Skip to main content

Colunas

Arquivos

Tender critica – 2

Tender critica – 2

| Desfavor | | 34 comentários em Tender critica – 2

Você é pai? Mãe? Ou pretende ter um filho muito em breve? Os filmes escolhidos são para vocês, pois ter uma criança não é fácil. Muitas vezes você vai se arrepender, vai pensar nas coisas que precisou abrir mão e até mesmo sentirá uma vontade irracional de erradicar aquele transtorno da sua vida. Tudo isso é razoavelmente normal, a menos que você tenha certas predisposições psicopatas, aí o caldo engrossa. É por isso que trago para vocês dois filmes que falam sobre a relação entre pais e filhos e o quanto isso pode ser estressante, chegando a ter consequências catastróficas. Para quem acha que esse tipo de assunto só acontece em filme, os Nardoni, Suzane von Richthofen e o caso Bernardo estão aí para mostrar o quanto esse tipo de relacionamento pode ser problemático.

The Babadook

(Brasil: O Babadook ), 2014 – Direção: Jennifer Kent. Estrelando: Essie Davis, Noah Wiseman, Daniel Henshall. Gênero: Terror / Suspense


Quanta dor sentimental você consegue suportar? Quanto estresse e cansaço físico até chegar ao limite? Essas são questões que vão passar pela sua cabeça enquanto assistir “O Babadook”, uma coprodução canadense e australiana dirigida pela estreante Jennifer Kent. Aliás, tenho me surpreendido muito pelas últimas produções que vi da Austrália, vale dar mais atenção ao cenário cinematográfico do país. No caso de Jennifer Kent, ela toma uma direção muito bem orquestrada, utilizando recursos de imagem e som para criar um clima sombrio e arrepiante. Em Babadook vemos a história de Amélia (Essie Davis), uma viúva que tenta cuidar de seu filho Samuel (Noah Wiseman) da melhor maneira possível. Bem, o filme nos mostra que ela está fracassando na missão, já que o menino é o capeta em forma de guri e até mesmo eu, a paciência em pessoa, teria dado uns tapas no moleque. Hiperativo, Samuel é viciado em seus próprios medos, obrigando sua mãe a ter uma série de atitudes para verificar se há algum monstro embaixo da cama, no armário, etc.

Amélia por sua vez é uma mulher amargurada, reprimida, à beira do estresse e com sentimentos de culpa e raiva pelo filho. Tudo porque seu marido morreu no dia do nascimento de Samuel, causando um grave distúrbio na cabeça da mulher. É no sétimo aniversário do menino que o distúrbio aflora após ela ler um livro chamado “O Babadook” para o filho, deixando-os paranoicos com um ser muito parecido com qualquer bicho-papão por aí. Ao longo do filme vemos o quanto Amélia é perturbada pelos seus próprios sentimentos e o quanto ela é negligente em relação ao filho. Como por exemplo, mesmo ele sendo claramente problemático, ela apenas o leva ao médico após uma forte crise nervosa. Repare também nas refeições que ela prepara, normalmente coisinhas ralas e insossas, que parecem ter gosto de nada. Enfim, Amélia claramente não é uma dona de casa ou mãe exemplar e ela sabe disso, mais um detalhe para perturbar sua mente.

A primeira metade do filme mostra como amélia leva sua vida, dividindo sua vida trabalhando em um hospital psiquiátrico e a convivência problemática com a criança. A partir da metade do filme, entramos em um campo muito mais psicológico, demonstrando a influência do Babadook em uma mente já fragilizada pelo estresse do cotidiano. Aos poucos Amélia vai ficando insone, agressiva e começa a ter mania de perseguição, achando que o monstro do livro está perseguindo sua família. O medo somado aos outros sentimentos, deixam Amélia à beira da loucura. A partir de então a influência do Babadook vai ficando cada vez mais forte, chegando em seu ápice nos momentos finais da trama. Não vou revelar muita coisa para não estragar a imersão, mas fiquei um bom tempo com medo depois que assisti ao filme. Não exatamente com medo da história, mas com medo de que algo similar pudesse acontecer comigo ou com minha esposa.

Um dos pontos altos do filme são as interpretações dos atores principais, Essie Davis está excelente e sua química com Noah Wiseman faz com que o espectador hora tenha raiva do menino, hora torça para que ele consiga ajudar sua mãe no combate ao Babadook. Sobre o roteiro meu único porém é com relação ao pai morto, que aparentemente era um músico enquanto vivo. O cara pode ter sido um bonitão e ter feito um bom sexo com ela, mas sete anos é muito tempo para se encontrar um novo amor, tem que ter muita baixo estima para ficar se remoendo por causa disso. Nessa linha de pensamento, até é apresentado um personagem que flerta com Amélia durante o filme, mas ele perde sua importância e some da história sem muita explicação.

Outro detalhe interessante no filme é a edição de imagem e som. O filme nunca mostra mais do que precisa e nem se entrega aos sustos fáceis, porém o suspense criado pela trilha sonora é agonizante. Em determinado momento, eles estão lendo o livro e a música começa a aumentar, quando você acha que algo vai acontecer, eles fecham o livro, a música acaba e a cena corta para outro momento. Ao mesmo tempo isso é um alívio por não ter quase infartado caso houvesse um jump scare (link: https://www.youtube.com/watch?v=JRhLxx3vKPo), mas também é meio frustrante porque você estava esperando um susto naquele momento… é quase um orgasmo interrompido (sim, com referência a uma cena que pra mim é a mais importante de todo o filme).

Minimalista, muita parte da explicação do que está acontecendo é explicada através de simbologias. Como em determinado momento em que baratas saem de um buraco na parede, representando todas as coisas ruins que são reprimidas, mas que a qualquer momento podem explodir. Há também uma sugestão sobre a força feminina, de uma mãe solteira e viúva que precisa trabalhar e cuidar de uma criança difícil. De qualquer forma, o filme é denso e é preciso prestar atenção aos pequenos detalhes para descobrir como a mente humana faz suas associações irracionais. Se após os créditos finais você ficar pensando muito se esta ficando maluco ou não, significa que Babadook já pegou você também.

Ich seh, Ich seh

(Eua: Goodnight Mommy / Brasil: Boa noite, mamãe), 2015 – Direção: Severin Fiala, Veronika Franz. Estrelando: Susanne Wuest, Lukas Schwarz, Elias Schwarz. Gênero: Terror / Suspense


Fiquei sabendo desse filme meio que por acaso, já que ele foi pouco divulgado aqui no Brasil, mas tem recebido críticas muito positivas em sites especializados, muitos deles alardeando que este é o filme mais aterrorizante dos últimos tempos. Sempre que vejo algo assim, me lembro daquelas antigas capas de VHS, que vinha dizendo “O filme mais assustador do ano” – jornal x, “Arrepiante” – jornal y e isso sempre indicava que o filme não era nem o mais assustador e nem o mais arrepiante, pelo contrário, era sempre uma droga. Para minha sorte, não foi o caso com “Boa noite, mamãe” que, apesar de ser um bom filme, não é tão assustador assim. Pra começar o filme é austríaco, ou seja, não espere nada parecido com uma produção de Hollywood. Com forte influência da escola européia de cinema, o filme possui longas tomadas, poucos diálogos e deixa o suspense para os momentos de silêncio e a subjetividade das cenas.

O filme começa com a cena de um musical e depois corta para uma casa no meio do nada, rodeada por plantações no interior da Áustria. É nesse ambiente que conhecemos dois gêmeos, Lukas e Elias, que por acaso são os nomes reais dos atores. Os dois estão lá, sozinhos, brincando no meio da plantação, quando um carro surge e de dentro sai uma mulher com a cara toda remendada dizendo ser a mãe deles. Logo de cara os dois desconfiam da mulher e o filme mostra sem pudor como uma pessoa próxima pode se tornar um estranho após um trauma ou uma mudança física. Isso fica bem claro já que em nenhum momento eles citam o nome da mãe, sempre a tratando como mamãe ou aquela mulher que tomou o lugar da mamãe.

Dos dois gêmeos, Lukas é o mais desconfiado com relação à impostora e aos poucos vai fazendo sugestões para testarem a mulher. Para quem é macaco velho na sétima arte, vai matar o mistério da história nas primeiras cenas do filme, como foi o meu caso. Para quem não desvendar logo de cara, o filme vai de pouco em pouco desatando nós. Primeiro descobrimos que a mulher era uma importante apresentadora de TV e aparentemente sua cara está remendada devido à uma cirurgia plástica estética. Conforme você vai entrando na desconfiança dos irmãos, dá a impressão que a fama deixou ela vaidosa e ao mesmo tempo rabugenta, principalmente por causa do processo de separação do marido, que não aparece em momento algum da história.

No entanto, vai se percebendo que há muito mais por trás do que isso, já que até a metade da história, há um certo esforço para não mostrar o rosto dela, fazendo com que o espectador desconfie dela também. A partir da segunda metade, as ataduras são tiradas e nem isso faz com que os gêmeos deixem de desconfiar da mulher, tudo por causa de uma certa foto encontrada em um álbum de família. A partir daí, a história se inverte e a desconfiança começa a ser direcionada para os gêmeos, que podem estar sofrendo de prosopagnosia.

Esse jogo de gato e rato vai se estendendo ao longo de vários minutos, a maioria deles centrados apenas nos três personagens. Outras pessoas aparecem no decorrer da história, mas são momentos bem descartáveis, até mesmo a cena em que aparecem dois voluntários da cruz vermelha parece estar lá apenas para dar alívio à tensão que vai se criando no interior da casa. Por isso, quem não for acostumado a longos momentos de silêncio e a melancolia de longas cenas casadas com trilha sonora opressora ou som ambiente, com certeza vai sentir o dedo coçar para avançar o filme para as cenas finais.

Pois é no final que se percebe a intenção do filme, com um plot twist que pode decepcionar aqueles que já tinham matado a charada da história. Minha impressão foi: “ah, bem que eu desconfiava, mas esperava que estivesse errado”. Isso não tira todo o mérito do filme, que trabalha muito bem com as dúvidas que os gêmeos vão criando. Metáforas mostram o quanto a situação ali está deplorável, inclusive as famosas baratas, o que invariavelmente te fará comparar esse filme com “O Babadook” caso assista na sequência, outro erra cometido por mim, que quase morri de depressão após as sessões.

Enfim, tanto “O Babbadook” quanto “Boa noite, mamãe” mostram que muitas vezes o terror vem de dentro de casa, com pessoas que amamos, mas não reconhecemos mais. A violência doméstica tem matado tantas mães, crianças e até mesmo pais por aí que realmente não recomendo esses filmes para pessoas de mente fraca. Eu, que não costumo me impressionar muito com filmes, precisei de uma semana até conseguir digerir o que tinha assistido, mas talvez isso não ocorra com pessoas ainda solteira e sem filhos, que não sofram com os pequenos estresses desse tipo de cotidiano.


Dica de filme ruim da semana: The boy.

Por: Tender, o pseudo crítico


Comments (34)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: