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A organização internacional Human Rights Watch (HRW), de defesa dos direitos humanos, afirmou que “monitorará de perto” o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). (…) A ONG sublinhou que o capitão reformado venceu eleições marcadas por violência de cunho político. “Muitas vítimas eram pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), mulheres e negros”, diz a nota sobre o governo de Bolsonaro. LINK


Concordamos muito em monitorar a defesa dos direitos humanos no Brasil. Mas beira ao ridículo insinuar que os abusos são uma ameaça só agora. Desfavor da semana.

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Eleição apurada, Jair Bolsonaro é o novo presidente do Brasil. Vitória na derrota do PT, mas as coisas começam a se complicar a partir de agora. Sally e Somir passam da fase do apoio relutante para análise, e os impopulares tiram a poeira de suas bolas de cristal.

Tema de hoje: Qual vai ser o pior aspecto do governo Bolsonaro?

SOMIR

Para falar a verdade, eu não estou esperando quase nada do Bolsonaro. Quase nada porque o mínimo de não fazer lulismos fazia parte do acordo nefasto que me levou a votar nele. De resto, nem tem muito o que inventar, aposto que vai ser um Temer com mais carisma. O que, convenhamos, não é nem um pouco difícil. Por isso que eu escolhi o seguinte: o pior do governo do Bolsonaro vai ser a decepção de seus eleitores quando ele for no máximo medíocre na sua nova função, mais ou menos como foi quando deputado. Muito mais barulho do que resultados.

Brasileiro se amarra num salvador da pátria. E dessa vez o escolhido não foi o Lula ou um de seus postes. O polêmico capitão da reserva personificou a promessa de salvação “disso tudo aí”, mesmo que não tenha sido muito claro sobre o que exatamente mencionava. Tudo bem, porque o brasileiro médio também não sabia. Enquanto estamos no campo das promessas, ser vago tem seu ponto positivo: cada um projeta no candidato a esperança de resolver aquilo que aperta o seu calo. Bolsonaro surfou nessa onda de remédio universal para as agruras do brasileiro, mas agora vai ter que praticar o que pregou, mesmo que vagamente.

E é aí que eu começo a enxergar um grande problema: digam o que quiserem do PT, eles sabiam fazer populismo. A região mais vulnerável ao discurso petista continua fechada com eles, seja nos resultados da eleição federal, seja nas estaduais. Isso não vem à toa: na proposta de subornar os mais pobres com o mínimo possível, Lula e seu time fizeram o suficiente. O PT saiu do governo com um país em frangalhos, mas entregou o assistencialismo prometido. A pátria foi salva para pelo menos uma parcela da população.

Agora, Bolsonaro tem um desafio bem maior diante de si. Precisa convencer a parcela um pouco menos carente da sociedade que é capaz de entregar resultados. Oras, o PT não se contentou em distribuir dinheiro para gente passando fome à toa: era um problema que se resolvia na força bruta, num tempo onde o país tinha reservas financeiras para fazer isso. A falta de especificidade do “resolver isso daí” aliada à crise causada pelas décadas de insanidade financeira petista nos leva a uma provável situação de decepção generalizada com o Bolsonaro.

Temer pode ter todos os problemas do mundo, mas não quis governar da mesma forma que o PT, foi um ano e meio de alguns spoilers do que o Bolsonaro vai querer fazer. Deu no que deu. Governo sem dinheiro para nada vai perdendo popularidade rapidamente. As pessoas esperam grandes reformas e a melhora dos serviços públicos, mas ainda temos um longo período de estancamento da hemorragia de dinheiro público causada pelos anos de lulismo. Com certeza Bolsonaro vai falar muitas merdas que vão nos divertir aqui no desfavor, mas é extremamente complicado navegar uma cleptocracia como a brasileira, onde inclusive os eleitores do Bolsonaro são naturalmente corruptos.

As coisas mudam de geração para geração, quatro anos é suficiente para começar alguns bons planos ou para torrar o dinheiro guardado por governos anteriores. Como o PT já torrou esse dinheiro, as opções de Bolsonaro ficam bem mais limitadas. Além disso, se formos pensar nas outras linhas de promessas dele, fica claro que as chances não são boas: essa moralização evangélica não vai colar, até porque na terra da bunda e do carnaval, a mesma pessoa que faz sexo escondido com travesti dá chilique por “kit gay” na escola do filho. O povo não quer mais recato e valores tradicionais, só quer dizer que quer.

E na questão da violência urbana… quem quer apostar que a tal da “linha dura” não vai resolver nada? Linha dura já temos, os policiais são forçados a viver em guerra com os bandidos, já estão atirando para matar há décadas. Conseguir uma arma no Brasil já é fácil legalizadas ou não. Com mais de 60.000 assassinatos por ano, alguém acha que faltam armas no país? Não é nem juízo de valor aqui, é que ele promete algo que já acontece, mesmo que na clandestinidade. A única forma de reduzir os números é seguir os ensinamentos do Alckmin e parar de contar na cara dura.

O povo vai notar que a esperança depositada no Bolsonaro não vai render frutos. O voto vai continuar parecendo mera formalidade, porque não importa se é direita ou esquerda, os problemas do país continuam basicamente os mesmos. E ao invés de cair a ficha que o voto para vereador vale 100 vezes mais que o para presidente, vão ficar desanimados de novo com política. Se dava para tirar um positivo da polarização política recente, era o brasileiro médio achando alguma graça no tema de novo. Isso poderia evoluir para votos melhores com o passar dos anos.

Mas como o agente de mudança escolhido dessa vez não parece ser especialmente brilhante e pega um país em frangalhos… o sonho vai acabar bem mais cedo. Se eu fosse o PT eu ficava bem quietinho agora, se eles pentelharem muito vão manter a base do Bolsonaro suficientemente animada, mas se deixarem todo mundo broxar com a inépcia do governo dele, talvez enfraqueçam todo o movimento. Mas é claro que o PT não vai colocar estratégia na frente dos egos.

Seja como for, não tenho medo do que o Bolsonaro vai fazer, eu me preocupo com o efeito desmoralizante que sua provável presidência decepcionante vai ter na vontade do brasileiro médio de se engajar com algo de novo. Porque quando o povo ficar com preguiça de lutar, o PT volta. O PT elegeu o Bolsonaro, Bolsonaro pode devolver o favor. Se desanimar, o Nordeste elege o Lula pra sempre…

Para dizer que o pior vai ser ver ele falando merda na ONU, para dizer que ele vai te perseguir (não vai ter dinheiro para isso), ou mesmo para dizer que o pior vai ser o sotaque: somir@desfavor.com

SALLY

Qual vai ser o pior aspecto do governo Bolsonaro?

Eu acredito que o pior desempenho vai ser no que diz respeito a questões humanitárias.

Não, eu não acho que o Bolso vai fuzilar gays, matar negros e fazer todas as atrocidades que uma oposição histérica espera. Nada disso. Um Presidente da República nem tem pode para realizar esse tipo de atrocidades e nem me parece ser a intenção dele agir desta forma. Nem mesmo sua militância me parece um risco. O antagonismo está dentro das pessoas, assim que a poeira das eleições abaixar, arrumarão outros motivos para brigar (futebol, reality show o que mais vier). Minha preocupação é outra: um não investimento nessa área.

Acontece que, em um país brutalizado como o Brasil, anos luz distante do ideal em matéria de dignidade, civilidade e humanidade, não forçar uma melhora nesse ponto é grave, pois mantém o país na barbárie. E não falo de grupos específicos, falo por todo o país. O brasileiro é bicho, é uma criatura tosca, sem consciência, sem empatia que precisa ser educada para tentar chegar perto de virar gente.

Como o próximo governo não terá preocupação em educar para esse tipo de finalidade, sobrará apenas a punição, que no Brasil é extremamente ineficiente. O sistema brasileiro se baseia na premissa de que a cadeia ressocializa o preso, coisa que funciona muito bem em países de primeiro mundo, mas muito mal no Brasil. Condições indignas, tortura e um Judiciário ineficiente fazem com que o preso saia pior do que entrou. Mas, com a premissa de que estará ressocializado ao sair, a lei brasileira o solta com uma rapidez e facilidade assustadora.

Então, hoje, o Estado é uma máquina de fabricar psicopatas em vez de ressocializar quem comete um crime, ou seja, o Estado piora o que já está ruim. Para contrabalancear este desgraçamento que o Poder Público provoca, é preciso um investimento massivo e constante tentando levar luz, consciência e noções básicas de respeito à população. Não basta punir quem atropela direitos humanos básicos, é fundamental disseminar uma cultura que mostre o quanto isso é bárbaro e inaceitável para moldar futuras gerações.

Até acho que o Bolso vai punir, mas duvido muito que crie uma cultura de valorização e respeito a direitos humanos, respeito e causas humanitárias. Ao contrário do que a maior parte das pessoas pensam, eu não acho o Bolsonaro mau, uma pessoa mal-intencionada, uma pessoa em essência ruim.

Ele me parece aquele tiozão meio obsoleto que tem aquele preconceito com homossexuais arraigado, sedimentado dentro de si, por pura ignorância, por ter vivido em um tempo onde isso era aceitável. Aquele tiozão que conta piada racista como se estivéssemos na década de 80 e isso fosse muito engraçado e aceitável. Todo mundo tem um tio, um pai ou um avô assim, que falam barbaridades simplesmente por não conseguirem acompanhar a mudança dos tempos.

Então, se o Pocket fosse um canalha, ele poderia até emular alguma que outra ação humanitária, para ganhar pontos com a opinião pública. Mas não, é apenas tosco, e como tal, não vai se dar ao trabalho de emular nada, pois acha que o que está fazendo está ótimo.

No tempo dele (ele já passou dos 60 anos) era ok dizer coisas como “Negro de alma branca”, “mulher não sabe dirigir” e “Bichas são histéricas”. Os tempos mudaram, o tiozão não mudou. Isso não faz dele um monstro, aliás, tremendo desfavor glorificar o Pocket com um vilão. É apenas um tosco, nada mais. E como um tosco que não percebe a nova realidade, não há a menor esperança que mude.

Um canalha consegue ter a inteligência de fazer um agrado onde precisa para manter o seu poder, mas um tosco não. Isto porque o tosco sequer tem consciência de que é tosco, ainda mais depois de ser eleito por um país, aclamado, chamando de “mito”. Bolsonaro vai errar sem nem ao menos perceber que está errando, e esse é o pior tipo de erro, pois quem está cego jamais terá condições de se corrigir.

Estamos vendo um descacetamento social gritante na última década, fruto de uma polarização nojenta plantada pelo próprio PT. O “nós x eles” não é culpa do Bolso, é do tempo em que o Bolsonaro estava no Superpop brigando com traveco e nem sonhava em se candidatar à Presidência. A hora de reverter esse lixo seria agora, com conciliação, com educação, com respeito. Não vejo esse tipo de pacificação vinda do Pocket, um cara que por décadas foi escrotizado e agora está dando sua volta por cima. Bem improvável.

Ao não fazer um trabalho ativo de apaziguamento dos ânimos, esta desgraça vai continuar, mesmo que não seja por razões políticas, as pessoas continuarão arrumando motivos para extravasar sua ira interna no coleguinha e brigar. Além disso, nos próximos quatro anos, qualquer peido do Pocket vai ser motivo para colocar o dedo na cara do colega e dizer que a culpa é dele, que votou no Bolsonaro. Ou se muda essa mentalidade, ou continuaremos nesse inferno polarizado por quatro anos, com todas as consequências mais graves que isso gera, muito além de ter o saco enchido.

Bolsonaro vai decepcionar seus eleitores? Provavelmente, mais por culpa deles, que o endeusaram, do que dele, que nunca escondeu exatamente o que era. Mas porra, aí é responsabilidade de quem se deixou iludir e criou um herói salvador da pátria. Que decepcione, vai ser aprendizado, para que essa gente para de terceirizar a responsabilidade de tudo para um “mito”. Problema de quem se iludiu. Eleitor do Bolsonaro se iludiu sozinho, ele nunca fez o menor esforço para enganar ninguém.

Acho que vai ser até bom, assim as pessoas percebem que a solução não está em eleger a oposição. O problema não é quem é o Presidente. Não importa quem se escolha, enquanto o sistema for o mesmo, o resultado vai ser cagado. Se querem mudar, é necessária uma alteração mais profunda do que a mera escolha do Presidente. Quem sabe depois disso o povo cai em si e percebe qual é o real problema.

Agora, porra, não trabalhar em prol de questões humanitárias, de um apaziguamento social, de uma ruptura com esse modelo nefasto de “nós x eles” afeta a todos. Ninguém aguenta mais viver nessa polarização, no meio de tanta raiva e agressividade.

Via de regra, o povo segue o tom que o líder dá. Mesmo que com a melhor das intenções, o tom do Pocket é tosco e deve acentuar ainda mais as desavenças e intolerância. Menos do que o PT faria, não tem ninguém mais radical do que PT e seu militantes hoje, mas, ainda assim, a questão tende a continuar ladeira abaixo.

E, vejam bem, tomara que eu esteja errada. Não vou torcer para que o avião no qual eu estou caia só porque não gosto do piloto. Torço para que o Pocket faça o melhor governo dentro das suas possibilidades, mas, no que diz respeito a causas humanitárias, acho que ele não vai fazer muito, não por ser um filho da puta, e sim por total falta de condições.

Para dizer que quer Anula Eu com melhores momentos dos vencedores, para dizer que tudo vai ficar uma merda ou ainda para dizer que nada vai ficar uma merda: sally@desfavor.com

Desfavor Convidado é a coluna onde os impopulares ganham voz aqui na República Impopular. Se você quiser também ter seu texto publicado por aqui, basta enviar para desfavor@desfavor.com.

Maria vai com as outras.

É bom termos ressalvas quando surgem movimentos como o #elenao, ainda mais num país criativo como o nosso. Sim criativo tanto nas artes quanto na malandragem. Estamos diante de um cenário politico ímpar, no qual diversos atores estão atuando visando convencer a plateia de eleitores. Diante disso é necessário certo pragmatismo e imparcialidade pra não se contaminar e alienar com discursos.

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