Oh yeah again!

SEMANA DO FUTURO: Durante esta semana transmitiremos o desfavor também em formato binário na antiga rede mundial de computadores. Isso ainda é muito experimental, mas acreditamos que exista uma possibilidade de contatar seres do longínquo ano 2011[CMT]. Isso te interessa, receptor, porque você vai notar algumas simplificações infantis na linguagem para nos fazermos inteligíveis para os bestiais habitantes daquela época. Também teremos que pegar mais leve com algumas opiniões, aquele povo era muito supersticioso e acreditava piamente em códigos morais místicos, segundo o que apuramos.

Não é de hoje que se discute os limites da relação entre matrizes e clones, ambos os responsáveis por esta transmissão são clones criados livres por vontade de suas matrizes e apóiam a Declaração de Direitos dos Clones. Mas isto aqui é o desfavor, evidente que acharíamos uma baixaria para discutir…

Com o aumento de casos de pessoas assumindo relações sexuais com seus clones, surge uma desavença: Sally e Somir enxergam excesso de intimidade com suas cópias de forma bem distinta.

Tema de hoje: Sexo com o próprio clone é gay?

SOMIR

É sim. Por uma teimosia da minha matriz, eu e minhas gerações anteriores fomos mantidos exatamente com a mesma orientação sexual arcaica dele. Está escrito em letras garrafais na minha Carta de Manipulação HDNA: “O SEU CU É O MEU CU, NÃO PODE DAR O MEU CU!”…

O meu cérebro é um dos raros exclusivamente heterossexuais restantes entre os humanos. Pode apostar que eu sei muito bem o que é gay ou não. Eu sou o cara que daria um fora num modelo de genética sem o menor remorso. (Toda vez que eu digo algo assim, me olham com cara de espanto… Eu sou hetero, não escolhi ser assim, LIDEM COM ISSO!)

Eu sei que vai aparecer a turminha cabeça fechada para dizer que todo mundo nasce bissexual e orientações são escolhas conscientes, mas não é assim que a banda toca. Tem muita gente nesse Setor Galáctico que não faz o estilo tradicional “gosto de meninos e meninas”. Existem registros e mais registros do passado e vários estudos de civilizações sexuadas que corroboram com a idéia de sexualidade inata. Incrível como injetam trilhões de créditos em pesquisas sobre modificações genéticas e sucateiam os centros de pesquisa comportamentais… Neguinho tem três pintos, mas não entende nenhum deles.

Pois bem, cá estou eu desviando do assunto… Falemos de clones. As pessoas tem tanto medo de assumir sua sexualidade que inventam desculpas ridículas para explicar sua atração exclusiva pelo mesmo sexo. Sim, EXCLUSIVA… Acessem o Centro de Pesquisas Sexuais da Nova Indochina e recebam o estudo H8829-093CD. Isso mesmo… 67% das pessoas que mantém relações sexuais com seus clones ADMITEM não procurar outros parceiros. Considerando o tabu que envolve o tema, o número real deve ser ainda maior.

Não estou julgando o ato de fazer sexo com o próprio clone de forma pejorativa. Até entendo quem faz, deve ser interessante estar com uma pessoa que conhece seu corpo tão bem como você, mas, novamente… do ponto de vista de um heterossexual: Tem que gostar do mesmo sexo para sequer conseguir! Eu jamais conseguiria ficar sexualmente excitado com um marmanjo pelado. Eu não tenho escolha nessa questão, não tem força de vontade que reverta sua orientação sexual natural.

Se a pessoa se sente atraída pelo seu clone, ela se sente atraída pelo mesmo sexo. É um bicho completamente diferente da masturbação. Uma pessoa não precisa se sentir atraída por ela mesma para querer sentir prazer… Até gente que se odeia e se acha horrorosa se masturba! E, porra, sexo não é só sobre sentir prazer, é sobre proporcionar prazer também.

É uma conexão com outra pessoa, robô ou alienígena. Não se tira a troca da relação sexual só porque uma pessoa tem vergonha de assumir o que realmente é. Um clone jamais vai ser uma expressão de “auto-amor”, porque ele gera uma nova relação, uma que te exige comunicação com outro ser. Você não pensa pelo clone, é uma cópia do seu corpo e da sua mente. Mas o simples fato de não estar no mesmo ponto do espaço já cria uma visão diferente do mundo.

É outra pessoa. Outra pessoa do mesmo sexo. Você poderia procurar outros parceiros(as), mas está fazendo sexo com esse clone. Para muita gente essa é a única relação estável que vão ter durante suas vidas.

Aceitem de uma vez por todas: Nem todo mundo é bissexual. Os governos só fazem essas campanhas para aumentar a taxa de reprodução, e só porque precisam preencher aquelas colônias de extração de minerais aqui no Sistema Solar Primário. Europa II está fechando por falta de trabalhadores e isso é péssimo para os negócios.

Se você, como a maioria dos que tem relações sexuais com seus clones, descobre-se completamente satisfeito em manter essa relação exclusiva, você é homossexual. E isso não é demérito! Deixe de ser uma ovelhinha desses poderosos que só se importam em aumentar a população humana de forma barata. (Afinal, o processo de clonagem é bem mais caro que uma singela trepada entre sexos opostos…)

Já vi muitos casos de gente hackeando o SATI para fazer o clone esquecer os “servicinhos extras” prestados. A pessoa prefere arriscar a mente de seu clone do que lidar com a idéia de que não é bissexual. Aposto que boa parte dos clones que acabam sacrificados ou largados babando em Centros de Proteção do Clone sofreram nas mãos de alguém que ficou apagando sua memória sistematicamente. Isso fode com a mente dele. O SATI não foi feito para isso…

A pessoa leva o clone para casa, faz sexo com ele todos os dias, deixa de procurar outros parceiros e NÃO quer ser vista como homossexual? Faça-me o favor. Eu sou a prova viva que não é inevitável sentir-se atraído pelo próprio clone assim como é inevitável a vontade de se masturbar. (Até porque eu assinei um plano holoadulto de 45.000 canais… O canal robótico é eletrizante!)

Eu tenho meu quarto, o meu clone tem o dele. A gente faz muita coisa juntos, mas não tem a menor necessidade de ficar se esfregando. Não existe tensão sexual, não existe atração nesse nível. Atração intelectual vive muito bem como amizade, oras! PRECISA fazer sexo com qualquer pessoa que seja parecida com você? Vai ser narcisista assim lá em Gliese!

E honestamente, por mais que eu não considere homossexualidade uma coisa negativa, ficar fazendo sexo com o clone me parece uma coisa de gente carente e cagona. Medinho de rejeição, é?

O que pessoas adultas e conscientes fazem de comum acordo dentro de quatro paredes não me importa, mas quando começam a abusar de clones que muitas vezes recebem alterações cibernéticas para serem eternamente obedientes, a coisa começa a ficar séria. Essa gente exclusivamente homossexual tem que sair do armário e parar de colocar em risco suas cópias com seu pânico da descoberta.

Sexo com o clone é gay sim. Deixem de viadagem e assumam logo.

Para dizer que duvida que as pessoas do passado sequer sabiam ler, para dizer que clone não tem direito de porra nenhuma mesmo tendo 90% do seu código genético clonado, ou mesmo para fazer as mesmas piadinhas de hetero que eu já enjoei de ouvir: somir@desfavor.com

SALLY

Fazer sexo com o próprio clone é homossexual?

Primeiro gostaria de dizer que, em homenagem às origens do Desfavor, este texto também estará disponível na internet (lembra?), para aqueles que por razões neurológias ou religiosas não podem ter acesso ao sistema Brainet de transmissão de informações diretamente ao cérebro. Durante a semana toda postaremos os texto na Brainet e também na internet. Desfavor voltando às origens!

Vamos ao tema. Odeio essas classificações, mas já que não conseguimos viver sem elas, ao menos tentemos fazê-las de forma correta: fazer sexo com seu clone é fazer sexo com você mesmo, logo, estaria mais para masturbação do que para homossexualidade. Na verdade, acho que mereceria uma nova classificação. Concordo com o grupo que defende ser uma nova modalidade: Autosexualidade. Sentir vontade de fazer sexo com alguém PORQUE é do sexo oposto é homossexual. Sentir vontade de fazer sexo com alguém PORQUE é você mesmo, ou seja, conhece seus desejos e o funcionamento do seu corpo, é autosexual.

Faz quem quer, não é obrigatório. Faz quem tiver vontade e se sentir bem. Fazer sexo com o próprio clone é uma experiência que pode contribuir para que você conheça melhor seu próprio corpo, afinal, é um desperdício usar nossos clones como mero banco de órgão para doação, como já foi abordado no Flertando com o Desastre do ano passado, “Limite ético da utilização dos clones”. Apesar de toda a polêmica envolvendo o tema, eu sou favorável ao uso amplo dos clones para fins não-medicinais. Faz sentido deixar seu clone ali trancado na sala de criogenia da sua casa? Não faz. Visita à sogra? Manda o clone! hahaha

A oportunidade de conhecer seu próprio corpo na terceira pessoa, por uma visão externa, é simplesmente fascinante. Não quer tentar? Ok. Respeito. Só estou pedindo para que não julguem quem o faz de forma simplória, chamar isto de homossexual é igualar sexo com você mesmo a sexo com qualquer desconhecido do mesmo sexo. Aliás, é incrível como ainda temos a necessidade de classificar as condutas sexuais! Desde os primórdios toscos e obsoletos do Desfavor, mil anos atrás, já abordávamos esse assunto. Mas pelo visto, mil anos depois nada mudou. A merda é a mesma, só mudam as moscas!

Desde que o Ministério da Genética permitiu a clonagem de forma ostensiva, uma série de dilemas éticos vem envolvendo o relacionamento de seres humanos e seus clones. Depois do novo Sistema de Armazenamento e Transplante de Informações (SATI) eles passaram a ser usados como forma de aprimoramento pessoal e profissional de forma socialmente aceita. Porque parte deste aprimoramento não pode ser sexual? Testar as reações do clone ao seus estímulos e testar a sua relação aos estímulos do clone pode te tornar um parceiro melhor. Francamente, você passa todos seus medos, conhecimentos, desejos e sonhos para ele todas as noites quando o atualiza no SATI, que mal tem ter contato corporal com ele, que te conhece como ninguém?

“Mas Sally, então você está dizendo que fazer sexo com seu clone não é traição?”. NÃO, não estou dizendo isso. Você está fazendo sexo com ALGUÉM. É traição sim! Só não acho que seja homossexual porque a escolha desse alguém não é por causa do sexo feminino ou masculino e sim porque é VOCÊ MESMO. O que te move a escolher não é o sexo e sim a identificação absoluta e o conhecimento total. Custa abrir a mente e perceber que a atração sexual fugiu ao padrão de escolha “sexo feminino” e “sexo masculino”? Hoje existem outros atrativos que não o gênero.

Neguinho faz sexo com o próprio clone adoidado, só não assume. O grande problema é o tabu que envolve o assunto. Quantos Brainmails eu recebo de pessoas contando que fazem sexo com seus próprios clones escondidos! Tá na hora de quebrar esse tabu e permitir a liberdade de escolha de cada um. Porque sempre temos que criar tabus diferentes? Quer fazer sexo com seu clone? FAÇA. Pessoas temem criar novas classificações e se apegam aos padrões antigos, mesmo que eles já estejam obsoletos.

Também vejo um pouco de maldade de um pequeno grupo nesta classificação “sexo com seu clone é homossexual”. Os gays foram maioria absoluta durante muitos séculos e ficaram mal acostumados com isso. Com o crescimento da bissexualidade eles perderam território e estão quase extintos. Parece uma tentativa desesperada de voltar a ser maioria, classificando pessoas que fazem sexo com o próprio clone como “homossexuais” para elevar o número de homossexuais na sociedade e tentar voltar ao status de classe dominante.

Maldita hora que o medo do bullying e a histeria protetiva forçaram o legislador a modificar a lei e reservar cotas no Congresso para homossexuais, heterossexuais e outras minorias, proporcionais à porcentagem de seus representantes na sociedade. Vejam o caso dos homossexuais: cada cem mil homossexuais na nossa sociedade dariam direito a 1% das vagas. Quanto mais homossexuais no país, mais vagas para eles no Congresso. Se aceitarmos que cada pessoa que faz sexo com seu clone é homossexual, o número de vagar para eles na política, no mínimo, quadriplicaria!

É um perigo dar tanto poder a uma classe. Desde que tivemos o primeiro Papa assumidamente gay, após a Grande Releitura da Bíblia III, o grupo vem tiranizando os demais. Não adianta forçar a barra para ser maioria novamente, Srs. Homossexuais: fazer sexo com o próprio clone não é gay. Parem de tentar retomar poder. Não parece, mas também é uma questão com fundo político. Vocês não perceberam ainda que SEMPRE tem uma questão política por trás de tudo?

Muito me admira que a Madame aqui de cima, egocêntrico como é, nunca tenha sentido o desejo de fazer sexo com um clone seu, cujo cérebro detém as mesmas informações atualizados diariamente (abençoado seja o SATI!). Ele se ama acima de todas as coisas! Já pensou? Fazer sexo com alguém cuja mente é idêntica à sua, que sabe tudo que você gosta, seus desejos mais ocultos, seu timing, que sabe TUDO? Duvido que ele nunca tenha feito, mesmo que sem nenhum tipo de penetração. Ora, masturbação é a sua mão no seu pênis. A mão do seu clone é a sua mão…

Homossexual é fazer sexo com uma pessoa do sexo oposto QUE NÃO VOCÊ MESMO. Autosexual é fazer sexo com você mesmo. Dizer que sexo com seu clone é homossexual é dizer que seu clone é como outra pessoa qualquer, e não é: é você mesmo.

Para mentir e dizer que nunca fez sexo com seu próprio clone agora que, após protestos, desligamos o detector de mentiras ou para dizer que mil anos depois isto aqui continua uma porcaria ou ainda para dizer que sexo com o próprio clone é melhor do que ter que sentar na própria mão: sally@desfavor.com

Foco! Foco!Num mundo com cada vez mais câmeras, as quatro paredes estão se tornando obsoletas. Bilhões de vídeos e fotos de pessoas em trajes e poses comprometedoras circulam pela internet todos os dias. Algumas por vontade própria, outras nem tanto…

Tema de hoje: Quem fica mais exposto com nudez na internet, homens ou mulheres?

SOMIR

Os homens. Mas antes de tudo, acho importante mencionar que vivemos numa sociedade muito mais dinâmica do que as nossas opiniões. Para responder a uma pergunta como a desta coluna, o habitual é ir buscar na mente uma “verdade” sobre o assunto que você já sabe e aplicá-la na sua resposta. Creio que a “verdade” que mais vai aparecer é a de que mulheres sofrem mais com repressão de fundo sexual.

Por essa ótica, nem precisa ler meu texto. Vai direto para o da Sally, recheado de sabedoria “atemporal” e opiniões “confortáveis”… Reconheço que é mais fácil não adaptar suas idéias ao contexto do mundo de hoje. Muita coisa JÁ mudou desde que a “guerra ao machismo” começou.

E é do mundo de hoje que eu pretendo falar. O mundo onde muita gente pode compartilhar informação de forma praticamente instantânea. Está na hora de atualizar seu software de compreensão do mundo… A internet É um modificador de comportamento poderoso. E como é justamente no meio virtual que o fato se desenrola, faz sentido pensar nas peculiaridades da rede.

O meu argumento principal é simples: Mulheres acabam menos expostas com fotos e vídeos “indecentes” pela quantidade AVASSALADORA de concorrência disponível. Não sejamos inocentes de ignorar boa parte do tráfego de informações na rede mundial de computadores visa apenas montar imagens de mulheres peladas… Não tem um site onde você pode achar a foto da “amadora pelada”, existem MILHÕES.

As chances dessa imagem vazar para todos os grupos com os quais você convive diminuem, por incrível que pareça. Achar esse material é achar uma agulha num palheiro… E mesmo que achem, novamente pela quantidade incrível de outras mulheres também expostas, costuma ser uma desculpa plausível dizer que é outra pessoa ou que foi uma montagem em cima de alguém parecido.

Se serve como uma espécie de esconderijo na multidão, também demonstra como o “tema” é mais difundido. A nudez feminina é muito mais aceita e celebrada que a masculina. A nudez feminina tende a ser considerada arte com uma facilidade incrível. E eu não estou tirando da cartola uma idéia retrógrada, é questão de números mesmo: A quantidade de exemplos de exposição feminina disponíveis para o grande público supera, e muito, o seu contraponto masculino. E isso se tornou ainda mais gritante depois do advento da internet. Estamos adaptando a argumentação aos dias de hoje, lembram?

Pessoas tendem a se acostumar com algo muito presente em suas vidas. As fotos ou vídeos de fulana peladona chocam menos que a de fulano. Você se sentiria mais exposto pelado(a) no meio da rua ou numa praia nudista? Considerando a oferta de mulheres e homens pelados na internet (novamente, o meio em que essa discussão se baseia), elas estão praticamente na praia do exemplo… Imagino que não deva ser agradável, mas como no final das contas hoje estamos fazendo uma espécie de “menos pior”, é menos pior ser uma mulher pelada na internet.

Evidente que a reação alheia tem papel decisivo no quanto uma pessoa se sente exposta. E é justamente aí que podemos perceber como opiniões “velhas” nos levam ao erro no mundo de hoje. É um clássico dizer que homem tem muito mais liberdade de expressar seu desejo sexual do que a mulher. Outro clássico é que mulheres são muito mais passíveis de serem tratadas como vítimas. E são clássicos com fundamentação na realidade.

Junte essas duas coisas no ambiente do exemplo de hoje e você vai ver como não dá só para cuspir um “mulher sempre fica mais exposta” sem analisar de verdade o que acontece.

A reação pública da foto feminina: Maioria de elogios e solidariedade. Se é mulher, mesmo que seja mais feia que a fome, sempre vai aparecer um desesperado se rasgando em elogios. Você pode até achar que não resolve muito, mas pense comigo: É pior estar num palco com a platéia aplaudindo ou vaiando? Aceitação mitiga os efeitos da exposição. Se a cidadã for “mais ou menos”, não vai ter UM homem heterossexual falando mal. E como mulheres tem liberação social para elogiar o físico de outras, ainda vai receber palavras de incentivo de amigas e simpatizantes.

E não podemos esquecer que com raras exceções, a mulher vai ser tratada como vítima. O que ela disser vale mais. As pessoas tendem a ficar do seu lado e controlar os acessos de moralismo se acham que você foi sacaneado. E pela mesma presunção de coitadinha, ainda vai ser defendida caso alguém critique.

A reação pública da foto masculina: Se ele não for excepcionalmente atraente, escárnio puro. Mulher se sente reprimida de elogiar, homem faz questão de sacanear. A idéia geral é que ele foi um OTÁRIO e a não ser, novamente, que ele seja um exemplar excepcional da espécie, vai ter o pinto taxado como pequeno. É mais engraçado assim. Pode chamar homem de feio, mas nunca dizer que ele tem pinto pequeno…

E quanto à lenga-lenga que mulher sempre fica com presunção de vadia: BEM VINDO(A) AO SÉCULO XXI! Presunção de vadia não tem mais um décimo do peso que já teve. A vadia JÁ é um modelo “midiático” válido e muitas crianças estão crescendo com essa visão das coisas. A liberação sexual feminina funcionou… Acordem. Se você também acha que ser vadia não é uma coisa bacana, bem-vindo(a) ao time, JÁ somos minoria.

O mundo pós-internet tem mudanças significativas que não podem mais ser ignoradas. A platéia é maior para tudo. As reações do público tem um poder que nunca tiveram na história. Eu não troquei o foco da importância à toa. Não é mais a foto, é a quantidade de “curtidas”.

Os problemas são diferentes, opiniões clássicas precisam conhecer novos contextos. Atualize-se ou continue sendo um vítima.

Para fazer um discurso sobre a importância de não ficar trocando de opinião só para provar que eu realmente falo com as paredes, para dizer que eu só acho o que acho porque tenho pinto pequeno, ou mesmo para dizer que vai discordar porque adora a presunção automática de vítima da sociedade: somir@desfavor.com

SALLY

Quem fica mais exposto com fotos nuas vazadas na internet? Sem dúvida a mulher. Gostemos ou não, vivemos em uma sociedade machista e nesses momentos a corda arrebenta para o lado feminino.

Ter sua esposa ou namorada nua na internet causa muito mais impacto no homem do que ter seu marido ou namorado nu na internet para a mulher. A mulher que tem fotos nuas divulgadas é piranha, vagabunda ou, na melhor das hipóteses, burra. E o homem, é o que? Nem sequer EXISTE uma palavra pejorativa para descrever o homem que tem uma foto dessas divulgada! Digo mais: se a foto for em algum contexto que indique ele fazendo sexo, periga ser até POSITIVO para a sua imagem: garanhão!

Sem contar que uma foto feminina na internet será muito mais procurada do que uma masculina. Basta um conhecido ver e começa a boataria: “Já viu a foto da Fulana?”. TODOS os homens que a conhecem vão lá ver: amigos, colegas de trabalho, professores, colegas de academia, colegas do curso, porteiro e até mesmo o carteiro. Vão ver comentar. Agora se for a foto de um homem, duvido que muitas mulheres tenham o trabalho de procurar ou ficar mandando e-mail.

Mesmo entre os desconhecidos, o acesso será maior às fotos da mulher pedada. Alguém duvida que a procura é muito maior por fotos de mulher pelada do que por fotos de homem sem roupa? A foto feminina provavelmente será acessada muito mais vezes e quem sabe até poderá ser usada em um site de prostituição ou coisas do tipo. Além disso, homens trocam entre si muito mais material pornográfico do que mulher, então, periga dela correr o mundo via e-mail se for gostosa. Já repararam como homem gosta de ficar trocando e-mail com fotos de mulher pelada? Não? Então pesquisa, porque ele deve ter um e-mail caixa 2!

Sem contar que, pela ordem natural das coisas, mulheres tem (ou deveriam ter) mais pudor do que os homens. Homens andam mais despidos, saem até sem camisa na rua e quando vão na praia ficam praticamente nus se usarem uma sunga, short ou bermuda de cor clara (sim, marca tudo, sinto muito ser tão sincera). Homem é mais despudorado. Homem mija coletivamente com outros homens do lado. Homem anda pelado em casa. Homem não tem vergonha do seu pênis, muito pelo contrário. Como regra geral, se eles pudessem saiam na rua balançando o próprio bilau como isca para ver se conseguiriam atrair alguma mulher.

Já mulher, por questões culturais, tem mais pudor com nudez. Mulher tem que esconder os seios, mulher tem que esconder a bunda. Mulher que é vista nua fica meio “desvalorizada” socialmente (eles compram Playboy, mas será que namorariam com elas?). Uma roupa curta já aborrece os homens por achar que tem coisa demais à mostra. Homens são criaturas mais visuais do que mulher, então homens sabem que outros homens cairão babando em cima de qualquer exposição visual da figura da sua mulher. Talvez por isso doa tanto.

Sem contar que homens tem aquele resquício animal de “meu território”, “minha propriedade” e sentem seu território invadido com um mero olhar. Homens caem na porrada porque outro homem OLHOU para sua mulher, mesmo ela estando vestida. Imagina o quanto não deve doer se ela estiver na internet (ou seja, todos os homens do mundo podem olhar) e se ela estiver pelada! É um sinal da perda do privilégio que deveria ser dele, SÓ DELE. Ele leva para jantar, ele atura a paunocuzação feminina, ele namora… em troca ele quer o privilégio da exclusividade. Só que para eles não basta que a mulher seja fiel, ele quer a exclusividade do direito de imagem também!

Sem contar o USO que será dado às fotos. Fotos de um homem pelado jogadas na internet servirão ou para matar curiosidade ou para causar risadas. Já foto de mulher pelada dificilmente vai ser usada para outro objetivo que não masturbação. Isso deve incomodar bastante.

Outro ponto que agrava a situação: homem sabe que sua mulher fez sexo com outros homens antes dele, mas homem não gosta de pensar nisso, não gosta de lembrar disso e muito menos ter isso esfregado na sua cara de forma pública. Fotos nuas fatalmente serão relacionadas a outro homem (convenhamos, quase sempre são eles os fotógrafos) e também ao tamanho da entrega que essa mulher teve com esse outro homem a ponto de permitir que ele tire esse tipo de fotos.

Ainda tem os amigos. Ahh, os amigos, aqueles panacas. Os amigos do homem irão sacaneá-lo abertamente ou então bater uma punheta secretamente. Uma amiga de uma mulher cujo namorado foi parar pelado na internet nem sequer deve tomar conhecimento do fato, e se tomar, o máximo que vai fazer é dar um comentário de apoio. Uma amiga não chuta outra amiga em uma hora dessas. Depois dizem que eles é que são amigos de verdade!

Para uma mulher, ter fotos do seu parceiro pelado na internet é uma merda, é chato, é uma situação incômoda. Mas não dói nem humilha. Mesmo que a mulher se decepcione e até mesmo termine seu relacionamento por isso (coisa que acho improvável), dificilmente sairá tão magoada como na situação oposta. Foto da própria mulher pelada na internet “quebra” alguma coisa dentro da cabecinha dos homens, quebra algo muito difícil de colar. Não me perguntem porque, mas meio que aniquila a confiança e a visão de mãe dos filhos. Talvez porque acabe com a ilusão de pureza e inocência que eles precisam alimentar que a gente tem.

Não estou passando a mão na cabeça de vagabundo não! Não estou dizendo que homens estão certos, apenas estou dizendo que acho que é assim que eles se sentem. Em tese, acho que ninguém deveria ter o direito de ficar puto com isso, mas na prática sei que as coisas são bem diferentes. Não é mais grave quando se trata de uma mulher, é tão grave quanto, mas infelizmente ela fica mais exposta.

Mesmo pensando em um desdobramento futuro, a mulher continua mais exposta: filhos. Que criança será que vai ser mais sacaneada no colégio, aquela cujos colegas acharem uma foto da mamãe pelada com os tornozelos atrás das orelhas, ou aquela cujos colegas acharem uma foto do papai de pau duro? Provavelmente os amiguinhos nem vão assumir que viram uma foto de um homem pelado! Sem contar que falar da mãe sempre dói mais.

Sim, é uma merda que a mulher seja tão fragilizada a ponto de que um mesmo ato a afete de forma muito mais significativa. Eu não queria que fosse assim. Mas é. Faça o exercício mental: o que te doeria mais? Papai ou mamãe pelados na internet? Seu irmão ou a sua irmã? Você ou sua namorada?

Obs: Sem contar que foto de mulher pelada sem photoshop é duplamente humilhante, as invejosas de plantão vão ficar apontando as celulites e os defeitos! Ninguém merece isso! Homem não fica apontando defeito no corpo de outro homem, homem nem quer ver uma foto de outro homem!

Para negar a desigualdade gritante e concordar com o Somir só porque é menos incômodo, para dizer que mesmo sendo homem você aponta a celulite nas fotos caseiras ou ainda para dizer que tem tanta foto de gente pelada na internet que tanto faz: sally@desfavor.com

Esse é o canal!A TV aberta é uma das piores opções de entretenimento e cultura disponíveis para a população, e nisso Sally e Somir concordam. Só que na hora de apontar o dedo para o PIOR exemplar das programações, começa a desavença que torna essa coluna possível.

Tema de hoje: Qual o pior programa da TV aberta brasileira?

SOMIR

Big Brother Brasil e todas as suas variações cretinas. Quando os reality shows chegaram à TV brasileira, ainda tinha aquele ar de novidade e uma possível desculpa de curiosidade social. Hoje em dia, com o mercado dessa fórmula estabelecido de forma extremamente lucrativa, restou apenas o lado ruim da coisa. E não à toa, é o maior lado.

Para quem não sabe, e já deveria saber a essa altura do campeonato, aquelas pessoas confinadas tem suas personalidades desenvolvidas na sala de edição do programa. Truques simples como mesclar cenas de momentos diferentes para simular reações emocionais que não aconteceram originalmente tratam de eliminar qualquer valor “antropológico” possível.

E não é teoria da conspiração, é o funcionamento básico de um programa desses. As tramas e até mesmo as personalidades dos participantes são inventadas para tornar o produto reality show mais interessante e rentável. A vida real é meio chata, paradona. Não dá para confiar apenas no acaso para ter algo de apresentável no “resumo do dia”.

E antes que venham me encher o saco dizendo que é diferente no pay-per-view, releia o tema de hoje. O que passa na TV aberta é o resumo editado e “romanceado” dos eventos. Se bem que quem acompanhou recentemente disse que até mesmo a transmissão ao vivo é pesadamente censurada e controlada. Não se pode brincar com o futuro da galinha dos ovos de ouro.

Começo apontando a natureza ficcional dos reality shows para apontar a contradição galopante, mas também para reclamar do espaço que porcarias como essas tiram de outras obras ficcionais. Pegar uma dúzia de retardados e vadias e enfiá-los numa casa é bem mais barato do que adaptar ou criar histórias, com atores, cenários e tudo o mais. O reality show como protagonista de uma programação é uma perfeita definição de preguiça, acomodação e covardia.

O Big Brother não me incomoda apenas pela sua completa falta de qualidade, uma das piores merdas é que ele está tirando espaço e verba publicitária de algo menos… estúpido. Esse tipo de reality show é uma espécie de câncer matando o que restou da TV aberta brasileira.

E como sinal de que estamos em metástase, prolifera a mentalidade da “vontade do público” em grande parte do resto da programação. Já escrevi sobre isso outras vezes, então resumo: Quanto mais o público participa com sua opinião, pior a qualidade final. O povão achou o máximo fazer parte da direção dos reality shows e agora quer cravar suas patas sem criatividade em qualquer coisa que passe em sua TV. É a velha diferenciação entre indivíduo e grupo. O grupo faz escolhas previsíveis e não gosta de ser desafiado. É essa a mentalidade por trás de um programa como o Big Brother.

E como esses realities são sazonais, viram assunto de conversa generalizado durante sua exibição. Já me irrita o rumo de conversa médio do povão, ainda mais quando ficam fofocando sobre personalidades imaginárias de estranhos num programa de TV vagabundo. Essas merdas emburrecem.

Além, é claro, da praga do milênio: Os 15 minutos de fama. Vivemos numa era de quantidade ao invés de qualidade na mídia em geral. Todo mundo quer aparecer, quase ninguém quer fazer por merecer. O povo que enfiam na casa do BBB me deixa deprimido… Se aqueles babacas são algum representativo da raça humana, uma extinção em massa nos próximos anos passa a ser uma idéia agradável. É gente banal e vazia que está lá por causa de alguma conexão (e/ou teste do sofá) com pessoas que participam da organização do programa.

Tem o argumento furado que pelo menos botam umas gostosas e uns bombados para ter algo para se olhar, mas mesmo assim… é meia-bomba. Nossa sociedade é moralista e o programa precisa de anunciantes. Se escapar um peitinho, já é muito. Os participantes são tão sem graça que nem esse estímulo visual fraquinho tem graça. Se é para tirar prazer visual de uma pessoa aleatória, que seja de uma forma que priorize isso como uma revista de mulher pelada…

Porra, a premissa do programa é uma mentira, ocupa tempo de programação e seca as verbas para idéias melhores, reforça a porcaria da mentalidade de participação do público em decisões criativas, só gera fofoca e interesses rasteiros, glorifica e alça à fama pessoas que jamais mereceriam atenção da mídia, e ainda por cima nem bundaliza de verdade a televisão? Eu tenho noção de que pessoas tenham gostos diferentes dos meus, mas alguns eu não consigo entender, por mais que me esforce. Não é possível que um adulto do alto de suas faculdades mentais tenha algum interesse por essa pilha de merda que é o BBB.

Não que eu esteja dizendo que a escolha de Sally seja um bom programa, mas pelo menos eu entendo porque muita gente gosta: Brasileiro não tem cultura de humor. As pessoas não tem referenciais para distinguir humor minimamente inteligente de bordões e preconceitos genéricos. Não tem quase nenhuma alternativa. A consequência disso é um péssimo senso de humor e mania de se ofender por qualquer merda. Quem acompanhou as últimas “polêmicas” sabe que não estamos num país com costume ou capacidade de entender piadas.

De coração? Brasileiro não é engraçado. Mas eu me estendo sobre isso outro dia desses. Voltando ao tema: O BBB me parece tão pior porque até mesmo as novelas são uma alternativa de qualidade maior (ambos são ficção). O povo TEM acesso fácil a uma comparação prática e mesmo assim esse aborto televisivo que é o reality show “à brasileira” continua firme e forte.

Pior do que ser obrigado a consumir um produto de pouca qualidade é ESCOLHER um produto de pouca qualidade.

Para tentar defender o seu indefensável mau-gosto televisivo, para reclamar que eu estraguei sua fantasia de realidade do BBB, ou mesmo para dizer que seus amigos te acham muito engraçado: somir@desfavor.com

SALLY

Qual é o pior programa da TV brasileira? Olha, este talvez seja um dos mais difíceis Ele Disse, Ela Disse. Pensei muito para chegar a uma resposta.

Por mais escrotos que sejam todos esses programas de auditório, por mais nefasto que seja o Jornal Nacional alternando notícias sérias contadas com a superficialidade máxima com notícias idiotas que não deveriam estar ali, por pior que seja qualquer reality show, eu tenho outro favorito: Zorra Total.

Vamos deixar uma coisa clara: Chico Anísio, mesmo em seu auge, nunca foi engraçado. Agora então, nem se fala. Essa fórmula de humor da década de 80 é muito deprimente: personagens fixos, em situações similares todas as semanas repetem os mesmos bordões. Humor para preguiçoso. Você começa a ver o quadro e já sabe como ele vai acabar. As piadas são todas as mesmas na essência. Não apenas não tem graça como ainda causa irritação (em quem tem cérebro).

Como se o formato ultrapassado e o humor pobre não fossem pouco, ainda temos outras peculiaridades a citar. Por exemplo, a apelação de colocar mulheres semi-nuas. Se o recurso em si já é uma merda, as mulheres do programa são mais ainda: flácidas, celulitosas e com rosto horrível. Quer se valer de mulher gostosa? Bota uma mulher gostosa MESMO, como faz o Pânico na TV. Seja honesto e bota uma gostosa vestida de planta e chama ela de Mulher Samambaia, debochando de sua condição de mero adorno. Bota Juju Salimeni com seu corpão rebolando de biquini. Botar aquelas garotas de programa meia-bomba como gostosas é rastejar na lama da própria incompetência. Nem botar mulher gostosa eles sabem fazer.

É o “padrão Globo de qualidade”. Eles tem o que eu chamo de “Toque de Merdas”, um espécie de Toque de Midas só que ao contrário: tudo onde tocam se transforma em MERDA. Merdificaram o Casseta & Planeta censurando piadas (como por exemplo piadas sobre a virgindade da Sandy e piadas políticas) matando sua irreverência e sutileza. Estão matando aos poucos o Marcius Melhem e o Leandro Hassum, desperdiçando talentos que ainda existem em piadas idiotas, estilo torta na cara ou turun tss. Quem os viu no teatro na peça “É nóis na fita”sabe do que eles são capazes quando se lhes permite humor negro, politicamente incorreto e sofisticado.

“Mas Sally, o povo quer isso mesmo, humor tipo Zorra Total”. Já tentaram dar outra coisa ao povo? Será que o povo não aprovaria um senso de humor menos imbecilóide? Não digo fazer um humor altamente intelectualizado, mas precisa ser ESSE LIXO?

E o público pensante, deve ser ignorado? Custa colocar uma vez por semana um programa de humor desafiador, cheio de referências inteligentes, ousado? A mensagem da Globo é clara: *voz de Darth Vader* “Não tenho interesse em pessoas como você, Sally Somir, vai assistir CQC ou TV a cabo, pois eu faço e continuarei fazendo todos os meus programas voltado para debilóides, se não gostou vá embora”. E eu vou mesmo. Não sou Homer Simpson, como disse William Bonner. Se é para Homer Simpson que eles fazem TV, se estão satisfeitos com isso, se tem a coragem de VERBALIZAR isso, não contem com a minha audiência. Eca. Eu tenho amor próprio até para escolher canal de TV.

Madame aí de cima deve escolher algum reality, tenho certeza. Não nego que eles sejam todos uma boa bosta, mas ao menos consigo ver um lado positivo neles: nos ensinam como pensa esse povinho bunda (plus para homens: tem mulher gostosa de verdade). Aprendi a lidar com pobre (seja pobre de dinheiro, seja pobre de espírito) vendo BBB. Ajuda muito entender como a gentalha pensa quando temos que lidar com ela diariamente, seja pela relação dos participantes em si, seja pela reação do público.

Conhecendo a cabeça da prole, antevendo o pensamento precário, simplório e medíocre fica mais fácil manipulá-los para que pensem ou façam o que a gente quer. BBB é quase um manual de instruções do brasileiro. Não vale a pena como forma de adquirir cultura ou desafiar sua mente, mas ajuda no trato social. Eu acho que ele deveria ver BBB, para aprender a vender coisas para o populacho. Basta encarar como um estudo antropológico. Sem contar que, de vez em quando, muito de vez em quando, aparece alguém interessante no meio dos ignóbeis selecionados, como o Jean Wyllis. Reparem no adjetivo com o qual me referi a ele: INTERESSANTE. Não mais que isso.

Sem contar que reality é protagonizado por um bando de Zé Ruelas que não tem qualquer formação ou obrigação de fazer bonito perante as câmeras. Já o Zorra Total, em tese, tem seu roteiro escrito por profissionais e é encenado por profissionais (hahahaha). Trabalhar no Zorra Total, escrevendo ou atuando é o mesmo que se formar em fisioterapia e ir trabalhar em uma termas camuflada pelo nome “casa de massagens”. É prostituição profissional, é indigno.

Ao contrário da vertente antropológica do BBB, o Zorra Total não ajuda ninguém a nada, apenas idiotiza cada vez mais as pessoas, encolhe seus cérebros nesse humor medíocre e acomodado. Mantém as pessoas no fundo da caverna com medo da própria sombra, vicia no obsoleto, não representa nenhuma evolução ou desafio. Aliena, basicamente isso. E estraga todos os humoristas que entram no programa. Muita vergonha alheia de quem participa do Zorra Total, se eu trabalhasse no ramo preferiria me fantasiar de She-Ra e animar festa infantil do que aparecer naqueles quadros vexatórios do Zorra Total.

Isso porque eu não sou elitista. Eventualmente até topo um humor tosco e por repetição. Imagina quão agressivo é para quem é elitista! Mas mesmo para quem aceita o estilo de humor tosco por repetição o Zorra Total é uma merda. Humor tosco por repetição é Chaves e Chapolim, Zorra Total é um lixo completo. Ligar a TV e ver Zorra Total é como ir a um restaurante e servirem uma comida cujo prazo de validade venceu em 1983. Se você não sente o gosto estragado, é porque seu paladar é uma merda.

Tirando um pequeno grupo de idosos, que também pararam no tempo e gostam de não evoluir porque se sentem desconfortáveis com mudanças, só uma pessoa muito, muito, muito burra e tosca não se sente, no mínimo, incomodada ao assistir Zorra Total. É um misto de vergonha alheia, irritação e impaciência que tomam conta logo nos primeiros minutos do programa.

Se nada te convenceu, pelo menos BBB sorteia um carro entre os panacas que votam toda semana. No Zorra Total você não tem a menor chance de ganhar nada, só de perder neurônios.

Para dizer que Zorra Total e BBB são seus programas favoritos, para dizer que Fala que Eu te Escuto é pior ou ainda para dizer que pior mesmo é ler o Desfavor: sally@desfavor.com

WATAntes da tempestade, a calmaria… Ou não. A tradição da despedida de solteiro é muito comum, mas nem tão comum é a opinião sobre a “segurança” de uma comemoração do tipo.

Tema de hoje: Despedida de solteiro, aceitável?

SOMIR

Sim. Eu nem diria que é muito defensável, é mais um daqueles rituais não muito lógicos que assolam a raça humana, mas não é como se uma despedida de solteiro fosse mudar alguma coisa. As pessoas são o que são, mesmo que você ainda não tenha percebido.

Compreendo que não seja lá um ambiente muito salutar para uma relação baseada em fidelidade, só que a vida é cheia dessas situações. Se não conseguir se controlar numa despedida de solteiro, faria merda de qualquer outro jeito.

Mas não nos apressemos… Vamos desmistificar um pouco essas despedidas de solteiro. Na hora de apontar os riscos, a pessoa resolve imaginar que todos estarão absurdamente bêbados na companhia dos exemplares mais belos e sensuais do sexo oposto deste mundo. Pode valer para aquele filme que você viu, mas não é assim que a banda toca na vida real.

As coisas tendem a ser mais toscas. Dinheiro não dá em árvore. Os pombinhos costumam estar enforcados com as dívidas comuns da época, os amigos mais chegados já estão encarando os custos dos presentes… Não é como se tivesse dinheiro sobrando para trazer uma daquelas capas de revista para esfregar suas genitálias na cara de todo mundo. E os “colegas”, aqueles que só estão lá para filar bebida, bom… eles não estão muito afim de fazer investimentos para começo de conversa.

Se alguém contratar stripper, boas chances de acabar com uma figurinha doida de vontade de terminar logo o serviço para pegar o próximo cliente. Pode até ter seus apelos, mas a situação realmente não joga muito a favor. Procedência duvidosa e muitas testemunhas inibem uma pessoa.

Percebam que eu disse SE alguém contratar stripper. Lembramos que é vida real e não filme? Bacana… Continuando.

Tudo bem que encher o caneco faz parte da premissa da despedida de solteiro, mas a não ser que você seja adolescente ou nunca beba, vai ter uma noção razoável de quando demais é demais. E além disso, a medida de manguaça na cabeça necessária para fazer péssimos valores de juízo E ter capacidade de levá-los em frente é mais estreita do que se imagina. O cidadão ou cidadã não vai tomar meia dúzia de cervejas e sair fazendo coisas inacreditáveis… Gente acostumada a beber aguenta muito mais e gente desacostumada começa a vomitar e querer desmaiar muito rápido.

Se está prestes a casar, presume-se que não seja mais uma criança. Tem que ter noção de quanto álcool o corpo suporta na média. Gente que não é capaz de definir se está bebendo demais tem nome: Alcoólatra. O resto sabe e escolhe se vai continuar.

E não podemos esquecer que não se faz uma despedida de solteiro sozinho(a). Só faltava me dizer que não vai ter uma porra de um amigo(a) para pelo menos chamar a atenção de quem está prestes a fazer uma cagada? Infantilidade achar que todos os amigos e amigas da pessoa com a qual você namora querem ver o circo pegar fogo. Às vezes um “pensa bem nisso que você vai fazer…” já faz a pessoa voltar a um mínimo de bom senso. Eu sei que porque já funcionou, comigo e com amigos meus.

E se todos(as) os(as) amigos(as) resolverem botar pilha, e que vergonha querer se casar com alguém cabeça fraca assim, ainda resta o fator principal:

As pessoas fazem o que elas querem fazer. Despedida de solteiro não é sessão de macumba e a pessoa não é pomba-gira… Se não tem a porra da força-de-vontade de se manter fiel numa festinha, é porque vai chifrar MUITO durante a relação. Quem se convence e auto-perdoa que “era outra pessoa” quando traiu deita e rola com a mesma desculpa toda vez que dá na telha. A despedida de solteiro não é o último contato da pessoa com o sexo oposto, oras!

Se você tem certeza que vai levar galho se a pessoa com a qual vai casar fizer uma despedida de solteiro, não faz sentido achar que depois vai ficar mais tranquilo.

A verdade inconveniente: A pessoa que enche a cara na despedida de solteiro ao ponto de achar que não deve mais se responsabilizar mais pelo que decide fez uma decisão consciente desde o começo. DEIXOU a merda acontecer com um álibi (que só convence gente tonta). Isso é uma forma de traição consciente.

E traição consciente não depende de uma situação específica.

Então, eu pergunto: Faz diferença a despedida de solteiro? Se o que pode dar errado é uma sequência previsível de escolhas ruins, estamos mais uma vez culpando a arma pela vontade de atirar. E honestamente: Se a pessoa que você escolheu para casar te meter um par de chifres na despedida de solteiro, você MERECE se foder para aprender a escolher melhor.

Até mesmo se você não ficar sabendo não teria feito diferença: Vai acontecer mais vezes mesmo. Ou você acaba sabendo depois, ou a pessoa é boa na arte de trair e você vai viver sua vida sem notarhttp://www.blogger.com/img/blank.gif o ocorrido. Ou pior: Você é daquelas pessoas que perdoa traição. Não muda nada.

O cara que fecha um puteiro para a despedida de solteiro vai dar sinais que faria isso muito antes na relação. Não “baixa” personalidade nova na pessoa.

Eu entendo a compulsão por estar no controle da situação, mas casamento já presume que você vai ter que lidar com outro ser humano que não pode vigiar 24 horas por dia.

Disso você nunca se despede.

Para dizer que é rico e não se identificou com minha argumentação, para reclamar que ser uma pentelha e presumir sempre o pior é sinal inegável do seu amor, ou mesmo para dizer que faltou mais machismo no meu texto (concordo…): somir@desfavor.com

SALLY

Existem situações na vida que podem não ser propriamente incorretas, por si só, mas que são situações onde o risco de dar merda aumenta. São aquelas situações que costumamos chamar de “flertando com o desastre” Pode ser que dê merda, não seria estranho se desse, ou pode ser que não dê merda. Mas as chances de dar merda são maiores do que o normal. Eu classifico assim as despedidas de solteiro.

Sendo super otimista e supondo que a despedida de solteiro preparada não envolva prostituição e strippers (o que geralmente envolve e a pessoa já entra no mundo de casada um par de cornos inaugurais, uma amostra grátis do que esta por vir), o ato em si costuma envolver rituais que flertam com o desastre. Para começo de conversa, por excelência é um ritual onde só participam pessoas do mesmo sexo do nubente – meninos com o noivo, meninas com a noiva, e que envolve massivas quantidades de bebida alcoólica.

Eu tendo a achar que um bando de mulher ou um bando de homem bêbados já começa a ser um prenúncio de desgraça. Gente bêbada em si já e meio caminho andado para dar alguma merda. Um bando de gente bêbada junta imbuída do espírito de aproveitar ao máximo as últimas horas de solteirice me parece pior ainda. Pode até ser que comece como uma reunião inocente, sem a intenção de fazer algo que magoe alguém, mas quero só ver se esse discernimento persiste depois que o noivo ou a noiva e seus amigos botadores de pilha estiverem todos embriagados.

Nunca casei mas já fui noiva algumas muitas vezes (sim, eu amarelo na hora H). Sei que é um momento onde, por mais que você ame a pessoa pode bater um medinho, um receio ou uma dúvida. É a última chance antes de passar uma suposta toda vida com a mesma pessoa. Estes sentimentos somados ao álcool e a um grupo de amigos que te empurram para a danação pode acabar em uma combinação explosiva. Pessoas fazem merda por impulso o tempo todo, imagina só quando tem o aval e incentivo dos amigos e a coragem do álcool! Uma decisão errada não seria de estranhar.

Sou radical quanto a álcool. Admito. Por isso me arrisco a dizer que às vezes não é possível nem ao menos se falar em “decisão”. Algumas pessoas bebem, sobretudo quando instigadas a beber pelos amigos, a um ponto de já não saberem o que fazem mais. Eu vi isso quando estava acompanhada de algumas amigas e algumas conhecidas em um município com nome de instrumento de pai de santo e encontramos na noitada um famoso ex-nadador com apelido de apresentadora de TV caindo de bêbado. Na época ele era sex symbol e algumas das conhecidas (sim, eu tenho preconceito com quem faz esse tipo de coisa, não teria amigas que fazem isso) deram um porre ainda maior nele e o levaram para o quarto do hotel e… bem… nem vou dizer que abusaram dele porque não participei e não sei o que aconteceu ao certo, mas pelo pouco que eu vi, aprendi que pode acontecer da pessoa não querer mas estar tão bêbada que perde o discernimento e faz merda sem conseguir entender, impedir ou mensurar. E sim, elas tem foto disso até hoje.

Depois desse episódio aquela frase feita de que “ninguém faz nada que não queira bêbado” foi para a lixeira da minha mente. Faz sim. Muitas vezes nem entende direito o que está fazendo. Muitas vezes nem lembra direito no dia seguinte. Perde a noção de certo e errado, de sentimentos e de perigo. Logo, colocar alguém prestes a assumir um compromisso assustador (principalmente para homens), bêbado, nas mãos de amigos que, via de regra, são criaturas que colocam pilha errada é arriscar demais em uma coisa que deveria ser muito importante: a pessoa que você escolheu passar o suposto resto da sua vida, ou ao menos construir um futuro a longo prazo.

Eu avalio se um ato é razoável, se ele se justifica ou não, pesando na balança os prós e os contras. No caso da despedida de solteiro acho que se ganha muito pouco (talvez uma noite divertida de farra) e se perde muito (o amor da sua vida, o casamento ou, no mínimo, a confiança do amor da sua vida). Vale a pena um ganho mínimo correndo um risco máximo? Eu acho que não, mas o que mais tem no mundo é gente que não está preparada para ser feliz e vive se sabotando.

Mesmo que se diga que vai ser uma coisa inocente na casa do Fulano e que se pense de coração que nada vai dar errado, é preciso levar em conta que a despedida de solteiro é um ritual que envolve uma dose de promiscuidade na sua essência. Você pode pensar que não, mas no meio de, sei lá, cinco, dez, quinze amigos, com certeza vai ter um que acha que tem que ter uma pitada de baixaria. É esse que chama uma stripper como “presente surpresa”, é esse que depois que todo mundo tá caindo de bêbado força a barra para fecharem a noite em um puteiro, etc, etc.

E não isento mulheres de responsabilidade não. Hoje em dia mulher tá foda, igual ou pior do que homem do quesito infidelidade. Eu mesma já testemunhei uma despedida de solteira a ser realizada na casa dos pais de uma amiga da noiva que tinha tudo para ser super inocente e acabou com a noiva tão bêbada, mas tão bêbada, que tirou a sunga do GoGo Boy com a boca, enquanto sua amiga tão bêbada, mas tão bêbada, fotografava tudo com o celular. No dia seguinte, neguinho lembrava de flashes. Eu, como não bebo, lembrava de detalhes sórdidos. Liguei para a “fotógrafa” para avisar mas era tarde demais.

Eu respeito quem quer correr riscos. O que eu não respeito são riscos idiotas, onde se sacrificam coisas importantes em troca de pouca merda. Despedida de solteiro é uma má idéia. Pode dar uma merda feia. Mesmo que seja uma festa inocente com brigadeiro e refrigerante, se alguém plantar uma fofoca maldosa pode causar um belo estrago. É um ritual idiota, machista e ultrapassado. Não tem como manter segredo em um ritual onde participam várias pessoas bêbadas. Sempre vaza alguma coisa.

Quer me tratar esquema 1920 e achar que pode ir para um puteiro “só para beber” ou sair para comemorar com os amigos e chegar cambaleando? Então faça o pacote completo 1920: me sustente, me dê jóias, pague um dote para a minha família, me dê mesada e me deixe sair para fazer compras com o cartão de crédito. Se querem ser machistas, peguem o pacote todo.

Quem se arrisca a fazer uma despedida de solteiro está dando munição para fofoqueiros que queiram separar o casal. Está dando oportunidade a que surjam dúvidas sobre confiança e fidelidade que talvez nunca sejam sanadas e virem uma ferida eterna. Está flertando com o desastre, se colocando “na rua” em uma condição de bebedeira que gera vulnerabilidade, se sujeitando a que alguém force uma barra e convença de fazer algo que magoe seu parceiro. Para que correr tantos riscos? Não estou falando de conseqüências pequenas como perder dinheiro ou arranhar o carro, estou falando de perder o amor da sua vida. E não se enganem, fazer despedida de solteiro escondido só acrescenta mais riscos além de todos os que narrei: o do ritual ser descoberto.

Aliás, sinceramente, ALGO NESSE MUNDO vale o risco de perder o amor da sua vida? Eu acho que não.

Para dizer que eu estou desatualizada já que perder dinheiro ou arranhar o carro não são conseqüências pequenas, para pedir as fotos do Xux… do ex-nadador pelado ou ainda para dizer que eu sou maluca, histérica ou atacar de qualquer forma minha personalidade na tentativa de minar minha credibilidade e meus argumentos: sally@desfavor.com

KKKK GRIPE SUÍNA!

SEMANA DO AVESSO: O desfavor traz mais uma semana temática, desta vez Sally mostra seu lado Somir, Somir mostra seu lado Sally.

Nesta coluna, um assunto que normalmente apresenta pontos-de-vista opostos nos dois: Preocupação com a opinião alheia.

Ela normalmente se importa, ele normalmente não. Mas quando uma palavra surge na discussão, os papéis de invertem.

Tema de hoje: Te incomoda ser chamado de burro(a)?

SOMIR

Lembro bem até hoje da cena: A professora me entregando uma prova com um ZERO como nota. Ao contrário da vez onde eu recebi meu primeiro B, no primário, chorar não era uma opção. Quando eu tinha 9 anos de idade, meu medo era ficar burro como as outras crianças, mas eu já estava no terceiro ano do segundo grau, contemplando algumas questões mais sérias.

O que me deixou preocupado não foi exatamente a nota, foi a forma arrogante como eu decidi fazer o teste sem sequer ter estudado, esperando tirar uma nota boa apenas por me achar um gênio. Aquilo tinha sido uma… burrice.

Evidente que não foi a primeira coisa burra que eu fiz na vida, mas foi algo que marcou. Eu pude perceber claramente o processo de ter informações para fazer a decisão certa e não utilizá-las, a definição de burrice no meu dicionário. A nota ruim foi ignorância, eu não sabia mesmo o que estava respondendo na prova, mas se assustar por recebê-la? Ô coisa burra!

Nem tive chance de me redimir, larguei a escola no dia seguinte. Não foi por causa da nota, tinha problemas diferentes e foi naquele momento que eu percebi que não dava para conciliar. (Salvo pelo supletivo…)

Vejam bem, até aquele momento eu só me preocupava em não SER burro. Mas bastou um olhar para eu começar a não querer ser visto como burro. Eu praticamente não frequentava as aulas e ainda por cima tive que mudar de período do ano anterior, então era um completo estranho na classe. Naquele dia, enquanto eu observava atônito aquela prova, a garota sentada na carteira ao lado pergunta para mim como eu tinha ido.

Mostrei o papel cheio de rabiscos vermelhos e fiz uma cara envergonhada. Ela viu a nota, olhou para mim e fez uma expressão que eu nunca vou esquecer. Difícil explicar em palavras, mas é um misto de condescendência e desistência. Ela não riu, ela não fez piada, ela só fez aquela cara e virou para o outro lado.

Eu reconheci a expressão não por tê-la visto antes, reconheci porque já a havia feito para outras pessoas. Sabe quando alguém diz algo tão estúpido que você nem sabe por onde começar a responder? Nunca ninguém tinha me disparado um olhar desses. Talvez quando criança, mas além dessas coisas não registrarem na memória, não é a mesma coisa.

E eu sei muito bem como eu trato quem considero burro. Não necessariamente de forma antagônica, mas definitivamente ofereço menos. Torna-se uma interação mais superficial e propensa a interrupções. E eu tenho que ser honesto: ME CAGO de medo de ser tratado assim. Superficialidade excessiva acaba com o sentido das coisas para mim. É como se eu nem estivesse tentando.

Se eu for tratado como burro por outras pessoas, é como se eu tivesse morrido para o mundo. E puta que pariu, NEM FODENDO que eu deixo algo importante assim totalmente nas mãos dos outros. Se quer me achar burro, direito seu, mas eu vou me esforçar para não deixar isso acontecer. Essa é a porta que eu não gosto de fechar (porque todas as outras eu dou um jeito de fechar… “terno e gravata? valeu, prefiro continuar desempregado”).

A vida é “menas” se você for considerado burro. Bonitinho dizer que é azar delas, mas também é azar seu. Não estou advogando que você deva ficar furioso(a) quando alguém te trata assim (até porque é burrice, ha!), mas deixar barato é fazer uma falha de comunicação se tornar realidade. Você continua sendo mais do que a outra pessoa está enxergando, mas se ela não tiver nem chance de rever seus conceitos, para ela você se torna burro. Não vai ter acesso ao que poderia ter se ela te tratasse como capaz.

Eu sempre imagino uma criança ouvindo sobre um daqueles assuntos “de adulto”. Os pais tem que se virar para adaptar o conhecimento para o tamanho da compreensão dos fedelhos. E não é raro que mandem tudo à merda e inventem uma historinha ridícula para tapar o buraco. As informações que você recebe de quem te acha burro se assemelham muito. Não é o quadro completo, não é o melhor que ela pode fazer. É conhecer a história pelo filme e não pelo livro sem sequer ter a oportunidade de escolher.

É uma perda real. E existem muitos motivos além do seu controle que podem criar essa ilusão de burrice na mente alheia. Compreensão perfeita de tudo o que te dizem é um talento que ainda não encontrou dono. As pessoas vão adaptar o que você diz ou faz de acordo com uma série de pré-conceitos sobre o que caracteriza uma pessoa burra ou inteligente. Se você nem ao menos se importar em estar do lado “certo” da visão alheia, está se contentando com pouco fácil demais.

Quando eu começo a teimar para ser visto como inteligente, não é só meu ego inflado pedindo aprovação, é a minha forma de dizer que eu estou vivo e posso mais. Eu quero aprender, eu quero ter opiniões e informações do mais alto nível, eu quero valorizar minha visão que essa vida toda é uma viagem muito mais intelectual do que física.

E eu não posso fazer isso sozinho. Se estamos no mesmo time (e isso não é sinônimo de concordar em tudo), eu faço questão de saber. E faço questão que você saiba. E não vai ser empinando o nariz e achando que todo mundo tem obrigação inata de conhecer o que você realmente é que vai ajudar nessa causa. E se quem te acha burro passa a mesma impressão para você, dê uma chance. Podem ser dois cometendo um erro.

Feio mesmo é nem tentar.

Para me chamar de burro nos comentários e me irritar por um motivo completamente diferente, para dizer que eu fiz muita firula só para dizer que sou feio, ou mesmo para dizer o dolorosamente óbvio que inteligência e burrice são conceitos relativos: somir@desfavor.com

SALLY

Você é realmente burro? Você é inseguro? O que os outros pensam é realmente tão importante?

Não, né? Então não vejo motivo para se preocupar com o que as pessoas pensam sobre sua inteligência. Claro que quando disto depende o sucesso de projetos de vida, temos uma razão para provar nossa competência, como por exemplo no caso do que o seu chefe pensa sobre a sua capacidade. Mas, no caso de pessoas que não interferem em nossas vidas, que são o tema deste Ele Disse, Ela Disse, sinceramente, foda-se com F maiúsculo.

Não é muito difícil detectar uma pessoa burra. A forma de argumentar, a construção de frases, o conteúdo dito, as respostas dadas… em vinte minutos de conversa você pode detectar uma pessoa burrinha. Então, pra que se preocupar se alguém te acha burro? Se um dia a pessoa quiser te conhecer melhor e quiser conversar com você ela vai constatar que você não é burro. A qualquer tempo ela pode bater um papo com você e descobrir que você não é burro. E mesmo que ela converse e te ache totalmente burro, no que isso te prejudica? Azar o desta pessoa que perde um ótimo colega, amigo(a), namorado(a) ou o que quer que seja.

Olha, eu tenho autoridade pra falar no assunto. Durante muito tempo fui dançarina de axé. Isso significa tomar o que for preciso para ficar com corpo de Panicat, fazer bronzeamento artificial e ter o cabelo loiro. Ah sim, usava microshort. Visualiza o layout. As pessoas não achavam que eu era burra, as pessoas TINHAM CERTEZA ABSOLUTA que eu era burra. Eu era o protótipo da burrice ambulante. Eu achava graça. Já tirei proveito da situação várias vezes, porque me tomavam como burra e gente burra é inofensiva. Ninguém se protege de gente burra. Kelly feelings.

A verdade vem a tona para quem decide te conhecer melhor. Cansei de ver a cara de espanto dos homens que saiam comigo pela primeira vez para jantar e depois de meia hora de conversa falavam “Nossa, eu tinha uma imagem completamente diferente de você” (tecla SAP para “te achava burra” ou “te achava piranha” ou ambos). Daí você pode pensar que é importante provar a inteligência antes disso, pois muitos homens podem ter deixado de sair comigo por me achar burra. Amigos, sinceramente? Esse tipo de pessoa que julga sem conhecer não me interessa. AINDA BEM que deixaram de sair comigo. Quem perde? Eles! E se me conheceram e mesmo assim me acharam burra, quem perde? Eles!

Para completar minha aura de pseudo-burrice, meu idioma materno não é o português. Só fui aprender português por volta dos cinco anos de idade. Por isso vira e mexe cometo um deslize falado ou escrito, coisas como “mais grande” (totalmente permitido no espanhol). É fatal, as pessoas me corrigem e me olham como se eu fosse burra. Se eu for me importar e ficar me explicando, fica uma coisa meio Sasha, sabe? “Fui alfabetizada em outro idioma…”. Soa como desculpa esfarrapada. Prefiro rir e dizer “Nossa, sou burrona!”.

Tem coisa mais cafona do que gente que fica enfiando frases sem contexto nas conversas só pra mostrar erudição? E gente que se apresenta como “advogado”? Grandes merda ser advogado. Pessoas preocupadas em mostrar que são inteligentes acabam fazendo um papel bobo, artificial – e isso não deixa de ser uma certa burrice, concordam? Meus textos refletem isso. Não faço a menor questão de mostrar que sou inteligente aqui. Minha linguagem de botequim se assemelha à de um estivador ou marinheiro. Como diz o Somir: “Você fala igual a um traficante carioca”. Minhas escolhas de tema são ecléticas, desde merda, passando por peido até poítica e reigião. E quer saber? Duvido que algum leitor do Desfavor me ache burra por causa disso. E se achar, olha as minhas rugas de preocupação!

Ser burro não é uma coisa assim tão ofensiva para merecer que eu me desdobre para provar que eu não sou. Se achassem que eu sou criminosa, mau caráter ou algo do gênero, talvez eu me sentisse incomodada e compelida a provar o contrário. Mas ser burra? Qual é o problema em ser burra? Sem contar que, dependendo de QUEM te acha burra, acaba sendo até um elogio, uma verdadeira prova da sua inteligência. Não vejo prejuízo no fato de alguém que não interfere na minha vida me achar burra.

Devo confessar que dá até um certo prazer mental silencioso quando uma pessoa me trata como burra. Sim, eu rio por dentro, porque se eu tenho uma certeza nessa vida é a de que eu não sou burra. Posso ser escrota, filha da puta e maluca, mas burra eu não sou. Então, burro é quem me acha burra por fazer uma avaliação tão errada! Paro e penso “Que burro! Ele me achou burra! hahaha” (e geralmente tiro proveito disso). Não é motivo para aborrecimento, é motivo para risos (e trollagem).

A opinião dos outros (como eu disse, quando esses outros não interferem na sua vida) é irrelevante e indiferente. Quem não deve não teme. Eu não preciso do olhar do outro para saber o meu valor e a minha capacidade. Eu sei que é possível que me achem burra sem que eu seja burra. O fato de me acharem burra não me faz duvidar nem por um segundo da minha capacidade muito menos me faz sentir burra de verdade.

Viver com a preocupação de que NINGUÉM te ache burro deve ser tortuoso. Sempre vai ter alguém que nos ache burros, até porque a maior parte das pessoas acha burro quem discorda delas (isso sim é coisa de gente burra!). Vai fazer o que? Ficar cuspindo erudição? Falar sobre física quântica? Deixa pra lá! Deixa te acharem burro, que se foda! A pessoa te acha burra? Vire o jogo e VOCÊ passe a achar a pessoa burra por ela te achar burro! Ou simplesmente ache graça. Ou, melhor ainda, nem pense nisso, tem coisas mais importantes na sua vida (se não tem, deveria ter – compre um cachorro).

Tentar agradar a todos é uma tarefa ingrata. Burrice ou inteligência são conceitos subjetivos. Vivemos em um país onde a maioria esmagadora da população é MUITO BURRA e SEM DISCERNIMENTO. Sério, vale a pena se incomodar com o que uma pessoa que vota no Tiririca, lê Dan Brown, escuta Claudia Leite e lê a Veja pensa de você? Não, não vale. Deixa achar, liga o foda-se.

Para me chamar de burra e me ver fazendo piada disso, para chamar o Somir de burro já que ele se importa ou ainda para dizer que ambos somos burros por escrever todo dia quatro páginas de graça para leitores que chegam até nós procurando por Veronica Moser: sally@desfavor.com