Flertando com o desastre: Pedrinho.

Lá vem pedrada!Eu acho mais aceitável o traficante do que o usuário de drogas. Calma, não grite comigo AINDA. Não falo aqui dos grandes empresários que financiam o tráfico do alto de seus edifícios de luxo, falo do traficante “pequeno” no contexto geral, porém “dono do morro”, “grande” em seu contexto social. Sempre que faço esta afirmação pessoas começam a gritar comigo. Daí eu conto a história do Pedrinho, que é o que vim fazer hoje. Sei que tem muito bandido sádico e escroto por aí, mas também conheço o outro lado da moeda, que muita gente insiste em afirmar que não existe ou que é esmagadora minoria, talvez para tentar se enganar e não encarar o tamanho da injustiça que existe no nosso país.

Sempre bato na tecla de que costumamos ser mais benevolentes com aquelas situações onde conseguimos nos visualizar. Por exemplo, é muito mais fácil que uma mulher ciumenta entenda um homicídio cometido por uma esposa que flagrou seu marido com outra do que entenda um roubo. No entanto, o homicídio é um crime pior do que o roubo, ou alguém tem alguma dúvida de que tirar uma vida é mais grave de tirar uns reais de alguém? Nossa capacidade de perdoar está diretamente ligada à empatia e compreensão dos atos daquele que julgamos.

Acredito que seja este mecanismo que faça com que a maior parte das pessoas se solidarize mais com o usuário do que com o traficante. Quem de nós não conhece um usuário com uma história triste, que se afundou no vício e não conseguiu mais sair dele? Praticamente uma vítima. Ou então um usuário que é gente boníssima e “nunca fez mal a ninguém”. Claro, eles existem aos montes. Já o traficante… bem, este é sempre preto, pobre e favelado, tido como bandido que desperta antipatia. Ele é o causador de tudo, ele e apenas ele. É ELE que vicia nossos meninos e meninas. Nossos filhos são levados ao vício por culpa DELES, não tem nada a ver com a família, com a atenção que os pais dedicam ao filho, com a propensão genética ao vício e com outra série de fatores. São sempre os maus elementos que levam nossos filhos para o mundo das drogas. A culpa é sempre dos outros.

Porque tenho a cara de pau e a coragem de abrir a boca para defender determinados traficantes, a ponto de dizer que os prefiro a usuários? Primeiro porque adoro ver vocês nervosos nos comentários me esculhambando e segundo porque já vi coisas demais nesse meio para conseguir me convencer que nem todo traficante é um bandido cruel.

Quando a pessoa entra para o tráfico, nem sempre é para conseguir dinheiro para comprar tênis importado e roupa de grife. Nem sempre é ambição. Nem sempre é porque não quer trabalhar. Essa é a história fácil, a história conveniente, que todo mundo conta. Acontece. Porém na maior parte das vezes, é o desespero e a necessidade. E acreditem, vocês não mensuram o tipo de desespero que esse nosso povo passa. Só quem vive o dia a dia de comunidade sabe.

E a pessoa que começa a usar drogas? Porque começa? Geralmente por pura imbecilidade. Para parecer bacana, descolado. Para agradar aos amigos. Para desafiar os pais. Eu devo ser mais solidária a quem faz merda por pura imbecilidade ou por necessidade?

Vamos lá. O objetivo do texto não é provar que traficantes são boas pessoas nem defender o que eles fazem. Que fique claro: tráfico de drogas é crime, e tem que ser crime mesmo. Tem que ser punido SIM, mesmo que a pessoa seja de bom coração. É uma conduta errada e reprovável, porém, acho mais compreensível do que a conduta do usuário, o que não quer dizer que não tenha que ser punido. Não aceitem tão fácil essa imposição social de que o traficante é sempre o “Bad Guy”. Talvez você, no lugar dele, fizesse igual. Talvez você, sem uma criação onde te ensinem o que é certo e o que é errado, cruzasse com mais facilidade a linha do crime. Talvez você, em um momento de desespero, fizesse isso também. Honestamente? Eu COM CERTEZA FARIA.

Não adianta se colocar no lugar do traficante com a sua cabeça de hoje. Tem que pensar como ele foi criado, como é sua realidade. Quando você cresce vendo uma coisa acontecer com naturalidade, tende a não achar essa coisa tão monstruosa – por mais que seja. Quando você passa por certas necessidades, tende a esquecer a diferença entre o certo e o errado. Dizer que você não viraria traficante com a sua cabeça de HOJE, com a informação, valores e ética que você ganhou, é fácil. Eu também pensava assim, que nunca viraria traficante. Até o caso do Pedrinho. Ahhh o Caso do Pedrinho. Leiam com atenção.

No começo eu não queria pegar o caso, porque além de uma grande repercussão na época, casos de tráfico costumam ser perigosos. Mas, por um revertério do destino, me vi obrigada a atuar no caso de Pedro. O que me passaram foi: bandidão, chefe do tráfico no morro tal, matou um colega a pedradas. O que eu vi foi uma coisa bem diferente. Vocês sabem que eu não sou de passar a mão na cabeça dos outros nem de fechar os olhos para os erros alheios. E ainda assim, ainda sendo uma pessoa de julgamento rigoroso, o que eu vi foi outra coisa. Mas demorou para ver. Para ver, tem que querer ver. Mais: para ver, tem que PODER ver.

Pedrinho nasceu em uma família com um pai, uma mãe e cinco irmãs. Era o irmão mais velho. Quando Pedrinho tinha dez anos seu pai morreu baleado por policiais que subiam o morro onde ele mora. O pai de Pedrinho não era bandido, era pedreiro, e isso ficou comprovado no processo que julgou os policiais, mas os policiais não perguntaram antes de atirar. Nada de novo, a bala come e quem estiver no caminho que se foda, a vida humana não vale muito em algumas favelas. Os policiais foram absolvidos, porque foram julgados por outros policiais. Imparcialidade zero. Dois deles posteriormente se meteram em uma grande chacina de repercussão e acabaram presos, só para vocês verem o tipo de pessoas que eram. Depois da morte do pai, mãe de Pedrinho, que sempre ficou em casa cuidando das seis crianças, se viu obrigada a sair para trabalhar para sustentar seus filhos, com isso, seus filhos passaram a ficar longas horas sem a sua supervisão.

A mãe de Pedrinho também trabalhava o dia todo, mas ganhava apenas um salário mínimo para cuidar da família. Passavam dificuldades. Não raro passavam frio e fome. Pedrinho não conseguia nem estudar direito na escola, pois sentia fome. Mesmo assim, Pedrinho nunca fez nada errado e mesmo muito jovem, arrumou um trabalho e trabalhava todos os dias, de domingo a domingo. Por diversas vezes ofereceram oportunidade dele ingressar na “carreira” do tráfico, porque para quem não sabe, tráfico tem um “plano de carreira” onde você vai conquistando postos (e salários) cada vez mais altos. Pedrinho sempre recusou. Ele se pelava de medo de ser preso, nem tanto pela prisão, mas por decepcionar a mãe. Agora ele era o homem da casa.

A vida continuou, até que um belo dia a mãe de Pedrinho foi diagnosticada com uma doença crônica para a qual ela deveria tomar medicamentos diários. Caso não tomasse estes medicamentos, corria o risco de adoecer e até de morrer. Este medicamento custava caro e raramente era encontrado de forma gratuita, como seria de direito de sua mãe. O tempo foi passando, e sua mãe, sem ter acesso ao remédio, começou a piorar da saúde. Pedrinho tentou conversar com autoridades, pediu ajuda, foi a órgãos públicos, fez filas, mas ninguém podia fazer nada. Tomou um não por cima do outro por aproximadamente sete meses, tudo documentado. Também tentou conseguir outro emprego onde pudesse ganhar mais dinheiro, mas nada. Enquanto isso a mãe dele Piorou, piorou e piorou, até que, para desespero de Pedrinho, em decorrência da impossibilidade de tratamento, sua mãe ficou irreversivelmente cega, o que a impediu de trabalhar.

Quando voltava para casa com a mãe, Pedrinho se lembrou das palavras do médico. Sua mãe estava cega, para sempre, e se não começasse a se medicar, poderia morrer em poucas semanas. Pedrinho, com 16 anos, sentiu a obrigação de homem da casa pesar sobre ele e decidiu que era hora de ajudar a mãe, custe o que custar, porque afinal, se aquele Estado que deveria ampará-lo lhe virou as costas, ele também viraria as costas para o Estado. O salário que ele ganhava não era suficiente para arcar com o tratamento da mãe, ele sentia que não tinha escolha. Basicamente era isso ou deixar a mãe morrer.

Pedrinho procurou o “Dono do Morro”, traficante com nome de passarinho que mandava por ali. Há tempos que o Dono do Morro o convidava para participar de “esquemas”. Pedrinho sempre negava, ele não queria essa vida. Mas agora ele sentia que não tinha escolha. Pedrinho deixa de ser Pedrinho e passa a ser Pedro. Não podia ser chamado de Pedrinho, acharam que não combinava com a imagem necessária ao trabalho que ele ia desempenhar. Assim ele se iniciou no tráfico. Começou fazendo pequenos trabalhos não muito comprometedores em troca da medicação de sua mãe. Todo mês o Dono do Morro entrega um suprimento de medicamentos na casa de Pedro, sem atrasar um único dia, e paga todas as despesas médicas de sua mãe e suas irmãs. O que o Estado não dá, o Dono do Morro dá. Pedrinho, agora Pedro, não ganhava um centavo para ele, apenas remédio e suporte para sua família.

Com o tempo, Pedro foi sendo recrutado para tarefas mais complexas, porque era inteligente e esforçado. O Dono do Morro dava cada vez mais responsabilidades a Pedro. Nesse período Pedro pensou em sair dessa vida por mais de uma vez, mas as propostas de trabalho que tinha não eram suficientes para custear os remédios da mãe, e agora também de sua irmã, que manifestara a mesma doença da mãe, precisando do mesmo tratamento. Mais uma vez, ele sentia que aquela era a única porta aberta para ele. O preço do remédio e de todo o tratamento para duas pessoas era quase dez vezes o valor do salário mínimo.

Ok, ele poderia tentar um trabalho onde inicialmente fosse mal remunerado e tentar crescer profissionalmente em situações normais. Mas Pedro não tinha tempo para isso, pois um mês sem os remédios poderiam matar sua mãe ou sua irmã. Ele já carregava consigo a culpa da mãe ter ficado cega por falta de remédios, se cobrava ter entrado para essa vida antes, quem sabe assim a mãe anda poderia enxergar. Porque ser preso seria ruim para sua mãe, mas ficar cega e morrer seria pior. Além disso, Pedro tinha o compromisso de que, se fosse preso, o tráfico continuaria dando suporte à sua família. E eles cumprem. Pedro já tinha visto eles prometerem e cumprirem com diversos companheiros que acabaram presos. E se fosse morto, a família ganharia uma pensão vitalícia além dos cuidados médicos.

Pedro era extremamente religiosos. Quando perguntado como poderia fazer uma coisa condenada por Deus e ainda assim ser temente a ele, Pedro respondia que Deus estava vendo sua realidade e a de sua família e que quando o momento chegasse, Deus o absolveria porque saberia que ele não teve escolha. Deixar a mãe morrer desagradaria mais seu Deus do que entrar para o tráfico. Ele dizia que por mais que fosse errado, era menos errado do que deixar a mãe e a irmã morrer e se Deus fosse justo ele concordaria com isso. Além disso, Pedro nem achava tão grave assim o que fazia, afinal, eles não obrigavam ninguém a usar drogas. As pessoas é que iam ali procurá-los e usar porque queriam, do mesmo jeito que procuravam um bar para beber quando queriam encher a cara.

O tempo foi passando e Pedro agora era o braço direito do Dono do Morro. Sabia de todos os contatos, de todos os esquemas e estava a par dos negócios. Começou a ver, diariamente, como as coisas funcionavam na parte administrativa do tráfico. Era uma empresa, uma empresa com lucro de mais de 300% em cada transação. Era uma empresa com regras rígidas e castigos exacerbados.

Pedro lembra da primeira execução que viu, quando colocaram o dedo-duro preso dentro de um monte de pneus velhos, jogaram gasolina e atearam fogo. Pedro ficou chocado, chorou e ficou três noites sem dormir. Foi assim, nas três ou quatro execuções que se seguiram. Depois Pedro ficou calejado. Não porque seja mau, mas por ser humano. Da mesma forma como um Delegado de Polícia ou um Policial terminam por ficar calejados, brutalizados, menos sensíveis à violência. Da mesma forma que um médico fica menos sensível a sangue e ferimentos. O ser humanos se acostuma com tudo se for exposto a isso diariamente por muito tempo e sobreviver. Pode não gostar, não concordar, mas infelizmente acaba perdendo o poder de se chocar com aquilo. Sim, você também perderia. Pode até achar que não, mas perderia.

Pedro não gostava dessa parte de carnificina, mas sabia que nesse mundo era uma coisa necessária. Ele mesmo nunca botou a mão em ninguém nem fez nada, até o dia que ele chama “da desgraça”. Nem mesmo recebera ordens para isso, pois seus superiores brincavam dizendo que ele era “bonzinho demais” para coordenar esse tipo de atividade. Onde já se viu alguém que passa tanto tempo no tráfico e não tem uma morte nas costas? Pedro era até mesmo ridicularizado por isso. Porque no tráfico isso é demérito.

Um belo dia, o Dono do Morro sofreu um “atentado”. O traficante com nome de passarinho, amigão do peito de muitos jogadores de futebol que posam de certinhos (um deles habita o gol do Flamengo) é morto assim, do nada. Policiais a paisana se esconderam em uma casa vizinha e simplesmente armaram uma emboscada que matou o traficante com nome de passarinho. Mas ele já tinha nomeado Pedro como seu sucessor. No começo Pedro achou que isso era bom, mas logo viu que custaria caro.

Já na sua primeira semana teve que lidar com inimigos tentando disputar poder com ele. Pedro foi ameaçado, ou ele abria mão do “cargo”, ou algo de muito ruim aconteceria com sua família. Pedro não acreditou e pagou para ver. Essa gente vivia ameaçando e raramente acontecia alguma coisa. Mas Pedro não era o traficante com nome de passarinho, que operava barbáries, andava com armas banhadas em ouro e era amigo de jogador de futebol. Pedro não tinha essa moral toda para intimidar os vagabundos. Deu no que deu. Três dias depois sua irmã mais nova foi encontrada morta e estuprada.

Tudo se sabe na favela. Quem fez, não fez questão de esconder, mandou recado e deixou “assinatura” no local para que não pairassem dúvidas de que tinha sido ele. Pedro foi atrás do autor do crime. Quando o encontrou perdeu a cabeça e o atacou. Vendo que o sujeito ia puxar a arma, ele pegou o primeiro objeto que viu por perto e o atacou: uma pedra. Curioso que Pedro estava armado, mas não atirou. Apenas o atacou com uma pedra. Enquanto era atacado, o autor do crime riu e narrou detalhes o que havia feito com a irmã de Pedro, do que a irmã de Pedro havia dito ainda insinuou que ela teria gostado. Pedro surtou e bateu em sua cabeça com a pedra até que ele ficasse desacordado. O que Pedro não sabia é que ele não estava desacordado, estava morto. Ficou sabendo disso depois. Graças a esse episódio, ficou conhecido como Pedro Pedrada e ganhou o respeito dos colegas, tocando o “negócio” que tinha herdado.

Mas, para azar de Pedro, ele foi pego pela polícia poucas semanas depois, dedurado por traficantes de um morro vizinho, que queriam poder neste morro também. Pedro não tinha a maldade do traficante com nome de passarinho, não sobreviveu muito tempo. Pedro Pedrada virou manchete: “Traficante violento mata colega a pedradas”. Ganhou xingamentos de apresentadores de TV sensacionalistas. E nem vou contar da surra e das torturas que recebeu enquanto estava preso e aguardava julgamento. Mas também ganhou alguém que o defendeu e ouviu sua história até o final, com imparcialidade. E chorou. 

Para vocês, para o sociedade e para a imprensa, Pedro Pedrada. Para mim, Pedrinho.

Pedrinho não foi condenado por matar aquele infeliz. Infelizmente ele foi condenado no tráfico, porque, contrariando minhas recomendações, confessou que traficava mesmo. Ele disse que não se sentiria homem se negasse uma coisa que vinha fazendo. Eu avisei que seria condenado e ele disse que estava mesmo na hora de pagar as contas do que ele devia para a sociedade. Eu acho é que a sociedade pagou as contas do que fez com Pedrinho, quando ele virou traficante, mas tudo bem. Ele fez mal à sociedade? Sim. Em retorno.

Eu sei que muitos tem escolha, muitos seguem esta vida por sadismo, por comodismo, por índole ruim. Mas isso não apaga o fato de que muitos seguem por realmente não ter escolha, porque o Estado não garante o mínimo. E eu sei que fica mais fácil se a gente pensar que os que realmente precisam apelar para o tráfico por necessidade são minoria. MAS NÃO SÃO.

Já o usuário… bem, o usuário tem escolha antes de começar a usar. Porque ninguém é viciado antes de experimentar, certo? O usuário não tem necessidade de usar a droga se não a mãe fica cega e morre, certo? Qual é a desculpa do usuário? Bem, seja ela qual for, com certeza não chega aos pés da história de Pedrinho.

E para quem acha que o crime não compensa: hoje a facção de Pedrinho/Pedro Pedrada continua dominando o morro, resistindo às investidas dos traficantes vizinhos, e enquanto ele está preso, pagam pensão para a mãe de Pedro e para suas irmãs, não deixando faltar nada, nem remédios, nem comida, nem assistência médica. Mais eficiente que muito plano de saúde privado. O crime não compensa para o criminoso, mas para sua família sim. Deus não fica orgulhoso de quem se sacrifica e sofre para evitar o sofrimento de seus entes queridos?

Abram os olhos antes de qualquer linchamento moral, está cheio de bandido sem vergonha, mas também está cheio de Pedrinhos por aí.

Para tripudiar quem defende direitos humanos, para dizer que se eu fosse boa advogada ele estava solto ou para me esculhambar de qualquer outra forma para se livrar do inômodo que o texto causou em você: sally@desfavor.com

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Comments (73)

  • O texto é comovente, mas é uma exceção, pois Pedrinhos são moscas brancas nesse meio.

    E o fato dele ter feito por um motivo teoricamente “nobre” que era ajudar a familia, isso não o exclui da culpa, que o estado também tem muita culpa ai, isso com certeza tem, mas ele sabia que era errado, fez e na minha opinião a coisa mais nobre da parte dele foi aceitar e confessar a culpa, pois na maioria das vezes os criminosos sempre querem se safar seja do jeito que for, se tiverem um motivo como ele então, fazem questão de tentar provar que não tiveram culpa! Por isso que digo e repito, Direito Criminal no Brasil é pedir pra se colocar nessas sinucas de bico, pois não existe justiça, embora nesse caso a justiça foi feita, pois a culpa do estado não exclui a culpa dele, e ele pagou por isso!

    E esse papo de que ele não tinha outra escolha é muito subjetivo, ele não viu outra saida, mas talvez ouvesse só que ele não era capaz de enxergar.

    E eu achei que você foi muito tendenciosa nesse texto Sally, e lançou mão da famosa falacia do apelo a emoção pra tentar ganhar a causa, tal como diante de um juri que você quer convencer de qualquer maneira. Nesse quesito você foi uma advogada típica, que apela pra qualquer coisa pra ganhar a causa, independente da verdade.

  • Anônimo, esta é uma história de ficção, qualquer semelhança de dados, nomes ou acontecimentos é apenas fruto das vozes da minha mente. Elas falam comigo. Elas me mandam comer chocolate, se não o mundo acaba.

    Fora isso, concordo com tudo que você falou. Nossa omissão covarde gera esse tipo de consequência e muitas vezes acabamos por punir nossas próprias vítimas.

    Pena que a grande massa não consiga ver isso de jeito nenhum. Acredito que seja um mecanismo de defesa, pois quando a gente se dá conta disso, bate uma tristeza, uma culpa, uma depressão e uma desesperança enormes. Mais fácil achar que é tudofeladaputa que nasce errado e tem mais é que morrer.

    Só os ignorantes são felizes

  • Bem, traficante com nome de passarinho… Bem te vi, chefe do tráfico da Rocinha, morto pela polícia em outubro de 2005, um tiro de sniper através do buraco do ar condicionado de uma casa alugada em frente ao local onde ele costumava ficar todos os dias.

    A lei diz, ninguém deve pagar duas vezes pelo crime que cometera, a dupla onerosidade é condenável, é criminosa tal qual o crime que ela pune. É realmente de se parar para pensar, qual a parcela de culpa que cabe a cada um, afinal, omissão é crime.
    Nossa sociedade é omissa, hipócrita, mesquinha, todos falam, mas quantos fazem algo para mudar a realidade daqueles que estão à margem da sociedade, sejam criminosos ou cidadões de bem, sempre há alguém para condenar; "fulano é bandido, tem de morrer mesmo", só esquecem que tem bandido rico também, duvido muito que se o filho de um ricasso fosse bandido a alta sociedade fizesse este grito, de "matem ele!".

    "Todo espectador é um covarde ou um criminoso".(Carlos Marighella)

  • Anînimo, no Brasil existe uma coisa que não existe nos outros lugares que você citou: uma desigualdade social gigante.

    Isso faz com que um mercado que inicialmente seria exclusivo de grandes empresários seja socializado entre os pobres, para que os pobres façam o "trabalho sujo", a parte arriscada no empreendimento.

    O empresário que coloca a droga dentro do país se arrisca uma vez só: na hora de fazer entrar e vender. O traficante se arrisca todo santo dia para vender a cada usuário.

    Esse efeito perverso da desigualdade social faz com que os empresários se livrem de boa parte do risco o transmitam ao pobre, que desesperado pelo dinheiro e status, acaba topando.

    Enquanto houver usuários, haverá venda de drogas. Esta merda só acaba quando colocarem no mercado a vacina que inibe os efeitos de drogas no organismo, ainda em fase experimental. E se você quer saber a minha opinião, nunca vai ser colocada no mercado, porque implicará em um prejuízo de bilhões onde ricos e pobres sairão prejudicados.

  • Me bateu uma duvida:

    Aqui no Brasil o crime manda e desmanda e dizem que eh por causa do uso desenfreado das drogas.

    Estive na Europa, vi as pessoas usando drogas demais nas boates e bares. Não se é revistado para entrar nas boates(aqui no Brasil só faltam enfiar um estetoscópio no seu cu pra ver se acham droga) tudo ok, tudo joia, fazem vista grossa e tals… E o crime organizado nao manda lá e nem nos EUA onde se usam drogas demais tbm.

    New York foi apontada como a cidade onde mais se usam drogas no mundo. E o método para se descobrir isso é simples. Atravez de uma analise do esgoto local diagnosticam a concentracao de cocaína entre outros. Brasil nao ficou nem no top10.

    Com base nisso e nos exemplos citados, nao acham que a culpa pelo manda e desmanda aqui no Brasil seria a guerrinha entre polciais e bandidos?

    O poilcial está mais desesperado para flagar alguém portanto drogas(caso isso ocorra ele ganha 3 dias de folga, quer dizer nego por fazer o trabalho ganha folga? Imagine se um professor tirasse folga cada vez que seu aluno tirasse 10) do que para fazer seu trabalho. Essas blitz escrotas, enquadros a cada esquina e etc…

    Isso qdo nao vendem o que eles mesmos apreendem. Ha 6 anos atras conheci de relance um vendedor de ecstasy. Ele me confidenciou que ja havia sido pego, mas bastou pagar uma taxa para ser solto (claro, teve sua mercadoria confiscada) e ainda recebeu um convite para revender o que eles apreendiam. SAbiamente ele recusou com medo de virar queima de arquivo no futuro…

  • Sally:

    Não é só no Brasil que a legalização das drogas daria em merda. Na Holanda, onde começaram com essa onda, já deu. E deu grandão.

    att.

    Olavete

  • "Nha, se for para manter essa linha de escrita para os textos… um Sally Surtada por mês daqui pra frente vai ser mais que suficiente."

    MAIS UMA CONVERSÃO!

    OREMOS, IRMÃOS!

  • "Somir, eu sei que o TÓÓÓÓIN te abala. Tudo bem que sem poder dar um tapa na sua testa o efeito não deve ter sido tão forte, mas o Tóin mexe com você."

    E o meu famoso sorriso "você está fazendo exatamente o que eu quero" não pode ser traduzido pela web…

    Teremos que aceitar as limitações por agora.

  • AEEE SUELLEN, ESCREVEEEE!

    Fiquei curiosaço mesmo. Vai ser bom se descobrirmos que a queda dos mais poderosos causa a mesma comoção que sentimos com a história do Pedrinho.

  • Sally, você é uma DIVA… Eu tinha uma visão meio uó… mas pensando por esse lado que vc mostrou… eles são seres humanos, até podem ser animais as vezes, porém sempre tem aquele que não deixa de ser humano…

    Nha, se for para manter essa linha de escrita para os textos… um Sally Surtada por mês daqui pra frente vai ser mais que suficiente.

  • Sally,uma vez li um texto teu sobre aulas de Direito na escola, e acho que só assim pra começar a mudar um pouquinho a cabeça dessa gente. As pessoas preferem culpar aqueles que realmente não tem como se defender e fechar os olhos pro verdadeiro problema. Mas aí novamente vem a história de que informar a população é dar problema pra quem dela tira rios de dinheiro…

    E eu nunca tinha pensado por este ângulo, o problema iria só piorar mesmo. A sociedade brasileira se acomodou e a revolta fica só na hora de mandar msg pro Datena, dar uma entrevista chorando pro fantástico entre outras coisas. Mexer a bunda nada…

    Adaptando tua frase, "O sistema do Brasil não presta!" Seja ele o Judiciário, o Executivo ou o Legislativo!

    Eeeeh paisinho de merda!

  • Suellen, não seja modesta. Eu sei bem o seu valor, o que você faz é muito importante.

    Escreve um Desfavor Convidado nos contando os detalhes de como se fode um criminoso do colarinho branco!

  • Bossuet, tenho histórias sim, tenho muitas hostórias. Em especial nas duas áreas em que atuei na minha vida: direito penal e confliros pela posse de terra.

    Tem para todos os gostos, tem história triste, engraçada, revoltante… De tempos em tempos eu solto uma delas por aqui.

    Viu como a gente fica brutalizado, mesmo sem querer, pela exposição repetida? Muito ruim isso, porém inevitável.

  • Talento, concordo com tudo que você disse. Mas já reparou que quando a gente fala isso para pessoas não muito cultas elas nos metem o cacete com frases raivosas contra criminosos? Um saco, eu já nem tento mais conversar com certas pessoas. Cabeça não é só para usar boné da Nike, tem que avisar isso para os cariocas.

    Sobre legalizar as drogas, eu acho que não resolve. O tráfico sempre vai vender muito mais barato, porque não paga impostos. Veja o problema que as gravadoras enfrentam coma pirataria! CD e DVD não são ilegais mas hoje todo mundo prefere comprar na mão de "traficantes" de CD.

    Você sabia que quase 80% do preço do cigarro é de impostos? Imagina se taxarem maconha assim. Quem não vai preferir comprar um produto 80% mais barato?

    Sem contar que o Brasil não tem estrutura para amparar a grande massa que cairia viciada nem fiscalizar o uso responsável dessas substâncias. Já pensou quanto aumentaria de acidente de trânsito? Nego dirige bêbado mesmo com blitz e bafômetro, imagina se não vai dirigir cheirado ou cheio de LSD?

    Já pensou ter sempre essa dúvida na mente? Será que o médico que vai me operar usou drogas antes da cirurgia? Será que o motorista deste ônibus está doidão? Será que o dentista que vai fazer um canal no meu dente acabou de usar drogas?

    Não presta não. Eu acho que pro Brasil não presta…

  • Anônimo Rudnick, aqui no Rio assalto a mão armada é meio anos 80, não se vê muito disso não. O lance do carioca é a malandragem, é se dar bem, é se achar o fodão porque além de se dar bem ainda fez o outro de otário.

    Nossos bandidos tem a auto-estima tão baixa, tem um ressentimento tão grande da exclusão social, que quando adquirem algum poder e dinheiro a primeira coisa que fazem é ostentar. Compram mega-cordões de ouro, andam com armas à mostra, compram tênis de marca e saem como modeletes e jogadores de futebol.

    Rio de Janeiro é uma cidade linda, mas com pessoas DE MERDA em sua maioria. Parece uma cidade composta só por ex-BBBs. Pessoas fúteis, cafonas, doidas para aparecer, para serem famosas, para serem vistas.

  • Anônimo, acredito que nas vezes que usei esta frase me referia a relacionamentos. E sim, eu acredito que no ponto de falta de respeito em que chegamos nos relacionamentos (homem/mulher, pais/filhos etc) só a porrada constrói MESMO.

    obs: Entenda-se porrada no sentido amplo. Não necessariamente soco na cara.

    Quando se trata de necessidades humanas básicas, a porrada não adianta nada. Uma pessoa que passa fome não vai parar de sentir fome se cobrir ela de porrada. Já aquele namorado babaca que olhou para bunda alheia pensará mil vezes antes de fazê-lo se levar uns cacetes em público… hahaha

  • Somirete, obrigada!

    Fico muito feliz com a reação de vocês porque tinha certeza que ia ser execrada aqui.

    Nós, Família Desfavor, somos um refúgio de cabeças pensantes. Não deveria ter subestimado nossos leitores.

  • "Meu conselho: faça concurso público. É muito mais fácil mudar as coisas quando se está dentro do sistema. E se meu texto te agradou, só tem um concurso para você: Defensoria Pública".

    Aqui pegamos criminosos de colarinho branco. E estudo direito para me tornar ainda mais apto a continuar esse trabalho, em prol da socidade. Não chega aos pés do que agrega à Sally em termos de vivência e sabedoria a ponto de escrever três dúzias de parágrafos maravilhosos que são a melhor descrição da realidade que é realmente servir a sociedade…Mas iniciar um trabalho que botará um estelionatário na cadeia satisfaz e muito. E há pessoas que acham que ser servidor público é sinônimo de estagnação e de sombra e água fresca…

    Seguindo a rasgação de seda, Sally, uma vez Einstein aconselhou as pessoas a se tornarem pessoas de valor em vez de procurarem apenas o sucesso.

    Obrigado por ser uma pessoa de valor.

    Suellen.

  • Sally, você tem mais histórias de defensoria pública? Na minha breve experiência de repórter chave de cadeia, me deixei fascinar por esse tipo de advocacia. Me parece a chance de fazer as coisas mais justas, dentro da profissão.

    (só comentando pra desabafar: hoje, pela primeira vez, cobri um homicídio horrendo sem me comover. Fiquei uma hora ao lado de um cadáver carbonizado, e nem me toquei de verdade que era uma vida jogada fora ali. Claro que não simpatizaria com o traficante meia boca em vida, mas o fato de ter encarado a morte brutal como algo corriqueiro me deixou um pouco alarmado, quando refleti a respeito. Esse desabafo é mais uma das tentativas de rechaçar essa reflexão, que não vai me levar a nada construtivo)

  • As pessoas se esquecem que neguinho que nasce na favela é basicamente predestinado a viver se fodendo, em péssimas condições,sem ter direito à saúde, educação, e tantos outros direitos fundamentais, enquanto playboyzinho tá lá, estudou no melhor colégio, papai paga faculdade, dá carro e roupinha de marca, teve tudo que sempre quis, e resolve simplesmente curtir uma vibe nova, usa uma balinha, cheira uminha, mas ele, coitado, é uma "vítima" neh?!

    Aí o pior, o neguinho da favela, em sua maioria, nunca vai deixar de ser o neguinho da favela. O pobre, burro, analfabeto. E a sociedade ali sempre marginalizando e excluindo. Se esquecem desses Pedrinhos na maior parte do tempo, mas lembram na hora de julgar e acusar como culpados do filhinho ter entrado no mundo das drogas… Se "revoltam" e latem por aí, e o Pedrinho vai pra trás das grades, viver em uma condição ainda mais desumana e, sair de lá pior.
    Vai um advogado defender um Pedrinho na mídia, vai alguém defender na frente de um grande público pra ver o que acontece! É apedrejado, certamente!

    Mas a questão é, não tem porque mudar o sistema, afinal, implicaria em mexer com peixe grande. Assim é mais conveniente pra "todo mundo".
    O Brasil do jeito que caminha, não tem solução, ou muda tudo radicalmente, ou vai ser sempre assim… o infeliz que nascer pobre e morar no meio do mundo do crime vai, na sua maioria, acabar de alguma forma contribuindo com o delito.

    [ps.: antes que alguém xingue, não, não afirmo que toda pessoa que more em uma favela é criminosa, apenas acredito que as chances de se envolver nesse meio são muito maiores!]

    Sallyta, gostaria de saber tua opinião sobre a legalização das drogas, tu achas que seria uma "solução"?

  • Olá Sally

    Não sei se é bem lenda as pessoas serem “arrastadas” para o assalto. Mas talvez seja uma questão regional. No Paraná, o tráfico de drogas não é tão bem articulado. Outras espécies de crimes são mais viáveis aqui. É a facilidade que se encontra para conseguir uma arma, faz com que o roubo e furtos sejam relativamente fáceis de concretizar. E além do mais, pessoas prontamente racionalizam “se a sociedade não me dá, tirarei a força’
    Ah! Obrigado pela melhor reflexão a respeito do tráfico. Tu disseste um ponto que eu não tinha levado em consideração antes.
    Rudnick

  • Anônimo da porrada

    SÓ A PORRADA CONSTROI.
    A primeira vez que li essa frase foi aqui no Desfavor………portanto……
    PORRADA RULES!!!
    :p
    Já pensei em estudar Psicologia, mas minha mãe me convenceu a cursar informática pelo $$$ Vc acertou na profissão, mas errou noutra coisa: EU SOU ATEU!
    Somir, traga a Somira de volta!
    Beijundas

  • sally, eu nunca tive muita paciência com jornal, revista… Apesar de amar a leitura. Sério!
    Descobri no desfavor um maneira de me manter informada e me divertir muito!! Acho que estou viciada.

  • Vanessa, muito obrigada pelos elogios. Mas eu não sou tão boazinha assim, eu realmente tentei me esquivar do caso, só peguei porque fui obrigada.

    Meu mérito esteve apenas em ouvir o que ele tinha para me dizer. Existem advogados e defensores públicos que não se dão ao trabalho de ir até um presídio olhar nos olhos de quem vão defender.

    Meu conselho: faça concurso público. É muito mais fácil mudar as coisas quando se está dentro do sistema. E se meu texto te agradou, só tem um concurso para você: Defensoria Pública.

  • Sheila, seja bem vinda. Se você gosta de polêmica, humor negro, escatologia, fofocas e infantilidades em geral, vai gostar da gente.

    E se você tem raiva de homem (ainda que os ame) vai gostar de mim. Eu odeio homem de forma incontrolável. Eu odeio homem mesmo quando os amo. Sally Surtada, prazer.

  • Somir, eu sei que o TÓÓÓÓIN te abala. Tudo bem que sem poder dar um tapa na sua testa o efeito não deve ter sido tão forte, mas o Tóin mexe com você.

    Absolver Pedrinho serviria para o Estado admitir que teve parte da responsabilidade pelos atos de Pedrinho. Ele poderia voltar para a vida do tráfico e se o Estado não mudasse sua postura, deveria ser absolvido quantas vezes fosse preso.

    Caso o Estado deseje punir, tem que fornecer o mínimo existencial para que a pessoa viva com dignidade. Assim, ou o Estado caminha para a total desmoralização e não prende mais ninguém (ou só prende crime do colarinho branco) ou vai ter que se coçar e começar a fornecer subsídios para aqueles que delinquiram por falta de opção.

    Você pode pensar que o Estado se acomodaria e deixaria de prender todo mundo, mas eu duvido. Porque Juiz sai na rua, filho de Juiz sai na rua, ninguém quer viver em uma sociedade onde os bandidos estão todos soltos e certos da impunidade.

    Seria uma forma de coagir o Estado a finalmente olhar para essas pessoas e prestar assistência. Talvez falhe. Como diz Nascimento, "o sistema é foda", mas ao menos seria uma tentativa de sair desta merda em que a gente se encontra. Que ao menos seja uma merda diferente!

  • Anônimo, não sei se acredito nessa lenda das pessoas serem arrastadas para assalto a mão armada. Tráfico sempre vai existir, ainda que se legalize a venda de drogas.

    O preço nas mãos do traficante sempre vai ser menor. Observe: Cd não é proibido por lei e existe um baita tráfico de Cd e DVD. Pirataria. Porque quando cobram impostos abusivos de mais de 100% pelo produto a população acaba comprando nas mãos de traficantes mesmo.

    Numa sociedade de consumo onde o TER significa O SER sempre vai ter espaço para tráfico, pirataria, venda de bens de consumo a preços mais acessíveis.

    Meu sonho é que um dia todos os crimes contra o patrimînio migrem para a esfera virtual, porque teremos menos pessoas feridas e mortas e as empresas vão ter que arcar com todo o prejuízo. A gente ainda chega lá…

  • Iv, se a gente conseguir que ao menos uma única pessoa abra sua cabecinha e pense duas vezes antes de sair discursando raivosamente contra "bandido" já podemos fazer um mundo melhor.

    Porque os Pedrinhos não são julgados por juízes, são julgados por pessoas do povo, no Tribunal do Júri. Se queremos decisões mais justas é ao povo que temos que conscientizar.

  • Sally,

    Eu já li todos os posts desse blog, e esse foi sim o melhor.
    Tô quase me formando e ainda não sabia se fazia concurso ou exercia a advocacia.
    Só que fazer concurso pra mim parece querer fazer parte desse sistema, e um caso como esse, uma possibilidade como essa de fazer a diferença na vida de alguém, faz qualquer tipo de dificuldade valer a pena.
    Parabéns, pela postagem e por ter aceitado o caso, tem tantos advogados por ai que pensariam que ele era só mais um, e dariam um ctrl c ctrl v em qualquer outra defesa, alegando um monte de bobagens.
    Gente que nem você faz a advocacia valer a pena.
    Vanessa

  • Cai nesse tal desfavor quase de paraquedas…uma amiga me enviou a postagem sobre o Pedrinho….infelizmente é assim mesmo que coisa funciona;se eu tivesse tido os mesmos problemas teria feito o mesmo e se por uma fatalidade do destino vir a acontecer algo do tipo, pode ter certeza que serei a próxima Lili Carabina…rsrs

  • "Somir: TÓÓÓIN! hahahaha"

    Estou ofendidíssimo.

    Aliás, fica minha dúvida de morto por dentro: A absolvição plena de Pedrinho seria justiça? Os dois crimes foram "armadilhas" da vida, mas se liberado ele seria obrigado a voltar à mesma vida com os mesmos problemas iniciais.

    Se o Estado compreende que Pedrinho não pode fazer uma escolha real ao entrar para a vida criminosa, compreende também que jogá-lo de volta no sistema sem dar o suporte necessário (o mais provável) para que ele mude de vida significa recomeçar o problema.

    O julgamento serviria para quê?

    Não é provocação, é uma dúvida honesta de quem se interessa pelo assunto.

  • “Edificante” isto! O traficante confesso tem mais consciência a respeito dos seus atos, do que muitas pessoas que eu conheço. Triste a história deste rapaz, compreendo as suas razões e condições. Sinceramente lamento pelas escolhas dele. Mas mesmos assim não as desculpo.
    Mas como o objetivo do texto era provar a possibilidade dos cidadãos de bem se envolverem com o tráfico. Tenho de admitir que gostei da tua argumentação. E a partir dela concluí, que sorte a nossa que tráfico exista e que seja um negócio lucrativo. Pois, se não fosse assim, as pessoas carentes seriam “arrastadas” contra as suas vontades ao assalto a mão armada, seqüestros, roubo a residências e a bancos. Porque nunca que a Sociedade irá alavancar a todos para condições mínimas de vida. A solução? Big Rip Já
    Rudnick

  • Chega de me torturar, Sally.
    Me peguei aqui sentindo culpa, embora não tenha profissão relacionada com justiça, governo, etc.
    Quanto a um dos comentários, dizendo que Pedrinhos são a minoria, acho que não interessa quantos são.
    Enquanto houver UM Pedrinho que seja, esse mundo tá todo errado.

  • Chester, obrigada mesmo. Um elogio seu vale muito e eu sei que você não elogia só por elogiar.

    Sem contar que, o melhor amigo do dono do blog dizer que a melhor postagem foi minha e não dele é um belo dum TÓIN na cara do Somir.

    Somir: TÓÓÓIN! hahahaha

  • Thaisa, não desanime. Porque no meio de cem escrotidões sempre aparece UMA situação que faz tudo ter valido à pena. Aos poucos vamos brigando por um direito penal mais justo e aos poucos as teses defensivas vão sendo aceitas.

    É uma briga ingrata, mas se você gostar, acreditar e fizer de coração, acaba deixando contribuições valiosas na jurisprudência.

    Veja o filme "Assassinato em primeiro grau" com o Kevin Bacon. Esse filme me fez querer fazer direito. Acho que você vai gostar.

  • Anônimo da porrada: já pensou em cursar psicologia? sua compreensão elaborada da alma humana te faria um ótimo psicólogo.

    em tempo: aposto que acredita em Deus e se diz religioso. É bem esse o tipo.

  • Anônimo: "VC mesma falou que ele era ridicularizado por ser uma boa pessoa, depois mete essa de que eles não são ruins, a culpa é da falta de escolha. Pedrinhos são a minoria, a maioria não presta."

    Eu não disse que são TODOS bons, eu disse que aqueles que se tornam ruins muitas vezes entram nessa forma de funcionar por uma questão de sobrevivência e falta de escolha.

    Mesmo que mate, mesmo que trafique, mesmo que se torne uma pessoa perigosa, muitas vezes acaba virando isto por falta de escolha SIM. Circunstâncias que se estivessem presentes na vida de qualquer um de nós nos tornariam assassinos, bandidos ou marginais.

    Ele era ridicularizado por não barbarizar seus inimigos com tortura e morte, não por ser "uma boa pessoa". O que é ser uma boa pessoa? Muita gente por aí acharia que um traficante não é uma boa pessoa, mesmo que não mate ninguém.

    O fato social pode ser determinante para que nos tornemos "boas" ou "más" pessoas. Nem sempre é escolha do indivíduo.

  • Anônimo: "A escolha do Pedrinho foi cruel até justificavel, mas com certeza a mãe dele ia preferir morrer do que ver o filho entrando nessa fria. Dois pesos duas medidas."

    Sei não. Sei não. Não sou mãe, mas já tive duas EQM e te digo que na hora você dá tudo para não morrer…

  • Anînimo da barra forçada: eu não acho, ele EXISTE e se chama co-culpabilidade do Estado. Claro que ainda engatinha a passos de cágado manco, mas um dia a gente chega lá.

  • Olá, gostaria de parabenizar pelo belo texto, e dizer que eu gostaria muito de ter assistido esse júri.
    Sou Bacharel e ainda não sei se exercerei a advocacia, mas o seu texto me inspirou. Me recordei do filme que assisti e que me incentivou a escolher essa profissão (Tempo de Matar), na época eu era uma estudante sonhadora, que queria fazer a diferença, hj sou uma pessoa pessimista e desanimada com a justiça…

  • Pra mim os dois tão errados, tinha que sentar muita porrada e pau no cu de drogado quanto de traficante. Drogado e bêbado é uma raça muito escrota. Tá certo que eles são viciados, mas ficam rindo como se fosse bonito se drogar.

  • VC mesma falou que ele era ridicularizado por ser uma boa pessoa, depois mete essa de que eles não são ruins, a culpa é da falta de escolha. Pedrinhos são a minoria, a maioria não presta.

  • A escolha do Pedrinho foi cruel até justificavel, mas com certeza a mãe dele ia preferir morrer do que ver o filho entrando nessa fria. Dois pesos duas medidas.

  • frase proferida durante julgamento em nuremberg: -a incapacidade do ser humano sentir empatia é a essência do mal.

  • "Vamos fazer uma comparação: tem um bandido com uma arma apontada para a cabeça da sua mãe. Ele VAI matar a sua mãe. Se você tiver a chance, você o mata? Eu mataria. E acho justificável."

    Forçou a barra na comparação, principalmente vindo de uma advogada, que conheço o meio legal (instituo da legítima defesa) pra absolver o autor de um homicídio nessas condições.

    Vc acha, Sally, que deveria haver um instituto de direito que levasse em consideração o contexto social como atenuante, como há nos casos de forte emoção envolvida?

  • Talento, o uso de drogas É CRIME.

    O que aconteceu foi sua descarcerização, ou seja, não é punido com pena de prisão.

    Porque? Poderia ser ao contrário, né? O tráfico poderia não ser punido com pena de prisão. Afinal, ambos estão, no mínimo, igualmente errados (eu acho que o usuário é ainda mais errado).

    Mas traficante é favelado e usuário é playboy, por isso as coisas são como são.

    Na hora de prender os grandes empresários que financiam a vinda da droga de outros países a polícia não tem tanta agilidade. Ou por acaso alguém acha que o bandidinho analfabeto do Morro do Rato Molhado é que monta esquema para a cocaína chegar no Brasil?

    Tá tudo errado. Tá tudo muito errado. Me dá até um desespero de começar a pensar nisso.

  • Izabela, eu acho que quando uma situação de desespero se apresenta, qualquer ser humano cruza a linha da legalidade.

    Acho anormal que alguém sacrifique a vida de um ente querido para cumprir a lei.

  • Iv, você tinha que ver no dia do julgamento.

    Pedrinho algemado, entrando de cabeça baixa. A última coisa que ele disse antes de sentar na cadeira do réu foi "Tá tranquilo, Doutora, para dar uma vida boa para as minhas irmãs eu topo ir morar no inferno". Por inferno, entendam presídio.

    E durante a sustentação oral, estava tudo indo bem, até que um dos jurados começou a chorar, o do lado também, as platéia também e eu comecei a chorar vergonhosamente. Foi quando o juiz deu um intervalo porque "aparentemente a Doutora não tem preparo emocional para estar em plenário" (comida de rabo pública a gente nunca esquece, tome esculacho)

    Claro que nada disso aconteceu. É uma mentira fantasiosa e deliberada que as vozes na minha cabeça criaram.

  • Concordo Sally…
    Mas acho que já que o tráfico é crime, pq usar droga não poderia ser tipificado também?!

    Afinal, se quem compra material advindo de furto/roubo comete crime de receptação, pq não punir a conduta do usuário de drogas?!

    O sistema é foda!

  • Sally, pelo contrário. Não disse que NÃO faria a mesma coisa. Disse que na mesma situação faria a mesma coisa ou pior.

  • Olavete, as vozes na minha cabeça não mentem. Eu também acho que ele vai se salvar.

    Já quem lhe negou a possibilidade de estudar, de ter tratamento médico gratuito eficiente, de ter um emprego bem remunerado… bem, esses por mais que nunca tenham cometido "crime" nenhum, tão bem fodidos.

  • Hugo, você, no lugar dele, faria o que? Ficaria assistindo a sua mãe morrer quando poderia salvá-la?

    Vamos fazer uma comparação: tem um bandido com uma arma apontada para a cabeça da sua mãe. Ele VAI matar a sua mãe. Se você tiver a chance, você o mata? Eu mataria. E acho justificável.

    Porque homicídio para salvar um ente querido é justificável e tráfico (crime menos grave do que tirar uma vida) não?

    Me explique você, como é que você conseguiria NÃO FAZER A MESMA COISA, porque sou eu que não estou conseguindo entender…

  • Morita, você acha que ele deveria ter se mantido fora do tráfico e ter visto a mãe morrer? Eu não consigo pensar assim…

    E sim, eu serei execrada. Tamo aí é pra isso mesmo!

  • Sally: pesquisa sobre o conceito católico de "mal menor". Teu "Pedrinho" pautou-se instintivamente por ele e tem boas chances de salvação, se as vozes da tua cabeça não tiverem mentido.

    att.

    Olavete

  • Não sou tão velho, mas o que aprendi com o passar dos anos foi tentar me colocar no lugar da outra pessoa pra tentar entende-la.

    Isso não significa aceitar e arpovar, mas pelo menso entender que talvez na mesma situação, vc fizesse a mesma coisa ou pior.

  • Querida Sally. Concordo com você meu anjo. Existem muitos traficantes bons, como existem muitos usuários bons. O que não podemos negar que tráfico é crime, pelo menos na nossa concepção jurídica.
    Não se pode justificar atitudes ilícitas pelo histórico de uma pessoa. Assim como Pedrinho aguentou firme para não ingressar no tráfico, quando do falecimento de seu pai, deveria também continuar agüentando com o infortúnio de sua mãe.
    Se ele resolveu entrar para esse mundo minha amiga – não estou dizendo que ele quis – deveria saber dos resultados, e assumir, como de fato bravamente assumiu.
    Eu também conheço muitos “Pedrinhos”, e sei que se a vida lhes desse uma oportunidade, o rumo a ser seguido seria bem diferente.
    Atuando na advocacia criminal pude perceber que nem sempre as coisas são como aparentam ser, e os direitos de defesa de alguns “acusados”, simplesmente são tolhidos.
    Parabéns pelo texto, entendi perfeitamente o que você quis passar com o relato de Pedrinho, apesar de eu achar que você será execrada em praça pública por isso. Abraços.

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