Desfavor da semana: Maísa Chorou.

Maísa, do alto (baixo?) de seus sete aninhos de idade, já mereceria uma menção aqui no desfavor da semana pelo conjunto da obra. Mas nessa última semana acabou ainda mais exposta na mídia após um episódio lamentável. Tanto lamentável pela situação quanto pela comoção gerada.

Após ser trollada por Sílvio Santos, a pequena Maísa começou a chorar e deu um show de infantilidade, tudo devidamente registrado pelas câmeras da TV (inclusive sua testa).

PAREM AS PRENSAS! Uma criança chorou!

Fazendo o papel de advogado do diabo: Vendo a cena eu não percebi os requintes de crueldade tão mencionados nas notícias da semana. Sílvio Santos sempre foi um babaca, mas não fez nada tão horrível assim. Fazer a pobralhada passar vergonha por uma nota de 10 reais era muito mais humilhante e ninguém reclamava.

(A matéria da Veja, então, foi mais dramática que uma criança fazendo manha. Falar agora é fácil.)

Claro, o buraco é mais embaixo porque estamos tratando de uma criança. (Se você também riu dessa frase, tem um senso de humor tão doentio quanto o meu.) Sílvio Santos é um senhor de idade (verificável pelo teste de Carbono 14) e Maísa uma inocente garotinha.

Mas, da mesma forma que Silvio explora Maísa, o resto da imprensa faz. Tudo ganha proporções maiores, a TV aumenta mesmo as coisas… Quantos de nós não “pentelharam” uma criança? Quantos de nós não vimos crianças chorando e pedindo a mãe depois de serem contrariadas? Quantos de nós não vimos uma garotinha exagerar a dor de uma topada com alguma superfície dura? (Se você riu DESSA frase, é mais doente do que eu sou.)

O que seria o típico caso do avô chato enchendo a paciência da netinha dramática vira um caso de humilhação e abuso. Repito: Sílvio Santos sempre foi um babaca. (Eu gosto dele por isso.)

O tino comercial do Sr. Baú o faz aproveitar o máximo da sua nova estrela enquanto pode. Os reais culpados por qualquer abuso são os pais da versão tupiniquim da Shirley Temple. (Pelo menos Shirley tinha algum talento…) Eles ao menos teriam motivos para tirá-la dessa situação.

Mas duvido que vão. A criança já está vendida para o grande público, o dinheiro já está se acumulando na conta e Maísa não está ficando mais nova. (“Criança-prodígio” assim costuma não envelhecer bem. Tanto no físico quanto no psicológico.)

Assim que a onda de pessoas fazendo alarde que se importam para pegar carona na fama da criança passar, Silvio e os pais dela vão continuar fazendo a mesma coisa. E o público vai continuar adorando!

A velha fórmula da TOTAL falta de originalidade (RAI + Televisa = SBT) do “patrão” de Maísa continuará dando frutos. Sinceramente eu nunca vi graça na Maísa (fora do CQC). Qualquer pessoa que conhece crianças criadas em ambientes com adultos bem articulados não vê nenhuma novidade numa criança que “parece que fala como adulto”.

O público do Silvio, assim como o de Maísa, não encontra situações muito parecidas costumeiramente. Imagino que a criança se expresse melhor do que muitos de seus fãs adultos. Pode parecer uma argumentação preconceituosa e ofensiva, mas cá entre nós… É mentira?

Além disso, situações como a do último choro público de Maísa mexem com outro aspecto do público médio dos programas do Sílvio Santos: A caricaturização do rico, do famoso. Uma sutil variação da idéia de que “dinheiro não traz felicidade”. Maísa já é uma celebridade e está sendo tratada como tal. No começo imagino que a espontaneidade da criança fosse um fator decisivo, mas agora é só mais um traço de personalidade (estimulado) que contribui para a “humanização do ídolo”.

Aquela criança orgulhosa, com seus cachos dourados e roupas de boneca, vira uma personagem interessante quando não age de acordo com sua figura. Quando Maísa é mal-educada e infantil (dã), o povão se diverte. O elemento que faz o quadro em questão fazer tanto sucesso é que no final das contas alguém vai ser humilhado. Tudo em forma de brincadeira, mas mexendo com aquele traço sádico que habita a mente de todos.

Maísa está sendo treinada para dar ao público o que o público quer. Algo que o homem que a fez chorar em rede de TV nacional faz desde… Bom, desde que aprendeu a andar. O maior sadismo envolvido nessa situação é o de quem dá audiência para ambos.

E o desfavor da semana, pelo menos no meu ponto-de-vista, é o drama de achar que a situação que inspira esta coluna de hoje é algo tão mais sério assim do que acontecia antes.

Maísa ainda vai se tornar um desfavor maior, aposto sem medo. Com os pais que tem, é só questão de tempo. Assim que ela perceber de verdade o que o público quer, não tem mais volta.

Para dizer que achou hilário quando a criança chorou (eu também achei), para tentar me convencer que não é uma pessoa sádica (SPOILER: É.) ou mesmo para confabular se o Carcelo Mamelo já pegou a Maísa: somir@desfavor.com

Ontem foi o aniversário de sete anos de Maísa, esta pequena aberração que Sílvio Santo vem explorando para conquistar um reles segundo lugar (se tanto) de audiência. Não, este não é o desfavor, o desfavor em si é um conjunto de fatores sobre os quais vou falar abaixo. Mas que esta postagem é um belo presentinho de aniversário para Maísa, isso é. Tomara que Papai e Mamãe, quando não estiverem torrando os vinte mil reais que a filhota ganha de salário, tenham o cuidado de salvar esta postagem e mostrar para a menina quando ela tiver idade e/ou capacidade para entender.

Crianças nos meios de comunicação sempre são um desfavor. Suas vozes irritantes, sua dicção tosca, seus trejeitos forçados que as fazem parecer um anão retardado… enfim, o conjunto da obra. Crianças são um saco por si só, filhos são como peidos, a gente só atura os nossos – e olhe lá, muito pior criancinhas se portando como focas adestradas.

Sei que para alguns crianças são espíritos de luz, criaturinhas iluminadas pelas quais se morre de amor. Pois bem, para mim, criança é um porre. Feio pensar assim? Com certeza, horrível. Mais feio seria fingir que gosto só para ser mais socialmente palatável. Crianças, a longo prazo, me irritam.

Mas Maísa não é apenas uma criança. É uma criança extremamente mal educada e com uma personalidade sacal. Ela é chata de fábrica, está no seu DNA. Uma criança que desconhece limites e um mínino de senso de repressão. Claro que aos olhos dos que acham tudo lindo em uma criança, ela parece uma menina “espontânea” (= mal educada e debochada), “comunicativa” (= pentelha) e “simpática” (= abusada). E lá está Maísa, falando o que quer, coisas muitas vezes tremendamente mal educadas, e SENDO RECOMPENSADA por isso, com risos da platéia, incentivo de Silvio Santos e um salário alto.

“Mas Sally, não seja tão dura, crianças não sabem mensurar o que falam”. Beleza. Talvez quando eu tivesse meus sete anos eu soltasse uma ou outra inconveniência, mas jamais me portava de forma abusada, desafiadora e sem o menor temor. Isso vem da educação que se recebe em casa e essa menina é extremamente mal educada. Ser criança, por incrível que pareça, não é necessariamente sinônimo para ser mal educada. Bons pais colocam limites em seus filhos, principalmente quando eles já nascem com uma inclinação natural para encher o saco.

Sílvio Santos não é o único desfavor. Os pais dessa menina são dois desfavores enormes. Primeiro, fica claro que não colocaram limites na filha. Segundo, ficam expondo a filha a situações bastante questionáveis, como ocorreu recentemente onde ela foi forçada a dividir o palco com um menino fantasiado de monstro que lhe provocou pavor. Chorou, gritou, ficou apavorada, enquanto Silvio Santos ria e a chamava de “cagona”. Em outro episódio, Silvio a trancou em uma mala contra sua vontade. Tanto fizeram que o conselho tutelar notificou os pais da menina.

E pelo visto não sou a única a pensar assim. Hoje mesmo vi uma reportagem cujo título era “Maísa chega aos sete anos exposta a situações constrangedoras e degradantes”. Depois, cresce e vira uma puta drogada tipo Drew Barrymore e ninguém sabe porque…

Além de Sílvio e dos pais, também é desfavor quem assiste a isso. Só tem circo quando tem platéia, certo? A platéia ri, se diverte. E quem está vendo em casa também. Exercício de sadismo, a meu ver. O Ministério da Justiça advertiu o programa, informando que se não pararem de humilhar a criança a classificação passará a ser para maiores de 12 anos. Então valeu. Maísa vai continuar a ser exposta a uma série de situações bizarras em um programa onde, legalmente, ela não teria preparo psicológico para assistir. (não pode assistir mas pode participar?)

Além dela mesma, por sua personalidade naturalmente repulsiva, além de Silvio Santos e demais envolvidos no programa, dos pais da menina, da platéia e dos espectadores, ainda há um grande desfavor genérico nisso tudo. Essa coisa de pegar uma criança e transformar em um bichinho de estimação bonitinho e fofo, que conquista os outros fazendo gracinhas. Lembrem-se, crianças crescem. E crianças que crescem ficam sem graça e são deixadas de lado. Isso é demais para uma cabecinha tão jovem! Se rejeição dói e provoca estragos em todos nós, burros velhos, imagina em uma criança! E mesmo que seja tudo armado, tudo combinado, não é nada saudável para uma criança os diálogos que ela tem e as situações às quais ela é exposta!

Crianças prodígio não costumam envelhecer bem. Vejam Rafael (P)Ilha e me contem se parecia que aquela criança fofa do comercial das canetas Bic, do Nescau e de chiclete ia virar esse drogado maluco que come o produto que nos bons tempos anunciou? (e por comer, me refiro à caneta Bic, e não ao chiclete).

Recompensar esse jeito debochado e abusado dessa criança é criar um monstro. Dar fama e depois tirar a fama é criar um monstro. Expor a criança a situações traumáticas é criar um monstro. Neguinho bota filho no mundo e não cuida…

Para me dizer que eu sou insensível e que Maísa é muito fofa, para me mandar não criticar os outros sem fazer um filho antes para ver como é na prática, para me dizer que também odeia crianças mas não tem coragem de assumir e para me dizer que além de tudo é ateu: sally@desfavor.com