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Descontrole.

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| Somir | | 38 comentários em Descontrole.

Eu comecei a escrever este texto assim que a Croácia empatou na prorrogação. Sim, eu já sabia que o Brasil não ia fazer mais nenhum gol e não tinha nenhuma chance de ganhar nos pênaltis. E nem é questão de sabe jogar futebol, é 100% psicológico.

Você vai ouvir muita gente falando que os jogadores do Brasil são ruins, que o Tite escalou o time errado… não é nada disso. Talvez só a França tenha tantos jogadores de altíssimo nível juntos, os jogadores do Brasil estão entre os melhores do mundo, e são vários em cada posição. Por mais que o Tite tenha trazido o fuckin’ Daniel Alves, quase toda a convocação foi bem coerente com o que tínhamos de melhor.

E sobre o esquema? Aquele seu tio bêbado vai falar que o time é retranqueiro, que não ataca… mas ele é um bêbado que não entende nada de futebol. O esquema tático da seleção canarinho estava pau a pau com os maiores adversários europeus. As ideias de futebol são modernas, testadas e aprovadas nos maiores campeonatos do mundo. O Brasil morreu um time ofensivo usando a maior parte dos bons jogadores que tinha.

Só quem entende pouco de futebol vai dizer que o Brasil fez a parte técnica do jogo errada. A derrota aconteceu porque a seleção não tem emocional. O Brasil é o time das dancinhas, dos mimimis do Neymar, do coleguismo, das frases de auto-ajuda na parede, do psicólogo deixado para trás porque “não precisa”.

Começaram os pênaltis. Eu até me divertiria mais se o Brasil passasse, mas não tem como um time de crianças vencer um time de adultos quando a pressão chega nesse nível. Por isso vou bancar a continuação deste texto mesmo enquanto decidem quem vai passar.

Os croatas estão com uma cara de quem vai para a guerra. Os brasileiros estão com cara de quem vai se cagar a qualquer momento. Cara de dor de barriga mesmo, a mente já está envenenando o corpo.

Marquinhos perdeu o último pênalti e eu não perdi o começo do texto. Psicológico, psicológico, psicológico. Neymar rezando desesperado. É isso que acontece quando você vive a vida na base do “na hora eu resolvo”. O time brasileiro era sim melhor que quase todos os outros na Copa, mas para mim estava claro que assim que lidassem com uma adversidade iam desmontar. Desmontaram.

A seleção foi treinada para ter várias alternativas táticas, os jogadores estão acostumados com os maiores torneios do mundo, aprendem com os melhores técnicos e treinam nas melhores estruturas imagináveis. Mas percebem que quando estão na seleção ele começam a tentar driblar toda vez que o adversário está mais bem organizado? Sim, Neymar, Vinícius e cia. são conhecidos pela habilidade, mas nos seus times europeus, eles têm gente para confiar ao seu redor.

Na seleção, não. Na seleção, o “homem” é o Neymar. Tite aceitou ficar em segundo plano, e por mais que não o culpe pela parte tática, ele se colocou nessa situação de paizão de adolescente de trinta anos e viu o time desmontar feito um saco de merda sem a menor chance de recuperação. O Brasil dependia de tudo seguir mais ou menos como previsto para conseguir avançar. Se o goleiro croata fosse um pouquinho pior, entravam uma ou duas bolas e o trem da alegria brasileiro avançaria mais uma rodada.

Sem adversidade, o time do Brasil podia ser campeão. Com adversidade, a Croácia já dá conta, assim como a Bélgica já tinha, a Alemanha tinha, a Holanda tinha… é uma aposta que a seleção brasileira está perdendo faz muito tempo. Talvez seja a Era Neymar, talvez seja mesmo o fim das seleções sul-americanas como candidatas reais ao título.

Seja como for, foda-se a seleção. Eu gosto de futebol, acho divertido, torço e tudo mais, mas é só um esporte. O que o esporte está revelando agora é o que me chama atenção de verdade: quanta gente vai perceber que a seleção está perdendo nas Copa porque o brasileiro é um desequilibrado emocional cada vez pior?

Porque o futebol poderia ter essa função. Ver o mundo todo rindo dos jogadores das dancinhas deveria ser um momento de prestar atenção nos defeitos. Mas algo me diz que vão continuar nessa vira-latice horrível de “deixa os meninos dançaram”, ofendidos porque os gringos não gostaram da ideia de que a seleção brasileira treinava dancinhas para fazer depois dos gols entre os jogos.

Estavam chamando os brasileiros de crianças que não estava se preocupando com a verdadeira missão, descompromissados que achavam que dava para ganhar no talento ao invés de no esforço. As crianças fizeram o quê? Beicinho. Procuraram gente querendo politizar isso como preconceito contra a cultura brasileira e esperaram passar pano.

Façam o Pombo agora, arrombados.

Foram expostos como os meninos que eram. Dentro de uma bolha de aceitação de fãs que não entendem porra nenhuma de futebol e auto-ajuda barata do Tite. Eu estou tirando a responsabilidade técnica do treinador e dos jogadores, mas estou colocando a psicológica com dez vezes mais peso. Não é assim que se ganha nada nessa vida.

Se você acha que convocar um jogador diferente ou jogar com outro esquema resolveria, vai ajudar o discurso furado de que foi só uma derrota futebolística. Não foi não, foi a comprovação de que essa mentalidade imediatista e supersticiosa do brasileiro não serve para nada. O talento pode até estar aqui, mas precisa de algum adulto controlando para funcionar.

Quando você não consegue um serviço de qualidade aqui, quando você percebe que a estrutura da empresa na qual trabalha é uma zona, quando o Estado simplesmente não funciona para os cidadãos, lembre-se que o fator psicológico conta muito: não ter responsabilidade, fazer tudo no jeitinho, ficar rezando e torcendo ao invés de se concentrar e pensar… é parte da cultura desse país.

Uma parte que muitos achavam que era essencial para as vitórias da seleção brasileira: o mítico talento do jogador tupiniquim. Todas as vitórias da seleção aconteceram quando jogador ainda não tinha o mesmo grau de mordomia e atenção que tem hoje. Em 2002, o Felipão ainda mandava nos jogadores. Antes disso, sempre tinham alguns adultos no time que davam suporte para os craques poderem fazer bobagem e serem malucos.

A Era Neymar não teve líderes, não teve adultos. Teve gente que topou entrar para o clubinho e teve gente que não topou. Estou chamando de Era Neymar porque ele é o mais famoso desse tempo, mas ele é só um exemplo dessa mentalidade horrível que os jogadores brasileiros desenvolveram quando estão na seleção.

E não adianta tirar o Tite, ele precisa sair porque acabou o ciclo, mas se colocarem outro “paizão” no lugar, a Era Neymar vai virar Era Vinícius, Era Rodrygo… todos seguindo os passos do Neymar, descompensados mentalmente e morrendo de orgulho disso.

A Croácia provou que os brasileiros têm mais medo dos gringos que os gringos dos brasileiros. Não deveriam, mas como estão cagando e andando para deixarem de ser bebezões mimados que ficam combinando a dancinha do próximo jogo, a fama do Brasil está mudando e não sei quanto tempo vai durar. Vai ser mais uma “seleção africana”, cheia de talento, mas incapaz de avançar por não ter organização.

Vai fazer o brasileiro parar de se preocupar com Copa e começar a se preocupar com Nobel? Não. Nem o 7×1 deu conta disso. Mas se pelo menos mostrasse para esse povo COMO É RUIM ser descontrolado emocionalmente, como essa passionalidade latina é uma furada… o resultado é o de hoje, um time de chorões que não entende porque sempre perde na hora H.

Mas eu aposto que vão falar que jogou mal porque Zé Buceta da Silva não estava na ponta direita ou porque o técnico não colocou mais um zagueiro. É tão cansativo.

Para dizer que nem live conseguimos fazer dessa vez, para dizer que estava de saco cheio de ver o país parar, ou mesmo para dizer que se trocar o Tite resolve tudo: somir@desfavor.com


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