Anula Eu!: Disputaria.

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Marina Silva resolveu não afundar com o barco. E dessa vez não tinha nem guarda costeira para passar uma bronca… Amealhou-se com Eduardo Campos no PSB passando a mensagem de que “fazemos qualquer negócio”. Bacana, até o voto de protesto está corrompido nas próximas eleições presidenciais. Mas… sejamos honestos… estar no governo (ou possível governo) é uma tentação muito difícil de recusar. Talvez esse seja o maior problema.

Ganhar eleição é bom demais. Demais. Subitamente a grande e gorda máquina estatal fica a seu comando, todas aquelas verbas e cargos são seus para distribuir… Embolsar uma parcela essa dinheirama oriunda do suor do trabalhador com certeza é um ponto positivo, mas é pensar pequeno perto do status e do poder que dispor dele traz. Não é o dinheiro que se acumula que seduz: É o dinheiro que se distribui e tudo o que vem “de graça” com ele.

Ter algo que as outras pessoas e só podem conseguir te bajulando te coloca numa posição extremamente confortável. Sem contar quanta ajuda você consegue prometendo favores futuros… O sistema é todo cagado do ponto de vista de quem está fora dos círculos de amizades certos. Para quem está no poder ou quase lá, ele é sensacional!

Pessoalmente eu não comungo muito com a figura pública de Marina Silva. Tanto que frequentemente me refiro a ela como “crente ecochata”, duas ofensas sérias pelo meu ponto de vista. Mas pelo menos até onde sei, sua bagagem na vida política está bem menos contaminada do que os outros candidatos nas próximas eleições presidenciais. Talvez, apenas talvez… num mundo mais ideal ela fosse uma excelente representante para a população. Se bem que não precisa de idealismo para ser menos cagado que Dilma, Aécio e Campos.

Sabe como é… no frigir dos ovos ela pelo menos demonstrava uma linha ideológica. Já escrevi aqui antes sobre como isso faz uma tremenda falta na política brasileira. A maioria dos planos de governos de partidos grandes pode-se resumir à “pensamos em algo quando chegarmos lá”. O problema é sempre a administração do partido adversário. Deveria ser mais complexo do que isso, deveríamos discutir mais sobre o planejamento que se faz para esse país, mas acabamos sempre vendo chimpanzés jogando merda uns nos outros, eleição após eleição. Tudo isso enfeitado por caríssimas campanhas planejadas por profissionais de marketing político igualmente caríssimos.

Na verdade o lance não é governar, é estar no governo. E é justamente nessa vala comum que a crente ecochata acaba de se instalar. Já não era grandes coisas, agora ainda está no mesmo barco à deriva ideológica que todos os outros. Teria sido tão digno se abster desse jogo de cartas marcadas até ter condição de realmente governar… Mas é claro que isso não faz diferença quando temos um governo tão tentador.

Um dos principais argumentos em favor dos altos salários e da estabilidade dos empregos públicos (eletivos) é que eles precisam ser competitivos em relação à iniciativa privada. Não é uma lógica ruim, mas não é uma lógica inquebrável. Quem trabalharia no governo se ele pagasse mal e cobrasse resultados de forma mais incisiva? Oras, pra começo de conversa as pessoas que nem trabalho tem. A iniciativa privada está cheia de péssimas oportunidades e mesmo assim nem isso muita gente consegue.

Claro que isso não elucida todos os problemas com cargos públicos, mas achar que um empregador desse porte (Estado) ficaria abandonado sem as vantagens que proporciona aos representantes escolhidos pelo povo. Desde que pague as contas, sempre tem um querendo comprar essa briga. E mesmo se os cargos eletivos fossem uma merda completa, sem salário e com risco real de demissão por maus resultados, ainda sim não faltaria gente para ocupá-los.

Na verdade, se ser governo significasse muita pressão e quase nenhuma recompensa, veríamos finalmente o nascimento de discussões mais profundas do que “quem fica com o quê” em gabinetes, palácios e assembleias pelo país. Tem gente que trabalha o dia inteiro e ainda acha tempo para ser voluntário. A mera possibilidade de fazer alguma diferença no mundo que vive já é recompensa suficiente para essas pessoas.

Mesmo se estar no governo fosse uma merda, ainda sim teríamos muitos concorrendo por essa oportunidade. Desde que essas pessoas pudessem aplicar suas ideias e realizar seus objetivos. Pode ser por um ego inflado ou por honesta vontade de ajudar o próximo, mas com certeza não ficaríamos sem políticos.

O que não quer dizer que suas ideologias sejam necessariamente positivas para o país como um todo. O pessoal dos partidos nanicos comunistas pularia de cabeça na oportunidade de dirigir o país, provavelmente sem dar a mínima para um salário ou para dispor de cargos para distribuir para amigos e parentes. Mas a que custo? Colapso econômico logo após um calote da dívida internacional? Se o governo não fosse um negócio tão bom assim, teria muita gente disputando os cargos. Mas nem todos com ideias razoáveis e práticas para o país.

E aí o povão teria que quebrar a cabeça para votar, ou ver de camarote consequências diretas de suas escolhas. Votar tem tão pouca graça no Brasil porque basicamente não faz diferença: Escolhemos quem vai se beneficiar da máquina pública por um mandato e… basicamente só isso. Adoraria ver uma disputa real entre candidatos com ideias radicalmente opostas sobre como dirigir o país. Onde o prêmio pela eleição seria por em prática seus sonhos e mexer na estrutura das coisas de verdade.

E todo mundo tendo que aguentar as consequências disso. Aprendendo como votar gera resultados e ficando com o cu na mão de eleger algum maluco capaz de quebrar o país numa canetada. Gente puta da vida de verdade com seus vizinhos por terem votado em alguém “perigoso”. Gente que não se preocupa com política para fazer pose ou para especular sobre vantagens pessoais futuras… Gente que vota na pessoa certa para não foder de vez com sua vida.

Mas estar no governo continua sendo um negócio do Brasil. E aí não importa o que um partido ou político representa, só importa ganhar. Talvez muitas das figuras públicas que vemos por aí até tivessem algo para contribuir, mas infelizmente isso é algo que nosso sistema não nos permite descobrir.

Querer governar é muito diferente de querer estar no governo. E adivinha o que todos os candidatos com chance na próxima eleição querem?

Para dizer que agora é hora do Tiririca sair para disputar presidência, para dizer que governo comunista radical ainda sim é um avanço, ou mesmo para dizer que já sabia: somir@desfavor.com

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Comments (9)

  • Rorschach, El Pistolero

    Política nacional virou campeonato de futebol. Neguinho sai do PSDC e vai pro PT e depois vai pro PMDB, pro PSDB e pra quem der mais condições de vencer.

    Os políticos americanos tem MILHÕES de defeitos, mas pelo menos eles são fiéis as ideologias que possuem. Se o cara é republicano, ele luta pro seu partido (e, portanto, suas ideias) assumir o poder.

    Aqui, partido de direita faz aliança com extrema-esquerda pros dois terem mais tempo de tela no horário eleitoral. Depois de eleitos, ninguém se ajuda pra fazer nenhum projeto.

    Infelizmente, o Brasil precisa perder seu cenário político – por mais antidemocrático que isso seja.

  • Sim, um terror nosso sistema representativo. Aqui, por exemplo, eleger-se deputado estadual, serve, além de ter acesso ao orçamento e vitrine para ser indicado a uma secretaria ou ministério, também para se utilizar da verba de gabinete para financiar a próxima eleição a prefeito na região em que foi eleito ou para deputado federal e, com isso, garantir futuramente, duas ou três aposentadorias, só para começo de conversa…

  • Há um ponto solto aqui… “Ter algo que as outras pessoas e só podem conseguir te bajulando te coloca numa posição extremamente confortável.”

    Qual seria o termo depois de OUTRAS PESSOAS:
    1) Querem
    2) Desejam
    3) Buscam
    4) Não tem
    5) Aspiram ter

    Está aberto o bolão do TERMO OCULTO no texto do Somir.

  • Realmente, votar não muda porra nenhuma. Nunca. E nem acho que vá mudar. Pelo menos, não no curto prazo… Gostei especialmente deste trecho: “A maioria dos planos de governos de partidos grandes pode-se resumir à “pensamos em algo quando chegarmos lá”. O problema é sempre a administração do partido adversário. Deveria ser mais complexo do que isso, deveríamos discutir mais sobre o planejamento que se faz para esse país, mas acabamos sempre vendo chimpanzés jogando merda uns nos outros, eleição após eleição. Tudo isso enfeitado por caríssimas campanhas planejadas por profissionais de marketing político igualmente caríssimos.” E, sobre as campanhas, já mostraram este vídeo nos comentários de um outro post aqui não faz muito tempo, mas acho que vale a pena ver de novo: http://www.youtube.com/watch?v=PfO3tAtHYsA

  • Ótimo texto! Votar não tem graça nenhuma, porque não faz diferença. É tudo fake. A tal festa da democracia é na verdade um velório. Pura depressão.

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