Pedestres.

Muito se fala e se cobra de motoristas. Controla-se sua velocidade, seus reflexos e até mesmo o que ingeriram antes de dirigir. Pena que nenhum controle é exercido no caso dos pedestres, pois estes também tem potencial para causar acidentes graves. Pedestres deveriam sofrer algum tipo de controle. Qualquer tipo de controle. E é sobre isso que vamos discutir hoje.

Não sou lunática de propor um controle similar para motoristas e pedestres, até porque o potencial lesivo de uma pessoa motorizada é muito maior. Evidente que os motoristas devem sofrer um controle maior. Mas, deixar pedestre sem qualquer controle ou fiscalização me parece, no mínimo, uma injustiça.

Também não sou louca de tentar criminalizar qualquer conduta praticada por um pedestre. Isso seria uma desproporção e um desfavor para a sociedade. Direito penal é o último recurso, só deve ser utilizado quando todo o resto se mostrou insuficiente para coibir aquela conduta.

O que quer que se proponha, pode ser feito nos moldes da punição para quem joga lixo na rua. Uma punição randômica, você nunca sabe quando tem um guardinha te olhando. Às vezes dá para jogar impune, às vezes não. E o “policiamento” mais ostensivo é itinerante, sendo deslocado para as áreas que mais apresentam problemas.

Um exemplo: pedestre que atravessa fora da faixa. Ora, se jogar feito um louco na frente dos carros é uma forma de colocar a todos em risco, merece uma punição. A pessoa tem que ter MEDO de fazer isso. Se não o tem em função da sua própria vida, que o tenha em função do bolso. O esquema de autuação e multa funcionaria nos mesmos termos daquela aplicada a quem joga lixo no chão. Se no seu Estado não tem punição para quem joga lixo no chão, procura no Google.

Qualquer pedestre que cause um acidente de trânsito por causa da sua imprudência deveria sofrer uma forte penalidade na forma de multa. Sim, é redundante, porque quem causa um dano a outro faz nascer o direito a uma indenização. Mas, com esse Judiciário lerdo e falido, esta indenização acaba sendo dúvida. Então, a multa aceleraria o processo e desafogaria o Judiciário.

Uma pequena tabela com valores altíssimos estipulados com alguma maleabilidade (ex: acidente com morte, indenização entre 5.000 a 50.000 salários) dariam conta. Essa condenação poderia ser contestada judicialmente, para evitar abusos.

Claro que para quem não tem nada, tanto faz. Sempre vai ter aquele pobre maldito que por não ter dinheiro para pagar a multa vai fazer merda, alegando que não tem como pagar. Para essas pessoas seria retirado o direito de crédito e substituída a pena de multa por prestação de serviços à sociedade por tempo equivalente ao que levaria para alcançar o valor com a remuneração que receberia em média por este serviço.

Por exemplo, foi condenado a uma multa de cinco mil salários mínimos e não tem dinheiro. Pega aquele ofício ou função que tem defasagem de pessoas prestando e coloca o filho da puta para prestar, de graça. Calcula o valor médio que alguém que preste esse serviço recebe e estipula quanto vale cada hora prestada. Prestará o numero de horas para pagar o valor da sua multa. Enquanto isso, não pode prestar concurso público, não tem direito a crédito e não tem direito a participar de nenhum programa governamental. Tira o bolsa-esmola para ver se neguinho não vira pedestre exemplar!

Porque já que essa merda assistencialista contaminou a sociedade a tal ponto que se torna impossível de tirar, usemos a bolsa-whatever para educar o povo. Isso mesmo, chantagem pedagógica. No que mijar fora do penico perde o benefício. Finalmente as bolsas terão uma utilidade real: adestrar esse povo mal educado.

Pedestre se portando de forma imprudente de modo a colocar em risco terceiros, estejam eles motorizados ou não, tem que ser passível de punição. Os pedestres estão muito abusados, irresponsáveis e com certeza da impunidade. A razão de ser da punição é a mesma dos motoristas, o risco que aquela conduta acarreta. É questão de isonomia punir pedestres.

Pedestres cobram muito dos motoristas, mas fazem as piores bostas e nem ao menos se dão conta disso, pois acham que por serem pedestres podem tudo. Assim não dá. Tá na hora de todo mundo atravessar na faixa, tá na hora de ninguém ficar andando cambaleando de bêbado na rua, tá na hora de se portar com civilidade, por bem ou por mal.

Civilidade urbana é para todos. E se essa iniciativa desse certo, poderia ser estendida para todo e qualquer ato que comprometa o bom convívio social. Chega dessa papagaiada de processo, de ir para delegacia, de ter que fazer audiência. Regulamenta tudo bem regulamentadinho em lei e aplica multa na hora. Passou da hora de desafogarem o Judiciário.

Uma das primeiras lições que aprendemos na faculdade de direito é: o que melhor coíbe o comportamento errado não é a severidade da pena e sim o temor de efetivamente ter que cumpri-la. Atualmente, o brasileiro não tem muito medo de punição, a menos que seja muito pobre e esteja fazendo algo de muito errado. Isso porque o Judiciário demora anos para punir alguém, quando pune.

Uma multinha aplicada na hora, que desse uma tremenda dor de cabeça se não fosse paga, faria as pessoas andarem na linha. Uma prova disso é a Lei Seca, que, apesar de não ter acabado com os acidentes de trânsito, mostrou uma melhora significativa. O brasileiro médio tem MEDO de beber e dirigir, não por sua incolumidade física e sim por aqueles mil reais que vai ter que pagar e pela perda da sua carteira de motorista.

É assim que as coisas funcionam por aqui, na base da punição imediata, na base do castigo, tal qual crianças. Que seja, como está é que não podemos ficar. Que sejam aplicados castiguinhos de adultos para quem fizer besteira, se não essas crianças gigantes não param de fazer merda e ainda abarrotam o Judiciário.

Pega esse bando de guardinha municipal que fica coçando o saco na rua e bota para observar o que os pedestres estão fazendo e aplicar multa na hora. É chato? Muito. É ridículo? Certamente. É necessário? Infelizmente.

Para sugerir que também sejam aplicadas palmadas, para protestar pelo seu direito de se colocar em risco ou ainda para dar mais sugestões de condutas individuais que deveriam ser punidas com multa: sally@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: ,

Comments (20)

  • Em março de 2014 implantaram o BRT em minha cidade, mas foi apenas pra matar pedestre, mas não por culpa do motorista e sim por culpa do pedestre. Em várias partes da avenida do Centro por onde passam os articulados (veículos de 18,75m e pesando mais de 23t) os pedestres não respeitam as divisões que foram colocadas. Tem pedestre na ciclovia que fica nas faixas mais extremas e rentes a calçada e tem pedestre que anda no meio da via que foi feita para os ônibus e acha isso normal e sem esquecer o tradicional e enraizado atravessar fora da faixa de pedestres. Já ocorreram vários acidentes por conta disso e no final, quem a população julgou como culpados, foram os motoristas! Aí eu pergunto: um infeliz atravessa uma avenida movimentada enquanto um ônibus articulado, com 18,75m e mais de 23t, está vindo a média de 60km/h e acha que o motorista tem que fazer o milagre de frear uma jamanta daquela antes de acertar o pedreste?!
    Lembro que num desses episódios, tentaram linchar o motorista e nisso a minha raiva do BM foi tão nas alturas que eu quase fui atrás do “povinho” pra dar uns tapas na cara!

  • Na minha cidade, como todas as outras grandes cidades, tem uma rua dedicada ao comércio, uma imensa Rua apinhada de loja de tudo quanto é coisa (Calçados, colchões, mobília, eletrodomésticos, informática, vestuário etc) o nego sai de uma loja atravessa a rua e está na concorrência; o negócio é um caos, muitas pessoas nas ruas, muitos carros na rua de uma única faixa (dos outros dois lados tem que ter vaga pra estacionar né? Maravilha) e consequentemente a velocidade dos carros é bem reduzida. Aí o que acontece? Os pedestres se aproveitam da pouca velocidade e da fila única de carros pra atravessarem em qualquer lugar; mas aí vem o bônus, coisa pior que isso, que inclusive faltou no texto, o pedestre que atravessa na faixa com o farol fechado pra ele. Foda-se que está fechado pra mim, foda-se que é a vez dos carros passarem, foda-se que os carros estavam esperando a muito tempo pra sua vez de avançar, o bonitão do pedestre pensa “Ain, eu to na faixa posso passar a hora que quiser”. Esse tipo de coisa me irrita, e olha que sou pedestre, o problema está tão enraizado que as vezes eu me sinto otário de ser o único a ficar esperando o sinal dos carros fechar ao invés de aproveitar que eles já estão parados por causa da manada de gente que atravessa na hora deles. Faço questão de não engrossar o rebanho.
    No mais, excelente propostas, seu texto veio a calhar.

  • Eu sempre achei que deveria ter fiscalização pra pedestre, sempre achei muito complicada essa intocabilidade que adquiriram ao longo dos anos. E adorei todas as ideias colocadas aqui.

    O pior de tudo é quando o adulto pedestre leva junto seus filhos para fazer as merdas, esses deveriam receber punição maior ainda.

    Isso não isenta nossa obrigação de sermos responsáveis no transito, mas tb acho que a responsabilidade deve ser compartilhada. Treinamento obrigatório de como se comportar na rua, explicar que os carros tem um tempo de resposta à ação do condutor e tals.

    • Enquanto uma punição severa não começar, as pessoas não vão respeitar. E enquanto acharem que punição severa é prisão, o país vai se emburacar.

  • Aqui em Fortaleza esse assunto está em alta por conta da implantação das ciclofaixas tal qual São Paulo. Eu acabo deixando muito puto um bando de ciclistas daqui por conta desse tipo de contra argumento que você usou Sally.

    Ao meu ver é bem simples: “Todos tem direitos, mas apenas o motorista é punido”. Não estou levando em conta aqui quem vai se dar mal numa eventual colisão, mas quem a lei enxerga na hora de punir. Quando há a colisão o “menor” se fode, isso é claro, mas quando “menor” causa o acidente e depois sobe a calçada e continua sua caminhada como se nada tivesse acontecido.
    Me desculpem minha falta de conhecimento, mas como puni-lo? Teria que aciona-lo judicialmente? Imagina o trabalho de sair investigando pra encontrar essa pessoa e processa-la.

    Concorde 100% com a Sally tinha que sair multando geral e diria até multas incrementais, caso fosse autuado na mesma ocorrência varias vezes.

    • O certo é, em caso de acidente, que todos os envolvidos sejam imediatamente conduzidos à delegacia e o ocorrido seja registrado, bem como nome, endereço e telefone de todos.

  • “Foi condenado a uma multa de 5 mil salarios minimos e não tem dinheiro”

    Nos Estados Unidos, gente nessa situação recebe uma punição, a meu ver até pior: passam 10, 20 anos tendo até 30% do salário descontado. Pode até não pagar jamais o que deve efetivamente, é verdade, mas o transtorno de ficar décadas nessa restrição valeria…

    • Não sei se isso seria juridicamente viavel no Brasil, pela questão do caráter alinentar do salário, mas seria lindo.

  • Depois ainda dessa campanha da faixa de pedestres (que está super certa, mas o povo sempre encontra um jeito de agir de má fé), eles se tornaram tão adeptos da vitimização quanto várias minorias que vemos por aí.

    Certa vez uma amiga minha teve um deslocamento de vértebra que quase a levou à mesa de operação. A mãe dela precisou brecar o carro para não passar por cima de um pedestre que estava fora da faixa. Um carro bateu atrás e elas que se machucaram.

    Pior é onde eu trabalho. Tem uma avenida de quatro faixas super movimentada, logo ao lado (não é como naqueles casos que o pedestre precisa andar quilômetros) uma passarela COM ELEVADOR e do outro lado uma área com farol e faixa. Os bonitos fazem questão de atravessar no meio da avenida, fora da faixa.

    Universo umbigo mesmo. Esse tipo de indisciplina e egoísmo me revoltam.

    • Fazem porque não pensam nos outros. São uns egoístas de merda. Já que por consideração não o fazem, que seja pelo medo.

  • Nossa Sally, você daria uma boa governante (*ansiosa pelo país RID).

    São bem praticáveis suas ideias, além de serem ótimas para a realidade que vivemos, onde todo mundo tem teto de vidro (mas quase ninguém admite isso).

    Se não me engano, no Japão eles te uma politica bem parecida. Só não sei se multam pedestres tanto quanto motoristas.

    • Tem que fazer normas pensando na realidade atual, não no ideal. No dia que o legislador brasileiro perceber isso, o país melhora.

  • Ótimo texto!

    Civilidade urbana deveria ser para todos. Mas não é fácil fazer com que os pedestres compreendam que também possuem responsabilidades. No Brasil nada é fácil…

    Quase todo brasileiro que visita o Japão fica impressionado com o comportamento exemplar dos pedestres. Em outros países civilizados também é assim, mas nada se compara ao nosso espanto diante da disciplina do japonês. Parecem de outro planeta.

    É isso que nos falta no Brasil: consciência, disciplina e capacidade de compreender que a responsabilidade também é nossa, que somos parte de um mesmo elo. O problema é que aqui as regras não valem para todos. Juízes e deuses escapam das multas e ainda são indenizados! Isso desperta o que temos de pior.

    A injustiça corrompe. A injustiça desperta nas pessoas a vontade de “salvar o seu”, de “lutar pelo seu”, “de se tornar importante o bastante para ter privilégios”. É um sistema todo torto e caótico.

    Por isso, sinceramente não sei se as multas resolveriam. Mas poderiam ser um começo. Uma possibilidade. Uma alternativa. Uma pequena semente. Desde que, como você explicou muito bem no texto, houvesse a certeza da punição para todos, até para os deuses-juízes.

    • O pedestre acha que por ser o lado “mais fraco” pode tudo, mas eu ja vi acidentes com morte de terceiros causados por pedestres!

  • Os pedestres só começaram a avacalhar porque a maioria de motoristas não respeita o sinal. O dia que começarem a multar motoristas vai ter lógica multar pedestres.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: