Maria vai com as outras.

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Maria vai com as outras.

É bom termos ressalvas quando surgem movimentos como o #elenao, ainda mais num país criativo como o nosso. Sim criativo tanto nas artes quanto na malandragem. Estamos diante de um cenário politico ímpar, no qual diversos atores estão atuando visando convencer a plateia de eleitores. Diante disso é necessário certo pragmatismo e imparcialidade pra não se contaminar e alienar com discursos.

Pois bem, nasce nestes dias uma indignação coletiva à liderança da candidatura de Bolsonaro. Artistas globais passam a acusar o candidato de misoginia, racismo, homofobia e machismo. Defeitos que, na visão deles, ameaçam nossa já combalida democracia e as minorias.

É notório os excessos e posicionamentos de Bolsonaro -esclareço aqui que a cada juízo individual compete classificá-lo. Mas todos esses famosos sempre viram e sabiam dos defeitos deste candidato. Mas porque se mantiveram em silêncio quando o Bolsonaro louvou o coronel Ustra? Ou quando ofendeu (perdendo a razão) Maria do Rosário e a repórter da RedeTv? Ou quando deu declarações sobre os quilombolas e sobre os homossexuais?

Destas indagações acima podemos excluir que existe uma preocupação dessa elite artística com as pobres minorias. E muito menos ainda com a democracia, pois tivemos vários momentos de conflitos como o impeachment, reformas e até ameaças a lei Rouanet, e a maioria deles silenciaram – ocupados com sua vidinha de ostentação no Instagram. Enquanto isso, seu público era tolhido em direitos de todas as formas.

Mas porque esse #elenao tão tardio? Bolsonaro foi entrevistado no Jornal Nacional em 28 de agosto e ali já era favorito nas pesquisas e sua candidatura já estava em evidência antes das eleições. Ou seja, nada de novo para ninguém. A grande mudança estaria naquele embate. Bolsonaro enfrentou a Rede Globo, acusando a emissora de viver de bilhões do BNDES, e fora dela já ameaçou cortar também suas verbas publicitárias federais.

Oito dias depois da entrevista, Bolsonaro é esfaqueado por um (até agora) lobo solitário, e na semana seguinte começam as primeiras manifestações #elenao nas redes sociais. Manifestações acusatórias pedadas iniciaram-se contra um candidato hospitalizado, logo fora de campanha, que nem seus adversários políticos ousaram em fazê-lo. Agora diversos artistas se unem a favor de uma democracia que nunca se importaram efetivamente, aos minutos finais do segundo tempo do primeiro turno.

Engana-se que #elenao se trata de heroísmo cívico. Ou que seja até uma preocupação com a perda da lei Rouanet. A verdade é o que está em jogo são os bilhões via maior provedora da classe artística – Rede Globo – seja em pagamentos diretos, seja como vitrine. A Globo hoje alimenta artistas, inclusive aqueles que a chamam de golpistas, como José de Abreu e Letícia Sabatella. A lei Roaunet é apenas a ponta do iceberg do desvio do dinheiro público para manter privilégios de elites.

O desespero começa a tomar conta e o choro parece que será livre. O #elenao tardio e sua histeria coletiva é a evidência clara disso. Até uma terceira via esta sendo bajulada para fugir do destino que parece certo: Ciro Gomes estampa capa da revista Época e os comentaristas da GloboNews enfatizam que é o único que vence Bolsonaro num hipotético segundo turno – sendo que empacou nas pesquisas e subiu ridículos 1%.

Bolsonaristas passaram então a defender o seu candidato alegando que as acusações dos artistas eram falsas e de que seu candidato não era aquela adjetivação toda. Defendem que suas falas estam fora de contexto. Além disso desmerecer o movimento quanto a falta de moral que personalidades que participam do #elenao, como Anitta, Fábio Assunção, Daniela Mercury e outros tem. Ora, do lado de Bolsonaro a moralidade também não faz residência completa – há histórias como a do auxilio moradia, funcionária fantasma, de parlamentar improdutivo e discursos dúbios a seu desfavor difíceis de camuflar. O único ponto positivo do Bolsonaro é que ele assume e transparece quem é e o que quer – apesar de nas ultimas semanas mostrar uma tendência em flexionar o discurso pra diminuir sua rejeição.

A verdade é que, diante de tanta falta de personalidades pra presidência – e que tenha um projeto viável de país – nos resta nos abster de qualquer movimento alienante e dos discursos fáceis. Enxergar de cima ou de lado, e ver a boiada passar. E torcer pra que seja eleito um Nero, que coloque fogo nessa Roma toda. Quem sabe assim tenhamos alguma esperança de reconstruir a cidade e finalmente estabelecer uma civilização moderna por estas bandas.

Por: Anônimo

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Comments (13)

  • Maya, a viada da bike

    Acho que estou destoando um pouco do desespero geral dos meus amigos em relação à possível eleição do Pocket… Jamais votaria nele, mas não acho que vai ser o fim do mundo se ele vencer. O Brasil está uma merda e vai continuar assim independentemente de presidente, o buraco é MUITO mais embaixo… urge uma mudança profunda na coletividade, na forma de agir, em tudo. Enfim, faço minhas as palavras da Mulher Sapiens: “Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.”

    Obs.: Se for do interesse, posso escrever um Desfavor Convidado sobre a Lei Rouanet e seu funcionamento, percebo muita confusão em relação a isso… Ou talvez um sobre ~~democratização da mídia~~ (como proposto no plano de governo do Haddad e já realizado em alguns países vizinhos ao nosso) e liberdade de imprensa.

  • Adoro como essa galera resume os problemas do Brasil em: racismo, machismo e homofobia.
    Não adianta os caras falarem em implantar uma ditadura socialista no país, não adianta apoiarem publicamente a ditadura assassina da Venezuela, não adianta ameaçarem fazer uma nova Constituição e tirar liberdades civis.
    A PRIORIDADE DESSA GALERA É O CU! PODE ACABAR COM O PAÍS INTEIRO MAS NÃO PODE DEIXAR DE BATER PALMINHA PRA QUEM DÁ O CU!

  • Bolsonaro não ter tempo de TV, e estar na frente, é um milagre explicado somente pela raiva.
    E, para os que dizem que ele não conseguirá, entendam: é o PT do outro lado. O PT, que ninguém quer de volta lá.

    • Defina ‘ninguém’, porque o grosso da população é gente pobre que sofreu lavagem cerebral e pensa que qualquer coisa diferente do PT significa perda de Bolsa Familia.

  • Manifestação contra o Bonoro, manifestação a favor do Bonoro… tanto faz. Quem vai decidir a eleição é quem não saiu de casa.

  • Lamentável tentativa de menosprezar um movimento consideravelmente amplo contra um candidato obscurantista e preconceituoso. Além disso, a resistência era difusa; em algum momento, organizar-se-ia. Designá-lo como “histeria”, aliás, é sinal de ignorância por si só.
    Não duvido que os ilustres apoiadores do “Ele Não” (detesto hashtags) se omitiram antes, mas tinham a obrigação de reagir? Por ocasião da apologia ao torturador Ustra, Bolsonaro era um dentre centenas de hipócritas destilando estupidez conservadora. Além disso, qualquer ressalva ao movimento da elite política em torno do impeachment seria classificado de apoio a um petismo decadente.
    Tive a satisfação de estar presente na passeata local do movimento. Muitos adesivos de candidatos, nenhum discurso a favor a algum deles. Honestamente, é muito mais do que o reducionismo aqui exposto, além de esfregar na cara dos reacionários que há resistência.

    • Eu começo a mudar de idéia e concordar com você sobre a legitimidade do movimento “Ele Não” que me surpreendeu positivamente. Geralmente as Primaveras antecedem algo pior: Neste momento está acontecendo uma guerra no STF de liberdade de imprensa x censura a jornais ; O presidente do STF nomeou um militar indicado pelo Gen. Villas Bôas como acessor e mantem conversas regulares com os mesmos ; Toffoli vem a publico desmentir historiadores e sociedade civil dizendo que não houve ditadura, mas ‘movimento de 1964’; Ibope teve uma pesquisa estranha onde os votos de esquerda de Marina, e nao os de Alckmin migram pra Bolsonaro. Posso estar viajando, mas vejo o prenúncio do fim da democracia.

    • E só pra colocar mais pontos. O ‘ele nao’ tem divido opiniões até dentro da esquerda. Alguns chamaram de micareta sem proposito e tardia como eu havia dito. Na direita expresso na Regina Duarte há critica e desconfiança pela falta de um ‘ele sim’ no movimento. Outros jornalistas veem o movimento tão difuso e disperso quanto os protestos de 2013, onde nao existia uma pauta e um posicionamento. Estes acham q o ‘Ele Nao’ é a evidência de uma crise q nao se resolveu.

  • O cara do canal Mamaefalei gravou uma entrevista com manifestantes do Elenão, principalmente de petistas, mas tinham alguns psol e do Ciro. Oh, povo burro! Não sabiam resonder uma pergunta, não sabiam o plano de governo do Hadad que inclui controle da imprensa e foram bater nele gritando que ele incita a violência. Muita vergonha desses brasileiros!
    Pra quem não viu:
    https://youtu.be/VB-4XDz2ROA

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