Skip to main content

Colunas

Arquivos

Mentiras dos anos 80/90

Mentiras dos anos 80/90

| Sally | | 70 comentários em Mentiras dos anos 80/90

Olá, hoje não vamos falar sobre coronavírus, eleições, violência ou crise econômica. Hoje estamos aqui para destruir sua infância! Se você foi criança na década de 80/90, vamos revirar o baú das baixarias e falar um pouco das bizarrices que aconteceram nos bastidores daquela época que nós, protegidos por nossa inocência, não percebíamos.

Vamos começar pela informação mais conhecida: o palhaço Bozo apresentava o programa movido a cocaína. Para quem não sabe, no período pré-apresentadoras infantis, a grande estrela da programação para crianças era o palhaço Bozo. Seu programa chegou a ter oito horas de duração ininterruptas. Basicamente não havia opções: era Bozo o dia todo, permeado por desenhos animados.

No Brasil, tivemos cinco atores diferentes interpretando o palhaço, mas, o que ficou mais conhecido e tido como “o melhor Bozo” foi Arlindo Barreto. E é sobre ele que vamos falar. Uma das características mais marcantes desse Bozo era a alegria e a energia, principalmente quando comparado aos demais atores que interpretaram o papel. Era uma pessoa alto astral? Não, cheirava o dia todo. Não era alegria e energia, era cocaína.

Arlindo já contou em diversas entrevistas que era insalubre ser o Bozo oito horas por dia: um calor infernal em um estúdio sem ar condicionado, uma roupa quente e a cara toda maquiada, crianças gritando sem parar… Segundo ele, para conseguir suportar esse combo dos infernos, ele começou a beber. Mas a bebida o deixava mais lento, e o Bozo tinha que ser alegre, tinha que ter energia para segurar um programa por oito horas.

Então, para compensar o feito de prostração que a bebida dava, ele começou a cheirar cocaína. E, pelo visto, não era pouco. Mais de uma vez ele chegou a gravar com algodões enfiados no nariz para conter o sangramento em função do vício. Chegou a um ponto onde não conseguia gravar ou sequer suportar os gritos das crianças se não estivesse muito drogado (não julgo). Entretanto, era o Bozo que as crianças mais gostavam.

Não é uma beleza que crianças tenham sido ensinadas a admirar o comportamento típico de um viciado? Na época a gente não percebia, mas hoje, se você olhar os programas desse Bozo vai ver claramente que seu comportamento está longe, muito longe do normal. Crescemos achando que meio quilo de pó é alegria e alto astral!

Lembra do He-Man? Aquele rapaz que quando deixava de ser Príncipe Adam com seu coletinho rosa ganhava um bronzeamento artificial, sunga e botas e combatia o Esqueleto? Pois é, ele nasceu com a intenção de se livrarem de um estoque encalhado. Isso mesmo, o He-Man foi apenas um tampão para conter o prejuízo de uma empresa de brinquedos.

Na época havia sido lançado o filme “Conan, o Bárbaro”, com Arnold Schwarzenegger, um sucesso de público. Resolveram aproveitar a boa bilheteria do filme e fazer bonequinhos do Conan. Infelizmente o empreendimento não deu certo, os pais não compravam para os filhos pois achavam a história do Conan muito violenta. Imagine o grau de violência para que, nos anos 80, algum pai coloque alguma restrição.

Resultado: milhões de bonequinhos do Conan encalhados. Como a empresa responsável pelos bonecos era de grande porte (a Mattel, mesma responsável pela Barbie), ela resolveu criar novos personagens para desencalhar aquela quantidade enorme de bonecos em seu estoque.

Rascunharam os personagens, deram para alguns roteiristas e mandaram criar uma história cm aquilo. Encomendaram uma animação com base nesse roteiro, mas com a seguinte ressalva: todos os personagens do sexo masculino teriam que ser muito bombados, pois os bonecos que precisavam ser desencalhados tinham todos o corpo do Conan, trocariam apenas as cabeças.

Surgiu então o desenho do He-Man, que acabou se tornando um sucesso. Agora podemos entender o motivo pelo qual os personagens do sexo masculino eram todos muito fortes, inclusive o vilão, que era uma caveira, mas tinha mais músculos do que muito fisiculturista. Cumpriram com louvor a missão de desencalhar os bonecos do Conan.

O seriado Chaves, ao contrário do que diziam os atores, não acabou de forma amigável e sim permeado por brigas e baixarias. A origem de toda a confusão foi o triângulo amoroso entre Florinda Meza (a Dona Florinda), Carlos Villagrán (o Quico) e Roberto Bolaños (o Chaves). E não é aquela versão light de que ela namorou com um depois com o outro. É bem mais feio do que isso.

Florinda namorava Carlos, mas resolveu trocá-lo por Roberto, o que já deixou o clima nos estúdios um pouco tenso. Casou-se com Roberto, mas, passado um tempo, resolveu traí-lo e ter um caso com Carlos, inclusive dentro do próprio estúdio. O caso que foi descoberto e deixou o clima pior ainda. Resumo da treta: Quico saindo do programa, Seu Madruga saindo junto em solidariedade ao amigo e o programa afundando.

Os bastidores dos Power Rangers também não era lá essas maravilhas. A Ranger Amarela, que supostamente era uma mulher, quando estava com sua armadura era interpretada por um homem, com um visível vulto entre as pernas. O motivo? As cenas de luta eram reaproveitadas de um seriado japonês mais antigo, onde o Ranger Amarelo era homem. Esse é o motivo pelo qual a Rager Rosa tem uma saia, mas a Amarela não.

Além disso, o ator que interpretava o Ranger azul era gay e sofreu todo tipo de bullying no set. Apesar de não se assumir gay na época, de alguma forma isso transparecia e ele era muito sacaneado. O emocional do rapaz ficou tão abalado que ele tentou vários “tratamentos” para “se curar” até ter um colapso nervoso e precisar ser internado.

Anos depois, vários integrantes da equipe se desculparam pelo bullying, inclusive Bryan Cranston, mais conhecido pelo seu papel de Walter White em Breaking Bad, mas parece que o moço nunca se recuperou dos traumas no set e nos tratamentos bizarros estilo “cura gay”. Como se tudo isso não fosse suficiente, além de fodidos, eles estavam mal pagos. O Ranger Vermelho contou que eles ganhavam muito mal, o equivalente a um atendente do Mc Donalds, com a diferença que trabalhavam 15 horas por dia, 6 dias por semana. Praticamente trabalho escravo.

As doces crianças da novela Carrossel (a original) não tiveram uma infância muito saudável no set de filmagens. A atriz que interpretava a Professora Helena, Gabriela Rivero, já deu várias entrevistas com informações preocupantes. Por exemplo, com apenas oito anos de idade eles fumavam no set de filmagem e, como não tinham idade para comprar cigarros os pequenos atores, principalmente o ator Pedro Javier Viveros, que interpretava o Cirilo, roubavam cigarros de sua bolsa e da bolsa de outros adultos.

Muitos desenhos como Comandos em Ação e Rambo usaram uma tática desleal para burlar a censura etária: todo o armamento usado pelos personagens não disparava balas e sim raios, algo que era enquadrado como ficção e por isso não era visto como violento. O curioso é que as armas muitas vezes eram uma reprodução fiel das armas verdadeiras, então, você via um 38 que disparava um raio. Durante muito tempo eu achei que era para dar um efeito visual legal, mas não, era apenas para burlar a lei mesmo.

Você já reparou que os saiyajins de Dragon Ball só eram todos loiros? Eu nunca reparei, por não ter a menor ideia do que seja um saiyajun, mas o motivo deles terem essa cor de cabelo não flerta nem de perto com alguma identidade visual do desenho, foi por pura preguiça.

No anime, os saiyajins tinham cabelo amarelo porque no mangá original, em preto e branco, o cabelo deles era branco, e era branco por preguiça. Não é fofoca nem especulação, o criador da franquia, Akira Toriyama, explicou que decidiu fazer assim para diminuir o trabalho do assistente, pois ele perdia muito tempo pintando o cabelo de Goku de preto em todos os quadros.

No original do Donkey Kong, De acordo com o manual do clássico arcade, o gorila (aquele que fica no topo da tela jogando barris) era o animal de estimação do personagem principal do jogo, o Jumpman (que posteriormente daria origem ao Super Mário). O que a gente presumia? Um animal fora da lei que precisava ser derrotado.

Só que a história oficial é outra: o bicho sofria sérios abusos físicos por parte do dono, por isso fugiu e sequestrou sua namorada. Então, basicamente, cada vez que jogávamos Donkey Kong estávamos ajudando um agressor de animais a recuperar o bicho que ele maltratava.

Agora uma revelação que me doeu na alma: os filmes “Faces da Morte” eram 100% forjados. Para quem não viveu essa época, estes filmes tinham a intenção de ser uma compilação de vídeos amadores de mortes reais, acidentais, filmadas por pessoas que estavam no lugar errado e na hora errada. Toda criança se cagava de medo das coisas que apareciam em cada edição nova do Faces da Morte.

Porém, no lançamento do DVD de 30 anos da série, os produtores confirmaram que era tudo armação. TUDO. Não havia uma única morte real ali. Os participantes eram atores. “Cérebros” eram feitos de couve-flor, as vísceras eram feitas de geleia, eles contaram em detalhes as técnicas para cada fraude. Passamos cagaço por nada, era tudo mentira. E, de fato, depois de saber disso, fui rever algumas cenas e é patético. É fake nível Chaves conversando com o Aerolito.

A decepção se estendia também ao mundo da música. Boa parte dos artistas não cantava de verdade, apenas dublava a voz de outra pessoa que provavelmente não tinha a aparência certa para subir no palco.

Alguns foram descobertos, como a dupla Milli Vanilli, que venderam milhões de discos e ganharam até um Grammy. Eles fizeram shows pelo mundo todo cantando em playback e morreriam impunes se as verdadeiras vozes por trás das músicas não tivessem resolvido falar. O escândalo foi tanto que um dos membros da dupla acabou se suicidando.

Também aconteceu com a Technotronic, responsável pelo hit “Pump up the Jam”: a moça que se dizia vocalista, a modelo Felly Kilingi não cantava porra nenhuma, quem cantava, na verdade, era outra moça chamada Manuela Kamosi, conhecida como Kid K, que não tinha a aparência desejada pelas gravadoras e, de quebra, era menor de idade. É sério, nessa época os vocalistas eram escolhidos pela aparência, na maior parte das vezes, quem cantava era outra pessoa.

E se tinha cantores falos, as fãs também o eram. Essas cenas de banda ou cantor chegando e uma multidão de moças berrando, bem, muitas eram pagas para isso, principalmente quando falamos dessas bandas de adolescentes. Acontece com mais frequência do que você imagina, inclusive partindo de bandas grandes como “The Beatles”, que pagavam cinco dólares para as moças ficarem se descabelando. Menudo, Dominó, New Kids On The Block e muitos outros das décadas de 80/90 mantinham fãs histéricas por perto liberando uns trocados.

Nessa época as séries engatinhavam, e, justamente por isso, coisas estranhas aconteciam, seja por falta de planejamento, seja por falta de freio. Talvez você tenha a impressão de não se lembrar como muitas séries da época terminaram, e provavelmente não é só uma impressão, pode ser verdade. Alguns finais considerados infelizes foram suprimidos em muitos países, não foram ao ar, pois se entendeu que atrapalhariam a venda dos bonecos vinculados ao seriado.

Lembram do seriado Alf, o Eteimoso? Era um simpático ET chamado Alf (sigla para Alien Life Form) que morava com uma família tipicamente americana e falava com a pior dublagem já feita pela TV brasileira. O “final” do seriado causou mal-estar naqueles que acompanhavam o seriado, ainda que sem querer.

Na reta final de uma das temporadas, Alf recebe um comunicado de outros Alfs convidando-o para morar em outro planeta com eles. Alf decide então abandonara família terrestre e se encontrar com os outros aliens, que viriam buscá-lo em uma nave espacial.

Só que agentes do governo interceptam essa comunicação e vão até o ponto de encontro e pegam o Alf antes que os colegas consigam tirá-lo da Terra. Era só um gancho para que ele não vá embora e continue no planeta, na temporada seguinte eles pretendiam fazer com que a família humana resgate Alf das mãos dos militares.

Mas, infelizmente a série foi cancelada e esse foi o final que ficou: Alf nem volta para os seus, nem fica com sua família humana, ele é preso e fica nas mãos do Governo. Ao saber que a série havia sido cancelada, muitos países optaram por não dar este final triste aos espectadores e apenas interromperam a temporada no meio, pois não teria clima para vender produtos e bonecos do Alf depois disso. Porém, quando o seriado foi reprisado, anos depois, o final foi transmitido, uma vez que já haviam explorado economicamente tudo que podiam da franquia.

Algo similar aconteceu com a Família Dinossauro: um final sofrido, que não foi exibido em muitos países para poder continuar vendendo boneco do Baby Sauro, aquele bicho rosa que gritava “Não é a mamãe!”. Só que na Familia Dinossauro, o final trágico foi proposital.

No último episódio, uma crise ambiental faz chegar uma era glacial, anunciada pelo telejornal. O âncora do telejornal se despede de uma forma dramática, a câmera se afasta e podemos ver a casa dos Silva Sauro sendo soterrada por neve. Realista? Talvez. Apropriado para crianças? Acho que não. Assim como aconteceu com Alf, muitos países optaram por não transmitir esse final, mas depois, em reprises, quando não vendiam mais bonecos do Baby Sauro, passaram o final completo.

Pois é, senhores, foram duas décadas de mentiras, enganações e muitos interesses escusos. O lado bom é que a geração forjada por atração infantil movida a drogas, desenho sem censura onde um atira no outro com um 38 e seriado que acaba da forma mais infeliz possível é uma geração sem mimimi. Essas décadas nos fizeram fortes.

Para dizer que as postagens sobre coronavírus doem menos, para dizer que não tem idade para conhecer nada do que foi dito ou ainda para dizer que Danoninho não é iogurte e sim um tipo de queijo: sally@desfavor.com


Comments (70)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: