaia dos pais. Quando ele nasce seus pais aprendem um bocado sobre o que fazer e o que não fazer na prática, na tentativa e erro. Ele sofre os erros dos pais, erros estes que muitas vezes não se repetirão com o filho seguinte caso os progenitores tenham o dom do aprendizado. Tudo é novidade e para abrir cada porta, para conquistar cada liberdade ou direito é um desafio. Quando o irmão mais novo chegar muitas portas já estarão abertas. Ao criar o primeiro filho os pais tendem a ser mais paunocu, mais rígidos, mais inseguros.

O primeiro filho, além de arcar com os erros dos pais de primeira viagem, ainda crescem com a responsabilidade de ser “o irmão mais velho”. Se algo acontecer com os pais, é ele quem vai assumir o comando da casa. Mesmo que nada aconteça, ele uma espécie de exemplo, de espelho para o irmão mais novo. Não raro o irmão mais novo é “empurrado” para ele, obrigando-o a se responsabilizar (“Só vai se levar o seu irmãozinho”). E mesmo quando os pais não obrigam, os irmãos mais novos costumam perseguir voluntariamente seu irmão mais velho. E ai dele se fizer o irmão chorar.

Não importa se o irmão mais novo quebrou alguma coisa ou fez merda, nem pensar em encostar um dedo nele ou repreende-lo verbalmente, porque se ele chorar isso vira um “O QUE VOCÊ FEZ COM SEU IRMÃO?”. O irmão mais novo, por ser mais novo, passa uma falsa aura de desprotegido e inofensivo. É alvo principal de preocupações e cuidados. E muitas vezes se vale desta falsa fragilidade para se dar bem. Sim, ele tem presunção de inocência.

Pais estão mais experientes quando já tiveram um filho. Já sabem que aquele choro incessante pode ser refluxo ou cólica e não ficam semanas esperando para ver se passa. Já sabem um bom colégio para colocar seus filhos e não os matriculam em lugares duvidosos para só depois descobrir e transferir seus filhos. Além de mais experientes, são também menos rígidos. Já sabem que ninguém morre se comer uma coisa que caiu no chão ou então se abraçar o cachorro. Eles sabem pelo que vale a pena se estressar. Não se estressam mais por qualquer merda.

Mesmo quando os filhos crescem um pouquinho mais, um irmão mais velho é um facilitador que abre muitas portas. Existem lugares que o irmão mais novo jamais iria se não fosse o irmão mais velho, que recebe a função de levá-lo consigo. O irmão mais novo tem acesso a uma série de informações através do irmão mais velho: músicas, filmes e dicas de todos os tipos sobre as mais variadas informações que talvez nunca descobrisse sozinho ou que tivesse que ralar muito para isso. Vem tudo pronto, o atalho mastigadinho pelo irmão mais velho.

Quando um irmão mais novo faz merda, muitas vezes ele pode recorrer ao irmão mais velhos para ajudá-lo ou salvá-lo, se poupando de ter que encarar os pais e levar um esporro pela merda que fez. Um irmão mais novo tem sempre um backup, uma tábua de salvação. Até mesmo para fazer perguntas que não teria coragem de fazer para os pais ou pedir favores que não teria coragem de pedir para os pais. Quando você tem um irmão e discute com seus pais, você tem uma chance de que ele fique do seu lado dando mais peso à sua argumentação, quando não tem irmão, são dois contra um.

Alguém tem coragem de negar que é mais fácil crescer com pais experientes, mais seguros, com um irmão mais velho para te ajudar e te ensinar coisas novas e até mesmo salvar seu rabo e com várias portas já abertas por esse irmão?

Ser irmão mais velho é ter passado parte da vida em uma casa só com adultos, sozinho. Isso pode ser muito difícil para uma criança. O irmão mais novo já vem ao mundo tendo outra criança (ainda que com uma certa diferença de idade) para brincar. O irmão mais novo já nasce com um cúmplice. E se estivermos falando de um irmão mais velho e uma irmã mais nova, quando a adolescência chegar ela vai ter acesso a vários amigos dele, de onde pode sair um belo namoro. Se for ao contrário, quando a adolescência chegar, o irmão mais novo pode pegar dicas valiosas com a irmã mais velha sobre mulheres.

Em qualquer idade, mas principalmente em idade escolar, o irmão mais novo tem a quem recorrer se estiver sendo alvo de algum tipo de valentão, chacota ou bullying. Chamar o irmão mais velho para cobrir de cacete quem te ameaçou é um clássico. Por sua vez, o irmão mais velho teve que se virar sozinho, porque nessas horas quem busca ajuda no Papai e na Mamãe é visto como viadinho.

Eu poderia ficar páginas e páginas enumerando quão mais fácil é a vida de um irmão mais novo, mas provavelmente não adiantaria. As pessoas tem uma tendência Universo Umbigo a achar que o que elas passaram é sempre o mais difícil. Aposto que quem é irmão mais novo vai defender irmão mais novo e quem é irmão mais velho vai defender irmão mais velho.

Para dizer que o mais difícil é ser irmão do meio, para dizer que o mais difícil é ser filho único e para dizer que o mais difícil é ser irmão siamês: sally@desfavor.com

Eita fofura!A cada dez segundos, uma mulher pergunta para um homem se está gorda no mundo. Mais alarmante ainda do que essa estatística inventada é a situação potencialmente explosiva na qual tantos homens são obrigados a viver.

Sally e Somir discordam sobre a resposta ideal para esta questão em geral, mais ainda mais no caso da mulher realmente estar acima do peso.

Tema de hoje: Se você acha que ela está gorda, deve dizer a verdade?

SOMIR

Sim. E isso vem de alguém que adora relativizar a importância da verdade nas relações humanas. Tenho dois motivos principais para defender o que defendo.

O primeiro: A mulher te pergunta isso porque quer te pentelhar. Se você disser que ela não está gorda, ela te chama de mentiroso. Se você morder a isca e manter o assunto rolando ao se explicar, ela aproveita a chance e faz o que mulher sabe fazer melhor… DRAMA! Alguém conhece UM caso que seja de mulher perguntando isso, ouvindo que não está gorda e saindo feliz da vida de perto? Nón ecssiste!

Mulher que pergunta se está gorda se acha gorda. E como vivemos numa sociedade que trata gordura corporal como crime inafiançável, inconscientemente ela vai tentar descontar essa frustração na pessoa disponível. No caso, o Zé Ruela que tem que ouvir essa nefasta pergunta.

Tecla SAP: Estou me sentindo feia e quero ver alguém mais sofrendo.

E não se quebra o ciclo alimentando o comportamento. Quando ela vier com esse prenúncio de briga inútil, que saia levando uma patada para aprender que não se maltrata quem você quer bem. Mentir não vai fazer nada pelo ego dela, ela ainda se acha gorda independentemente do que você disser.

Se você devolve um belo de um “sim” para ela, vai quebrar completamente o prazer de inventar a briga e ganhar na base da chantagem emocional. Porque no final das contas nada mais é do que um joguinho de poder. Homens fazem esses jogos, mulheres também, assim é a vida.

Claro, ela vai pirar, mas é bem mais prático que ela pire de uma vez só ao invés de arrastar o drama por horas. Mulher tem um talento para a tal de “argumentação de armadilhas” que nenhum homem do mundo sonha em equiparar. Sabe quando ela começa a achar sentidos duplos em tudo o que você fala? Você tenta se explicar e inacreditavelmente acaba mais enrolado. Caros colegas de gênero, não somos páreos para isso. Ela VAI conseguir te deixar parecendo um monstro enquanto você tenta explicar que a acha atraente.

O segredo é não cair nesse território hostil. Deixa a merda toda ir para o ventilador de uma vez e jogue num campo mais favorável, por incrível que pareça. Ela cospe logo os demônios da insegurança sobre a aparência, e se você for esperto pode até ganhar um pedido de desculpas na horizontal. Ela quer pirar, deixe. Diga que ela está gorda.

Depois é só dizer que falou para provocar ou alguma dessas coisas que elas sempre acreditam. Game. Fuckin’. Over.

E eu estou falando daqueles casos mais comuns onde a sua namorada/mulher/prisioneira (ahem…) realmente está acima do peso que você considera ideal, mas longe do tanto que te faria deixar de querer comê-la. Corpo “perfeito” é baboseira de mídia de massa querendo vender mais, homem pega gordinha numa boa.

Mas gordinha é um termo variável. A minha “gordinha” pode ser uns 10 quilos mais leve do que a “gordinha” de outro. Ou 10 quilos mais pesada. “Gordinha” é basicamente o limite de um homem para comer uma mulher. (tem quem chame de “fofinha”, “cheinha”… se for diminutivo, ainda tem jogo…)

Ás vezes a mulher passa do seu limite dentro de um relacionamento estável, e isso me leva ao segundo ponto: O sapo na panela.

Se você colocar um sapo numa panela com água fervendo, ele pula fora na hora. Se você colocá-lo numa panela com água em temperatura ambiente e for aquecendo aos poucos, ele cozinha vivo.

Homem é igualzinho com mulher engordando num relacionamento. Um pouquinho mais de carne para pegar não é uma coisa ruim. Só que essa água vai esquentando, esquentando… Na hora que cai a ficha que ela já passou do seu ponto de aceitação, a merda está feita. Você podia ter falado alguma coisa o tempo todo, mas não falou. É sacanagem pular fora, mas a coisa vai começar a ficar ruim para os dois do casal.

Ela SABE que está gorda, evidente. Se te pergunta, está testando as águas ou armando uma briga. Responder a verdade é a melhor solução em ambos os casos. A diferença do exemplo anterior é que você não pode mais enrolar depois de dizer a verdade. Vai ter que manter a versão.

Se ela ficar ofendidíssima e terminar com você, ela realmente estava acima do peso que você considerava atraente. Se ela fizer um dramalhão, não é como se fosse alguma novidade para um homem. Se ela resolver fechar a boca e malhar (e você roda junto se estiver acima do peso), você vai conseguir sua mulher gostosa de volta depois de algum tempo.

Como é comum que um homem não perceba uma mulher engordando aos poucos (casamento) e ele É SIM parte do problema, faz bem aproveitar a chance de encarar a realidade e criar uma situação propícia para a mudança.

Eu já argumentei outras vezes em prol da mentira, mas ela sempre era mais produtiva do que a verdade. Hoje calhou de ser o inverso. Mentir nessa pergunta é mais do mesmo.

Para dizer que você segue a cartilha do homem esperto e NUNCA diz a verdade para uma mulher (funciona, mas eu acho chato), para reclamar que você é um floco de neve único e especial que não pentelha homem, ou mesmo para me perguntar se está gorda (sim, está): somir@desfavor.com

SALLY

É um mau momento… A pessoa te pergunta, à queima roupa, se ela está gorda. Longo silêncio. Você realmente acha que sim, que ela ou ele está gorda. O que fazer? Falar a verdade? Só se você for muito burro e estiver querendo arrumar confusão. A verdade vai magoar quem perguntou e paunocuzar quem respondeu. Precisa?

Salvo situações excepcionais, onde estar gordo comprometerá a pessoa profissionalmente (ai sim eu me sentiria no dever de alertar), eu jamais diria a uma pessoa que ela está gorda. Sabe porque? Porque esta não é uma pergunta para a qual as pessoas querem uma resposta de verdade. Para saber se você está acima do peso ou não existem dois recursos solitários chamados balança e espelho. Ninguém precisa da opinião de terceiros para constatar sobrepeso. Logo, quem pergunta não quer ESTA resposta, quer outra.

Então, se é algo quase que matemático que pode ser constatado de forma solitária, é evidente que a intenção da pessoa não é ouvir esta verdade. Se a pessoa quisesse a verdade sobre seu peso vestiria sua calça jeans mais justa que tem no seu armário e quando ela não passasse do joelho a pergunta estaria respondida. A pessoa não quer saber se está gorda, ela quer saber se, AOS SEUS OLHOS, ela está repulsiva. Tanto é que esta pergunta costuma ser feita usando o termo “VOCÊ ACHA que eu estou gorda?”. É a sua opinião que conta. É a sua opinião sobre o corpo da pessoa. Dizer que ela está gorda é dizer que ela está repulsiva e dizer que não está gorda quer dizer que ela ainda é atraente para você. Incoerente? Com certeza. Mas… você prefere arrumar confusão em nome de manter a coerência?

Eu não gosto da idéia de minar a auto-estima de quem está ao meu lado. E eu realmente gostaria da pessoa de forma igual, sendo ela gorda ou magra (minha exigência é apenas para com MEU corpo, por incrível que pareça), então, não vejo porque dizer que a pessoa está gorda (a menor que isso possa comprometer a carreira dela, nesse caso é dever alertá-la). Ao dizer que a pessoa não está gorda na verdade estarei respondendo “Eu gosto de você do jeito que você está”. Portanto, se a pessoa não estiver repulsiva para você, a sugestão é que diga que ela não está gorda.

Não se enganem com esse argumento de que “se a pessoa perguntou é porque quer ouvir”. Pessoas perguntam o tempo todo coisas que não querem ouvir. Pessoas perguntam se estão sendo traídas e se você responder que sim, certamente vai ver uma cena de putez. A pessoa pergunta para saber se você ainda se importa com ela o suficiente para se dar ao trabalho de mentir e inventar um argumento qualquer para tranqüilizá-la e convencê-la de que ela não está gorda. É um teste. É babaca? Sim, com certeza. Mas custa mais caro se você não passa no teste. Se poupe da paunocuzação, a vida é curta e as DRs são longas.

Se você quiser ser o arauto da verdade, bater no peito e dizer o que pensa, não estará sendo honesto, estará arrumando um problema. “Problema? Problema dela que quis saber a verdade!”. Não, problema SEU, que vai ter que encarar raiva, mágoa e paunocuzação. Se não quer mentir para poupar os sentimentos do seu parceiro, minta para poupar a paunocuzação. Não sou a favor de mentiras em um relacionamento, mas um mínimo de mentiras irrelevantes (“não, sua blusa abóbora não é feia”) se faz necessário (“sim, gostei do seu novo corte de cabelo, igualzinho ao do Neymar, né? Ficou lindo”). Excesso de sinceridade é falta de educação e custa caro.

Os sincericidas que afirmam a gordura de seus parceiros se enganam achando que por ter sido perguntado tem o direito de dar qualquer resposta impunemente. DEVERIA SER ASSIM. Quem pergunta realmente DEVERIA estar preparado para ouvir a verdade. Mas daí você vive uma meia dúzia de relacionamentos e aprende que infelizmente NÃO É ASSIM e aprende a se poupar de certos desgastes e certos estresses que não trazem nada de positivo para a relação. E, sinceramente, acho meio hipócrita dizer que respondeu a verdade porque se a pessoa perguntou queria ouvir. A mesma pessoa que diz isso mentiria se lhe fossem perguntadas algumas outras verdades inconvenientes que a prejudique como “sexo comigo é melhor do que com sua(seu) ex?”, “você já fez sexo comigo pensando em outra pessoa?” ou ainda “Você ainda pensa no(a) seu(sua) ex?”. Não existe essa sinceridade toda, quando o seu fica na reta, você mente. Então, se mente para salvar seu pescoço, custa mentir para não magoar a pessoa que ama?

Acho generoso mentir nesse caso. E não necessariamente a mentira vai fazer a pessoa se acomodar. Pode dizer que não esta gorda, mas que se ela se sente assim, vai se matricular em uma academia com ela para dar uma força, para que ela se sinta bem com seu corpo. Pode incentivar a emagrecer sem dizer que está gorda. Pode inclusive fazer uma coisa que eu já fiz e dizer que está SE achando gordo e quer a ajuda dela para fazer uma dieta, pois se ela entrar junto com você vai te incentivar. Existem mil formas menos trabalhosas de se incentivar alguém a emagrecer!

Dizer que a pessoa está gorda só provoca DR, lágrimas e ressentimento. Vocês concordam comigo que se a pessoa fosse bem resolvida, olharia no espelho, subiria na balança, vestiria suas roupas e pensaria “Tô gordapacaralho!”? Uma pessoa que precisa PERGUNTAR se está gorda é uma pessoa que tem essa questão muito mal resolvida. Ciente disso, é preciso lidar com cuidado, pisando em ovos, pois meter o dedo na ferida mal resolvida de uma pessoa não vai trazer nenhum benefício. Todos perdem. Todos nós temos questões mal resolvidas e ninguém gosta quando metem o dedo na nossa ferida, porque fazer isso com a pessoa que supostamente amamos?

Sem contar que se falar esse tipo de coisa para uma mulher ainda corre o risco de que todos os amigos e parentes dela acabem te odiando. Já pensou se ela conta chorando para a mãe, para a irmã e para a melhor amiga que “meu namorado disse que eu estou gorda!”. Você vai enfrentar uma campanha contra a sua pessoa por um bom tempo. Como eu já disse, se não quer poupar a pessoa do sofrimento e da mágoa, minta para se poupar da paunocuzação, porque ela virá, independente do fato da pessoa ter perguntado. As pessoas não são racionais, não são razoáveis e não são coerentes, principalmente quando estão apaixonadas. Aceitar isso é o primeiro passo para aprender a construir uma relação harmônica.

Em resumo, a pessoa que responde afirmando que o interlocutor está acima do peso não está “errada”, em tese. Mas as conseqüências desta verdade inconveniente podem ser tão sofridas e tão pau no cu, que justificam uma mentirinha. Verdade a qualquer preço não é bacana, é coisa de gente teimosa e sincericida e idiota, porque causa uma baita confusão desnecessária.

Para me chamar de gorda, para me chamar de mentirosa ou ainda para me chamar de barangueira: sally@desfavor.com