Desfavor Explica: Sustentabilidade.

Só sustenta mosh...O que você imagina quando ouve a palavra sustentabilidade?

Eu imagino uma hippie fazendo tranças com os pelos das pernas. Mas é melhor não nos atermos às imagens mentais que frequentemente assolam meus pensamentos…

Sustentabilidade é a palavra da moda para a publicidade/marketing. E não é de se estranhar, tem aquela mistura ideal de simpatia e obscuridade, o que é sempre uma boa coisa quando se quer vender alguma coisa. Se por um lado o público acha que sustentabilidade é algo do bem, não entende o suficiente sobre o tema para cobrar respeito à causa.

“Viu? Sustentável! Agora me ajuda a descarregar esses pneus…”

Vamos tentar tirar um pouco da diversão do marketing. A partir de hoje você vai aprender a ler nas entrelinhas desse papo publicitário todo de sustentabilidade.

SUSTENTÁVEL?

Sabem o que faz uma empresa sustentável?

Mente. Uma empresa realmente sustentável não deveria nem ter sido criada, em primeiro lugar. E eu digo isso porque JÁ passamos do ponto sustentável. E nem é blá-blá-blá de aquecimento global, é questão de pouco recurso para muito consumidor mesmo.

Mas vamos com calma. Sustentabilidade é um termo derivado de estudos científicos sobre sistemas fechados. Diz-se que um sistema é sustentável se ele pode suportar uma ou mais condições por determinado período de tempo. O que isso quer dizer? Quer dizer que é hora de exemplos sem noção:

Imaginemos que R.P. passe seus dias na crackolândia, acompanhado de seus digníssimos colegas de atividades recreativas ilegais. R.P. acabara de receber uma generosa indenização de uma famosa marca de isqueiros por ter tido seu intestino grosso queimado num infeliz acidente. Com esse dinheiro, prometeu a todos os presentes que as pedras seriam por conta dele enquanto seus corpos aguentassem. Todos ficam muito felizes, principalmente os traficantes. O sistema é sustentável.

Sustentável até que haja um desequilíbrio entre recursos, fornecimento e usuários. Cada um dos fatores “saindo da linha” causa um problema que afeta o sistema como um todo.

Se os outros “entusiastas” da região ficarem sabendo do patrocínio, a crackolândia ficaria lotada, o que esgotaria os recursos (dinheiro para pagar), o fornecimento (mesmo se o dinheiro não acabar, os traficantes não vão vencer de sustentar a demanda de um monte de viciados sem limite de consumo) e por consequência, os usuários (viciados não são muito graciosos quando ficam sem sua dose). O caos seria inevitável.

Eu não usei este exemplo à toa. Apesar de ser uma situação isolada, pode ser facilmente transposta para a realidade global. A sustentabilidade humana como um todo também depende de recursos, fornecimento e usuários em harmonia. Sem contar que os usuários também são viciados…

RECURSOS

Os eco-chatos construíram seu castelo (feito de materiais reciclados superfaturados) aqui. Hoje, quando se fala de sustentabilidade, bate-se apenas nesta tecla. E não é por ser a mais importante…

Destruir e extrair demasiadamente é OBVIAMENTE danoso para a humanidade, não vou dar uma reaça cegueta. A própria noção de vida depende desesperadamente de um mínimo de equilíbrio meio-ambiental.

Só que a verdade é que este é o único ponto que mescla lucratividade com simpatia popular. O povo se comove com a idéia que temos que parar de destruir a Amazônia, que temos que criar combustíveis alternativos, que o mico-azul-do-cu-listrado deve ser protegido… Explorável!

“Destruir milhares de quilômetros de mata nativa para plantar aquela praga erosiva chamada eucalipto no lugar vai me fazer vender mais papel? Anota aí: A partir de agora somos sustentáveis.”

“Quer dizer que eu posso botar um selinho de amigo da natureza nos meus produtos se comprar créditos de carbono de um país de terceiro mundo para burlar a política de emissão de gases do meu país mais sério? Brilhante!”

“A partir de hoje vamos ser uma empresa verde! Coloca umas imagens de plantinhas e natureza nas nossas propagandas e manda nossa fábrica mais poluente para a China!”

“Vamos fazer um lucrativo festival de música que vai gastar uma quantidade colossal de energia para dizer que defendemos a natureza? Está na moda essa coisa de ser sustentável…”

DISTRIBUIÇÃO

O apoio “politicamente correto” já começa a desabar neste ponto do problema. Entender o conceito de quantidade de recursos é bem acessível para o público médio, mas o MUITO MAIS IMPORTANTE conceito de aproveitamento e eficiência desses recursos começa a entrar em algumas áreas cinzas da nossa visão do mundo.

A eficiência das nossas fontes de recursos é irrisória. Por limitações tecnológicas e financeiras, temos o péssimo hábito de gastar muito para produzir com uma margem apertada de eficiência. Eu já escrevi um texto inteiro sobre isso e não vou me alongar. Mas por agora basta entender que produção e distribuição de recursos consome recursos também. O lucro dessa conta não é muito animador.

Essa é a parte fácil de defender da questão. Desperdício é visto como uma coisa ruim. Normalmente é aqui onde os eco-chatos param. Mas, curiosamente, é a partir daqui que a solução real começa.

Sustentabilidade REAL não considera crescimento econômico como uma boa coisa. É balela (para conquistar dinheiro e votos) esse papo que dá para conciliar as duas coisas sem contribuir para o problema. Economia eternamente em ascensão é uma idéia já vencida pela dura realidade dos nossos recursos serem finitos. Todo mundo não pode ser rico (nos padrões atuais) ao mesmo tempo.

A única coisa nos impedindo de viver uma crise de distribuição é a incrível desigualdade social no planeta. Quanto mais pessoas com uma renda que possibilite uma vida digna, mais incontrolável é o nosso sistema. É muito consumo e MUITO desperdício para dar conta de tanta gente assim.

Como vamos ser sustentáveis assim? Simples: Parando a economia de expansão e começando a de eficiência. Gerar mais empregos e subir o padrão de vida de muita gente só piora as coisas. Empresa sustentável é aquela que fale (do verbo falir). Economia sustentável é aquela que demite tudo o que tem um batimento cardíaco e coloca robôs alimentados por energia solar na linha de produção. Um robô que consome 10% dos recursos de um ser humano normal e produz por 10 deles é ecológico pra cacete! Economia sustentável reduz os custos sempre que possível para poder sobreviver com cada vez menos.

Economia de eficiência reduz custos às custas de pessoas. Sustentabilidade não é essa coisa “paz e amor” de propagandinha da Natura, é uma medida violenta no padrão de vida humano. Dizer isso não é popular. É dizer em alto e bom tom que acabou a festa e que o fator que MAIS CONTRIBUI com o possível colapso de nossa civilização não está na maldade de alguns “barões da economia”.

O problema somos nós. Todos nós.

USUÁRIOS

A população do planeta passou de aproximadamente 300 milhões de pessoas há 2000 anos atrás para aproximadamente 7 bilhões de pessoas neste ano. Considerando o espaço de tempo, não parece algo muito exagerado, não? O problema é que o crescimento foi exponencial.

Estima-se um espaço de tempo de 1600 anos só para dobrar os 300 milhões da contagem inicial. Ou seja: Em 1600 tínhamos 600 milhões de pessoas nesse mundo. Sabem quanto tempo demorou para dobrar de novo? 250 anos. Entre o final do século XIX e o começo do século XX, já éramos mais de um bilhão de pessoas.

Adivinha quanto tempo demorou para dobrar de novo? 126 anos. E quanto tempo demorou para dobrar mais uma vez? 46 anos. Já eram 4 bilhões de pessoas em 1974. Um leve alento até nossa inevitável escalada para os 8 bilhões: Demora um pouco mais, apenas 52 anos. (População mundial de 8 bilhões prevista para 2026.)

O mundo ficou menor MESMO. Crescimento exponencial da população (dobrando em espaços de tempo cada vez menores) num planeta como o nosso é CERTEZA de colapso da civilização. Só temos duas alternativas, DIMINUIR o número de pessoas nesse mundo por vontade própria ou esperar a natureza (inclusive a nossa) fazer o serviço.

Democracia, paz e direitos humanos dependem de boa vontade, é claro, mas dependem muito mais é de ESPAÇO. Um mundo com dezenas de bilhões de habitantes NUNCA que vai ser pacífico e civilizado. Vamos ter que disputar recursos ou morrer. Se chegarmos a um ponto absurdo desses, a regressão da sociedade é inevitável.

Sustentabilidade verdadeira é parar de botar gente nesse mundo e esperar morrer o excedente. Já passamos do ponto sustentável. E eu tiro essa afirmação de um dado muito simples: Estamos no primeiro momento da história onde aumentar um bilhão de pessoas na população mundial vai demorar MAIS do que demorou o bilhão anterior.

Isso não quer dizer que estamos salvos, isso quer dizer que é a primeira vez na história onde esse mundo está começando a ficar apertado. Se continuarmos achando que salvar mico-leão é mais bacana do que parar nossa reprodução descontrolada, vamos apenas seguir o caminho lento e previsível para o fim da sustentabilidade humana nesse planeta.

(O planeta vai bem, obrigado. Se todos nós morrermos, a Terra continua girando ao redor do Sol e o ecossistema básico se regenera…)

Mas DEUS ME LIVRE de dizer que os belos seres criados à imagem e semelhança do amigão imaginário são o problema desse mundo. Parece meio escroto ser culpado só por ter nascido, e é isso que faz a conversinha dos ecochatos girar exclusivamente ao redor da questão dos recursos naturais. Foda-se se preservarmos e revertermos o aquecimento global, as próximas gerações estão vindo para um sistema que já desestabilizou.

Foco em recursos naturais: Agradável e rentável. Resolve pouco ou quase nada por si só.

Foco em economia de eficiência: Desagradável e razoavelmente rentável. Dá o apoio necessário para o passo mais importante.

Foco em não botar mais gente nesse mundo: Desagradável e desastroso para a economia viciada em crescimento. É o que vai resolver.

A indústria de camisinhas faz mais pelo futuro da humanidade do que todos os ativistas ambientais JUNTOS. Sustentabilidade não é uma coisa bonitinha e espiritualizada, é um tapa na nossa cara. Ou trata o assunto pelo o que ele é, ou para de encher a paciência com esse papinho hipócrita e condescendente.

Para dizer que para cada filho que não eu não tiver você vai ter três, para confessar que só está nessa de ecologia para pegar mulher, ou mesmo para reclamar que preferia quando eu era reaça hardcore: somir@desfavor.com

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Comments (15)

  • Buenas, Somir, mas isso que você escreveu nada mais é do que um texto de Economia Ecológica (Ecological Economics). Googleie Nicholas Georgescu-Roegens, Herman Daly ou Robert Costanza (preferência para os dois primeiros, o terceiro já tá meio descambando para a ecochatice) e constate a verdade do que digo.
    Basicamente, você apontou para o fato de que já passamos do ponto de Crescimento Deseconômico (Herman Daly).
    Beijundas!

  • Bom, eu não falei em aquecimento, quis dizer possível ameaça iminente (o que pode não acontecer já que é POSSIVEL).

    Todos os dias eu fico puto com as burradas que a população em geral comete. Eu aqui, com minha mulher, os dois se controlando pra ter filho qnd puder e o povão reproduzindo, reproduzindo…

    Sem contar que não é so a produção em massa de humanos que ameaça o planeta. Como foi citado acima, os dejetos energéticos fodem a porra toda. Ao invés de criar uma forma melhor de reaproveitar esses dejetos (que podem ou não serem humanos) ou evitar produzir mais dejetos, o ser humano continua na mesma burrada de sempre.

    Bom, vamos torcer pra máquina não parar de vez ^^

  • Só lembrando que o aquecimento global antropogênico a cada dia perde força, pois a cada dia mostra a farsa que é.

    O clima depende muito mais do sol do que qualquer coisa, quem manda é ele…depois vem oceanos, vegetação e bactérias.

    Agora esse papinho de CO2 sabe-se lá como aquece o planeta já tá dando dor no ovo.

  • Pena que esse tipo de informação não vai pra televisão onde o povão vai poder TENTAR aprender algo de útil.

    Temos que parar de reproduzir freneticamente como coelhos se não a máquina (HUMANA) para!

    Nessas horas que eu espero pra ver se um 2012 vem por ai mesmo ou não.

    Pelo menos vai diminuir a população ou acabar de vez com ela.

  • Mico leão da bunda branca meu ovo! Tenho dó é das criancinhas ribeirinhas que trabalham pra não morrer de fome.
    Se fazer de engajado em uma causa de importancia e resultados duvidosos é mesmo muito bonito, quero ver ir lá no cu do Brasil e peitar políticos pra que façam algo pela população carente. GENTAAALHAAAAA!

  • Ah, como eu gosto de tapas realistas na minha cara! Fazem sempre me sentir menos inútil e menos enganado, o que é sempre um plus.

  • Sempre me irritei com essa conversa fiada de sustentabilidade.

    O sistema de vocês se auto-sustenta?Legal, então se vocês pararem de vender continuam funcionando? Não? É, então os consumidores que sustentam o sistema de vocês. Que coisa, não?

  • Socialmente justo; ahhhhh tá…me diga 1 sociedade justa em toda a humanidade???

    O homem foi posto pela evolução como o predador top do planeta.

    Cuidado!

    Quando a Feladaputadamãe-natureza coloca alguém no topo e ele não cumpre seu papel, PODE TER CERTEZA que ela vai colocar outro para assumir o cargo e cumprir o papel.

    Spoiler: esse comentário do Tio aqui é o mais bem votado no vídeo do rei George Carlin
    youtube.com/watch?v=X_Di4Hh7rK0

  • Ecologicamente correcto; mama mia! A própria natureza já fez o serviço de extinguir mais de 90% das espécies que já existiram e estão por ai e não tem piedade com quem não se adapta.

    Economicamente viável; agora sim…esse sempre foi o principal argumento da sustentabilidade. Só que o custo de recomposição ambiental são muito maiores do que os recursos disponíveis, ai fica fácil não é amigo: repassa para o produto e pau no cu do consumidor.

    Desculpa para aumentar preços e lucros.

  • Aham…está falando a língua do Tio aqui!

    Vamos aos poucos:

    Wikifuckingpedia: Sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos
    aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana.
    Propõe-se a ser um sistema de vida, de tal forma que a humanidade como um todo, possa preencher as suas necessidades e expressar o seu maior potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar estes recursos naturais e potenciais, mantendo-os indefinidamente.

    Para que isso seja verdade é necessário o cidadão não saber PN de Termodinâmica.

    Seus macacos…a energia só pode fluir de um ponto mais alto a outro mais baixo e qualquer mudança de tipos de energias envolve perdas, que podem ser amenizadas com a tecnologia empregada, porém a a capacidade do sistema de produzir energia SEMPRE se reduz.

    A entropia dos sistemas abertos está aumentando (fato) ou seja, a capacidade de produzir trabalho é CADA VEZ MENOR.

    Spoiler: Indefinidamente é o meu CARALHO.

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